A existência deste blog não
efetiva meramente conteúdos de bandas obscuras e raras que caíram no mais puro
ostracismo, não é apenas para seguir questões temáticas, mas para contar,
primordialmente, histórias.
Histórias que, embora tragam
especificidades comuns às bandas e álbuns, mas que contam momentos em comum que
são, no mínimo, pitorescos: o fracasso. Ao amigo leitor que lê deve achar que
eu estou um tanto quanto louco para achar interessante o fracasso.
A questão é trazer o submundo
da música, que pode trazer algo de genuíno à essas bandas, algo de verdade em
sua sonoridade, pois não se curvaram aos ditames comerciais, carregados de
modismos que sempre perecem, cedo ou tarde.
Não há glamour sempre, não há
referências de sucesso sempre, não há cases
de sucesso sempre, mas o fracasso comercial que entregam histórias fabulosas,
de persistência que denota pura e simplesmente o amor à música que faz, logo a
crença nela.
E isso nos revela sonoridades
que deveriam revolucionar, que deveriam deixar uma história indelével para o
rock n’ roll e servir de referência para tantas outras bandas novas, tantos
outros músicos jovens que queiram subverter o mercado e suas músicas
pasteurizadas.
A missão deste humilde e reles
blog que você, estimado leitor, lê é trazer o alternativo, é trazer algo
arrojado, que suscite em todos o exercício do exorcismo à temível zona de
conforto que parece teimar em pairar, como nuvens negras, nas nossas cabeças.
Afinal o rock traz a capacidade de subverter, em todos os aspectos da vida!
E recentemente, graças às
minhas incessantes aventuras desbravando a grande rede, descobri uma banda que
personifica, de forma evidente e clara, tais características por mim
mencionadas até agora, bem como o cerne deste blog e que, além de ser
extremamente rara, apresenta um país que não tem tradição para o rock n’ roll,
a Islândia.
E o que me levou a essa banda
foi uma relação com outra, de mesmo país, que já conhecia a algum tempo e de
que sou imensamente fã pela sua relevância sonora, que é o Icecross que,
inclusive fiz um texto e que pode ser lido aqui.
O nome da banda em questão é o
ANDREW surgida na fria Islândia. Um nome louco e atípico para uma banda
extremamente rara até mesmo em seu país de origem e que, corroborando essa máxima,
pouco se tem de informações sobre o seu passado.
Não se tem informações, para
variar, do início da banda, de quando foi formada, mas tudo indica, se me
permitem a “licença poética”, se tratar de um projeto de estúdio, sem maiores
pretensões, tanto que lançaram apenas um álbum, de nome “Woops”, em 1973, que
foi gravado no “Incognito” e remixado no Morgan & Soundtek Studios e
lançado pelo selo Najö Productions, com uma tiragem privada e limitada, em
torno de 500 a 600 cópias. Atualmente não se sabe se há álbuns originais
disponíveis no mercado, mas os que tem e querem vender estão oferecendo, reza a
lenda, em uma bagatela de US$ 600! Pasmem!
E a relação do Andrew com o
Icecross de que me referi e que propiciou para que eu conhecesse o Andrew se
deu porque dois integrantes do Icecross estiveram envolvidos na banda, são
eles: Omar Oskarsson, baixista e vocalista e Asgeir Oskarsson, baterista e
vocalista.
Mas não se enganem que em
“Woops” encontrará as mesmas características sonoras do álbum homônimo do Icecross,
que é predominantemente o peso do hard rock.
Acalmem-se, estimados
leitores, que eu me explicarei: não há proposta definida, não há estilo
determinado, mas um flerte evidente à várias vertentes do rock que estavam em
evidência, variando entre hard psych, pela sofisticação do rock progressivo,
pela viagem lisérgica do space rock, do funky, variando entre baladas
acústicas, guitarras estranhas e divagações psicodélicas instrumentais, com jams instrumentais. Tudo em uma
abordagem enigmática e underground.
Não há nada de excepcional ou
vanguardista, o Andrew colocou em sua sonoridade o que se ouvia no rock n’ roll
em meados dos anos 1970, mas o que faz de seu único álbum especial é exatamente
o flerte com tudo o que se ouvia à época, sem soar deslocado.
“Woops” é sólido, é intenso, é
um álbum vívido e solar e mostra uma banda totalmente azeitada, embora traga,
pelo que parecia, apenas um projeto de estúdio. Esse é o charme deste trabalho,
porque é estranho, diversificado e que não se prende a estereótipos.
