É preciso cuidado para com
certas bandas no que tange às suas inspirações e principalmente influências.
Diria melhor: é preciso separar os dois quesitos mencionados. Afinal qual banda
não tem as suas influências que inspiram as suas músicas? Tais manifestações
não podem ser consideradas, penso, como plágio ou cópia!
Casos como esse, diante de um
cenário onde as redes sociais podem se tornar um fator destrutivo, pode pôr em xeque
a história de uma banda, relegar ao fim muitas trajetórias de bandas e músicos
que buscam um lugar ao sol no mundo da música.
Não quero advogar pelas bandas
que vem sofrendo com essas especulações, mas o fato discussões como essa se
tornam totalmente inviáveis quando se tem a música, primordialmente a música,
como a mais prazerosa das discussões. E quando se tem bandas que efetivamente
lembram aquelas que estão em um patamar de pioneirismo, não se pode minimizar,
pelo contrário, mas enaltecer tais lembranças.
E eu preciso trazer à tona uma
grande banda, pouco conhecida, é verdade, afinal esse é o cerne do blog que lê,
caro leitor, que veio do Japão, mais precisamente de sua capital, Tóquio, que
se chama VERMILION SANDS. A banda foi formada em meados dos anos 1980, mais
precisamente em 1986 e começou, como tantas outras, tocando covers de seus
ídolos, como Renaissance, Illussion, Sandrose etc.
A banda, inicialmente formada
por Yoko Royama, nos vocais e Masahiro Yamada, nos teclados, como músicos
fundadores, além de Masumi Sakaue, nas guitarras, Kenji Ota, no baixo, Takafumi
Yamazaki, na bateria e Hiroyuki Tanabe, nas flautas e teclados, tocava covers
dessas bandas famosas em vários festivais ao vivo de bandas amadoras, cuja
intenção era para recrutar bandas com potencial de sucesso e parece que as
portas se abririam para esses jovens músicos.
Algum empresário os viu tocar
e não se sabe ao certo se era um empresário de gravadoras ou produtores
musicais, o fato é que eles tiveram a oportunidade de estrear como uma banda
profissional tocando em um espaço, em uma casa de shows muito importante para a
cena progressiva de Tóquio, chamada “Silver Elephant”. Foi o momento ideal para
eles começarem a compor material autoral e quem sabe, no futuro próximo, gravá-los
em um novo álbum. A banda estava animada e fazendo muitos planos.
A banda escolhe um nome,
afinal, seu novo caminho exigia um nome e veio Vermilion Sands. A banda recebe
algumas grandes ofertas de shows e começou a construir, pouco a pouco, a sua
reputação em uma cena que ainda era prolífica no Japão, a do rock progressivo. A
banda se apresentaria no “Progressive Rock Festival”, como disse, realizado no
Silver Elephant e outros eventos como o “Made in Japan”.
Como em muitos casos, o
Vermilion Sands passaria por mudanças em sua formação, talvez pela necessidade
de se construir uma identidade sonora e que dela pudesse personificar nas
apresentações, nas futuras gravações, entrando Hisashi Matoba, na bateria,
Ryoji Ogasawara, no baixo, após a saída de Tanabe, Yamazaki e Ota. Com uma nova
formação a banda lançaria, finalmente, o seu debut, em 21 de dezembro de
1987, chamado “Water Blue”, alvo de minha nova resenha.
Ao ouvir esse primeiro
trabalho do Vermilion Sands é notório as semelhanças com a banda icônica
britânica Renaissance, mas percebe-se também, além da sua sonoridade
sofisticada e agradável e, por vezes, suave, traz também um teclado cheio de
energia e quente que remete a bandas como Camel e até mesmo Genesis. Tais
reminiscências faz você, enquanto ouvinte e apreciador do rock progressivo, se
sentir nostálgico, afinal uma sonoridade calcada no prog genuíno, em pleno anos
1980, é fantástico e ousado por parte da banda.
Então, meu bom e estimado
leitor, ao ouvir o Vermilion Sands, com o seu álbum “Water Blue”, permita-se
abrir a mente e deixar de lado possíveis posturas pré-concebidas e ouvir uma
sonoridade rica, orgânica, sofisticada e muito diversificada trazendo uma
diversidade de sons dentro do rock progressivo. É um exemplo vivo e latente de
uma sonoridade pautada no rock sinfônico e pastoral, com um vocal limpo,
delicado, cristalizado que remete também a Annie Haslam, vocal, claro, do
Renaissance.
Com o lançamento de “Water
Blue”, o Vermilion Sands intensificaria as suas apresentações, tocando em
várias casas de shows, isso entre 1988 e 1989 e, com isso a banda reunia uma
base interessante de fãs, ganhando alguma repercussão. Inclusive, em 1989,
sairia uma coletânea chamada “Symphonic Rock Collection”, com músicas de várias
bandas de rock progressivo que estavam em evidência no Japão, pelo selo Made in
Japan Records e uma das músicas do Vermilion Sands seria incluída.
“Ashes of the Time” é a faixa.
Mas a versão incluída nesta coletânea foi a versão original, então isso acabou motivando
os músicos do Vermilion Sands a gravar uma nova versão dessa música. Naquele
mesmo ano de 1989, a banda lançaria “Water Blue” novamente, porém no formato
“CD”, por isso que existe uma dúvida com relação ao seu ano de lançamento. 1987
foi o primeiro lançamento em “LP” e, como disse, outro lançamento ocorre em
1989, em “CD”.
O álbum é inaugurado pela
faixa “My Pagan Love” que começa com um vocal estupendo e límpido de Yoko
Royama, tudo isso com um suporte espetacular dos instrumentos, mostrando
destreza e competência, em uma mescla envolvente entre sofisticação e um
trabalho orgânico. Essa faixa é de uma tradicional cultura irlandesa do século
XIX, do Condado de Donegal.
