sexta-feira, 26 de abril de 2024

Finch - Glory of the Inner Force (1975)

 

A cena progressiva holandesa é definitivamente prolífica! Embora pareça uma afirmação tola eu estou descobrindo-a a cada banda que tenho conhecido nesses últimos meses, anos.

Não há como se estabelecer na vasta e brilhante discografia do gigante Focus. Lamentavelmente grande parte das bandas não atingiram o êxito comercial do Focus, sendo difícil destas chegarem aos ouvidos dos fãs.

A não ser que os fãs sejam ávidos por desbravar, por conhecer bandas obscuras, que trafegam na escuridão do underground e que difundem, por intermédio dos mais variados veículos de comunicação, tais bandas, fazendo com que estas saiam do mais profundo ostracismo.

E a banda de hoje se enquadraria no grupo dos subestimados, não sendo apenas uma banda obscura, alternativa, pouco conhecida. Parece que um complementa o outro. Se é esquecida, logo incorre no risco de ser ruim, porque ainda aliam a falta de sucesso a qualidade sonora da banda.

Falo do FINCH. O nome, confesso, me parece ser bem, digamos, atípico. Em tradução livre significa “passarinho”. Não sei se os caras do Finch eram ornitólogos ou tinham algum apreço especial pelos pássaros, mas o fato é que a banda foi batizada com esse nome. Reza a lenda que o baixista fundador da banda, Peter Vink, alegou que a tradução de seu sobrenome, em inglês, era “Finch” e assim batizou o nome da banda.


Finch

Além de Peter Vink, no baixo, a banda contou, na sua formação inaugural com o forte apoio do virtuoso guitarrista Joop Van Nimwegen, Paul Vink, nos teclados e Beer Klaassena bateria. O Finch teve uma vida curta, saindo precocemente da cena progressiva sem deixar rastros, gravando também pouquíssimos álbuns, com três trabalhos, lançados entre 1975 e 1977, sendo formada em 1974. O álbum que falarei é o seu debut: “Glory of the Inner Force”, de 1975.

Mas antes de falar nesse petardo cheio de energia e entusiasmo instrumental, falemos no embrião do Finch que, como muitas outras bandas, surgiu das cinzas de outras bandas e geralmente com “pequenas tragédias”.

A banda se chamava Q65. O Q65 estava estabelecido na cidade de Haia Het Paard. Peter Vink era o baixista e Klaassen Beer era o baterista. Quando a banda acabou, ambos os músicos decidiram ficar juntos e criar em novo projeto chamado KJOE. Além deles ingressou o vocalista Johnny Fredericks e o guitarrista Frank Nyuyens. O último não ficou por muito tempo porque na época quebrou o braço e foi substituído Ronnie Mayer.

O KJOE tocou em vários clubes durante as noites, as madrugadas. Claro que bandas novas era sempre mais difícil conquistar espaços maiores, públicos e o caminho foi muito tortuoso, até que Ronnie Fredericks abandonaram a banda para tocar em bandas já estabelecidas.

O prejuízo aumentou. O KJOE precisava de recrutar novos músicos. Audições foram feitas com vários músicos, até que Vink e Beer descobriram um garoto de 19 anos chamado Joop Van Breukelen Nimvegen, tido atualmente como um dos mais influentes guitarristas da Holanda, que adorava jazz, blues e art-rock.

Joop Van Breukelen Nimvegen

Muito técnico e rápido o jovem logo ocupou o cargo de guitarrista da banda. O KJOE passou a ensaiar como um trio, quando Clem Determeijer assume a vaga de tecladista da banda. Convém ressaltar que Clem substituiu Paul Vink nos teclados, antes do lançamento do primeiro álbum já com o nome “Finch”.

O conteúdo instrumental foi tão bom, os ensaios surtiram um efeito tão positivo que decidiram ficar sem vocalista. Essa decisão não foi aleatória, mas tinham a intenção de focar, aprimorar a sua estrutura instrumental. Eis o embrião do Finch. Em 1974 a banda decide mudar de nome trazendo “Finch”.

A EMI holandesa estava disposta a investir em bandas novas de rock progressivo, afinal, era meados dos anos 1970 e o estilo estava um tanto quanto em alta e repassou recursos para o selo local, a “Negram” e a nova banda Finch estava à disposição para ser reparada e conseguiu, assinando contrato em 1975.

As gravações foram realizadas em apenas três dias, afinal custava caro bandas novas ficar muito tempo em estúdio, no “Intertone Studios”, em Heemstead, mixando e masterizando nesse período, com a produção de Roy Beltman e engenharia de Pierre Geoffroy Chateu. Assim nasceu “Glory of the Inner Force”.

Há apenas quatro faixas, mas o suficiente para impor virtuosismo, intensidade e muita energia. São composições dignamente empolgantes, com interações incríveis entre os músicos e seus instrumentos, tendo como sustentáculo os teclados e riffs e solos catárticos de guitarra, em uma espécie de salutar duelo entregando um progressivo sinfônico carregado de complexidade, mas muito orgânico.

São realmente performances bombásticas onde arrisco dizer que há peso nas composições, com um Finch calcado no hard rock. Algo um tanto quanto atípico ver, ou melhor ouvir, um progressivo sinfônico com tamanha originalidade tendo no peso e na energia o seu viés sonoro.

