A cena de São Francisco foi
conhecida pelas bandas de rock psicodélico, principalmente na segunda metade da
década de 1960. De lá, muitas bandas surgiram para a fama como Greatuful Dead,
The Doors, a cantora Janis Joplin entre tantas outras que, com seu som
lisérgico, repleto de experimentação, com o pano de fundo da paz, do “flower
power” e a oposição ao conservadorismo da sociedade e a Guerra do Vietnã,
edificaram o rock da época.
Eram tempos de contracultura, dos psicotrópicos
abrindo as portas da percepção, parafraseando a grande obra de Aldous Huxley,
dando margem a criatividade sem arestas e filtros. Mas, como todas as épocas da
história do rock n’ roll, também produziram algumas bandas que ficaram no campo
do obscurantismo, do esquecimento, da precocidade da sua existência, bandas que
pereceram não pelo fato de teremsido ruins, sonoramente falando, algumas,
admitamos, foram, mas pelo fato de seguir
à margem do status quo da música, da indústria fonográfica, bandas
lançadas a sua própria sorte por seguir seus instintos, sua criatividade pura e
genuína.
Porém, por mais obscuras que sejam, temos a sorte que, nos dias de
hoje, temos pequenos selos, gravadoras abnegadas que relançam tais bandas, que
assume o risco de gravá-las, em prol da “democracia do som”, da arte nas suas
mais variadas personificações.
A FOX, banda locada na cena de São Francisco, é
um exemplo dessas bandas marginais, com uma sonoridade peculiar para uma época
que a psicodelia imperava, a “moda” que ecoava nas ruas daquela cidade.
Era uma banda rara e obscura, uma música pesada, poderosa, agressiva, um hard
blues cru, típico do início dos anos 1970, que definitivamente esmurrou a porta
do psicodélico em uma época em que a cena estava no auge, com direito a
Woodstock e tudo o mais.
A Fox veio das entranhas de outra banda pouco
conhecida e com fim precoce e também oriunda de São Francisco, chamada Day
Blindness, esta formada em 1967, que contava à época com Felix Bria nos teclados
e vocal, o baterista Dave Mitchell e o guitarrista Gary Pihl.
Essa banda gravou
um álbum em 1968, com o sugestivo nome “Day Blindness”, ganhando até relativa
notoriedade tornando-se frequentes, inclusive, com performances no Fillmore de Bill
Graham, no Ballroom Avalon e também algum destaque em shows gratuitos no Golden
Gate Park. Mas Mitchell foi substituído por Roy Garcia, na bateria, com Bria
também saindo e dando lugar ao Johnny Vernazza. Essa passaria ser a encarnação
da Fox.
"Day Blindness" (1968)
Então
são bandas totalmente diferentes, e sem dúvida essa era a intenção de seus
integrantes: se desvencilhar da não tão antiga banda, de um passado não tão
distante. O álbum da Fox, de nome “San Francisco Session”, foi gravado entre
1969 e 1970 e começa já avassalador com a faixa “Susie S. Kalator” com riff ao
estilo heavy metal de vanguarda seguidos de retumbantes solos de guitarra altos
e bem elaborados, com boas alternâncias rítmicas.
"Susan S. Kalator"
“Sun City” começa mais
introspectiva e irrompe em blues rock pesado e cadenciado, nos brindando mais a
frente com um hardão setentista típico e infalível. “I Can’t Take It” tem
também uma levada bluesy lembrando um pouco a canadense Steppenwolf, bem
dançante e pesada, em revezamento.
"Sun City"
Já “Keep on Livin’ this Way” segue a
proposta da faixa anterior com o blues rock no protagonismo com um vocal e
backing vocal arrebentando com destaque para a guitarra “chorando” solos
lindos. “I Was Alone” vem com o hard rock mais cru e despretensioso, com
destaque para a guitarra dando o tempero ao som.
"I Was Alone"
O álbum fecha com “Geraldine”,
um pouco introspectiva na sua introdução e aos poucos vai “ganhando vida” e substância com um vocal mais trabalhado e potente, com bom alcance e solos de
guitarra poderosos, certamente uma das melhores faixas desse trabalho.
"Geraldine"
A Fox,
embora tenha criado um álbum avassalador que contribuiu para botar a “porta”
do psicodelismo no chão com a sua potência bélica sonora, não prosseguiu dando
fim a sua curta e precoce história. O guitarrista Gary Pihl mais tarde foi
para a conhecida banda Boston e tocando nos anos 1990 com Sammy Hagar, que figurou no Montrose e Van Halen. O baterista Roy Garcia mais tarde foi membro
da banda Gold, uma banda punk e de garage que também era de São Francisco. A Fox sem dúvida é um dos melhores “power trio” da história obscura
do rock.
A banda:
Gary Pihl na guitarra e vocal
Johnny Vernazza no baixo
Roy Garcia na bateria
Faixas:
1 - Susie S. Kalator
2 - Sun City
3 - I Can’t Take it
4 - Keep on Livin’ this Way
5 - I Was Alone
6 - Geraldine
Muito bom blog!!!
ResponderExcluirOlá Geraldo! Muito obrigado pelo carinho, pelos elogios e por ler as minhas humildes resenhas! Abraço!!
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