E já que falamos da banda,
vamos elenca-los! Além dos ex-integrantes do Icecross, Omar Oskarsson, no
baixo, Asgeir Oskarsson, na bateria, que tocou também no Pelican, apresenta
ainda o tecladista Björgvin Gíslason, que tocou nas bandas Náttúra e Pelican, o
guitarrista Julius Agnarsson, que também era responsável pela execução do moog,
o vocalista Andri Clausen, o pianista e violinista Egill Ólafsson, que tocou
nas bandas Thursaflokkurinn e Spilverk Þjóðanna.
“Woops”, que é cantado todo em
inglês, é introduzido com a faixa “Rockin and Rollin” que explode em um hard
rock potente e cheio de riffs de guitarra e solos desconcertantes e vocais de
grande alcance. Nada melhor para abertura de álbum do que um “hardão”
tipicamente setentista.
Segue com a faixa “Himalaya”,
que muda consideravelmente o andamento, uma balada viajante com atmosfera
sombria, com o teclado ditando todo a sua estrutura sonora. Solos de guitarra
são igualmente viajantes e bem executados, apesar de simples.
“I Love You (Yes I do)” segue
na linha mais balada, algo mais radiofônico que me remete aos beats dos anos
1960, com solos lindos de guitarra, límpidas, solares. Um exemplo típico de uma
música um tanto quanto pop, mas bem executada.
A sequência traz a faixa
“Look” que retoma ao hard rock com uma introdução típica com riffs pesados de
guitarra, bem pegajosos, vocais despojados, solos diretos e bem cru. A famosa
música de “festa”, bem animada e solar. Mas ainda me traz algo de lisérgico, de
psych.
“Dawning” inicia progressiva,
o destaque do moog traz a sensação de viagem, de contemplação. O vocal é
dramático e melódico, e entrega uma atmosfera lisérgica, que suscita a uma
introspecção.
“Sweetest Girl” rememora os
anos 1960 e que remete a coisas do Animals ou coisa parecida. É dançante, a
guitarra te lembra algo meio funky. O sax corrobora tal momento da música.
Impossível não ficar parado com essa faixa.
Segue com “Heathens” que
retoma a “ala” mais pesada do álbum. Os riffs de guitarra são pesados,
indulgentes, agressivos que faz jus a um heavy metal de vanguarda. Vocal
rasgadão, de bom alcance. A “cozinha” rítmica se mostra entrosada, baixo
pulsante, bateria marcada. Excelente!
“Ballad of Herby Jenkins” é meio engraçada, algo de sarcástico se ouve na música e a brincadeira é para estereotipar a música sessentista. Piano alegre, vocal debochado.
“Purple Personality” é
lisérgica, guitarras distorcidas e estranhas, meio aleatório, um típico som de
rock psicodélico, mas com peso, sobretudo nos riffs de guitarra. Uma faixa que
personifica o álbum: que flerta com algumas vertentes do rock.
E finalmente fecha o álbum com
“Age” talvez a mais progressiva de todas as faixas, mas que introduz com sons
espaciais, um space rock curto e grosso, mas evidente e que vai e vem de uma
forma mais discreta ao longo da música. Teclados ao estilo The Doors são
percebidos e entrega uma vibe mais
psicodélica e dançante. Solos traz uma textura mais complexa e corrobora o quão
é prog rock essa faixa.
Esquecido, obscuro, raro...Palavras que, no show bussiness da música podem sintetizar o fracasso, para muitos abnegados e apreciadores da música underground, isso pode ser o suprassumo do que há de melhor no rock n’ roll. O fracasso comercial não inviabiliza a qualidade do que está contido em um determinado álbum. O Andrew sintetiza fielmente tudo isso e nos revela um caminho oposto ao glamour e o equívoco de sempre o que faz sucesso ter a melhor música.
O Andrew e seu álbum único, “Woops”, corrobora a necessidade premente e urgente de que há e muito a se desbravar nessa selva intocável que é o rock n’ roll. Permitir-se desbravar significa render-se às músicas empoeiradas que, por um infortúnio comercial, caiu no ostracismo. Pérola mais do que recomendada!
A banda:
Asgeir Oskarsson na bateria
Julius Agnarsson na guitarra e
moog
Omar Oskarsson no baixo
Andri Clausen nos vocais
Egil Olaffson no piano e
vocais
Bjornvin Gislason no moog
Faixas:
1 - Rockin and Rollin
2 - Himalaya
3 - I Love You (Yes I Do)
4 - Look
5 - Dawning
6 - Sweetest Girl
7 - Heathens
8 - Ballad of Herby Jenkins
9 - Purple Personality
10 - Age
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