Quando você fala do rock
progressivo holandês quais as bandas que vem à cabeça? Essa é uma resposta
fácil e curta e grossa: Focus! Não há como negligenciar a história desta banda
para o rock holandês e que ganhou o mundo com a sua música e a sua vasta e rica
discografia que, anos após anos ganha frutos consistentes e de grande
relevância.
E posso dizer isso com a
certeza de ter visto essa banda tocar no Rio de Janeiro há alguns anos atrás e,
apesar de não ter a formação clássica que gravou os grandes álbuns setentistas
ela continua com a mesma chama e a mesma força dos tempos de outrora. Sem
contar que o Brasil sem sombra de dúvida é um dos fãs mais ardorosos do Focus.
Mas é claro que essa é a
deixa para dizer que não é só do Focus que é feito o rock n’ roll holandês,
sobretudo a do bom e velho rock progressivo. Eu me lembrei do Focus também
porque a banda que falarei agora eu descobri e, lembro muito bem disso, poucos
dias depois desse inesquecível show do Focus que assisti no emblemático e
histórico Teatro Rival, no Rio de Janeiro.
Eu pensei: Poxa, conheço
pouquíssimas bandas de prog rock holandês e gostaria de sanar esse “problema”
conhecendo e ouvindo um pouco mais das bandas existentes nesse país. Então
quando se quer conhecer um pouco mais sobre algo, você tem que ir para o
garimpo, para a pesquisa e, meio que aleatoriamente, com algumas palavras
chaves nos sites de busca me pus a pesquisar.
E algumas bandas foram
aparecendo diante dos meus olhos e logo fiz algumas seleções e não demorei
muito a começar a ouvir algumas bandas e álbuns, na maioria, claro, obscuras,
pouco conhecidas. Algumas eu gostei muito, outras nem tanto, descartando das
minhas pretensões de audições futuras, outras me arrebataram de uma forma que
eu não poderia ficar apenas nas audições e escrever, buscar mais informações,
conhecer a sua história.
Nessa época eu não tinha o blog, mas escrevia em alguns grupos temáticos nas redes sociais e escrevi sobre a banda holandesa de hoje. E atualmente detentor de um blog eu precisava reeditar esse texto, que eu havia arquivado dando, claro, a devida recauchutada para compartilhar com os amigos leitores.
Então sem mais delongas vamos às apresentações! Falo da banda LIGHT com o seu único álbum lançado, há cinquenta anos, em 1972, chamado “The Story of Moses”. E ouvindo esse álbum não tem como não fazer aquele comentário que eu sempre faço e, apesar de ser redundante, de que por mais que conhecemos, por mais que o nosso leque de opções aumenta, descobrimos que ainda estamos no ponto de partida, pois quase nada sabemos. O universo é vasto e pouco explorado.
O Light foi formado na
cidade de Gouda, uma cidade neerlandesa que fica na província da Holanda do Sul
e se chamava inicialmente de “Light Formation” no final da década de 1960 e
tinha na formação os seguintes músicos: Joop Slootjes (baixo), Adrie Vergeer
(teclados), Sjaco van der Speld (bateria) e Gerard Steenbergen (guitarra). Em
seguida, o nome foi reduzido para Light e adicionado Hans de Bruin (saxofone,
flauta) e o baterista Sjako van der Speld (da banda Avalanche).
E como muitas bandas que
recebem quase pouco ou nada de apoio da indústria fonográfica e dos seus
empresários, sofreu em sua caminhada até o lançamento do seu primeiro álbum que
só veio em 1972.
“The Story of Moses” ou na
tradução livre, “A história de Moisés”, esse mesmo, o personagem bíblico que
libertou os israelitas da escravidão do Egito e os guiou para a terra
prometida, Canaã. Parecia que na virada dos anos 1960 para os anos 1970 era um
tanto quanto moda se produzir peças conceituais com temas da bíblia. Temos o "Jesus
Christ Superstar" ou "666" da excelente banda grega Aphrodite
Child ou o disco do Rovescio dela Medaglia, de 1971, o “La Bibbia”, cuja
resenha pode ser lida aqui, entre outros álbuns, filmes e peças teatrais que,
de forma arrojada e pouco convencional, contaram algumas passagens da bíblia e
de alguns personagens que compõe o livro sagrado.
O único rebento do Light é
de fato a síntese do que é o rock progressivo: um rock conceitual, calcado no
mellotron, dos teclados e nas letras que reforçam veemente o tema proposto. E
esse trabalho começou a ser cunhado no final de 1970 com o pianista e
compositor holandês Adri Vergeer que, além de ter sido o fundador da banda,
também foi a espinha dorsal para a peça conceitual baseada nos feitos de Moisés
e, seguindo o exemplo de E. Lloyd Webber decidiu contar a história do Êxodo do
Egito percorrendo, com requintes de detalhes os seus episódios-chave.
No final do ano de 1971, o épico de quase quarenta minutos foi concebido pela banda, contando também com alguns vocalistas e músicos convidados. E agora precisava de uma gravadora e de uma boa estrutura de estúdio para materializar em música o seu álbum. Essa é a parte mais difícil sempre, sobretudo em se tratando de temas complexos e intricados, mas o tema poderia ajudar a atiçar a curiosidade de um figurão da indústria.
