Uma joia! Uma pérola
esquecida! Alguns termos parecem ser manjados nos dias de hoje quando buscamos
alguns adjetivos para as bandas obscuras, raras, que trafegam no ostracismo do
underground! Embora soe piegas, em alguns casos determinadas bandas e álbuns
merecem tais títulos.
Tentarei, estimados leitores,
trazer alguns exemplos ou pelo menos um exemplo que certamente ilustrará o meu
texto de hoje. Vamos da cena rock de Nova Iorque da virada dos anos 1960 para
os anos 1970, principalmente no início dos anos 1970, onde o hard rock, aliado
à psicodelia, a lisergia, dava o tom.
O rock progressivo parecia não
gozar de tanta popularidade na terra do Tio Sam, mas tinha uma banda que trazia
tal conceito sonoro, ainda engatinhando, praticamente no mundo, mas que também
foi impactada pela sonoridade que agitava os jovens transviados da época: o
hard rock.
A banda se chamava PLUM NELLY!
Mas como atribuir tamanha importância para uma cena que estava embrionária e
que sequer teve e ainda tem representatividade entre os fãs de rock? Pois é,
amigo leitor, pode parecer um contrassenso, porém vou assumir o risco mesmo
diante de minha magnânima ignorância.
Acredito que consiga, ainda
assim, trazer alguns elementos, diria, substanciais, para argumentar o que
afirmo de forma tão categórica. Seu único álbum, lançado no longínquo ano de
1971, entrega verdadeiras jams, com vertentes sofisticadas e progressiva, com
inserção de flautas, teclados em profusão, guitarras pesadas, com solos bem
elaborados, trazendo texturas de hard rock e até mesmo de um blues rock.
Nome do álbum? “Deceptive
Lines”! Bem eu me adiantei um pouco e falei sobre o álbum, mas foi por um bom
motivo, afinal, precisava pelo menos trazer um argumento para atribuir tamanha
importância ao Plum Nelly, mesmo se tratando de uma banda obscura da cena nova
iorquina dos anos 1970. Mas falarei, para não perder o costume, um pouco da
história deles.
Como disse as origens do Plum
Nelly remontam de Nova Iorque no final dos anos 1960, formado por cinco jovens
músicos que tocavam na cena underground da cidade, em bares, clubes, começou a
sua história com o nome de “Creedmore State” e trazia na sua formação inicial:
Peter Harris, no baixo e vocais, Christopher Lloyd, na bateria, Ric Prince, nos
vocais e teclados, Steve Ress na guitarra e vocais e John Earl Walker na guitarra,
além de Jeremy Steig na flauta e Dave Bash Johnson na conga e timbal. Vale a
curiosidade: Jeremy Steig, flautista americano de jazz, é filho do famoso
cartunista William Steig, criador do personagem de desenho animado “Shrek!”.
As primeiras apresentações do
Plum Nelly, ou melhor, “Creedmore State”, foram em pequenos clubes e, por mais
que a questão estrutural não fosse um ponto positivo para a banda, foi graças a
alguns proprietários desses clubes, mais precisamente Arnie e Nicky Ungano, que
tinha um estabelecimento em Nova Iorque, exatamente com o nome de “Creedmore
State”, que os jovens e persistentes músicos conseguiram seu primeiro contrato,
com a Capitol Records.
E, por forças deste mesmo
contrato que assinaram, foram forçados a mudar o nome da banda para “Plum
Nelly”. Reza a lenda que a mudança do nome teria sido motivada por esses mesmos
proprietários de clubes nova iorquinos que conseguiram para a banda este mesmo
contrato com a Capitol. O fato é que, o agora Plum Nelly, entraria em estúdio,
mais precisamente no Capitol East Studios, em novembro de 1970, e ficou até o
final de dezembro para gravar seu álbum, tendo sido lançado em 1971.
“Deceptive Lines” é um
formidável trabalho de hard rock, energético, arranjado de forma limpa e
meticulosa. Ele é tão sofisticado e bem composto que nos remete ao rock
progressivo quase que involuntariamente, pois tem complexidade, mas muito
orgânico. A você, nobre leitor, que aprecia prog rock, esse álbum cairia muito
bem aos seus ouvidos.
Mas não se engane que o álbum
se limita apenas ao hard rock e rock progressivo: há nuances de blues rock,
toques de jazz, elaborando um estilo rico e compacto, que, por passar por
tantas intensidades, se mostra intenso, poderoso e vívido. Sem contar com a jams, sempre poderosas e rígidas, com
muito dinamismo, com bons solos e bons riffs de guitarra, além de uma seção
rítmica pulsante e um vocal extremamente competente.
A produção das músicas,
consequentemente seguem marcantes, agregando a ela um som compacto, sem aqueles
manjados tons místicos ou atmosférico, com aquele típico sombrio, mas muito
poderoso, concreto, agressivo e solar. O desempenho de seus instrumentistas
revela a versatilidade de seus músicos.
