sábado, 27 de junho de 2020

Museo Rosenbach - Live 72 (1992)


Uma banda é o que é nos palcos. No palco a banda exerce a sua divindade, revela a sua essência, interagindo com o público e a comunicação é a música, atrelado a sentimentos de pura catarse que se torna difícil elencar, afinal são múltiplas as reações, mas que comungam da mesma intenção: a ode à música. 

Bandas como a italiana MUSEO ROSENBACH, nascida nos longínquos anos 1970, desenharam, de forma magistral, a sua história nos palcos. E tem sido de uma forma tão arrebatadora, tão visceral, que a sua concepção sonora vai além da frieza e da perfeição exacerbada dos estúdios. 

O Museo Rosenbach é uma das poucas bandas italianas que não se rendeu a zona de conforto do estereótipo, flertou com várias vertentes, tais como rock progressivo, hard rock e soube, como poucos, trilhar uma história de vanguarda na cena rock italiana que, no início dos anos 1970, se definia, se delineava, absorvendo influências que vinha da Inglaterra como, por exemplo, a nova música virtuosa e progressista, da juventude transviada, ávida por novidades e que os músicos, também jovens, compartilhavam daquele frescor dos novos tempos. 

E assim os jovens músicos do Museo Rosenbach se inspiraram para edificar a sua música. E a gênese da banda remonta no ano de 1971 e se chamava inicialmente "Inaugurazione Museo Rosenbach", a partir da fusão de duas bandas do final dos anos 1960 de Sanremo que se chamavam La Quinta Strada e Il Sistema, este última chegou a lançar um álbum pelo selo Mellow Records, entre os anos de 1991 e 1992 e o La Quinta Strada era apenas uma banda cover. 

Il Sistema - "Il Viaggio Senza Andata" (1969-1971)

A propósito, essa nova banda tocava covers de Cream, Jimi Hendrix, The Animals, Steppenwolf, entre outras bandas pesadas que estavam em voga na transição das décadas, moldando o que, em um futuro bem próximo, seria o Museo Rosenbach e que entregaria aos rockers italianos um esboço do que seria conhecido, anos depois, como metal progressivo. 

A primeira formação da banda contava com o futuro integrante da obscura banda italiana Celeste, Leonardo Lagorio no saxofone e flauta e o cantor Walter Franco. Mas foi com a formação que tinha Enzo Merogno na guitarra, Alberto Moreno no baixo, Giancarlo Golzi na bateria, Pit Corradi no melotron, órgão de hammond e piano, Stefano "Lupo" Galifi no vocal e Leonardo Lagorio no sax e flauta que seria responsável pelo primeiro registro discográfico do já Museo Rosenbach, com o nome alterado, de 1972, um show gravado no Park Hotel em Bordighera no verão daquele ano e que é a cidade natal da banda, uma cidade que fica no oeste da Ligúria. Falo do "Live 72".

Museo Rosenbach

Porém este material, obscuro e raro, só ganhou a luz, só foi lançado, vinte anos depois, no ano de 1992, quando a gravadora Mellow Records desengavetou essa pérola sonora que mostra uma banda poderosa, virtuosa, intensa, de personalidade, mostrando toda a sua força nos palcos, mostrando o quão era competente ao vivo, embora as condições em que fora captado esse show não tenha sido as melhores.

Foi sim concebido em condições precárias, mas ainda assim o Museo Rosenbach mostrou a que veio naquele imemorial ano de 1972, antes de ter lançado seu clássico absoluto, em 1973, o emblemático "Zarathustra", mas que neste registro ao vivo algumas músicas que figurariam no primeiro de estúdio da banda seriam executadas, provavelmente pela primeira vez para um seleto e agraciado público. 

