Não se enganem o Brasil não
é somente a terra do samba, da mulata e futebol. Aqui também tem rock n’ roll e
de deixar os gringos de queixo caído sim! Pena que, apesar de produzir grandes
bandas, não conta com uma sólida base de suporte, sobretudo por parte da mídia
de massa e da indústria fonográfica para que as mesmas tenham a projeção
necessária para disseminarem as suas obras, a sua música.
Historicamente o rock
progressivo, por exemplo, sempre sofreu com esse vilipêndio por parte das
gravadoras e dos grandes veículos de comunicação, sofrendo com precárias
estruturas na produção de seus álbuns, logísticas perigosas para se deslocar de
cidade em cidade para realizar shows, quando tem, sendo relegada a condição de
banda obscura, esquecida, marginalizada por quem deveria dar o apoio.
Mas ainda
há alguns bravos abnegados que disseminam as histórias dessas bandas, os fãs e
apreciadores da boa música, somando aos hercúleos esforços dos músicos que,
além de fazer o seu papel de tocar seus instrumentos, acumulam funções de
empresário, roadies, de marketing e tantas outras atribuições.
Fazer rock
progressivo no Brasil é uma aventura difícil, árdua e que requer paciência e
muito amor pela música, pelo conceito, afinal, uma música intrincada, complexa
em um país como o nosso, que privilegia a música pasteurizada e perecível,
claro que o velho prog rock ficaria em quinto plano.
Mas, como disse, há aqueles
incansáveis que insistem, que perseveram e gravam alguns álbuns e conseguem,
com muito custo, construir uma história, outros somem, desparecem pelo caminho,
lançam um ou dois álbuns e não vingam e temos um exemplo de uma banda fundada
na cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, que gravou apenas um álbum e
sumiu do mapa, pouco se sabe sobre os seus integrantes.
Falo da banda LOCH NESS que lançou o seu “Prologue”, em 1991 pelo pequeno selo Som Interior Produções
Artísticas, localizado na histórica cidade de Petrópolis em edição única, em
disco de vinil, em uma limitadíssima quantidade de 1.000 cópias, sendo um
artigo raro para colecionadores. Cabe ressaltar, como curiosidade e fato histórico que o álbum foi produzido e concebido, em sua arte gráfica, pelo fotógrafo e agitador cultural da cena progressiva do Rio de Janeiro, Carlos Vaz Ferreira.
“Prologue” foi gravado no Sonoviso Estúdio, no Rio de Janeiro, entre 19 de janeiro e 6 de julho de 1988. O nome da banda foi retirado do folclore escocês referente ao mítico monstro (uma espécie de dragão marinho ou criatura pré histórica) que habitava o lago lock ness, na região de Highland, na Escócia.
“Prologue” foi gravado no Sonoviso Estúdio, no Rio de Janeiro, entre 19 de janeiro e 6 de julho de 1988. O nome da banda foi retirado do folclore escocês referente ao mítico monstro (uma espécie de dragão marinho ou criatura pré histórica) que habitava o lago lock ness, na região de Highland, na Escócia.
A banda era formada por: Roberto
Reese na guitarra e vocal, Alexandre "Caph" no piano de cauda, órgão
Hammond, sintetizadores e vocais, Claudio Cotia Barreto no baixo e Ailton Sgon na
bateria e percussão.
“Prologue” é basicamente um álbum de rock progressivo
sinfônico com fortes influências do Pink Floyd, Triumvirat, com muita
vivacidade, dramaticidade e dinamismo e que de fato merece atenção e audiência
dos apreciadores do estilo.
O álbum, todo cantado em inglês, é inaugurado com a
faixa “Prologue (The Gipsy Gull)” com predominância dos sintetizadores, das
teclas de Alexandre Caph, a evidência do progressivo sinfônico é grande, com passagens
viajantes lembrando um space rock ao estilo da banda alemã Eloy.
"Prologue (The Gipsy Gull)"
A faixa instrumental “Hallowe'em”
segue a mesma proposta, sinfônica e viajante, a banda entrega bons arranjos,
apesar de ser uma música curta. “The Third Eye” tem uma forte influência do
Pink Floyd setentista, com uma pegada mais hard rock com bons riffs de guitarra
que irrompe em um competente solo e alternâncias rítmicas de tirar o fôlego.
"The Third Eye"
“To
Breathe One's Last” começa com uma linda "batalha" entre o piano e a guitarra,
uma perfeita sinergia entre a leveza, a delicadeza e a aspereza da guitarra e,
assim a música segue com contornos mais pesados e leves com o vocal dramático e
limpo que dá o tom a canção.
"To Breathe One's Last"
“Satan's Ville” é uma epopeia sonora que, no auge
de seus quase 14 minutos, é dividida em 4 episódios: “The Ens (Instrumental)”, “Delirium
Tremens”, “The Entity” e “Vanishing Point (Instrumental)”, sendo que o terceiro
episódio, “The Entity” é dedicado ao David Gilmour, guitarrista e vocalista do
Pink Floyd. Um grande e genuíno exemplo de faixa com riquezas instrumentais
calcadas no rock progressivo sinfônico, uma música solar, agradável com pitadas
generosas de hard rock.
"Satan's Ville Parte 1"
"Satan's Ville Parte 2"
E fecha com “Death”, que inicia pesada, com avassalador
solo de guitarra com uma “cozinha” afiada, bateria marcada e pesada e o baixo
pulsante e alto, com passagens jazzísticas, fechando com chave de ouro.
"Death"
“Prologue”
não conta com uma qualidade especial no tocante ao seu processo de gravação,
resultado do pouco apoio e das estruturas precárias da época, mas a banda soube
imprimir, de maneira indelével, o seu DNA sonoro, se tornando uma peça rara e
essencial para o rock progressivo brasileiro que é cultuado pelos amantes da
música progressiva espalhada pelo mundo. Atualmente esse álbum está fora de
catálogo e ainda não possui lançamento oficial no formato digital. Que possamos
dar luz ao rock obscuro do grande Lock Ness.
Segue link para download do álbum do Lock Ness, "Prologue". Não é necessário senha:
Lock Ness - "Prologue" (1991)
Segue link para download do álbum do Lock Ness, "Prologue". Não é necessário senha:
Lock Ness - "Prologue" (1991)
A banda:
Roberto Reese na guitarra
elétrica e vocal
Alexandre "Caph" no
piano, no Hammond e vocais
Claudio Cotia Barreto no
baixo
Ailton Sgon na bateria e
percussão
Faixas:
1 - Prologue (The Gipsy Gull)
2 - Hallowe'en (Instrumental)
3 - The Third Eye
4 - To Breathe One's Last
5 - Satan's Ville
Episode First - The Ens (Instrumental)
Chapter One - The Tale
Episode Second - Delirium Tremens
Part 1 - The Shades (Instrumental)
Part 2 - Nightmares
Episode Third - The Entity
Episode Fouth - Vanishing Point (Instrumental)
Chapter Two - The Tag
6. Death
Cabe mais, muito mais, mas muito mais mesmo, vamos encher o vagão, o trem não pára, longa vida ao condutor,
ResponderExcluirMuita qualidade de gravação nesse vinil brazuca! Mais um garimpo e resenha enriquecedor !
ResponderExcluirDJ Yoda, bom dia.
ExcluirExcelente mesmo! Um dos melhores trabalhos progressivos do Brasil em plenos anos 1990!
Obrigado por ler e pelas elogiosas palavras!