terça-feira, 14 de junho de 2022

Armageddon - Armageddon (1975)

 

O rock n’ roll costuma ser injusto com os seus personagens mais ricos e importantes. Músicos que exalavam criatividade e nunca se contentou com padrões, sempre se inquietando e experimentando novas vertentes para si, para a sua trajetória, sua carreira. Sempre flertando com o novo, muitas vezes o inusitado que trouxe frescor e novidade a música e ainda assim não tem o devido crédito, o devido reconhecimento. Definitivamente são fenômenos que, embora sejam muito discutidos entre fãs e críticos de música, parece que nunca conseguiremos chegar a um razão pela qual alguns músicos caem no ostracismo, sendo relegados ao baú empoeirado do rock escondido como aquele objeto imprestável que ocupa espaço. Um desses músicos se chama Keith Relf.

Keith Relf

O seu nome, dito, diria, de forma, não signifique absolutamente nada, principalmente para aqueles fãs e apreciadores do rock que se limita a sua ala comercial e acessível, mas esse homem está por trás de grandes bandas que foram referências na sua geração, falo do Yardbirds e Renaissance. Agora sim, as coisas ficaram mais claras, não é?

Keith nasceu em 22 de março de 1943 em Richmond, uma cidade da Virgínia, nos EUA, mas fez sua carreira na Inglaterra. Fez parte de uma banda chamada Metropolis Blues Quartet, mas foi com quando se juntou, com apenas 19 anos de idade, a Eric Clapton, na guitarra, Jim McCarty, também na guitarra, chris Dreja no baixo e Paul Samwell na bateria para formar uma das referências do rock psicodélico, underground e proto metal britânico da década de 1960, o Yardbirds.

Relf com o The Yardbirds

A banda foi celeiro de grandes guitarristas como Jimmy Page, Jeff Beck, sendo que o primeiro, o último a estar na banda, ficou com os direitos do nome, a reformuou, chamando-a de “New Yardbirds” que seria o pré-Led Zeppelin, nome dado pelo baterista do The Who, Keith Moon quando disse que a banda seria um sucesso, como um ‘zeppelin de chumbo”. Ele foi maldoso no comentário? Não sei! O fato é que o resto é história que pode ser contada depois.

A banda acabou e Keith decidiu seguir com um projeto audacioso com o baterista do Yardbirds, Jim McCarthy, um duo chamado Together, mas que gravou apenas um compacto simples e pereceu. Não desistiu e decidiu dar inicio a um audacioso projeto, algo pouco usual naquela época, na transição dos anos 1960 para os anos 1970, que era unir o erudito, a música clássica ao rock, inusitado para a época, a música dos jovens transviados com a música da aristocracia e com MacCarthy de novo, na bateria, Louis Cennamo no baixo, John Hawken no piano e Jane Relf, sua irmã, no vocal, forma o ícone do prog rock nos anos 70, o Renaissance. 

Era a concepção do progressivo, a construção da cena, embrionária na época que também recebera, ao longo dos anos, outras intervenções de estilos como blues, hard rock etc. Mas brigas e discussões entre os músicos fez com Relf ficasse até o segundo álbum. Desiludido e praticamente expulso do Renaissance se reclusou, mas antes, o seu último trabalho tinha sido como convidado a tocar na banda Steamhammer de seu ex-colega Louis Cennamo e sumiu do mapa.

Mas, em 1974, mais uma vez, sua mente explodia da já falada inquietude criativa e, em virtude de um acidente com o baterista do Steamhammer, Michael Bradley, a banda terminou, ainda em 1972. Então convocou o guitarrista Martin Pugh, o seu colega Louis Cennamo para trabalhar em um novo projeto: O Armageddon, alvo dessa resenha, estava nascendo. Os dois foram ao encontro de Relf, em Los Angeles, para formalizar a reunião e convidaram também, para o grande baterista do Captain Beyond, Bobby Caldwell para formar o time, o conceito de super grupo, tão em voga nos dias de hoje, poderia ser utilizado para o Armageddon. Mas eles tiveram alguma dificuldade para fechar com um baterista, que não conseguia encontrar, pelo menos o que achava interessante para a banda que nascera, na Inglaterra, o que também motivou os caras irem para os Estados Unidos, para Los Angeles e lá estava Caldwell, que não estava no Captain Beyond e aceitou o convite de Relf e companhia.



Armageddon

A banda assinou contrato com a A & M Records, por indicação do astro Peter Frampton, lançando, em 1975, o arrasa quarteirão, autointitulado “Armageddon”, de 1975. A capa é algo de bem interessante com uma visão apocalíptica ao fundo, tudo totalmente destruído e a banda a frente sentada, o nome sugere a concepção gráfica. Boa parte do material já estava pronto pelo Relf, mas foi encorpando com os ensaios e o Know how dos outros músicos e se pode perceber neste único trabalho lançado pela banda um caminho, para variar, diferente do que havia feito no Yardbirds e Renaissance com um cru e poderoso hard rock com algumas pitadas progressivas que vale a audição de cabo a rabo.

