quinta-feira, 30 de abril de 2020

Magia Nera - L'ultima danza di Ophelia (2017)


É sabido que os longínquos anos 60 e 70 para as bandas que começavam era árduo, difícil, complicado. As bandas não dispunham de ferramentas de comunicação com os seus fãs e distribuição de sua obra que os músicos têm nos dias atuais, como as redes sociais e canais de vídeos na internet. A internet revolucionou o contato das bandas e os fãs, revolucionou a forma como o fã consome música e não vou entrar em pormenores os pontos negativos e positivos desse processo, o fato é que as mudanças foram evidentes. Para a banda italiana Magia Nera (Magia Negra, em italiano), surgida na província de La Spezia, na região de Ligúria, essas aventuras rendeu um triste fim precoce em sua história, em sua trajetória. O termo “aventura” vem carregado de precariedade nas turnês, na forma que as bandas, sobretudo aquelas que recebiam um reduzido orçamento para desempenhar a sua arte, das gravadoras, resultando em situações perigosas para a integridade física dos músicos, inclusive. A banda foi formada no ano de 1969 e tinha o nome de La Nuova Esperienza, mudando, no mesmo ano o nome para Magia Nera, inspirada em um nicho dentro do rock n’ roll que tinha uma proposta no oculto, no sombrio e em filmes e personagens de terror e, claro, em bandas como Black Sabbath, Coven, Uriah Heep etc.

La Nuova Esperienza

Começou a tocar covers, como toda a banda que começa e depois começou a compor material próprio. Em 1970 a banda começou a despertar o interesse do público, da cena local, em sua região que, apesar de pequena, trazia a banda à expectativa de seguir com a sua história e gravar um material novo. Participou, com algum sucesso, de alguns festivais de música, como o Free Festival Pop de Bottagna. 

Matéria de jornal sobre o Free Festival Pop de Bottagna

A gravadora Magma Records demonstrou um grande interesse em colocar o Magia Nera em estúdio, mas surgiu um infortúnio, a precariedade, a dificuldade de se fazer turnê, as dificuldades da estrada trouxe um revés a banda, onde a sua van pegou fogo com todas as suas fitas com todas as suas músicas gravadas para o seu álbum de estreia, tudo virou cinza. A banda ficou muito desanimada porque eles não teriam tempo hábil para regravar as músicas a tempo e entregar a gravadora para lançar o álbum. O Magia Nera, em 1973, decide se separar, dar fim a banda. Em 2017, 44 anos depois, o Magia Nera, com quase todos os seus membros originais decide se reunir para trazer à tona as suas músicas levadas pelo fogo, graças também ao selo independente Akarma Records, distribuído pela Black Widow Records. Emilio Farro (vocais), Pino Fontana (bateria), Lionello Accardo (baixo) e Bruno Cencetti (guitarra), além de Andrea Foce (teclados), que substituiu Orazio Colotto lançaram “L'ultima danza di Ophelia”. 


Magia Nera na década de 1970



O "novo" Magia Nera, em 2017

O som da banda traz aquela camada soturna, sombria, aliado ao peso, uma “cadencia” assustadora, ameaçadora, perigosa. Um hard rock clássico, vintage, mas novo, rejuvenescido, embora tenham regravado todo o material como eram nos anos 1970. A faixa de abertura “L'ultima danza di Ophelia” é baseado em uma cena de peça “Hamlet”, de Shakespeare que introduz linhas interessantes de teclado, um hard rock cadenciado com a “cozinha” funcionando bem, baixo e bateria dando um ar sombrio a música.


Magia Nera - "L'Ultima danza di Ophelia"


“Il Passo del Lupo” conta as últimas horas de um perdedor orgulhoso, um fugitivo solitário que tenta fugir de seu destino escondido em uma floresta escura como um lobo. Eventualmente, a senhora das Trevas o leva para a terra das sombras eternas e ele aceita seu destino sem medo. E o som começa que o típico e infalível riff pesadão com o vocal ameaçador, a guitarra tem o destaque nessa faixa com um teclado ao fundo com influências do Jacula.


 
Magia Nera - "Il Passo del Lupo"

"La Strega del Lago" traz a história de um tipo estranho de mulher, um um poderoso vampiro sedento de sangue convocado durante um ritual obscuro das águas escuras de um lago, Senhora das sombras e da escuridão, dono dos mais profundos abismos da sua alma. A música segue a proposta de sua antecessora, muito peso, riffs e solos extasiantes de guitarra e um vocal mais limpo, alto e poderoso.

