O conceito de obscuro, de
banda obscura, nos tempos atuais, pode ser relativo. Com o advento das
tecnologias que envolvem a informação algumas bandas tidas como raras,
obscuras, desconhecidas podem ter seu material, seus álbuns em evidência,
visualizados por um número maior de pessoas em todo o mundo.
Redes sociais,
canais de música, sites, plataformas de músicas e tantos outros formatos trazem hoje ao ouvinte a possibilidade, em tempo recorde, de ouvir e ter acesso a bandas que jamais
ouvira falar. E não podemos esquecer as pessoas, os donos de veículos de comunicação, que são verdadeiros abnegados, que,
com muito afinco, divulga, por intermédio de todas essas ferramentas de
informações virtuais, essas bandas, sem contar que alguns selos undergrounds que resgatam materiais não lançados na época, trazendo a luz magistrais álbuns e
ressuscitando, muitas das vezes, as próprias bandas.
Claro que a proporção, em
termos de fãs e reconhecimento não será daquela banda consagrada, gigante, que
tem décadas de sucesso e altas vendas de álbuns, reforçando a condição das
bandas obscuras nesse estágio ainda que tenha seu álbum divulgado por fãs e
gravadoras em tempos de encurtamento das informações.
Mas tem uma banda que,
mesmo em tempos de informação em tempo real e ferramentas tecnológicas de
comunicação em massa, ainda se coloca em uma posição obscura, diria rara a
muitos ouvidos, mesmo aqueles ávidos por bandas obscuras: Falo do BLOODY MARY.
A
banda foi formada na cidade de Nova Iorque e pouco se tem de informação da
mesma até os dias de hoje. É tudo escasso, envolta em uma sombra de boatos e
evidências questionáveis. O Bloody Mary gravou apenas um álbum, no ano de 1974,
autointitulado, com uma limitadíssima quantidade de 1.000 cópias pelo selo "Family
Productions Inc." que teve vida curta, bem como a banda ou pelo menos é que
as poucas informações conferem.
“Bloody Mary” foi gravado no
UltraSonic Studios, em Hempstead, Nova Iorque,
pelo famoso produtor Vinny Testa, um figurão da indústria fonográfica, da Community
Productions, e todas as faixas foram creditadas ao Bloody Mary. Mas o que faz
dessa banda obscura e rara são as névoas, as sombras envoltas em sua breve
vida: o mistério sobre os integrantes que a compuseram.
Não se sabe quem tocou
guitarra, bateria, baixo, teclado e vocal, daí se creditando as faixas no nome
da banda. Uma banda sem rosto. E com esse mistério, surge outro. O Bloody Mary
teria uma relação muito tênue com outra seminal banda, considerada um “clássico
do obscuro”, o Sir Lord Baltimore.
Havia rumores de que o baterista e vocalista
do “Sirlordão”, John Garner teria tocado na banda, teria sido o vocalista do
Bloody Mary e que até hoje não teria sido confirmado. Mas em maio de 2007 o
próprio Garner negou qualquer conexão com a banda dizendo inclusive que nunca ouvira
falar do Bloody Mary até, claro, ser questionado sobre o seu possível vínculo
com a banda. Há outro boato também: de que "Bloody Mary" seria o terceiro álbum
do Sir Lord Baltimore, o que o baterista/vocalista também não confirma.
John Garner
Para variar e como boato
gera mais boato, há outra história de que o Sir Lord Baltimore estaria gravando
o seu segundo álbum no mesmo estúdio e, ao mesmo tempo, no mesmo período que o
Bloody Mary, em Hempstead, em Nova Iorque, quando Garner foi convidado para ser
o vocalista, mas essa informação não tem sustentação, há um equívoco
cronológico, haja vista que o segundo álbum do Sir Lord Baltimore, homônimo,
fora lançado em 1971 e o álbum do Bloody Mary foi concebido 3 anos mais tarde,
em 1974.
Mas mistérios, obscuridades históricas e boatos à parte o álbum é um
excelente e catártico hard rock típico, mas avassalador, vigoroso e poderoso
com sustentação em riffs e solos bem estruturados de guitarra com uma boa
camada de teclados e pitadinhas progressivas “temperando” o som, tendo influências
de bandas como Uriah Heep, Deep Purple e algumas bandas alternativas norte
americanas como Bull Angus e até o próprio Sir Lord Baltimore.
O álbum abre com
“Dragon Lady” que timidamente é introduzida por um solo de bateria que vai
encorpando com riffs de guitarra, uma discreta camada de teclados e irrompe em
uma hecatombe instrumental e um vocal agressivo e intimidador com um
excepcional alcance, muito agudo e vai cadenciando entre a leveza e o peso
explosivo.
“Highway” é mais solar, dançante, energética, tendo nos teclados a sua estrutura sonora, mas com solos de guitarra simples, mas envolventes. “Riddle of the Sea” começa introspectiva, um violão acústico embalando um vocal soturno, misterioso, mas vai ganhando força, de forma gradativa, uma balada rock cheia de personalidade que ganha robustez com solos de guitarra mais agudos e altos e bateria seguindo o peso.
Ponto alto do álbum sem dúvida “Free
and Easy” chega mais animada também, mas não menos pesada, um típico hard rock
de “festa” com um duelo, mais do que salutar, entre guitarra e teclado aqui
tocado de forma mais frenética. “You Only Got Yourself” te leva a uma viagem
com dedilhados de guitarra inaugurais, mas que logo se revela o peso
capitaneado pela bateria e o teclado trazendo uma camada mais progressiva a
faixa cheio de viradas rítmicas. Excelente música!
“Can You Feel It (Fire)” esmurra
a porta com um riff sujo e pesado de guitarra, sendo sustentado por uma “cozinha”
excelente e energética, o poderio bélico instrumental dessa música é incrível.
E fecha com “I Hear the Music Playing” com um doce piano na introdução, uma
balada, um momento mais “brando” do álbum, com um vocal mais limpo e bem executado,
mas não se engane ele explode em um hard rock intenso e cadenciado.
"Dragon Lady"
“Highway” é mais solar, dançante, energética, tendo nos teclados a sua estrutura sonora, mas com solos de guitarra simples, mas envolventes. “Riddle of the Sea” começa introspectiva, um violão acústico embalando um vocal soturno, misterioso, mas vai ganhando força, de forma gradativa, uma balada rock cheia de personalidade que ganha robustez com solos de guitarra mais agudos e altos e bateria seguindo o peso.
"Highway"
"Free Easy"
"Can You Feel It (Fire)"
Apesar de
ser um grande álbum, um espécime típico do mais puro e genuíno hard rock
praticado em sua intensidade, em meados dos anos 1970, quando fora lançado, as
poucas informações que há sobre o futuro da banda após o lançamento é de que
não houve o futuro, finalizando as suas atividades logo após o surgimento do
álbum de 1974.
Teve mais um relançamento pelo selo sul coreano chamado "Big
Pink", um mini LP, em 2014, e infelizmente sem a relação dos integrantes da
banda. Isso sim é obscuridade, mas o álbum sim, esse está evidente aos olhos e
ouvidos de todos, provando o quanto é uma pérola bruta recomendadíssima.
A banda:
Sem créditos
Faixas:
1 - Dragon Lady
2 - Highway
3 - Riddle of the Sea
4 - Free And Easy
5 - You Only Got Yourself
6 - Can You Feel It (Fire)
7 - I Hear the Music Playing
Bloody Mary - Bloody Mary (1974)
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