O álbum é inaugurado pela
faixa “Deception” que traz uma leve e contemplativa flauta na introdução que é
substanciada por uma “cozinha rítmica” bem entrosada e um vocal alto, mas
límpido que cresce juntamente com o instrumental: bateria pesada e marcada,
dedilhado de uma guitarra acústica que faz o contraponto, além de um baixo
forte e pulsante. A faixa é tipicamente progressiva, com mudanças de andamento,
variâncias rítmicas que seu frontman
confirma com sua privilegiada voz. A guitarra dá o som com dedilhados ao estilo
Yes, mas com um pouco de peso. Excelente faixa para começar!
Segue com “Carry On” que
começa introspectiva, dedilhados de baixo discretos que logo irrompem em riffs
pesados de guitarra, em pegada mais calcado no hard rock. Bongôs são ouvidos e
entrega uma veia mais percussiva e dançante. Ouve-se também uma guitarra mais
lisérgica, psicodélica, uma entrega mais experimental se se percebe quando o
bongô se cruza com a guitarra ácida! O hard rock retorna e ganha a cena, com um
momento mais pesado e intenso. Nesta faixa o hard prog ganha evidência. O vocal
é forte, alto e gritado, em alguns momentos. Mais uma vez se mostra altivo.
“The Demon” assume um caráter
mais acessível em sua sonoridade. Não direi se tratar de uma faixa comercial ou
radiofônica, mas, ainda assim, acessível, pois entrega versatilidade de uma
maneira mais simples em sua sonoridade. A faixa agradaria facilmente aos fãs de
prog, com suas viagens pastorais e aos apreciadores de hard e classic rock, com
riffs mais pesados de guitarra e de batidas de bateria mais fortes e marcadas.
O final da música passa a predominar o hard rock, com instrumentais mais
pesados e vocais rasgados.
“Lonely Man’s Cry” começa leve, acústica, dedilhados de um violão acústico abrem para uma balada com uma veia voltada para o country music. É viajante, agradável e contemplativa. Os vocais alternam entre a limpidez e suavidade, com momentos de mais alcance. A música vai ganhando mais corpo, com solos de guitarra mais pesados, alternando com solos de country. Os vocais de fundo trazem leveza e são, para curiosidade, executados por um grupo vocal chamado “The Sweet Inspirations”, que eram liderados por Cissy Houston, mãe da famosa cantora Whitney Houston e que também estava gravando para Elvis Presley e Aretha Franklin à época.
“Sail Away” começa com flautas, deduzindo uma faixa mais voltada para o prog rock, mas logo se mostra mais intensa, riffs de guitarra mais pegajosos e pesados. Embora cadenciada revela-se potente, com bateria com uma batida mais pesada e baixo pulsante e igualmente pesado. Não se pode negligenciar o trabalho rítmico nessa música.
E fecha com “Never Done” que começa também com flautas, porém em um interessante “duelo” com solos de guitarra de tirar de fôlego. O suave se encontra com o peso, dando um caráter versátil e arrojado à faixa. E depois de alguns minutos com uma apoteótica apresentação instrumental, entra os vocais que, mais uma vez, se mostra competente, agora com riffs de guitarra ao estilo hard rock dos anos 1970.
Após o lançamento de
“Deceptive Lines” o Plum Nelly fez uma turnê pelos Estados Unidos, tocando
juntos com nomes pesados da música, como: Bo Didley, BB King, Buddy Guy, The
Kinks, Savoy Brown, John Mayall, Fleetwood Mac, The Faces, Joe Cocker, Dr.
John, Muddy Waters, Terry Reid, The James Gang, entre outros.
Em 1974 mudaram-se para Los
Angeles. O que parecia ser um novo começo com a sua ida para Los Angeles, dois
anos depois, em 1976, a banda encerraria as suas atividades. O fim da banda foi
motivado, entre outros fatores, pela saída do vocalista John Walker que formou,
no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a sua banda: “The John Earl
Walker Band”. Infelizmente nada mais foi ouvido sobre o Plum Nelly após a sua
dissolução, o que é lamentável, levando-se em conta o potencial que os jovens
músicos tinham à época.
Eles não eram jovens, eles
eram praticamente adolescentes e já mostravam um talento inegável, mas, além da
saída de Walker, a promoção que foi dada ao álbum, à época de seu lançamento,
foi muito pobre e incipiente, deixando seu álbum sem nenhuma divulgação. Mas
eis que surge uma luz no fim do túnel, quando, em maio de 2025, “Deceptive
Lines” ganha uma reedição pelo selo Survival Research. Um grande trabalho de
garimpo e de reconhecimento a um trabalho excepcional produzido nos longínquos
anos 1970 que, independente se foi ou não conhecido ao grande público do rock
n’ roll, foi uma referência para o hard rock estadunidense.
A banda:
Ric Prince: vocais e teclados
John E. Walker: vocais
principais
Steve Ress na guitarra e
vocais
Peter Harris no baixo e vocais
Christopher Lloyd na bateria
Com:
Jeremy Steig na flauta
Dave Bash na conga e timbal
Faixas:
1 - Deception
2 - Carry On
3 - The Demon
4 - Lonely Man's City
5 - Sail Away
6 - Never Done





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