1965, Birmigham, Inglaterra. A
banda “Kansas City Seven”, como o nome sugere, tinham inacreditáveis sete
músicos! O único músico conhecido, que tinha algum status, era o tecladista e
flautista Chris Wood. Mas não era tanto, afinal, todos, inclusive Wood, eram
jovens músicos na época. Para levar a sua música mais longe, alcançar o
sucesso, eles decidem mudar o nome da banda para “The Locomotive”. E até
conseguem alguma reputação com belas apresentações, de jazz rock, ao vivo.
Mas quando a banda estava
começando a decolar, eis que surge a baixa mais considerável! Chris Wood optou
por sair do The Locomotive para se juntar ao Traffic, juntamente com Jim
Capaldi, Steve Winwood e Dave Manson, e o resto da banda, perdida com o impacto
da saída de Wood, decide seguir, um por um, seus caminhos. Apenas Jim Simpson
permanece na banda original e coube, claro, a ele, reformular o The Locomotive.
Então ele reúne nomes como
Norman Haines e Jo Ellis para continuar com o The Locomotive. A banda lança
alguns singles conceituados, que se tornaram conhecidos, figurando em paradas
de sucesso no Reino Unido e logo lançam o álbum “We Are Everything You See”, em
1970. A banda entra em colapso, não conseguiu dar sequência a sua jornada e,
dessa vez, teve decretado o seu triste fim.
Então ele reúne nomes como
Norman Haines e Jo Ellis para continuar com o The Locomotive. A banda lança
alguns singles conceituados, que se tornaram conhecidos, figurando em paradas
de sucesso no Reino Unido e logo lançam o álbum “We Are Everything You See”, em
1970. A banda entra em colapso, não conseguiu dar sequência a sua jornada e,
dessa vez, teve decretado o seu triste fim.
Coube agora a Norman Haines a
dar um norte na banda, fazendo, contudo, mudanças drásticas. Na realidade Haines
protagonizou um início a outro projeto, recrutando o guitarrista Neil Clarke, o
vocalista e baixista Andy Hughes e o baterista Jimmy Skidmore formando o “The
Sacrifice Ensemble”. Mas antes de entrar na história do The Sacrifice Ensemble,
convém tecer algumas linhas sobre Norman Haines.
Norman, tecladista e
vocalista, começou a sua carreira profissional em uma banda beat, em 1966,
chamada “The Brumbeats”, de Birmingham. Quando a banda se separa, Haines
torna-se membro do The Locomotive, em 1967, ajudando a Jim Simpson a
reformulá-la, pois também sofrera com a debandada de todos os seus músicos e
logo assumiu o protagonismo na banda. Tanto que, quando o Locomotive sofreu com
a saída da maioria dos seus músicos, teve a competência de reformular e criar
um projeto, o The Sacrifice Ensemble.
Então voltando ao The Sacrifice,
esta agradou tanto que logo ganharia um contrato com o selo Parlophone Records,
em 1970. Esse contrato de gravação custaria o nome da banda, porque os
executivos de marketing da gravadora mostraram-se descontentes com o nome da mesma
e quando lançaram os singles de estreia da banda, “Daffodil” e “Autumn Mobile”,
mudaram, unilateralmente, o nome para “THE NORMAN HAINES BAND”. Sim! Deu o
protagonismo para Haines até no nome da banda.
A banda então, com o seu novo
nome e novas expectativas de alcançar o tão almejado sucesso, se reúne no
mítico Abbey Road Studios, em 1971, para gravar seu primeiro álbum com essa
formação e nome novos. E eis que surge “Den of Iniquity”, naquele mesmo ano. Perfilando
o The Norman Haines Band temos, além de Haines no teclado, piano e vocais, Neil
Clark na guitarra, Andy Hughes no baixo e vocal e Jim Skidmore na bateria e
percussão.
