Para todos que apreciam rock
n’ roll, que existe uma rotatividade imensa entre as bandas desta vertente.
Vaidades, dinheiro, novos ares vislumbrando projetos mais audaciosos, novos,
diferentes do que faziam, podem ser um dos motivos por tantas saídas de músicos
ou ainda de vertentes sonoras ou, claro, todos os quesitos também contam como
motivo para esse “fenômeno” tão recorrente.
O fato também que, mudanças
nas formações e nas vertentes sonoras, embora sejam eventos complexos e
difíceis para quaisquer bandas, podem trazer boas novas, sobretudo para os fãs,
no que tange a qualidade. Talvez a mudança, por mais complicada possa parecer,
podem trazer bons e arrojados frutos, com projetos grandiosos que deixam marcas
indeléveis para a história da banda e até mesmo da música.
Poderia escrever, por longas
linhas, inúmeros casos, exemplos que se tornaram verdadeiros exemplos e
inspirações de que a mudança pode oxigenar realidades estáticas de muitas
bandas e outras que sucumbiram caindo em desgraça, no mais profundo ostracismo,
mas falarei de uma banda que foi submetida a mais profunda mudança, que passou
não apenas na sua sonoridade, o que já é, por si só, substancioso, mas também
pelo nome e pela entrada e saída constante de seus músicos: Falo da alemã
SAHARA.
Mas nos seus primórdios a
banda não se chamava Sahara, mas “Subject ESQ.” E foi concebida na cidade de
Munique, na Alemanha, em 1966. Tinha, em sua sonoridade, predominantemente o
jazz rock, lançando, inclusive, seu primeiro e único álbum, com este nome, em
1972, autointitulado. Sua formação trazia Peter Stadler nos teclados, Michael
Hofmann na flauta, saxofone e vocais, Alex Pittwohn na harpa, guitarra e
vocais, Stephan Wissnet no baixo e vocais e Harry Rosenkind na bateria e
percussão, além da participação de Paul Vincent na guitarra elétrica e
espanhola e Franz Löffler na viola.
Após o lançamento do seu debut o Subject ESQ. teria a primeira mudança em sua formação, com a saída do tecladista Peter Stadler e a entrada, de peso, de Hennes Hering, simplesmente o tecladista que gravou os três primeiros álbuns do grande e também alemã Out of Focus. Mas a mudança mais significativa estaria por vir.
No ano de 1974, portanto dois
anos depois do lançamento de “Subject ESQ”, a banda sofreria mais mudanças e
dessa vez começou pelo nome. Mudaria para “Sahara”, e também com uma nova
inclusão de músico, dessa vez do guitarrista Nicholas Woodland, guitarrista
original de outra seminal banda alemã, o Gift, passando a nova banda, Sahara,
ser um sexteto.
E com uma nova formação e
nome, o Sahara gravaria o seu primeiro álbum chamado “Sunrise”, em 1974. A
banda teria, em seu line-up, portanto, Nick Woodland na guitarra, Hennes Hering
nos teclados, Michael Hofmann no moog, mellotron, composição e vocais, Alex
Pittwohn, na harpa, no saxofone e vocais, Stephan Wissnet no baixo e vocal
principal, além de Harr Rosenkind na bateria.
A mudança foi drástica e
creio, se me permitem a licença poética em falar deste novo trabalho do Sahara,
foi uma mudança para melhor. Do estranho e experimental “Subject ESQ.” tiveram
um rock progressivo mais variado e versátil em “Sunrise”. Sem sombra de dúvida
a entrada de Hering foi determinante para essa nova concepção sonora da banda,
mas não podemos negligenciar a participação dos demais músicos e principalmente
de Woodland que sairia do Gift com uma veia mais hard rock para uma prog rock
genuíno.
Sem dúvida o nome da banda
personificaria a aventura que esse novo álbum entregaria. Tecidos de teclados
soberbos, sofisticação sonora, mas orgânico e poderoso, um progressivo
clássico, mas virando, em dado momento, um jazz fusion e outras vezes um blues
rock. “Sunrise” nasceria completo, robusto, intenso, maduro, versátil. O álbum
foi lançado pelo modesto selo alemão Pan (Ariola), porém foi distribuído, no
Reino Unido, pela gravadora Dawn, no início de 1974.
