sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Baumstam - On Tour (1975)

 

Costumamos atribuir ao krautrock como a cena rock mais emblemática da Alemanha. E essa informação se confirma dado o seu pioneirismo, a sua importância, a sua representatividade não só para o aspecto musical, mas para a contracultura germânica que ainda recolhia seus cacos da Segunda Grande Guerra Mundial.

O Kraut, embora tenha sido um nome pejorativo dado pela imprensa britânica trouxe bandas do naipe de Can, Kraftwerk, Tangerine Dream, Amon Duul II, entre tantas outras que tingiram a cena de um experimentalismo como nenhuma outra o fez, com uma simplicidade minimalista que trazia à tona uma complexidade de interpretação a sons, ruídos, entre outras viagens lisérgicas e ácidas que podemos comparar a versão alemã da psicodelia que estava em voga no mundo na segunda metade dos anos 1960.

O Krautrock teve seu ápice entre os anos de 1967 e 1972, aproximadamente, onde os grandes álbuns do estilo se eternizaram, mas muitas bandas trafegaram no ostracismo, na obscuridade flertando com outras sonoridades que ia do jazz rock, que também traziam doses cavalares de jam section, com muitas experimentações a versões do rock mais pesadas, inclusive e que não tiveram tanto acesso aos tocadores de som dos aficionados pelo rock germânico.

Claro que essas bandas, como disse, caíram no mais profundo esquecimento ou pelo menos grande parte delas e sem sombra de dúvida trouxeram músicas significativas para a história, para os primórdios do rock alemão e podemos, de imediato, citar bandas como Birth Control, por exemplo, que até hoje, com mais de cinquenta anos de estrada, grava material inédito para o mundo testemunhar que o kraut não se resume a experimentalismos e viagens lisérgicas e ácidas.

Temos o jazz rock, temos o hard rock que surgiram, mais ou menos, nesse mesmo período em que o kraut reinou na Alemanha e que corrobora a diversidade sonora que brotou neste país na transição dos anos 1960 para os anos 1970. E a banda que eu falarei hoje surgiu um pouco depois dessa fase mais prolífica do kraut e seu minimalismo, mas trouxe consigo a pedra fundamental da música pesada na Alemanha. Falo do BAUMSTAM.

Baumstam

Certamente você, meu bom amigo leitor, nunca tenha ouvido falar dessa banda em sua vida ou conheça, porém nunca tenha visto ou ouvido, em uma conversa de amigos apreciadores do rock setentista, o nome dessa banda em algum momento. É claro! A banda é pouco conhecida e tida pelos especialistas como muito rara. Sendo ou não rara, o fato é que o Baumstam não figura entre os grandes do rock alemão dos anos 1960 ou 1970, mas tem uma relevância inominável quando se fala de pioneirismo do hard rock germânico. Como pode? Parece estranho, mas sim, ela foi importante.

E como prova irrefutável apresento o seu debut, o avassalador “On Tour”, lançado no longínquo ano de 1975, alvo de discussão no meu texto de hoje. Mas antes tentarei falar um pouco da história da banda, mas, por questões óbvias, será um tanto quanto difícil, pois a banda não gozava de tanta popularidade e infelizmente na grande rede poucas são as referências sobre ela, mas tentaremos trazer um pouco de suas raízes.

A história do Baumstam começa aqui com uma conhecida letra de Herbert Grönemeyer, que diz:

“...Nas profundezas do oeste, onde o sol está se pondo.”

Nas profundezas do oeste da Alemanha fica a região do Ruhr. E nas agitações dos fornos das minas, nas torres sinuosas das fábricas e pequenos assentamentos de trabalhadores entre Bochum e Dortmund fica a cidade de Witten, onde a banda foi formada lá pelo ano de 1972.

Como disse o início dos anos 1970 tínhamos uma hecatombe de bandas de krautrock, com sonoridades calcadas no órgão, ruídos eletrônicos e, por vezes, guitarras lisérgicas e pesadas e assim também aconteceu em Witten. E por lá os ex-amigos de escola Ulrich Klawitter e Michael Lobbe nas guitarras, Gerd Stracke na bateria e Michael Willecke no baixo fundaram uma banda, o Baumstam, com apenas um “M” no final.

Logo quando o Baumstam foi formado começou a tocar em casas de shows razoavelmente grandes e em shows ao ar livre e a fazer também turnês conjuntas com bandas como Franz K. e Faithful Breath. Sua sonoridade era pesada, rústica, garageira tendo a guitarra dupla, a guitarra fuzz como o cerne dessa sonoridade que à época não era comum, não era cotidiano e que causou entusiasmo entre os fãs nos shows, por isso que logo na sua formação recebeu muitas ofertas de shows importantes e grandes, se tornando inovador para a história do hard rock alemão, diria para o rock e todas as suas vertentes naquele país.