Enquanto algumas bandas holandesas flertavam com a improvisão o Finch trazia elementos mais complexos, técnicos ao seu som. Em “Glory of the Inner Force” tudo parece estar meticulosamente no lugar, mas ainda assim não soa mecânico ou sem vida, muito pelo contrário, é uma música cheia de vivacidade, de um virtuosismo orgânico.

Adicione ao combo prog sinfônico e pitadas de hard rock, a pegada jazzística, jazz rock e fusion, em um caldeirão improvável e fantástico de um rock n’ roll enérgico e poderoso. É definitivamente algo solar neste trabalho inaugural do Finch.

E sem mais delongas vamos destrinchar faixa a faixa e não se enganem, caros e estimados leitores, são longas faixas que, diante dessa energia instrumental, não se torna nem um pouco enfadonha.

E começa com “Register Magister”! Aqui a composição, além de intensa, vívida e bombástica, traz muita inspiração, com o fogo do hard rock com a sofisticação do jazz rock, com riffs de guitarra, solos mais diretos, porém atraentes e inspiradores. Outro detalhe e que detalhe navega nas intensas variações e reviravoltas sonoras que definitivamente é e tirar o fôlego. É incrível o humor e o ritmo impresso na sonoridade dessa faixa. Ah não podemos negligenciar o prog sinfônico presente, com linhas cavalares de baixo. A “cozinha” nessa faixa é magistral.

"Register Magister"

Segue com “Parodoxical Moods” já te cativa com um mellotron assustador, avassalador que propicia as “travessuras” de guitarra de Joop. Aquele clima salutar de duelo tão presente em todo o álbum. Mas o melhor estaria de por vir, com um solo incrível de órgão com a cortesia de Determeyer. São compassos rápidos e loucos, algo atípico demais para um prog rock sinfônico que alternam em seções lentas, por vezes temperamentais que saltam sem forçar para os momentos mais animados. Não preciso dizer, com isso, das lindas alternâncias rítmicas.

"Paradoxical Moods"

E agora vem a majestosa “Pisces”, que pega um pouco mais leve nos andamentos, mas não foge muito à proposta estrutural do álbum. Aqui se, evidentemente, o frenesi das teclas com solos mais longos e a guitarra apenas dando uma textura, com o trabalho mais eloquentes da “cozinha” com uma levada mais jazz rock.

"Pisces"

E encerra com “A Bridge to Alice” que inicia mais soturno, sombrio, com um baixo mais pesado e bateria marcada. Riffs de guitarra são ouvidos e corroboram o peso da faixa. O peso “rivaliza” com passagens mais jazzísticas constatando as já percebidas, em todo álbum, variações rítmicas.

"A Bridge to Alice"

“Glory of the Inner Force” teve alguma repercussão pela imprensa local, não apenas pelos veículos especializados, mas pela mídia holandesa ampla, sendo, alguns meses depois sendo lançado nos Estados Unidos pela ATCO Records (subsidiária da Atlantic), onde impressões positivas também pipocaram, afinal, não era para menos, tratava-se de um excelente e arrojado álbum. Em 1994 o álbum foi relançado, sendo remasterizado por Peter Vink com a inclusão de duas faixas bônus: “Colossus Part I” e “Colossus Part II”.

O Finch lançou o seu segundo álbum, em 1976, chamado “Beyond Expression” e no ano seguinte traria ao mundo seu terceiro e último álbum de estúdio o “Galleons of Passion”, de 1977. A banda encerrou as suas atividades, precocemente, em 1978 sem deixar rastros.

"Beyond Expression" (1976)

"Galleons of Passion" (1977)

O Finch traz uma sonoridade complexa, com temas inspirados e arrojados e de extremo bom gosto, mas sem deixar de lado a presença humana, orgânica de seus músicos. “Glory of the Inner Force” traz quatro faixas que são primordialmente músicas de um hard prog sinfônico. São músicas densas, fortes e técnicas, sobretudo.

A conclusão que se tira desse excelente trabalho do Finch é de um trabalho múltiplo de vertentes do rock n’ roll recheadas de surpresas mais do que agradáveis, com evoluções técnicas e orgânicas que faz dessa obra, apesar de alternativa, uma das mais importantes da Holanda. Definitivamente trata-se de uma pérola mais do que recomendada!



A banda:

Joop Van Nimwegen nas guitarras elétricas e acústicas

Cleem Determeijer no piano de cauda, ​​piano honky tonk, piano elétrico, órgão Hammond, Mellotron, sintetizador Arp Pro-Soloist

Peter Vink no baixo, pedais de baixo

Beer Klaasse na bateria

 

Faixas:

1 - Register Magister

2 - Parodoxical Moods

3 - Pisces

4. A Bridge to Alice


"Glory of the Inner Force" (1975)


 






 











 










2 comentários:

  1. Bruno Moraes, excelente a banda! Tenho ouvido muito o duplo "Stage'76" (Live) - "The making of... Galleons Of Passion. "Necronomicon" (que é inclusive nome de uma obscura e boa banda alemã), com seus 17 minutos, parece um remake de "Aquatarkus" do ELP. Excelente a também gigantesca "A Passion Condensed", que lembra muito o Focus com suas alternâncias de guitarra, órgão e bateria. E o guitarrista é herdeiro de Jan Akkerman... Obrigado pela dica. Já ouvindo os outros discos.

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    1. Geraldo, Finch é demais!

      A banda tem um som cativante e enérgico, um prog rock que não precisa ser enfadonho só pelo fato de ser prog rock! kkk

      Uma banda especial que há tempos estava querendo escrever sobre!

      Obrigado por ler!

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