Tem histórias que são dignas
de um best seller, carregadas de dramaticidade e que não está restrito apenas
ao quesito musical, mas marcadas por algumas tragédias que impacta
decisivamente a sua história, a sua trajetória musical e só as bandas obscuras
e undergrounds nos proporciona esses momentos, alguns pitorescos, outros
exóticos e alguns tristes, muito triste. É o caso da banda POSSESSED.
Não se
enganem essa não é a famosa banda de death metal norte americana formada no
início da década de 1980, mas nascida na Inglaterra, em meados para o final
dos anos 1960, mais precisamente em 1969. O Possessed era uma banda underground
que flertava na cena blues e rock da região britânica de West Midlands e tinha
na figura de Vernon Pereira, vocalista e guitarrista, o ponto central de sua história.
O indiano Vernon Pereira foi
para a Inglaterra aos 15 anos de idade e integrou a Band of Joy, banda inglesa
formada na região de West Bromwich, em 1965 e por vezes conhecia por Robert
Plant and the Band of Joy que abrigou, além de Plant, como também o baterista John
Bonham, sendo esses que veriam formar o Led Zeppelin, mais tarde.
Vernon, que
era primo da esposa de Plant, chegou a tocar no Band of Joy por algum tempo
quando conheceu Mick Reeves, baixista e também guitarrista que tinha tocado na
banda SugarStack que tinha como vocalista Al Atkins e aí vem mais uma pitoresca
curiosidade: Quando Reeves saiu da SugarStack, Atkins e os demais músicos que
permaneceram decidiram reformular a banda, a começar pelo nome, mudando para
simplesmente Judas Priest! Sim, o Judas Priest tão conhecido entre os
headbangers!
Essa banda seria o embrião do Judas Priest. Vernon e Reeves tinham
a intenção de formar um power trio, talvez devido a fama atingida pelo Cream, que tocava pesado
e investia no blues rock e era essa a proposta que os músicos queriam para a
nova banda.
A propósito, Mick Reeves levara para a banda, que ainda não tinha
sido formada, um novo instrumento da época, uma guitarra de dois braços, sendo
que um dos braços era o baixo e o outro, a guitarra, então Reeves teria duas
funções na nova banda, de baixista e guitarrista. E para formar o line up é
convocado Phil Brittle, baterista, que também tinha tocado na Band of Joy e
tinha absorvido todas as técnicas de bateria com o velho e eterno Bonham.
Pronto, a banda estava formada!
Possessed
Começaram a ensaiar e compor
algumas músicas para figurar no seu primeiro álbum. Mas era nos shows que a banda visava conquistar algum reconhecimento e reputação,
eram nos shows que fluíam as ideias para as novas músicas.
Em 1971 o álbum, que
se chamaria “Exploration” estava prestes a ficar pronto e estava em negociações
com o famoso selo Vertigo, para lançar o álbum, mas tiveram alguns problemas
contratuais ou simplesmente não queriam lançar “Exploration”, não se sabe
exatamente o motivo pelo qual o trabalho não ter sido lançado naquele ano,
ficando na “geladeira”, engavetado.
Mas apesar dos reveses que
impediram o lançamento de “Exploration” não ter sido lançado em 1971, a banda
seguiu em frente, tentando driblar as dificuldades da falta de apoio da
gravadora e continuou a fazer os seus shows, quando Brittle decidiu sair da
banda, em 1972, sendo substituído por Chris Andrews.
Junto a ele, entraram o
baixista Stephen McLoughlin e o vocalista Terry Davies. Apesar das
rotatividades de músicos a banda seguiu sua turnê quando o pior acontece, a
maior das tragédias, em 1976.
A banda estava voltando de um show quando a van
onde estavam bateu violentamente de frente com um caminhão tanque cheio de
gasolina, matando Vernon Pereira, de apenas 32 anos de idade e Mick Reeves de
27 anos, enquanto Andrews e McLoughlin ficaram gravemente feridos.
Era o fim do
Possessed de forma trágica e precoce. “Exploration” traz uma proposta sonora
que vai do hard rock ao blues rock com passagens generosas de psych e rock
progressivo. Eram as vertentes que estavam nascendo no início dos anos 1970 e
que estavam começando a ficar em voga, um trabalho singular e eclético que vale
a audiência e atenção de todos os audófilos de plantão.
O álbum abre com
“Darkness, Darkness” que começa com um riff pegajoso e marcante com solos mais
simples e diretos, mas que traz um peso, uma música crua e direta com um bom
trabalho vocal.