O álbum começa de cara com a avassaladora “Buzzard” que já de entrada tem um riff de guitarra pesadão digno de uma banda de heavy metal com a cozinha seguindo o ritmo com uma sinergia incrível, ganhando em agressividade e peso, em uma velocidade invejável, isso é heavy metal! Sem contar com o vocal alto e rasgado.

"Buzzard"

“Silver Tightrope” começa viajante, leve, tranquila com dedilhados lindos de guitarra, além de trabalhos vocais igualmente lindos com um solo fantástico de guitarra. Balada para quebrar o gelo pesado da faixa anterior. “Paths and Planes and Future Gains” traz de volta o peso e a velocidade. Riffs de guitarra pegajosos, fortes, baixo pulsante e marcado, solos de guitarra agressivos, uma das melhores faixas do álbum.

"Silver Tightrope"

Na sequência tem “Paths and Planes and Future Gains” traz de volta o peso e a velocidade. Riffs de guitarra pegajosos, fortes, baixo pulsante e marcado, solos de guitarra agressivos, uma das melhores faixas do álbum.

“Last Stand Before” é mais solar, diria dançante, o lado mais comercial, acessível da banda, uma boa faixa também, mas não segue o nível das demais.

E para fechar o álbum, uma verdadeira epopeia sonora: “Basking in the White of the Midnight Sun”, uma suíte com pouco mais de 11 minutos que é dividida em 4 partes: “Warning Comin’ On”, “Basking in the White of the Midnight Sun”, “Brother Ego” e “Basking in the White of the Midnight Sun (Reprise)” e te remete a um legítimo harg prog repleto de alternâncias rítmicas que começa com uma paulada e a já característica velocidade e agressividade com os riffs de guitarra entoando, depois vai ficando mais cadenciada, mas não menos pesada, com exibições plenas de solos de guitarra, voltando, logo depois, a segunda parte.

"Basking in the White of the Midnight Sun"

A banda infelizmente não fez tantos shows, por conta das baixas vendagens do álbum e a consequente baixa oferta de apresentações, bem como os problemas de saúde de Relf, em virtude do abuso de drogas que, ano após ano aumentava. A banda fez apenas dois shows! Mas não era apenas a saúde de Relf e as vendas baixas do álbum que atrapalharam, mas também as brigas internas eram grandes, o que facilitou para o seu derradeiro e precoce fim.

Keith Relf afastou-se da música, dos shows, das rotinas de estar em uma banda e passou a compor músicas para outros músicos e foi exatamente quando estava em seu estúdio, que ficava na sua casa, e, 1976, escrevendo as suas canções que levou um choque, foi eletrocutado pela sua guitarra sem aterramento. Relf tinha apenas 33 anos de idade. Um jovem e grande músico que teve sua vida ceifada tão precocemente, mas que construiu uma carreira que, embora curta, foi brilhante e que definitivamente ficou marcado, de forma indelével, na história do rock.

Cennamo seguiu carreira como baixista, fundando a Illusion ao lado de seus ex-companheiros de Renaissance. Caldwell voltou para a Captain Beyond, mas essa acabou não atingindo o mesmo sucesso de seus dois primeiros álbuns. Atualmente a banda está na ativa com Caldwell como o único remanescente da formção clássica e original. Pugh afastou-se da música por algum tempo, limitando-se somente a participações esporádicas em álbuns de cantores como Daniel Jones e Geoff Thorpe.

Um álbum épico, excelente e, apesar de ter tido uma boa recepção da crítica especializada, não teve uma boa receptividade por parte do mercado, não tendo um sucesso.


A banda:

Keith Relf no vocal e harmônica

Martin Pugh na guitarra e violão

Louis Cennamo no baixo

Bobby Caldwell na bateria, percussão, piano e vocal

Faixas:

1 - Buzzard

2 - Silver Tightrope

3 - Paths and Planes and Future Gains

4 - Last Stand Before

5 - Basking in the White of the Midnight Sun








 







 








 


 


2 comentários:

  1. Que resenha maravilhosa amigoooo! muita história! Eu amo essa banda e keith Relf deixou sua marca musical nesta vida ------- abração!

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    1. Meu batera Túlio muito obrigado pelo carinho, por ter lido a resenha, pelo seu carinho depoimento. Definitivamente Keith Relf deixou uma marca indelével para o rock nos anos 1960 e 1970.

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