O álbum abre, com a faixa, que apareceria em “Zarathustra” chamada “Intro / Dell’eterno Ritorno” que já entrega as credenciais do grande Museo: peso, virtuosismo e uma entrega instrumental impressionante de seus músicos, com passagens rítmicas inacreditáveis, com destaque para o vocal de grande alcance de Galifi, além da “cozinha” bem afiada, mostrando uma incrível sintonia entre o baixo de Moreno e a bateria de Golzi, com o teclado de Corradi trazendo uma camada progressiva a faixa. Um típico proto metal italiano!

“Dopo” é mais cadenciada, que alterna, com maestria, os teclados e a guitarra em um salutar duelo entre os instrumentos, com solos de tirar o fôlego, além de um baixo pulsante e uma bateria marcada com queda para o jazz rock.

Na sequência vem “Season Of The Witch / It’s A Man’s Man’s Man’s World” uma exuberante suíte de quase quinze minutos que inicia com um solo de guitarra viajante e inebriante com uma levada meio bluesy, ao som doce e mesmerizante do piano contrastando com o vocal rasgado de Galifi, poderoso, sendo seguido pelo “esquadrão bélico instrumental”, mas que logo voltava para a suavidade capitaneada pelo piano e alternando com uma pegada mais dançante, diria algo até meio latinizado. E nessas alternâncias rítmicas e ousadas a música tem a sua sequência com o destaque do piano, vocal, riffs sujos de guitarra, o baixo seguindo o ritmo e a bateria investindo em vertentes que vai do blues ao hard rock. 

A apresentação fecha com outra música que apareceria no álbum “Zarathustra”, de 1973, “Della Natura” que traz a indefectível introdução de teclado “rivalizando” com solos pesados e diretos de guitarra que se silenciam para o vocal limpo e dramático assumir o protagonismo da música, mas que logo se junta ao trovão sonoro gerado pelos instrumentistas de mão cheia. Nela se percebe, ou melhor, se ouve, um hard progressivo muito vigoroso e bem executado.

No mesmo ano deste show de 1972, as faixas de “Zarathustra” já estavam prontas e o selo Ricordi ofereceu  um contrato de gravação para o Museo Rosenbach, ganhando então a luz do dia o clássico do hard prog italiano e mundial, em abril de 1973. 

"Zarathustra" (1973)

Mas após o lançamento do álbum a banda desaparece do cenário musical, talvez pelo fato de seus posicionamentos políticos e ideológicos, o que era comum na época, na década de 1970, entre as bandas de rock italianas, era uma época de belicismo político. 

O Museo Rosenbach fora acusado de ter inclinações de direita pela imagem do ditador Benito Mussolini na capa de seu debut e pelas letras inspiradas em Nietzsche, certamente isso fortaleceu para o seu precoce fim.

Mas a banda ressurge nos anos 2000 com dois dos seus músicos históricos, Alberto Moreno e Giancarlo Golzi, lançando o álbum “Exit”, em 2000 e logo depois, em 2012, o "Zarathustra Live in Studio", contando com o ilustre vocal de Galifi. 

"Exit" (2000)

Então finalmente vem ao mundo o terceiro álbum de estúdio do Museo Rosenbach, o excelente “Barbarica”, de 2013. O selo Mellow Records ainda agrupou uma série de raridades da banda nos seus primórdios chamada “Rare and Unreleased”. 

"Barbarica" (2013)

A banda está forte na ativa e brinda o seu público o seu calibre poderoso nos palcos e o “Live 72” foi o pontapé inicial da corroboração de seus feitos ao vivo. E que tenha vida longa!




A banda:

Enzo Merogno na guitarra
Alberto Moreno no baixo
Giancarlo Golzi na bateria
Pit Corradi no melotron, órgão de Hammond e piano
Stefano "Lupo" Galifi no vocal
Leonardo Lagorio no sax e flauta


Faixas:

1 - Intro / Dell’eterno Ritorno
2 - Dopo
3 - Season of the Witch / It’s A Man’s Man’s Man’s World
4 - Della Natura




Museo Rosenbach - "Live" (1972)



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