O ano era 1979. Apesar do rock
progressivo, com as suas bandas medalhonas, estar em declínio comercial e
alguns casos até criativo, as bandas mais obscuras, principalmente, remavam
contra a maré mercadológica e produziam bons trabalhos composicionais.
O punk, a new wave e até mesmo o heavy metal, além de “enlatados” como a “dance music” estavam no auge, outros
começando a florescer. O rock progressivo perdia um pouco de espaço entre a
indústria fonográfica. Mas na realidade este nunca teve o espaço que merecia.
Entretanto algumas bandas,
forçosamente, lutando, resistindo bravamente, lançavam materiais com viés
progressivo, mas tentando adequar-se às tendências musicais que pautavam o rock
n’ roll, sobretudo na transição dos anos 1970 para os anos 1980.
Tentavam reinventar suas sonoridades, buscando as referências do passado sem correr o risco de soar datado ou ainda plágio e forma camaleônica se pintava com as cores dos novos tempos.
Na Alemanha, por exemplo,
algumas bandas nasciam com o krautrock na sua sombra. É fato que a cena,
surgida nos escombros culturais do pós-guerra no país germânico no fim dos anos
1960, serviu de sustentáculo para todas as vertentes sonoras do rock que
floresceriam no país nos anos seguintes, mas o estereótipo atacava colocando
todas as bandas no mesmo “saco”.
A banda que falarei hoje
definitivamente moldou o seu som com o que se ditava nos anos 1970 e que
aconteceria nos anos 1980, sobretudo com o New Wave of British Heavy Metal, na
Inglaterra e, claro, em todo o mundo: o heavy metal.
Era uma banda extremamente versátil, flertando com o hard rock, o rock progressivo e uma espécie de proto metal. Falo da banda alemã MCOIL. Claro que o som do Mcoil não era nenhuma obra prima, haja vista que bandas como a canadense Rush, mais famosa, já fazia brilhantemente essas junções da música pesada com o progressivo, mas observa-se que, em seu único álbum lançado em 1979, chamado “All Our Hopes”, era muito bem feito e produzido.
“All Our Hopes” é um trabalho
valioso, importante e diria necessário a todos que apreciam o heavy rock, o
hard rock e também o rock progressivo e revela, mesmo que pouco conhecido pelo
grande público, a sua importância para muitas bandas que surgiriam em meados
dos anos 1980 em diante, formatando o que viríamos a conhecer como metal
progressivo, mesmo tendo chegado tarde, diria, na cena, com tantas outras
bandas já produzindo esse tipo de material.
Mas não duvide, caro amigo
leitor, de que o Mcoil goza de algumas boas peculiaridades, a começar pelo
vocal áspero, pela bateria pesada e veloz, pela guitarra crua, de riffs pesados
e baixos galopantes, pulsantes. Não há o que contestar sob o aspecto instrumental.
É um álbum solar, vibrante e bom do início ao fim.
Mas antes de falar de “All Our Hopes”, vamos falar um pouco da história de Mcoil, apesar da escassez de informações sobre a mesma na grande web. O Mcoil foi formado em 1976 na cidade de Ober Schwaber, na Alemanha. Dois anos mais tarde, em 1978, a banda produziu e distribuiu, de forma independente, 500 cópias das faixas “Mask of Life” e “A Better Day”, que foi gravado como single.
Venceram várias bandas em
festivais de rock o que foi decisivo para a produção de seu primeiro álbum, o “All
Our Hopes”. O produtor Dieter Ege, que trabalhou com bandas do naipe de Everyone's
Daughter, Ghosttrain, Kraan, entre outros, acompanhava de perto a apresentação
da banda à época, reconheceu as habilidades do Mcoil e propôs a produção do
álbum, sendo concebido no próprio estúdio de Ege, o “Ege-Sound Studio”, em uma
prensagem limitada e privada.
O Mcoil foi formado por quatro
membros, sendo esta a que gravou “All Our Hopes”: Walter Utz nos teclados, Karl
Wild na guitarra, Norbert Kuhpfahl no baixo e Andy Tischmann na bateria.