Por sugestão do caçador de
talentos e chefe da Barclay Records Eddie Barkley, o Light chamou a atenção do
produtor de som Bert Schouten. Este último estudou cuidadosamente o trabalho
dos músicos e acabou assinando um contrato com eles. Então faltava muito pouco
para incorporar a história de Moisés nas condições de estúdio. Em 1972, “The
Story of Moses”, foi gravado no Phonogram Studio em Hilversun.
A formação do Light quando
“The Story of Moses” foi gravado tinha: Adri Vergeer no paino, órgão, mellotron
e vocal, o Light, quando concebeu “The Story of Moses”, era formado por Gerard
Steenbergen na guitarra acústica, Joop Slootjes no baixo, Hans de Bruin no
saxofone e flauta e Sjaco Van Der Speld na bateria e vocal. Contou como
convidados o guitarrista Hans Hollestelle (que mais tarde tocou na banda Spin)
e do baixista Guus Willemse, excelente banda Solution e Marian Schatteleyn e
Robbie Dale nos vocais.
“The Story of Moses” mostra
um rock progressivo sinfônico muito bem executado tendo um grande destaque na
parte instrumental, sobretudo nos teclados, como todo e qualquer álbum de prog
sinfônico. Tendo destaque também na guitarra acústica, baixo, saxofone, flauta
compondo um complexo álbum de rock progressivo. Tem uma levada jazzística e
erudita, inspirada em música clássica e o peso do hard rock.
O álbum é inaugurado com a
faixa linda “The Water” cuja introdução tem uma bela orquestração, regida por
um teclado tocado de forma simples com muita emoção e qualidade e um vocal que
segue em um timbre que complementa a atmosfera da faixa, sem contar com o solo
de guitarra meio jazzística.
“The Blackberry Bushes” tem uma levada latina,
com percussões que me remete a Santana nos áureos momentos em uma mescla com
teclados tocados freneticamente, uma bela combinação. Destaques também para o
vocal e a bateria bem jazzística.
Em “White Turns Into Black”
prevalece o teclado dando a tônica da faixa, bem como segue em todas as músicas
do álbum com teclas bem energéticas mas com muita qualidade sonora, mas
trazendo uma mescla mais pesada assemelhando-se a um hard rock cadenciado.
“The Nuisances” tem a
introdução mais leve do teclado, ao estilo psicodélico, meio beat, com
passagens mais acessíveis, mais comerciais, com vocais melosos e bem
entrosados. Lembra e muito os primeiros álbuns, mais lisérgicos, mas mais
comerciais, do Iron Butterfly.
“The Desert” começa com os
teclados mais distorcidos, traduzindo em uma atmosfera mais densa e pesada, mas
os vocais protagonizam uma virada mais leve na condução da música, tornando-a
mais contemplativa e intimista, dando aquele caráter mais psicodélico também
como na faixa anterior e os instrumentos de sopro trazendo todo o ambiente que
versa a letra e o álbum, como um todo.
E fecha com “The Red Sea”
que se anuncia com os teclados bem sombrios e introspectivos e com uma pegada
hard com uma bateria um pouco mais forte e marcada, com algumas passagens
jazzísticas e um baixo mais pulsante.
Poucas são as informações que circulam na grande rede sobre o Light e o seu único álbum, o “The Story of Moses”, mas o que pude apurar com o trabalho de pesquisa para ajudar a construir este texto que o amigo leitor está apreciando é de que o álbum, apesar de ter sido gravado na Holanda, não foi lançado por um selo daquele país, mas por um selo francês e alemão em 1972, “Barclay” e “Brain”, respectivamente.
Somente em 1993, vinte e um
anos depois de seu lançamento o álbum foi lançado, no formato CD, por um selo
holandês, o “15HKK” e em 2006, também em CD por uma gravadora espanhola chamada
“Estrella Roquera”. Outras fontes dão conta de que sequer o álbum fora lançado
em 1972 e que a fita máster que continha as músicas foi encontrada por um selo
espanhol que finalmente a lançou.
O fato é que a música do
Light, embora não traga nada de inovador à época, foi capaz de criar as suas
próprias composições, diferente de bandas como Ekseption, por exemplo, outro
clássico do prog rock holandês. Não há como negar que a infinidade de teclados
utilizados, violão, baixo, saxofones, flauta e bateria, que a música desta
banda trouxe complexidade para que construísse com êxito um álbum conceitual
cujo tema era extremamente exigente. Trata-se de um álbum obscuro, mas clássico
quando se trata da concepção mais evidente e veemente do que se convenciona
como rock progressivo.
A banda:
Adrie Vergeer no piano,
órgão, mellotron, teclados e vocais.
Gerard Steenbergen na
guitarra acústica
Joop Slootjes no baixo
Hans de Bruin no saxophone e
na flauta
Sjaco van der Speld na
bateria e vocais
Músicos convidados:
Guus Willemse no baixo
Hans Hollestelle na guitarra
elétrica
Marian Schatteleyn no vocais
Robbie Dale nos vocais
Faixas:
1 - The Water
2 - The Blackberry Bushes
3 - White Turns Into Black
4 - The Nuisances
5 - The Desert
6 - The Red Sea
Com certeza vale a pena. Os países baixos tem muita coisa boa de prog. Essa é uma ótima novidade.
ResponderExcluirSem dúvida João Luiz! Os Países Baixos, os Escandinávia, os Nórdicos...Há muita coisa "exótica" nessas bandas que vale e muito a pena garimpar e ouvir. Obrigado pelo seu comentário.
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