"Darkness, Darkness"
Segue com “The Love That You
Gave” com uma levada mais funkeada, dançante, uma bateria marcada com um vocal
mais gritado e de bom alcance e solos lisérgicos de guitarra. A faixa título,
“Exploration” traz alguns riffs de guitarra mais radiofônicos, uma pegada mais
comercial e simples, um pouco cadenciada e com ensaios a alternâncias rítmicas,
mas é mais uma música direta e simples.
"The Love That You Gave"
“Climb The Wooden Hills”
começa mais visceral e pesada com um riff de guitarra mais sujo e arrastado com
um bom trabalho da “cozinha”, uma bateria pesada e um baixo mais pulsante, com
um solo de guitarra lembrando um pouco o country. Uma faixa bem interessante!
"Climb the Wooden Hills"
“Dream” também começa
pesadona, protagonizada pela guitarra suja e agressiva, um solo direto, curto e
cru, bateria pesada e cheio de viradas de tirar o fôlego, essa é uma das
melhoras faixas do álbum, sem sombra de dúvida. “All Night Long” é aquela
música típica de um “rock de festa”, um hard rock dançante, malicioso,
cadenciado e bem pesado graças a solos de guitarras mais solares e animados.
"Dream"
“Disheartened &
Disillusioned” já começa com o destaque do baixo, mais marcado e pulsante com a
bateria seguindo o ritmo e a guitarra dando o tom mais pesado. Essa faixa já
traz um Possessed mais virtuoso, mas elaborado em suas harmonias e melodias,
com uma tendência para o hard prog.
"Disheartened & Disillusioned"
“Thunder & Lightning”
começa extremamente pesada, guitarras distorcidas e agressivas que, entre riffs
e solos, capitaneiam um senhor petardo de hard rock, com uma pegada mais heavy,
um heavy metal de vanguarda sem dúvida.
"Thunder & Lightning"
“Love 'Em & Leave 'Em”
tira o pé do acelerador e entrega uma balada melódica e introspectiva com uma
sinergia viajante entre vocal e um violão tocado delicadamente ao fundo e a
bateria pulsando discretamente. Uma música mais contemplativa e melancólica,
diria. “Exploration Pt. II” parecia
seguir a mesma proposta da faixa anterior, soft, tranquila, ao som, meio folk,
do violão e assim permanece até seu fim.
"Love 'Em & Leave 'Em"
Mas “Reminiscing” traz de
volta o peso do álbum com riffs de guitarra meio bluesy, mas tocada com peso,
com agressividade, com destaque, mais uma vez, do trabalho vocal e dos back
vocals também.
"Reminiscinhg"
E fecha com “I See The Light”
que já começa densa, ao estilo Black Sabbath: sujo, agressivo, com viradas
rítmicas. Um hardão tipicamente setentista.
"I See the Light"
Trinta anos depois de ser
gravado, “Exploration”, em 2001, as fitas masters com as músicas gravadas
estavam nas mãos de Lee Dorian, vocalista do Napalm Death e Cathedral, que
apresentou ao antigo integrante do Possessed, Phil Brittle, mas ainda não fora
gravado oficialmente.
Somente em 25 de setembro de 2006 o álbum foi lançado, a
partir de tais fitas, trazendo, finalmente a luz o álbum “Exploration” do
Possessed. O vocal pode não ser um primor mas me remete a um som de "rock de garagem" que muito aprecio e traz aquela falta de pretensão e um desleixo típico do estilo.
Apesar de tantos reveses, tragédias e mortes que esse álbum e banda sofreram, graças a abnegados e apreciadores da grande música esse álbum ganha vida
celebrando e homenageando aos que se foram, de forma tão triste e precoce. Um
álbum póstumo que traz à vida Vernon Pereira e Mick Reeves que tanto trabalharam
para que esse momento acontecesse. Uma pérola mais do que recomendada.
A banda:
Vernon Pereira no vocal e
guitarra
Mick Reeves no baixo e
guitarra
Phil Brittle na bateria
Faixas:
1 – Darkness, Darkness
2 - The Love That You Gave
3 - Exploration
4 - Climb the Wooden Hills
5 - Dream
6 - All Night Long
7 - Disheartened & Disillusioned
8 - Thunder & Lightning
9 - Love 'Em & Leave 'Em
10 - Exploration Pt. II
11 - Reminiscing
12 - I See the Light
Possessed - "Exploration" (1971 - 2006)
Tá aí mais uma banda que eu não conhecia. Linda capa, bem artística, demosntrando uma capacidade enormoe pelo idealizador.
ResponderExcluirÓtimo texto como sempre!
Obrigado caro amigo Raonny! Mais uma da seção "Obscuras" e "Raras"! Uma boa banda e um bom álbum.
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