quarta-feira, 6 de novembro de 2024

McOil - All Your Hopes (1979)

 

O ano era 1979. Apesar do rock progressivo, com as suas bandas medalhonas, estar em declínio comercial e alguns casos até criativo, as bandas mais obscuras, principalmente, remavam contra a maré mercadológica e produziam bons trabalhos composicionais.

O punk, a new wave e até mesmo o heavy metal, além de “enlatados” como a “dance music” estavam no auge, outros começando a florescer. O rock progressivo perdia um pouco de espaço entre a indústria fonográfica. Mas na realidade este nunca teve o espaço que merecia.

Entretanto algumas bandas, forçosamente, lutando, resistindo bravamente, lançavam materiais com viés progressivo, mas tentando adequar-se às tendências musicais que pautavam o rock n’ roll, sobretudo na transição dos anos 1970 para os anos 1980.

Tentavam reinventar suas sonoridades, buscando as referências do passado sem correr o risco de soar datado ou ainda plágio e forma camaleônica se pintava com as cores dos novos tempos.

Na Alemanha, por exemplo, algumas bandas nasciam com o krautrock na sua sombra. É fato que a cena, surgida nos escombros culturais do pós-guerra no país germânico no fim dos anos 1960, serviu de sustentáculo para todas as vertentes sonoras do rock que floresceriam no país nos anos seguintes, mas o estereótipo atacava colocando todas as bandas no mesmo “saco”.

A banda que falarei hoje definitivamente moldou o seu som com o que se ditava nos anos 1970 e que aconteceria nos anos 1980, sobretudo com o New Wave of British Heavy Metal, na Inglaterra e, claro, em todo o mundo: o heavy metal.

Era uma banda extremamente versátil, flertando com o hard rock, o rock progressivo e uma espécie de proto metal. Falo da banda alemã MCOIL. Claro que o som do Mcoil não era nenhuma obra prima, haja vista que bandas como a canadense Rush, mais famosa, já fazia brilhantemente essas junções da música pesada com o progressivo, mas observa-se que, em seu único álbum lançado em 1979, chamado “All Our Hopes”, era muito bem feito e produzido.


McOil

“All Our Hopes” é um trabalho valioso, importante e diria necessário a todos que apreciam o heavy rock, o hard rock e também o rock progressivo e revela, mesmo que pouco conhecido pelo grande público, a sua importância para muitas bandas que surgiriam em meados dos anos 1980 em diante, formatando o que viríamos a conhecer como metal progressivo, mesmo tendo chegado tarde, diria, na cena, com tantas outras bandas já produzindo esse tipo de material.

Mas não duvide, caro amigo leitor, de que o Mcoil goza de algumas boas peculiaridades, a começar pelo vocal áspero, pela bateria pesada e veloz, pela guitarra crua, de riffs pesados e baixos galopantes, pulsantes. Não há o que contestar sob o aspecto instrumental. É um álbum solar, vibrante e bom do início ao fim.

Mas antes de falar de “All Our Hopes”, vamos falar um pouco da história de Mcoil, apesar da escassez de informações sobre a mesma na grande web. O Mcoil foi formado em 1976 na cidade de Ober Schwaber, na Alemanha. Dois anos mais tarde, em 1978, a banda produziu e distribuiu, de forma independente, 500 cópias das faixas “Mask of Life” e “A Better Day”, que foi gravado como single.

Venceram várias bandas em festivais de rock o que foi decisivo para a produção de seu primeiro álbum, o “All Our Hopes”. O produtor Dieter Ege, que trabalhou com bandas do naipe de Everyone's Daughter, Ghosttrain, Kraan, entre outros, acompanhava de perto a apresentação da banda à época, reconheceu as habilidades do Mcoil e propôs a produção do álbum, sendo concebido no próprio estúdio de Ege, o “Ege-Sound Studio”, em uma prensagem limitada e privada.

O Mcoil foi formado por quatro membros, sendo esta a que gravou “All Our Hopes”: Walter Utz nos teclados, Karl Wild na guitarra, Norbert Kuhpfahl no baixo e Andy Tischmann na bateria.

O álbum é inaugurado pela faixa “Be Careful” com a introdução de teclados em total simbiose com os riffs pegajosos e pesados de guitarra e uma seção rítmica invejável, bateria marcada, baixo pulsante e um vocal rasgado e rouco que, a princípio, pode destoar da complexidade instrumental, mas ganha algo de exótico. Nesta faixa predomina o hard rock que traz o proto metal representado pelo peso da bateria tocada velozmente e solos diretos e poderosos de guitarra.

