Sou abertamente um fã da banda italiana THE TRIP e sem dúvida é uma das mais importantes e essenciais da Itália e de todo o
mundo. Essa banda deve e merece ser reverenciada e ser colocada em uma espécie
de pedestal de referência no estilo. O The Trip, como muitas bandas na Itália
na virada da década de 1960 para a de 1970 ainda respiravam o beat italiano, a sua versão
para a música dançante psicodélica, lisérgica.
O The Trip, no seu gênese,
contava com músicos ingleses e, com o beat italiano em alta, a cena psicodélica
daquele país, os membros fundadores Arvid "Wegg" Andersen, baixista e
vocalista, Billy Gray, vocalista e guitarrista, além do baterista Ian Broad,
partiram para a Itália para garantir um lugar ao sol. Foi também um jovem e
promissor guitarrista, um cara chamado Ritchie Blackmore, isso em 1966. Essa
história por aqui é tabu, beirando a lenda.
Em conversa com o grande Pino
Sinnone, baterista italiano que viria a se integrar à banda quando a mesma se
instalou em terras italianas, confirmou ao "Luz ao Rock Obscuro" que
Ritchie fez parte da banda e fora com os demais músicos para a Itália,
juntamente com Riki Maiocchi, que era vocalista do The Chameleons em 1966, e lá
ficou por alguns meses, entre setembro e dezembro daquele ano.
O motivo de
Blackmore ter ficado pouco tempo e ter deixado o The Trip foi, segundo Sinnone,
que o público não apreciava a música da banda à época e os proprietários das
casas de shows não pagavam bem nas suas apresentações, então ele retornou à
Inglaterra. Mas ainda segundo o baterista Pino Sinnone, Ritchie e os demais
integrantes ingleses da banda adoravam espaguetes e ele, Pino, dava a comida
para saciar a fome dos jovens músicos. Essa é que eu chamo de uma história
pitoresca e interessante que vale registrar por aqui.
Andy "Weeg" Andersen, Ritchie Blackmore (meio) e Jim Evans
Mas logo o "tempero" italiano se juntou ao The Trip e a história começou a mudar, para melhor, para banda. Entra Joe Vescovi, residente de Savona, um exímio tecladista que seria representativo para a estrutura sonora da banda e a saída de Ian Broad da bateria para a entrada substancial de Pino Sinnone. A formação com Sinnone, Vescovi, Andy Wegg e Gray seria a primeira e histórica formação que gravaria o primeiro e grande álbum de 1970 do The Trip, simplesmente chamado "The Trip", alvo da minha resenha de hoje.
Bandas já surgiam aos montes na Itália e a maioria dessas que se consagraram e ajudaram a edificar o rock progressivo como Le Orme, Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, entre outros, que gravaram seus primeiros álbuns ainda sobre as vestes da psicodelia e da música popular italiana e o progressivo ainda era uma música que prometia e que estava engatinhando.
O The Trip também seguiu nessa onda, as cores do hipismo ainda era a tônica na Itália, tendo em seu debut, uma representatividade por trazer a psicodelia "Made in Inglaterra" com a sonoridade característica da música italiana, colocando este álbum em uma posição vanguardista para o rock progressivo italiano.
The Trip em uma apresentação nos seus primórdios
Embora seja uma banda relativamente conhecida entre os amantes mais
passionais do rock progressivo o primeiro álbum da banda é o menos conhecido e cultuado pelos seus fãs, deixando para os
clássicos “Caronte” e “Atlantide” o protagonismo de sua história sonora. Contudo
fui fisgado pelo underground progressista da sua estréia e me pus
a ouvi-lo e consequentemente a escrever sobre ele. A catarse é garantida!
Um álbum esquecido do The Trip, mas que
proporciona satisfação e prazer ao ouvir pelo simples fato da qualidade e
corroboração histórica que faço questão de enaltecer: O rock psicodélico é um
dos pais do rock progressivo e o The Trip mostra com maestria essa passagem
histórica assumindo a paternidade do movimento junto com outras tantas bandas
consagradas como Pink Floyd, por exemplo, que com Syd Barrett mostrou o seu lado lisérgico.
Um disco transitório, o embrião do rock progressivo que nasceu
e deu filhos robustos e saudáveis que deleitamos como
“Caronte” e “Atlantide”, por exemplo. Torna-se essencial a audição deste primeiro álbum do
The Trip para conhecermos a história do rock progressivo no seu primórdio e,
sobretudo a história da banda. A formação da banda em “The Trip” tinha: Billy Gray na guitarra e vocal, Joe Vescovi no órgão, vocais e arranjos,
Arvid “Wegg” Andersen no baixo e vocal e Pino Sinnone na bateria e percussão, onde assinaram um contrato com a RCA em 1970 lançando seu tão esperado trabalho.
The Trip em estúdio (1970)
A
faixa inaugural, “Prologo”, mostra um lado bem obscuro e experimentalista e
muito lisérgico do The Trip com a predominância do bom e velho órgão, do
teclado, do hammond, um símbolo do prog-psicodelismo. Uma bela música
instrumental que floresce em uma explosão lisérgica, um acid rock com pitadas proto progressivas.
"Prologo"
“Incubi” mostra um vocal bem executado e competente que seria a
tônica para os discos seguintes com destaque para o teclado e batida bem
dançante e envolvente e solos viajantes de guitarra.
"Incubi"
“Visioni Dell'aldilа” segue no mesmo ritmo, com o
talento de Joe Vescovi, saudoso, no teclado e o vocal embriagante e
transcendental. É sem sombra de dúvida a mais psicodélica do álbum.
"Visioni Dell'aldila"
“Riflessioni” é uma das melhores músicas do álbum, pois mostra com nitidez
sonora a característica da música do The Trip com uma levada lenta e com um
trabalho excelente de vocal e uma música totalmente progressiva, muito a frente
daquele tempo.
"Riflessioni"
“Una Pietra Colorata” fecha o álbum com chave de ouro com uma
música mais para cima, mais pesada, com uma pegada pop, diria radiofônica, bem interessante.
"Una Pietra Colorata"
Enfim,
não é o clássico do The Trip, mas que desenhou a sua história e de toda uma
cena progressiva marcando a transição entre o psicodélico e o prog rock e me
arrisco a dizer que é o melhor álbum dessa fase da Itália. A música impressionística do The Trip, como era conhecida naquela época, tingiu, como uma obra de arte, a história da música progressiva italiana e a marcou para todo o sempre.
Agradecimento especial ao Pino Sinnone por ter colaborado pela construção dessa resenha. Grazie!
Agradecimento especial ao Pino Sinnone por ter colaborado pela construção dessa resenha. Grazie!
A banda:
Billy Gray na guitarra e
vocal
Joe Vescovi no órgão, vocal
e arranjos
Arvid "Wegg"
Andersen no baixo e vocal
Pino Sinnone na bateria e
percussão
Faixas:
1 - Prologo
2 - Incubi
3 - Visioni Dell'aldilà
4 - Riflessioni
5 - Una Pietra Colorata
"The Trip" (1970)
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