O cheiro do mofo nunca foi tão
agradável! Esse tom de mistério, de empoeirado, de obscuro e quiçá, para meu
deleite, oculto, é o que de mais delicioso pode proporcionar aos que,
evidentemente, apreciam.
Quando ouvimos determinadas
bandas e/ou músicas temos a nítida impressão de que é primitivo, cru, diria
sujo, desafiador, indulgente e underground, sobretudo.
É por isso que esse blog,
reles e humilde, existe! Para trazer à luz sonoridades totalmente
marginalizadas pelo ostracismo, pela indústria fonográfica, inclusive pelos fãs
de rock n’ roll.
E em uma de minhas incursões
pela grande rede descobri uma banda que sequer lançou um álbum, nada oficial,
apenas alguns singles que poderiam delinear o que não aconteceu, um “álbum
cheio”. Falo da banda ASTAROTH.
Não negarei, caros e estimados
leitores, que o nome me atraiu de imediato, afinal, nomes de demônios em bandas
de rock são uma ode às audições de occult rock ou no mínimo um tempero a algo,
digamos, pouco ortodoxo.
E de fato a sua sonoridade é
típica de uma vertente esquecida e vilipendiada pelo rock n’ roll, tornando um
gueto lá nos longínquos anos 1970, em seu início, mas não se enganem porque
hoje, mais precisamente no início das décadas de 2000, o occult rock ganhou
alguma visibilidade, dando a algumas bandas alguns prêmios do mainstream, como
a sueca Ghost, por exemplo.
O que atualmente é sucesso,
visível, graças a impulsos como as redes sociais, por exemplo, tudo era obscuro
no passado distante, dando a bandas como o Astaroth, por exemplo, o título de
desbravadoras do estilo.
Mas voltando ao passado o
Astaroth surgiu na proeminente Detroit, Michigan, que testemunhou o nascimento
de bandas agressivas e pesadas, como o MC5 e Stooges, tidas como os precursores
do punk rock. Não me surpreenderia que o Astaroth, mesmo tendo lançado apenas
um single com duas faixas, não tenha absorvido a aridez do som de um local
igualmente tenso com as suas construções fabris.
Um som primitivo, um garage rock que corrobora a sua condição
obscura, marginal, suja e perigosa que faz do som do Astaroth, sobretudo para a
sua época, algo original e pouco palatável para os conservadores da indústria
fonográfica e também de alguns pseudo fãs de rock.
E falando em tempo, há, para
variar, uma dúvida quanto ao surgimento do Astaroth na cena rock. Há que diga
que o lançamento de seu single, de nome “Satanispiritus/Lady of Moon”, teria
sido em 1968 ou em 1975. Caso a primeira informação seja confirmada a
importância dessa banda é gigantesca, levando em conta que são os primórdios do
occult rock, juntamente com bandas do naipe de Coven, por exemplo.
As poucas fontes de informação espalhadas pela grande rede dão conta de que o lançamento desse trabalho, totalmente “artesanal”, se deu no fim dos anos 1960 e outros em meados da década de 1970, 1968 ou 1975, respectivamente. Então fiquemos com esses dois anos, porque são emblemáticos para a história da música pesada.
Se
considerarmos que o seu single foi lançado em 1968, pode-se dizer que é um dos
pioneiros do occult rock e se foi concebido em 1975 certamente serviu de
referência para o heavy metal. O fato é que esse single, mesmo raro e obscuro,
ao ouvi-lo nos remetemos a esses fatos históricos da música pesada.
Ao ouvi-lo, se me permitem às
“licenças poéticas”, me parece ser da transição dos anos 1960 para os anos
1970, pois é pouco polido no que tange a produção, tendo ainda “nuances” de
psych rock, típico daqueles anos. Essa carga misteriosa definitivamente faz
desse trabalho, convenhamos, algo singular.
“Satanispiritus/Lady of Moon”
foi lançado originalmente pelo selo Adesta Records e relançado duas vezes pela Unseen
Forces em 2011 e depois em 2015, com tiragem de 300 cópias, sem nenhuma
atração, sem nenhum bônus o que reforça que a banda nada produziu depois desse
single com as duas faixas já mencionadas, o que é triste para nós, pobres
mortais sedentos por occult rock esquecido.
E falando do single e de suas
apenas duas faixas, podemos dizer que entrega um rock pesado, um hard rock
garageiro com elementos de hard rock e de um heavy metal antigo, de vanguarda,
com texturas psicodélicas e de efeitos que dão um toque sombrio e
temperamental. Aos que apreciam hard rock, occult rock e um heavy rock
recomendo ouvir o quanto antes, sem pestanejar.
Então vamos às faixas, dissecando cada uma delas! A primeira, do lado A, é a “Satanispiritus” que começa turbulenta, pesada, agitada e, apesar do conceito lírico sobrenatural, a banda entrega uma música viva e alegre que parece se aproximar mais do proto punk do que o proto metal, pelo menos é a minha primeira impressão, mas traz as nuances típicas do hard rock e até o heavy rock. É rápida, barulhenta, com letras malignas e bem cativante, absurdamente alta para meados dos anos 1970 e principalmente para o fim dos anos 1960.
O lado B conta com a faixa “Lady
of Moon” que é mais excêntrica e mais oculta ainda, o típico, mas indefectível
som do occult rock! Uma balada tensa, que traz medo e apreensão, alo teatral na
voz, os instrumentos dão toda a textura para essa atmosfera soturna e depois
vai ficando mais agitada, mas cadenciando para o psych rock, algo como The Doors é percebido, mas nunca fugindo à
sua proposta estranha e com doses cavalares de suspense.
A título de curiosidade uma
banda, formada recentemente, de Portland, chamada Disenchanter fez um cover
“Satanispiritus” e está em uma compilação chamada “Doomed and Stoned in
Portland Volume 2”, além de outra versão tocada por outra banda de nome Dead
Sentries.
Pode parecer incerto ou
informações vazias que careçam de confirmação, mas confesso que gosto do
mistério que cerca esse álbum, na realidade esse single, afinal para que sempre
ter as respostas o tempo todo quando nós temos o que de melhor pode ser
proporcionado: a música, a música de qualidade! Reza a lenda também de que a
banda seria nova e que a gravação foi conduzida meticulosamente para parecer
“vintage”. O fato é que gosto de pensar que Astaroth é uma banda sobre a qual
nunca saberemos mais e que ficará da obscuridade.
A banda:
Não creditada
Faixas:
1 - Satanispiritus
2 - Lady of the Moon
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