O álbum é inaugurado pela
faixa “Be Careful” com a introdução de teclados em total simbiose com os riffs
pegajosos e pesados de guitarra e uma seção rítmica invejável, bateria marcada,
baixo pulsante e um vocal rasgado e rouco que, a princípio, pode destoar da
complexidade instrumental, mas ganha algo de exótico. Nesta faixa predomina o
hard rock que traz o proto metal representado pelo peso da bateria tocada
velozmente e solos diretos e poderosos de guitarra.
Segue com a faixa título, “All
Our Hopes” que, no auge de seus quase nove minutos de duração traz a textura
progressiva da banda. O teclado dita sua presença na introdução com uma
atmosfera sombria, soturna, bateria ao fundo e a guitarra, ao estilo floydiano,
canta suavemente, contemplativa, solos limpos e arrepiantes muito bem
executados. Até mesmo o vocal, sujo e indulgente, deu lugar a algo mais
melódico e limpo, seguindo a proposta de faixa, complexa e progressiva, cheia
de viradas rítmicas e uma delas com passagens mais voltadas para o hard rock.
“This Time Should Never End”
começa rasgando com guitarras mais distorcidas, com riffs mais pesados e
teclados mais espaciais ao estilo Hawkwind. A seção rítmica, a “cozinha” é
poderosa, conferindo “corpo” a música conforme ela se desenvolve. O teclado deixa
a música mais dançante, solar, mas não menos pesada.
“Sailing Around” é mais
cadenciada, se revelando um ótimo “exemplar” de hard prog, com um lindo duelo
de guitarra e teclado, com a bateria, marcada, dando o ritmo à proposta da
faixa. E falando em teclado, os solos são fantásticos, rivalizando com riffs
poderosos de guitarra. Outra grande faixa!
“Once In The Summernight” traz
de volta o peso do proto metal. A guitarra com riffs pesados e velozes, tem uma
simbiose excelente com o baixo, tocado galopantemente e uma percussão
invejável. Solos de guitarra bem elaborados são ouvidos no terceiro minuto de
música.
“A Better Day”, lançada como
single em 1978, mas excluída na época do lançamento do álbum um ano depois, em
1979, mas relançada em 1993, como bônus track pelo selo “Garden of Delights” é
dançante, parece até uma galhofa sonora, mas é bem solar, animada, mas não se
engane, caro leitor, logo irrompe o peso orquestrado pelos riffs da guitarra,
entregando um belo hard rock.
O Mcoil trafegou pelos anos 1980 nas sombras do seu único lançamento, “All Our Hopes”, e reza a lenda que eles teriam gravado um segundo álbum, em 1981, ainda inédito, ou seja, não foi lançado. Ao longo desse período o Mcoil teve algumas mudanças de formação. Andy Tischmann foi substituído por Rudolf Scheich, recrutando mais um guitarrista, o Dieter Eisenmann, trabalhando com cinco músicos.
Mas a falta de apoio por parte
da indústria fonográfica fez com o Mcoil de desfizesse em 1986, com três
membros formando a banda de heavy metal Stinger. Em 1993 “All Our Hopes” foi
relançado pelo selo valoroso alemão, o “Garden of Delights”, trazendo alguma
visibilidade ao álbum e banda. Em 2017 o tecladista Walter Utz morreria.
“All Our Hopes” entrega tudo
que uma banda de hard prog dos anos 1970 pode oferecer: peso, complexidade,
teclados atraentes, guitarras pesadas e melodias instantaneamente viciantes,
além de um vocal exótico. Não se tem informação da origem do nome, mas, se me
perdoem a licença poética, o óleo da banda explode em um rock n’ roll poderoso
e envolvente. Altamente recomendado!
A banda:
Walter Utz nos vocais e teclados
Karl Wild na guitarra e
backing vocals
Norbert Kuhpfahl no baixo
Andy Tischmann na bateria
Faixas:
1 - Be Careful
2 - All Our Hopes
3 - This Time Should Never End
4 - Mask of Life
5 - Sailing Around
6 - Once in the Summernight
7 - What's This Live
Bônus track:
8 - A Better Day (4:16) *
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