Magia Nera - "La Strega del Lago"

"La Tredicesima Luna" (Décima Terceira Lua) traz a característica cadência pesada do álbum, com mais riffs e uma bateria marcada excelente. A música fala de uma pequena trilha que celebra os mistérios de rituais obscuros onde espadas e poderes das trevas desenham círculos mágicos e bruxas dançam nas fronteiras entre mundos diferentes. A suíte dividida em dez partes e 5 faixas, trazendo o lado mais progressivo do álbum, mas preservando a proposta pesada do álbum, diria que é uma epopeia muito bem sucedida de um verdadeiro e genuíno heavy prog.


Magia Nera - "La Tredicesima Luna"


A curta faixa “Movimento 1: Inno Alla Mietitrice” estimula o ouvinte a assimilar o que virá pela frente, com uma atmosfera de muito mistério com uma sonoridade pagã com vocal falado e uma doce flauta ao fundo com dedilhados de violão acústico.


Magia Nera - "Movimento 1: Inno Alla Mietitrice"

A faixa “Movimento 2: Sentido de Luna 'La Rinascita E La Transformação' - Movimento 3: La Camminata Del Mostro - Movimento 4: Il Viaggio” retorna com o peso do álbum com uma sonoridade plena, alternando em destaque a guitarra e o baixo, em um “duelo” que faz da música mais solar, viva, poderosa. 


Magia Nera - "Movimento 2: Sentido de Luna 'La Rinascita e La Transformação", "Movimento 3: La Camminata Del Mostro" e "Movimento 4: Il Viaggio"

“Movimento 5: La Cavalcata Delle Streghe - Movimento 6: L'orologio Della Torre” segue a proposta da música anterior, altiva, animada, diria até dançante, tendo riffs e solos de guitarra mais uma vez protagonizando. 


Magia Nera: "Movimento 5: La Cavalcata Delle Streghe, "Movimento 6: L'orologio Della Torre""

A faixa “Movimento 7: Il Presagio - Movimento 8: La Camminata Del Mostro” “foge” um pouco ao peso e introduz com uma balada que explode um viajante e lindo solo de guitarra, é arrepiante, acreditem. 


Magia Nera - "Movimento 7: Il Presagio" e "Movimento 8: La Camminata Del Mostro" 

E por fim a faixa “Movimento 9: La Metamorfosi - Movimento 10: La Fine” com traços mais pop, mais acessíveis ao ouvido, mais dançantes mas com doses pesadas também graças a guitarra, aos riffs e solos. 


Magia Nera - "movimento 9: La Metamorfosi e "Movimento 10: La Fine"

O álbum conta com um bônus track, um cover do clássico “Gypsy” do Uriah Heep que, embora não tenha nenhuma roupagem nova ou algo que a diferencie foi bem executada sendo fiel ao formato clássico, cantada em inglês, diferente de todas as faixas do álbum cantada em italiano. 


Magia Nera - "Gypsy" (Bonus Track)

O hiato de mais de quarenta anos azeitou a banda que, mesmo hibernada, retornou forte e retomou um tempo precocemente abreviado entregando um “novo clássico” como “L'ultima danza di Ophelia”. Anos de persistência e dedicação à música fez com que a banda mantivesse sua força, seu sentido de unidade e que fará com que a banda trilhe seu longo caminho para a vida longa e próspera fazendo música, desenhando a sua história que, apesar de ter mais de 50 anos está apenas começando. Que venham mais e mais álbuns e trabalhos de qualidade.





A banda:

Emilio Farro no Vocal
Pino Fontana na Bateria
Lionello Accardo no Baixo
Bruno Cencetti na Guitarra
Andrea Foce nos Teclados


Faixas:

1 -  L'ultima Danza Di Ophelia 
2 -  Il Passo Del Lupo
3 - La Strega Del Lago
4 - La Tredicesima Luna 
5- Suíte: Dieci movi in ​​cinque traço
- Movimento 1: Inno Alla Mietitrice 
- Movimento 2: Sentido de Luna 'La Rinascita E La Transformação' - Movimento 3: La Camminata Del Mostro - Movimento 4: Il Viaggio 
- Movimento 5: La Cavalcata Delle Streghe - Movimento 6: L'orologio Della Torre
- Movimento 7: Il Presagio - Movimento 8: La Camminata Del Mostro
- Movimento 9: La Metamorfosi - Movimento 10: La Fine 
6- Gipsy (Bonus Track)






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