Algo incompreendido, louco,
insano. Será que podemos trazer essas nomenclaturas a um álbum de rock n’ roll?
Sim! Alguns, ao longo da história, já foram tipificados assim, mas no álbum que
falarei ou tentarei falar, não entrega apenas essas características. Ao ouvi-lo
me parece ser algo “garageiro”, artesanal, feito de uma forma totalmente
desleixada e rústica.
Confesso que na minha jornada
pelos escombros comerciais da música, pelo empoeirado e obscuro reino das
bandas pouco conhecidas essas percepções tem se tornado algo um tanto
corriqueiro, mas esse álbum é particularmente especial nesse sentido.
E já começa pelo aspecto estético, com a capa de uma caveira apalpando um seio de uma manequim de “showroom”, é no mínimo uma aberração chapante que, em um primeiro contato, não traz nenhum conceito, nenhuma mensagem, apenas seres inanimados simbolizando talvez um sexo ou a morte à espreita.
Talvez o nome do álbum sugira
alguma coisa: “The Angel of Death” e a banda se chama TENTACLE. A banda, claro,
pouquíssimo conhecida, é oriunda da Escócia e não se tem muita informação sobre
as suas origens, apenas pela gravação de seu único álbum, que aconteceu na
transição de 1970 para 1971, no Central Scotland Studios, em Falkirk.
O álbum foi produzido e que teria sido liderada por Jim West e alguns grupos de empresários envolvidos com outras bandas menos conhecidas também como Bodkin e Soho Orange, dando a entender que todas tinham algo em comum, sendo produzido por Erika “Witch” Gnotsik e Manfred “Warlock” e o selo é “Witch & Warlock”.
Outro fator sombrio, obscuro
que gira em torno do Tentacle é o total desconhecimento dos seus músicos, não
há créditos no álbum, absolutamente nada. Tudo parece girar em torno de Jim
West que produziu e provavelmente esteve à frente do projeto. Talvez esse era o
cerne do Tentacle: um projeto de cunho experimental e extremamente rústico.
Em uma das capas do Tentacle
há alguns pequenos textos falando de instrumentos sendo tocados, da produção do
álbum, mas nada denuncia o line up da banda, os seus músicos ou coisa que o
valha. Há um texto, em especial, que fomenta a aura obscura, a névoa densa de
obscuridade que circunda o Tentacle. Leia
o texto:
“Vocals, bass, drums, two guitars,
sometimes gentle, sometimes weird...A man playing faster than his guitars…The
power of central Scotland…”
Traduzindo…
“Vocais,
baixo, bateria, duas guitarras, às vezes suaves, às vezes estranhas... Um homem
tocando mais rápido que suas guitarras...O poder da Escócia Central...”
“The Angel of Death” foi, como
disse, gravado entre 1970 e 1971, mas teria, reza a lenda, sido apenas gravado
e não lançado oficialmente, sendo lançado apenas em 1990, na Alemanha, em
Dusseldorf, quando as fitas teriam sido encontradas, sendo prensadas em vinil e
lançadas também em CD em tiragens limitadíssimas. Mas há fontes que definem que
“Angel of Death” foi concebido nos longínquos anos 1970. Já que carece de
informação, confirmação, optei por colocar as duas informações.
“The Angel of Death”, como diz
no pequeno texto acima, extraído do encarte do álbum, traz vertentes
psicodélicas, com nuances folk, mas com guitarras que, além de lisérgicas,
entrega texturas pesadas, com peso do hard rock, ainda ganhando evidência em
uma cena embrionária. São passagens pesadas, mas não agressivas, pegadas folk,
viajantes e psicodélicas e improvisações progressivas.
É sombrio, soturno, as vezes
soa melancólico, mas que se torna solar nas suas partes pesadas. É lisérgico, é
ácido, graças as guitarras distorcidas. É um álbum definitivamente atípico,
artesanal, feito sem apreço a produções megalomaníacas e mesmo sem todo esse
trabalho de produção, é maravilhoso, torna-se a cereja do bolo.
“The Angel of Death” começa
com a faixa “My Destiny – My Faith” que, no auge dos seus longos vinte minutos
de duração traz dedilhados viajantes da guitarra acústica, algo um tanto quanto
introspectivo, melancólico, mas depois entra a bateria em uma pegada meio
jazzística e a guitarra fica mais pesada, com riffs agressivos, indulgentes,
ameaçadores e volta a calmaria jazzy.
O vocal é dramático, baixo, mas envolvente e até um tanto quanto sedutor. E
nessa linha segue a faixa: sedutora, chapante, lisérgica e sombria. Mas atentem
aos solos de guitarra que remete ao Atomic Rooster e Dark.
A sequência conta com a faixa
“Thought” que introduz também com dedilhados de guitarra, mas logo irrompe em
um estrondoso hard rock tipicamente setentista com riffs gulosos, cheios,
potentes de guitarra. O baixo segue impondo algum ritmo, a seção rítmica
precisa ser valorizada nessa faixa, a bateria é cadenciada e pesadona e a
guitarra sempre em destaque que, além dos riffs, vem com alguns solos diretos
que corrobora o peso. O final da faixa ganha mais velocidade e nos remete a um
heavy metal de vanguarda! Sem dúvida uma das mais pesadas do álbum!
“Tentacle” já inicia com o pé
na porta, pesada, agressiva, uma explosão instrumental orquestrada pela bateria
e guitarra, tendo o baixo dando uma textura mais suja. Mas a diversidade
rítmica, proporcionada pelo prog rock, se fazia presente, com passagens mais
suaves, com pegadas psicodélicas. Nessa faixa a banda mostrou diversidade com
prog, psych e hard em um mesmo pacote.
A faixa título, “The Angel of
Death” o vocal já ganha destaque logo na introdução, de bom alcance, sujo, alto
com riffs de guitarra dando o recheio, uma textura mais arrogante e pesada,
solos mais simples e direto dão um tom da sua estrutura sonora, mas as viradas
rítmicas também ganham destaque. É uma faixa definitivamente voltada para o
hard prog, típico. Uma das músicas mais plenas, é o ápice do álbum, sem dúvida.
E fecha com trinta e um segundos de “Epitaph” da mesma forma que começou, com
dedilhados de guitarra viajantes e chapantes.
Para alguns ouvidos mais
exigentes, mais apurados, talvez, ouvir os primeiros acordes do álbum “The Angel
of Death” pode parecer ruim, péssimo. É inegável que a produção é de baixo
orçamento e isso, claro, impacta no produto final, mas se tornou a cereja do
bolo, dando o tom obscuro, delineando a proposta da sonoridade da banda: suja,
pesada, progressiva, sombria.
“The Angel of Death” é estranho, é “artesanal”, é algo feito de forma simples, mas definitiva. A criatividade imposta nas cinco faixas mostra que na simplicidade há beleza, há a verdade impressa pela banda, por isso é estranho, por isso é marginal.
A banda:
Não creditado
Faixas:
1 – My Destiny – My Faith
2 – Thought
3 – Tentacle
4 – The Angel of Death
5 – Epitaph
Olá. Tudo bem ? Primeiramente parabéns pelo blog. Poderia colocar o meu na sua lista? https://rockstoryblog.blogspot.com/2024/01/rock-rarity-road-road-1972.html
ResponderExcluirBoa tarde!
ExcluirAgradeço pela mensagem!
Blog inserido em minha lista!