Mas todo esse início não era
para falar dos primeiros álbuns dessa seminal banda germânica, mas para tecer
generosos comentários acerca do seu terceiro trabalho, segundo com o nome de
“Sahara”, o grandioso “For All the Clowns”, de 1975 que, por uma grata
coincidência, completa, neste ano, 50 anos de lançamento.
Para manter uma espécie de
rotina no Sahara as mudanças na formação aconteceram trazendo um novo
guitarrista, Günther Moll, no lugar de Nicholas Woodland, que entraria na banda
Desertland e outra também no posto de baterista saindo Harry Rosenkind e
entrando Holger Brandt, que era da banda Missing Link.
Então a formação do Sahara
para “For All the Clowns” trazia Moll na guitarra e vocal, Hennes Hering nos
teclados, piano e sintetizadores, Michael Hofmann no moog, no sintetizador de
cordas, guitarra, flauta e vocais, Stephan Wissnet no baixo, violão e vocais
principais e Brandt na bateria e percussão. Na realidade Nick Woodland teria
uma pequena participação, na faixa 2, “The source Part I & Part II”,
tocando violão de 12 cordas, além de Meryl Creser na recitação na faixa 5, “The
Mountain King Part I & II”.
“For All the Clowns” foi lançado em 1975 pelo também selo Pan (Ariola) e além das referidas mudanças na formação da banda, deixando apenas os remanescentes Hofmann, Wissnet e Pittwohn, mudanças em sua sonoridade são percebidas neste novo trabalho também, onde as vertentes jazzísticas, presentes no álbum anterior, “Sunrise”, desapareceriam, por completo, de “For All the Clowns”.
Neste novo álbum teria a
predominância do rock progressivo calcado no sinfônico, em uma concepção mais
direta, mas não menos sofisticada e complexa. A versatilidade seria o mote
deste trabalho e nisso se assemelha ao “Sunrise”. Concepção direta, porém, nem
um pouco talhado para o mainstream.
Mas não se enganem, caros e
estimados leitores, que as mudanças parariam por aí. Bastante importante para o
Sahara, Hofmann não tocaria, neste álbum, saxofone, este instrumento seria
abolido da sonoridade deste novo trabalho da banda, o que é perceptível no
resultado final, nas músicas, mas dedicou-se aos sintetizadores, moog, guitarras
e ainda a flauta. Pittwohn, além de ter as suas funções de músico, acumularia a
de produtor e gerente do Sahara. A capa
de For All the Clowns” traria uma arte totalmente bizarra, mas com uma
“tonalidade” bem humorística, mas que não adequa a tipicidade da música. Foi
concebida por Kurt Halbritter. Mas o que importa é o conteúdo e este traz um
álbum arrojado e fortemente calcado em um prog sinfônico muito bem executado.
O álbum é inaugurado pela
faixa “Flying Dancer” que começa com o destaque vocal, que oferece novas e
extensas passagens, mostrando um belíssimo alcance. A sua sonoridade é calcada
no progressivo sinfônico trazendo inspirações britânicas, fugindo da rigidez
lisérgica do experimentalismo germânico, o famoso krautrock.
Segue com a música mais
complexa, diria, do álbum: “The Source Part I & Part II”, onde a banda
mergulha em uma atmosfera densa, estranha, experimental. É como se fôssemos
transportados por uma galáxia distante e inimaginável, com o peso evidente do
teclado. A faixa alterna entre passagens silenciosas e sombrias e momentos
sombrios mais pesados. A guitarra não é estridente, mas dedilhada com esmero e
dramaticidade. Tudo nesta música soa moderno e arrojado para a época.
A faixa título, “For All the
Clowns”, que tem duração de 11 minutos, começa meio Pink Floyd. O baixo toca
discretamente, tons de sintetizador atmosféricos são colocados sobre ele e dão
à música seu próprio toque, peculiar. Posteriormente sons limpos de guitarra se
juntam e vão encorpando a música cada vez mais. A batida do ritmo é captada,
mas logo se silencia novamente. As variâncias rítmicas corroboram a sua
condição progressiva.
