quarta-feira, 20 de maio de 2020

Writing on the Wall - Power of the Picts (1969)


E tudo era escuro, nada existia, até que se fez a explosão e tudo se criou, nasceu, a vida surgiu. Parece algo que já foi lido em algum lugar, uma cópia ou ainda algo relacionado à ciência do universo, a teoria do big bang. Bem, não nego que a lembrança veio da grande explosão. 

Foi o que imediatamente lembrei para falar de uma banda que, embora tenha surgido em épocas por mim não vividas, certamente, com o seu avassalador som, a sua música vanguardista nos longínquos anos 1960 para 1970, pode ser comparada a uma explosão que poderia ter varrido do mapa, se não fosse o seu auge, em pleno 1969, a cena do “paz e amor”, do “Flower Power”. 

É inacreditável como uma banda pudesse ser tão arrojada, corajosa e densamente perigosa o bastante para ameaçar, com toda a sua virilidade sonora, o status quo musical vigente à época, edificando um estilo, construindo um gênero, uma nova concepção sonora, uma nova perspectiva de encarar e ouvir o rock n’ roll. 

Falo da excelente banda escosesa WRITING ON THE WALL, que lançou um verdadeiro petardo sonoro, uma ode ao peso, aos primórdios da música pesada, a gênese do hard rock se fez presente, o heavy metal de vanguarda ditou a inspiração, a referência, independente se é ou não conhecida, obscura ou consagrada. 


O álbum “Power of the Picts”, de 1969, sintetiza, em notas musicais, tudo isso. Uma música que se comunica facilmente com qualquer época, qualquer geração, é atemporal, mesmo que denote algumas típicas características do ano a qual fora lançado, mas que certamente, em uma audição livre de pré-conceitos, fará com que balance freneticamente as cabeças ao som agressivo e denso do Writing on the Wall. 


A banda, como disse, surgiu na cidade de Edimburgo, na Escócia, em 1966 e foi fundada pela vocalista Linnie Paterson, o guitarrista Willy Finlayson, o baixista Jake Scott, o baterista Jimmy Hush e o tecladista Bill Scott, mas para ganhar mais popularidade, ter uma oportunidade, foi para Londres. 


Tinha o nome “The Jury” e tinha como base sonora a soul music, mas logo mudou o nome para “Writing on the Wall”, em 1968, bem como a sua vertente musical, talvez pela pequena, mas substanciosa cena pesada que existia em Londres a começar pelo Black Sabbath, Led Zeppelin, Cream, Deep Purple entre outras mais obscuras. 

A banda logo ganhou alguma notoriedade principalmente pelo seu estilo teatral e sonoridade pesada e agressiva. Ainda não tinha gravado o seu álbum oficialmente, mas continuava a fazer seus shows, sendo uma atração bem popular em um clube londrino chamado “London's Middle Earth Club”. 

O gerente do local e que passou a ser o gerente da banda, Brian Waldman, além de ter sido o responsável pela mudança do nome da banda, também foi responsável pela sua residência no clube onde frequentemente tocavam. 

A banda ganhou a reputação infame de assustadora e que tocava pesado e também violentamente, beligerante. Porém, em 1968, o famoso DJ, radialista, crítico musical e jornalista John Peel ficou impressionado com o som da banda quando esta gravou algumas músicas na BBC de Londres. 

Foi a catapulta que o Writing on the Wall necessitava para que o gerente do Middle Earth Club, Brian Waldman, que também tinha um pequeno selo também chamado Middle Earth, gravar o primeiro álbum da banda, “Power of the Picts”, no ano seguinte, em 1969.


Logo o Writing on the Wall se tornaria a banda principal do clube ganhando asas e ganhando relativa fama na Inglaterra, abrindo shows para Ten Years After e estreando no lendário Marquee Club, abrindo shows para o Wisbone Ash. 

A banda tinha a seguinte formação quando lançou “Power of the Picts”: Willy Finlayson na guitarra e vocal, Alby Greenhalg nos instrumentos de sopro, Jimmy Hush na bateria, Billy T. Scott nos teclados e Jake Scott no baixo e vocal. 