Segue com “Ashes of the Time”
que te remete a um pouco de prog com um pouco de new wave, mas tendendo para
algo mais experimental. É nítido o trabalho de neo prog nessa faixa com mais de
12 minutos de duração. As guitarras vêm mais forte, com notas um pouco mais
pesadas, com um vocal mais operístico de Yoko. E com isso entra teclados mais
enérgicos, a bateria mais intensa, onde a faixa ganha em uma textura mais hard
rock com pitadas bem generosas de sofisticação. É incrível as mudanças rítmicas
percebidas nessa música. Vale a audição do início ao fim!
Segue com “In Your Mind” que
abre melódica, tendo tal textura amparada pela voz de Yoko, com guitarras
solares, solos atraentes, com uma seção instrumental avassaladora e de tirar o
fôlego. A execução de seus instrumentistas é espetacular. O neo progressivo se
faz presente nessa faixa novamente, mostrando que o álbum, como um todo, é sim
uma ode aos clássicos progressivos, porém com um olhar no que se fazia de novo
em meados dos anos 1980. Não se pode negligenciar, já que falamos de
instrumentos, dos solos poderosos de guitarra.
"Coral D - The Cloud
Sculptors" abre com acordes de guitarra potentes e inspiradoras, com
sintetizadores bem tocados e com alguma energia. As mudanças de andamento
continuam constatando a qualidade sonora que varia da guitarra, do bandolim,
solos do órgão, vocais pastorais e, com isso, um frenesi sonoro se constitui,
mostrando, mais uma vez, um trabalho instrumental invejável.
"Kitamoto" começa
com guitarras que fornece uma trama de fundo para Yoko cantar que, logo depois
entra um sintetizador com um solo viajante e solar, ao mesmo tempo. Logo entra
piano, baixo e bateria se juntam a segunda parte da música, com destaque para o
baixo, por vezes, pulsante, juntamente com agora uma guitarra suave, dando um
pano de fundo.
"Living in the Shiny
Days" traz, como destaque, o prog folk, mas com pitadas mais comercial,
diria, algo mais pop, radiofônico, mas sem soar frívolo, lembrando um pouco de
Yes, creio. E fecha com “The Poet” que, sem dúvida, é uma das melhores faixas,
trazendo um lindo cruzamento entre prog clássico e neo prog, mostrando a
versatilidade do Vermilion Sands, com guitarras tocadas de forma magistral, com
potência. Os vocais cada vez mais límpidos traz o operístico ao som da banda.
Em 1989 o Vermilion Sands é
sondado pela famosa gravadora francesa “MUSEA” para a gravação de um álbum,
digamos, globalizado, ou seja, com músicas de várias bandas, de vários países.
O Vermilion Sands representaria o rock progressivo japonês. O nome do álbum? “7
Days of a Life”, um trabalho conceitual que seria lançado em 1993. É um álbum
de bandas de sete países, onde cada uma delas contaria uma história sobre uma
vida, com uma analogia de sete dias. O nome da música do Vermilion Sands se
chama “The Love in the Cage”. Essa música seria incluída, como bônus track,
além de versões ao vivo de “Water Blue”, na reedição deste álbum, feita,
exatamente pelo selo Musea Records, em 1999.
Mas antes desse lançamento do
álbum “7 Days of a Life”, o Vermilion Sands entraria em um hiato, mais
precisamente em 1990, isso depois de um belíssimo show que fizeram em Tóquio,
em maio. Os integrantes deram prioridade para seus projetos solos e bandas
cover. Eles tocaram, tendo Yoko como pilar, em uma banda chamada, já que falei
em bandas cover, Renaissence of Dreams, tocando músicas do britânico
Renaissance, até 1994. Convém lembrar que o nome da banda, lá pelos anos 1982
até 1985 se chamava pelo sugestivo nome de “Scheherazade”. Porém, antes disso,
Yoko Royama, lançaria, em 1991, seu primeiro álbum solo, chamado “Sunny Days”.
Em 1996 Royama e Yamada
retomam apresentações ao vivo do Vermilion Sands com novos integrantes: Hideki
Kurosawa, no baixo, Shin Yoshimune, na guitarra, Genta Kudo, ex-baterista do
De-Já-Vu. Posteriormente se juntariam a Akihisa Tsuboi, no violino e Yasuyuki
Hirose, no baixo, ex-Providence. Mas foram shows esporádicos apenas para
relembrar a fase do Vermilion Sands.
Apresentações esporádicas e,
logo, um tempo curto, pois entrariam em um novo hiato, principalmente por conta
da gestação de Yoko que deu à luz ao seu bebê, em 1997. Infelizmente, em 23 de
agosto de 2004, Yoko Royama morreria deixando um pequeno, mas significativo
legado pela sua voz e seu amor à música progressiva. Em 2013 seria lançado,
claro, sem Yoko, o segundo álbum do Vermilion Sands, “Spirits of the Sun”, que pode ser ouvido aqui, mas
sem a chama do primeiro trabalho que definitivamente marcou um período
importante da história do rock progressivo japonês.
A banda:
Yoko Royama nos vocais e
flauta
Masahiro Yamada nos teclados
Hisashi Matoba na bateria e
guitarra acústica
Kenji Ota no baixo
Takafumi Yamasaki na bateria
Hiroyuki Tanabe na flauta e
teclados
Faixas:
1 - My Lagan Love
2 - Ashes of the Time
3 - In Your Mind
4 - Coral D - The Cloud
Sculptors
5 - Kitamoto
6 - Living in the Shiny Days
7 - The Poet
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