Embora os singles não tenham feito
tanto sucesso, à época do seu lançamento, a Parlophone decidiu financiar o
álbum. “Den of Iniquity” traz traços da banda The Locomotive, com uma música
chamada “Everything You See (Mr. Armageddon)”, que esteve no álbum desta última
banda, mas com uma versão mais arrojada e sofisticada, mais bem acabada sob o
aspecto da produção e das melodias. Apesar do álbum do The Locomotive e do The
Norman Haines Band tenham sido lançados em um curto espaço de tempo, nota-se,
com evidência, que o último é bem melhor em vários aspectos.
Podemos considerar, sem
dúvidas, que “Den of Inquility” traz um progressive hard rock ou ainda como
heavy progressive rock. É um álbum tão versátil e pouco estereotipado que pode,
por conta disso, parecer um pouco disperso para ouvidos mais pasteurizados em
determinadas vertentes sonoras, mas é um deleite a diversidade.
É impulsionado pela combinação
de voz e teclados empolgantes de Haines e a fantástica guitarra de Clarke com
resultados espetaculares de hard rock afiado, blues-rock e movimentos mais
comerciais. Mas por mais que tenhamos neste trabalho essas vertentes, podemos
perceber nuances mais sombrias entregando uma versão dark prog e occult rock
também.
O álbum é inaugurado com a
faixa título, “Den of Inquility” que, de imediato, te remete a um clássico do
hard rock. Essa música explode com um riff de órgão e bateria que bate forte e
pesada ao fundo. A guitarra vem seguindo o órgão antes de assumir o seu
protagonismo com riffs potentes e cheios de wah wah. O seu solo é matador,
avassalador e as “curvas” de wah wah ao fundo são extremamente sedutoras. Um
hard rocker matador!
Segue com “Finding My Way Home”
que lembra um jam vibrante, solar, cheia de força e presença, com destaque
indiscutível dos vocais e da guitarra com riffs pesados e solos bem elaborados.
A faixa seguinte, a versão retrabalhada de “Everything You See (Mr. Armageddon)”,
que foi do The Locomotive, ganha corpo com o protagonismo da guitarra. Ela,
inicialmente, tem um início mais lento, mas a guitarra de Neil Clarke se redime
totalmente na segunda metade da música. Ele praticamente sola até o final e
cada segundo dessa parte da faixa é simplesmente espetacular. Uma verdadeira
progressão de acordes que traz o prog rock na sua versão mais arrojada e
encorpada.
“When I Come Down” é outro
hard rock típico e cheio de potência e peso, carregado de wah wah, com um pouco
de órgão distorcido que corrobora a sua condição de peso. Essa música, aqui
vale uma curiosidade, foi usada como demo, pela outra banda do antigo
empresário Jim Simpsons, “Earth”, que naquela época havia mudado seu nome para
simplesmente “Black Sabbath”.
O clima dá uma guinada suave
com a balada “Bourgeois”, interpretada e cantada pelo guitarrista Clarke. Ele
exibe, orgulhosamente, as suas raízes folk, mas com muita personalidade. Segue
agora com a robusta e longa, de 13 minutos, a faixa “Rabbits” que lembra uma
jam sólida e estendida. Nessa música as raízes progressivas estão fincadas nas
tecituras instrumentais, mostrando várias mudanças rítmicas, cheias de nuances
sofisticadas, mas muito orgânicas.
O fim do álbum entrega a
faixa, de 8 minutos, chamada “Life is so Unkind”, que traz uma hecatombe
instrumental liderado pelo órgão, piano elétrico e um pouco de guitarra que,
embora não traga destaque, como as teclas, leva o álbum a um final, diria,
deliciosamente catártico, fantasticamente ameaçador.
Quando o The Norman Haines Band apresentou o produto, incluindo a grotesca capa do álbum, digno hoje para muitas bandas de heavy metal dos anos 1980, a gravadora se recusou a lançá-lo, tanto que a banda finalizou as gravações no final de 1970, mas a Parlophone só lançou “Den of Inquility” em agosto de 1971.