O Writing on the Wall, com o seu álbum debaixo dos braços, intensificou o seu apelo visual, com muita teatralidade, com os integrantes vestidos de sumo sacerdotes, caçadores de bruxas etc, mas não conseguia ter as suas músicas tocadas nas rádios e o argumento era óbvio: som pesado e pouco acessível. Ganhou um mundo marginalizado. “Power of the Picts” conta com um avassalador hard rock, com pitadas generosas de blues, psych, muita lisergia, um verdadeiro acid rock

O álbum começa com “It Came on a Sunday” com um duelo sensacional de teclado e riffs poderosos de guitarra com uma levada meio blues rock e um vocal sombrio e imperioso que lembra, bem como a faixa, um pouco o baixista e vocalista Jack Bruce e o seu Cream.
 
"It Came on a Sunday"

“Mrs Coopers Pie” vem pesada e alternando entre o sombrio patrocinado pelo teclado e solos animados de guitarra, uma música versátil. “Ladybird” é praticamente a sequência e tem o destaque frenético dos teclados e um hard bem cadenciado.

"Ladybird"

Até que surge uma das melhores e maiores, com oito minutos de duração, faixas do álbum: “Aries”. Um som sombrio, envolto em uma atmosfera densa com bateria batendo forte, teclado alto e altivo, riffs de guitarra pegajosos trazendo à tona um heavy metal vanguardista e muito, muito peso e agressividade. 

"Aries"

“Bogeyman” começa engraçada com a gaita de fole, instrumento típico de seu país, a Escócia, mas logo irrompe em um hard rock pesado e sem piedade! “Shadow of Man” começa introspectiva, ameaçadora, com um teclado sombrio e bateria leve, mas depois vem o riff metálico de guitarra, digno de qualquer aprovação de headbanger, com um hard mais psicodélico. 

"Shadow of Man" (Live)

“Taskers Successor” traz um pouco do beat e psicodelismo lisérgico dos anos 1960, mas não se enganem da ausência da batida forte também. “Hill of Dreams” traz uma balada meio folk, ao estilo Bob Dylan, mas com força, intensidade. 

"Hill of Dreams"

E fecha com “Virginia Waters” com mais um duelo entre guitarra e teclado, que, além do peso, traz velocidade, um típico heavy metal oitentista, com um vocal meio desleixado e debochado bem interessante, diria engraçado. 

“Power of the Picts” não teve sucesso fora da Escócia, a ida à Inglaterra não ajudou muito nesse sentido. Mas enquanto faziam suas apresentações, gravava músicas novas ocasionalmente, unindo, até 1973, material suficiente para gravar um novo álbum o que aconteceu, um ano antes, 1972, mas não foi lançado à época, bem como um terceiro também, mas que teve o mesmo triste fim. 

A banda se desiludiu e com o roubo de seus equipamentos causou o fim das suas atividades em 1973. Algumas compilações e reedições aconteceram desse material não lançado, mas carecem de legitimidade. 

O debut, “Power of the Picts” foi relançado em 2007 pela Orc Records com material bônus, incluindo boa parte do material de estúdio não lançado anteriormente. A vocalista Linnie Paterson foi para o Beggar's Opera, o guitarrista Willy Finlayson passou a trabalhar com as bandas Meal Ticket, Bees Make Honey e a sua própria banda, Hunters, além de uma aparição no Manfred Mann. Robert 'Smiggy' Smith juntou-se ao Blue, Alby Greenhalgh juntou-se à banda de rockabilly Flying Saucers e o baixista Jake Scott formou o obscuro grupo de jazz Xu-Xu Plesa.





A banda:

Willy Finlayson na guitarra e vocal
Alby Greenhalg  nos instrumentos de sopro
Jimmy Hush na bateria
Billy T. Scott – nos teclados
Jake Scott – no baixo e vocal


Faixas:

1 - It Came On Sunday
2 - Mrs. Coopers Pie
3 - Ladybird
4 - Aries
5 - Bogeyman
6 - Shadow Of Man
7 - Taskers Successor
8 - Hill Of Dreams
9 - Virginia Water




Para audição de "Power of the Picts" faça o download aqui 


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