Não sou apreciador da música
eletrônica, sobretudo com essa proposta dos dias atuais. Sou adepto da música “orgânica”,
com os músicos em palco mostrando todo o seu esforço em elaborar a sua
musicalidade com os seus instrumentos, extraindo deles o seu melhor.
Talvez
seja um argumento um tanto quanto ortodoxo ou convencional, mas essa é a minha concepção
sobre música. Essa banda que abordarei é conhecida por executar um progressivo
eletrônico com o pilar sonoro baseado em sintetizadores, teclados e bateria.
Não sou o mais adequado para tecer comentários técnicos sobre música, sou
movido por emoções que a música me provoca, e dessa forma falo sobre elas, mas
não consigo ouvir na música da banda holandesa PYTHAGORAS em seu primeiro
álbum, chamado “Journey To The Vast Unknown”, de 1980, como progressivo
eletrônico.
Vejo e ouço um trabalho arrojado e desafiador que entrega uma
verdadeira sinergia sonora, capitaneada pelas teclas dos sintetizadores, que é
basilar do mais puro e genuíno rock progressivo. Não podemos confundir música
eletrônica com recursos eletrônicos extraídos de instrumentos, como é o caso do
Pythagoras.
É evidente que bandas como Tangerine Dream e Kraftwerk, por
exemplo, trouxe o pioneirismo do uso dos sintetizadores à música, mas o Pythagoras
trouxe mais sensibilidade a proposta, mais complexidade, mais dramaticidade.
“Journey
To The Vast Unknown” traz o protagonismo dos teclados e dos sintetizadores, mas
também enaltece, com qualidade, o rock progressivo e o space rock, em todas as
suas concepções. Assim se prossegue o álbum. É belo, é viajante, mostrando que,
apesar de ter sido lançado no primeiro ano da década de 1980, considerada, mercadologicamente falando, um período sombrio para o rock progressivo.
A
formação do Pythagoras se inicia em uma loja de discos na Holanda, na cidade de
Haia, chamada Moonlight Records, no final dos anos 1970. O proprietário era o
baterista Bob de Jong que havia tocado em bandas locais como Key, Pine-Apple e
também era baterista de estúdio da gravadora holandesa Phongram.
Um dos
visitantes assíduos da loja era o tecladista René de Haan, que sempre comentava
de ambiciosos projetos de fazer música com base nos sintetizadores. Seu quarto,
na casa de seus pais, era o seu QG (Quartel General) e estava repleto de
instrumentos musicais como o Korg MS 20 e o sintetizador “trilogy”, um piano
digital Roland, um conjunto de cordas Solina e um sequenciador digital Firstman
1024.
Rene de Haan e Bob de Jong
Bob ficou animado e se deixou levar pelo sonho do jovem René, de apenas
19 anos, levando ao lançamento do álbum “Journey To The Vast Unknown”, lançado
em 1980, alvo da resenha de hoje. Teve, à época, uma prensagem privada de apenas 500
cópias. Bob enviou alguns LPs promocionais para alguns DJs conhecidos como Wim
Van Putten, Skip Voogd e Frits Spits.
Em pouco tempo, a novidade: Sua caixa de
correio estava cheia de cartas de todo o país de interessados e fãs pela sua
música de sintetizador. “Journey To The Vast Unknown” começa com a faixa título,
uma suíte, dividida em quatro fragmentos, totalizando pouco mais de 18 minutos:
uma música complexa, introspectiva, melódica, convincente, hipnotizante,
viajante com suaves e lentos conjuntos de sintetizadores, com a vivacidade da
bateria, a simbiose entre sintetizadores, mellotron e bateria é algo
maravilhoso nesta faixa, um prog rock com space rock elevado à potência cósmica
e de muita qualidade.
"Journey to the Vast Unknown Part I and II"
"The Journey to the Vast Unknown Part III and IV"
Na sequência tem “In To The In” traz uma introdução mais
soturna e contemplativa, claro, dos sintetizadores, entrando o teclado em uma
espécie de prog sinfônico mais introspectivo, com a bateria trazendo uma base
mais densa.
E finalmente fecha com a excelente “When It Comes” que parece fazer
com sua alma se desprenda do corpo e se põe a vagar, a voar sem destino. Um
coro se faz ouvir, o único e breve momento em que se ouve vocais, com teclados
delicados e poderosos, ao mesmo tempo, que te estimula a assobiar
instintivamente seguindo o ritmo.
Tudo conspirava a favor: piano, teclados,
sintetizadores e a bateria, entrando em seguida, vagarosa, soft, lenta. Linda
faixa para fechar um álbum fantástico, emocionante e que entrega ao público a
corroboração de que música precisa de músicos inspirados e arrojados, a música
orgânica com recursos eletrônicos que se complementam em uma convergência
sonora.
“Journey To The Vast Unknown” foi relançado algumas vezes e, em alguns momentos, vendidos
por cerca de 5.000 cópias, o que é incrível para uma proposta pouco ortodoxa,
como o uso predominante de sintetizadores.
A banda:
Bob de Jong na bateria,
percussão e sinos tibetanos.
René de Haan nos
sintetizadores, strings, sequencer, mellotron e piano.
Faixas:
1 - Journey to the Vast Unknown parte I
2 - Journey to the Vast Unknown parte II
3 - Journey to the Vast Unknown parte III
4 - Journey to the Vast Unknown parte IV
5 - In to the In
6 - When it Comes
Pythagoras - "Journey to the Vast Unknown" (1980)
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