“Prélude” personifica o seu
conceito e abre alas para outra grande e monumental faixa, “The Mountain King
Part I & II”. Um riff de guitarra, altamente interessante, abre a música,
com mais de 13 minutos de duração. A flauta é destaque nela, com toques suaves,
doces, mas alternando momentos mais intensos e vívidos, trazendo à tona toques
mais rústicos e pesados, ao estilo Ian Anderson, do grande Jethro Tull. Os
cantos também interferem decisivamente, entrando no reino da improvisação
típica. A seção rítmica dá o tom e se mostra decisiva e essencial para o
balanço da faixa.
Segue com “Dream Queen” onde a
flauta se mantém dominante, como na faixa anterior, juntamente com os vocais
que, cativantes, começam suavemente, dando um parâmetro para as flautas dando a
faixa leveza e um ar contemplativo. Fecha com “Fool the Fortune” que traz um
arpejo de guitarra esplêndido, embora simples, porém bem executado. Segue nela
também um tom pastoral com vocais suaves e cantos de pássaros.
“For All the Clowns”
certamente é o álbum ideal aos apreciadores de rock progressivo sinfônico, mas
devido a sua versatilidade passa a ser uma audição interessante aos amantes de
rock clássico e até mesmo, em alguns momentos, de hard rock.
É em “For All the Clows” que a
banda mostra mais a sua habilidade mais claramente do que os seus antecessores,
talvez pelo simples fato de ser mais versátil, acessível e, logo capaz de
sensibilizar ouvidos variados e exigentes. A fusão entre progressivo sinfônico,
rock clássico e hard rock funcionou plenamente neste derradeiro álbum do
Sahara.
O Sahara, entre 1973 e 1975
tocou em profusão, se apresentando em vários shows e festivais, divulgando
“Sunrise” e parte de seu segundo trabalho, “For All the Clowns”. Tocou no
“Hamburg Rockfabrik” e no festival de rock em Lidau junto com os Scorpions, que
na época, ainda com Uli Jon Roth na guitarra, entre outros, tentava conquistar
seu lugar ao sol. Para o segundo álbum, a banda seguiria para uma extensa turnê
pela Holanda.
Apesar das mudanças que se
sucediam na banda, era perceptível que, sob o aspecto sonoro, crescia, ficava
mais madura e tudo indicava que teria longeva vida, no final dos anos 1970,
mais precisamente em 1977, Brandt e Moll sairiam do Sahara, decretando, diante
disso, seu fim. Em 24 de julho de 1977 o Sahara faria seu último grande show no
Theater der Jugend, em Munique. A precocidade bateu forte e impiedosa na
história promissora da banda.
Mas a música é capaz de tudo!
De fazer ressurgir o que há de melhor nela, nas suas mais variadas versões e
situações. O Sahara, depois de um hiato de décadas e décadas, quase 30 anos
depois, decide se reunir novamente, mais precisamente em 2 de agosto de 2006. A
formação original estaria na ativa novamente! 40 anos após a fundação da banda,
que ainda se chamava Subject ESQ,! Isso era significativo e histórico!
O palco foi um show, ao ar livre, no Festival Bur-Herzberg, em julho de 2007. Outros palcos de destaque também receberiam o Sahara, como a apresentação no antigo Blow Up, atual Schauburg, em Munique, no mês de abril de 2008, além do show na Academia de Belas Artes de Munique, em fevereiro de 2009. Os shows foram acontecendo em períodos espaçados, até outubro de 2019, quando a banda decide, mais uma vez, se separar. O único relançamento que se tem notícia de “For All the Clowns” foi, em CD, pelo selo Ohrwaschl Records, em 1993.
A banda:
Günther Moll na guitarra e
vocal
Hennes Hering no teclado,
piano e sintetizadores
Michael Hofmann no Moog,
guitarra, flauta e vocal
Stephan Wissnet no baixo, na
guitarra acústica e vocal principal
Holger Brandt na bateria
Faixas:
1 - Flying Dancer
2 - The Source Part I &
Part II
3 - For All the Clowns
4 - Prélude
5 - The mountain King Part I
& II
6 - Dream Queen
7 - Fool the Fortune
Nenhum comentário:
Postar um comentário