A capa também gerou repulsa por parte dos varejistas britânicos, e muitas lojas estocaram poucos álbuns e esse termômetro dos vendedores, das lojas, determinou as diretrizes da gravadora que pouco o promoveu e apoiou, gerando poucas cópias, resultando em um lançamento bastante escasso e que atualmente, por ser um trabalho cult e raro, é vendido por até 2.000 euros no mercado de discos. E já que mencionei a capa do álbum do The Norman Haines Band, o autor da linda capa é Heinrich Kley, um famoso e controverso desenhista alemão da cidade de Munique.
“Den of Iniquity” foi lançado, no formato LP, na França e no Uruguai pelo selo Odeon Records, em 1972 e diz que, por intermédio da verificação com a gravadora, foi inacreditável distribuir e vender este álbum no Uruguai naquela época, levando em consideração a frágil economia daquele país e o número consequente limitado de pessoas que comprariam esse trabalho.
Em 1993 a Shoesstring Records
lançou no Reino Unido, no formato CD, contendo mais cinco composições e uma
edição limitada de 1.000 cópias. Em 1994 esta mesma gravadora lançou, agora no
formato LP, também no Reino Unido, contendo mais duas composições e uma edição
limitada de 500 cópias.
Em 2002 a Progressive Line
lançou, em CD, com mais cinco músicas, uma versão não licenciada. Em 2004 a
Radioactive Records lançou discos e vinis pelo Reino Unido também com versões
não licenciadas, bem como a Sunrise Records que lançou, em CD, na Alemanha,
versões não licenciadas.
Em 2011, a Esoteric Records
lançou um álbum, em CD, no Reino Unido, com mais seis músicas. Porém, mais
versões não licenciadas foram lançadas entre 2014 e 2021, incluindo selos como
Acid Nightmare, a Ethelion Records, a Magic Box Records e a Prog Records.
Com o escasso apoio da
gravadora e a rejeição dos donos de lojas em vender um álbum com uma capa, para
eles, grotesca e nojenta, o The Norman Haines Band iria decretar o seu fim,
ainda em 1971, ano do lançamento de seu único álbum. Norman tentou a última
sacada, em 1972, e gravou algumas demos, que acabou, diante desses
relançamentos, por serem incluídas em “Den of Iniquity”, como “Give It To You
Girl" e “Elaine”. "Give It To You Girl", uma melodia pop matadora
liderada por sua voz brilhante e piano elétrico. Isso mostra o crescente gosto
de Norman pela percussão latina e nos dá uma amostra do que poderia ter vindo a
seguir.
Norman caiu na estrada usando
o nome “The Locomotive”, porque ele estava muito endividado e precisava de
grana para pagar as suas dívidas e nada como usar o nome “The Locomotive” que
te trouxe algum sucesso na música, apesar de tão efêmero. Mas de nada adiantou!
Desiludido e revoltado com o mundo da música se retirou melancolicamente,
recusando, inclusive, uma proposta de entrar na jovem e promissora Black
Sabbath, sumindo do mercado da música.
Haines entraria no ramo de
construção e até montou uma banda que tocava em casamentos e eventos de danças
locais, o que ele ainda faz até os dias de hoje. Eu pergunto a você, estimado
leitor: Será que a maioria das pessoas para quem ele e a sua banda toca hoje em
dia, percebe o músico brilhante que realmente ele é? A história, que foi pouco
gentil com ele, será, no futuro, a redentora de seu talento pouco aproveitado
por uma série de tristes circunstâncias? O fato é que Haines e sua banda foi
deveras essencial para o rock n’ roll de Birmingham no início dos anos 1970.
A banda:
Neil Clark na guitarra
Andy Hughes no baixo, vocais
Jimm Skidmore na bateria,
percussão
Norman Haines no órgão, piano,
vocais
Faixas:
1 - Den of Iniquity
2 - Finding My Way Home
3 - Everything You See (Mr
Armageddon)
4 - When I Came Down
5 - Bourgeois
6 - Rabbits
a) Sonata (For Singing Pig)
b) Joint Effort
c) Skidpatch
d) Miracle
Nenhum comentário:
Postar um comentário