"Be Careful"

Segue com a faixa título, “All Our Hopes” que, no auge de seus quase nove minutos de duração traz a textura progressiva da banda. O teclado dita sua presença na introdução com uma atmosfera sombria, soturna, bateria ao fundo e a guitarra, ao estilo floydiano, canta suavemente, contemplativa, solos limpos e arrepiantes muito bem executados. Até mesmo o vocal, sujo e indulgente, deu lugar a algo mais melódico e limpo, seguindo a proposta de faixa, complexa e progressiva, cheia de viradas rítmicas e uma delas com passagens mais voltadas para o hard rock.

"All Your Hopes"

“This Time Should Never End” começa rasgando com guitarras mais distorcidas, com riffs mais pesados e teclados mais espaciais ao estilo Hawkwind. A seção rítmica, a “cozinha” é poderosa, conferindo “corpo” a música conforme ela se desenvolve. O teclado deixa a música mais dançante, solar, mas não menos pesada. “Mask of Life” traz de volta uma atmosfera mais soturna em seu começo, dando lugar a um belíssimo trabalho percussivo. A bateria se faz pesada e veloz, o proto metal está evidente e a música pode se adequar a qualquer faixa de qualquer banda oitentista da cena heavy. Música excelente!

"Mask of Life"

“Sailing Around” é mais cadenciada, se revelando um ótimo “exemplar” de hard prog, com um lindo duelo de guitarra e teclado, com a bateria, marcada, dando o ritmo à proposta da faixa. E falando em teclado, os solos são fantásticos, rivalizando com riffs poderosos de guitarra. Outra grande faixa!

"Sailing Around"

“Once In The Summernight” traz de volta o peso do proto metal. A guitarra com riffs pesados e velozes, tem uma simbiose excelente com o baixo, tocado galopantemente e uma percussão invejável. Solos de guitarra bem elaborados são ouvidos no terceiro minuto de música. “Whats This Live” segue na mesma vibe: peso, porém cadenciado, retomando os tempos do bom e velho hard rock setentista, com o teclado trazendo uma textura mais enérgica, ao estilo Uriah Heep e Deep Purple. A bateria é um espetáculo à parte: estrondosa, poderosa!

"Walk This Live"

“A Better Day”, lançada como single em 1978, mas excluída na época do lançamento do álbum um ano depois, em 1979, mas relançada em 1993, como bônus track pelo selo “Garden of Delights” é dançante, parece até uma galhofa sonora, mas é bem solar, animada, mas não se engane, caro leitor, logo irrompe o peso orquestrado pelos riffs da guitarra, entregando um belo hard rock.

O Mcoil trafegou pelos anos 1980 nas sombras do seu único lançamento, “All Our Hopes”, e reza a lenda que eles teriam gravado um segundo álbum, em 1981, ainda inédito, ou seja, não foi lançado. Ao longo desse período o Mcoil teve algumas mudanças de formação. Andy Tischmann foi substituído por Rudolf Scheich, recrutando mais um guitarrista, o Dieter Eisenmann, trabalhando com cinco músicos.

Mas a falta de apoio por parte da indústria fonográfica fez com o Mcoil de desfizesse em 1986, com três membros formando a banda de heavy metal Stinger. Em 1993 “All Our Hopes” foi relançado pelo selo valoroso alemão, o “Garden of Delights”, trazendo alguma visibilidade ao álbum e banda. Em 2017 o tecladista Walter Utz morreria.

“All Our Hopes” entrega tudo que uma banda de hard prog dos anos 1970 pode oferecer: peso, complexidade, teclados atraentes, guitarras pesadas e melodias instantaneamente viciantes, além de um vocal exótico. Não se tem informação da origem do nome, mas, se me perdoem a licença poética, o óleo da banda explode em um rock n’ roll poderoso e envolvente. Altamente recomendado!




A banda:

Walter Utz nos vocais e teclados

Karl Wild na guitarra e backing vocals

Norbert Kuhpfahl no baixo

Andy Tischmann na bateria

 

Faixas:

1 - Be Careful

2 - All Our Hopes

3 - This Time Should Never End

4 - Mask of Life

5 - Sailing Around

6 - Once in the Summernight

7 - What's This Live

 

Bônus track:

8 - A Better Day (4:16) *



"All Your Hopes" (1979)








 












 



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