Mas como acontece com a esmagadora maioria das bandas o Baumstam teve baixas, teve saídas de integrantes e o primeiro a abandonar o barco foi Michael Willecke que deixou a banda em 1974, sendo substituído por Volker Wobbe, no baixo. A bateria foi assumida pelo Gerhard (Gerd) Meyer von Stracke.

Depois de algum tempo de formada, cerca de três anos finalmente a hora do Baumstam de lançar oficialmente um álbum novo havia chegado e o anos era 1975. A banda se reuniria Knöterich Studio de Lothar Simmsheuser em Witten-Annen e as nove faixas para o LP foram gravadas, pasmem, em apenas um final de semana, afinal, os jovens músicos não tinham grana para alugar, por um longo tempo, um estúdio. Um pedal de distorção “Schaller” e uma velha guitarra “Framus Deluxe”, o som da banda estava pronto.

Eu não sou um profundo conhecedor dos instrumentos musicais, da sua parte técnica, mas, optei por colocar essa informação no meu texto, após as minhas pesquisas, na web, sobre a banda, para enfatizar a essência da sonoridade do Baumstam e a importância que esta teve para a história do rock alemão nos anos 1970.

O álbum, que se chamaria “On Tour”, foi distribuído em seu próprio selo BMF, como o número de catálogo BS 6232 855. Atualmente um vinil original de “On Tour” pode ser disputado a tapas por colecionadores de raridades e pode chegar a um valor na bagatela de mais 600 euros! Sim, prezados leitores, um álbum de caráter cult e que hoje é uma verdadeira pérola, um ouro raro e caro para se adquirir.

“On Tour” centraliza sua performance nas suas notas de guitarras distorcidas, com um toque áspero, sujo, garageiro, com um som nem um pouco polido e que pode agredir aos ouvidos que preza por um som mais limpo e sofisticado. Para muitos poderia ser considerado como um álbum psicodélico e pessoalmente não discordo, mas o psych, com guitarras lisérgicas, é um tempero ao som pesado calcado no velho hard rock e que poderia, ainda, remeter ao som mais atual que é o stoner rock. Guitarras distorcidas, sujas, ásperas, sem dúvidas traz à mente o stoner, o doom metal tão em voga nos dias de hoje. O Baumstam definitivamente foi singular no seu tempo, estando muito a frente dele. O som curto era bem estruturado, fazendo das faixas de “On Tour” extremamente atraente. Então vamos a elas?

O álbum é inaugurado com a faixa título, “On Tour” que já entrega a guitarra distorcida e lisérgica, cheia de peso e groove. Sim, ela tem um groove forte e torna-se inevitável que faça com que você balance a cabeça freneticamente. A interação entre as duas guitarras é incrível, significativa. O vocal, rouco e áspero, se encaixa perfeitamente com o som. Essa é a porta de entrada para o “mundo” de “On Tour” e o Baumstam.

"On Tour"

Segue com “Lucky Strike” que, se passasse despercebido, poderia ser considerada como uma sequência se não fosse pela parte do verso mais silencioso. Mas a sonoridade, de alguma forma, se mantém na proposta da faixa anterior, com o peso das guitarras duplas, com solos sujos e pesados, um baixo mais pulsante e uma bateria, igualmente pesada, porém marcada.

"Lucky Strike"

“Hold Me” foge um pouco à regra das faixas iniciais e começa de forma mais acústica e até calma. Ela é tocada em um ritmo mais lento e apenas na parte do meio surge a guitarra mais distorcida e rápida, dando-lhe um pouco mais de peso. A faixa traz ainda uma “pitada” mais de blues, mais dramática a música. Até o vocal fica um tanto quanto melódico.

"Hold Me"

A próxima faixa é “Jazz Break” e tem relativamente pouco a ver com jazz. Começa com uma pegada meio groove, mas aumenta o tom no seu decorrer para um típico krautrock, baseado em uma guitarra solo distorcida e pesada, calcada em tonalidades psicodélicas.

"Jazz Break"

Semelhante à faixa título, a próxima música, “Dusty Road”, atravessa os canais auditivos e faz também as cabeças tremerem freneticamente por todo o tempo. É pesada, é intensa, é rústica, é poderosa. A faixa ao vivo “Girl I Want To Stay Into Your Fire” segue a sua jornada na sua crueza sem filtros, pesada, intensa, sem cortes, cheia de groove e guitarras fuzz e lisérgicas.

"Dusty Roads" (Live)

“Last Letter” tem o violão que toca os acordes rítmicos e a guitarra elétrica que vibra no topo com o vocal principal que soa melancólico. Uma mudança até bem-vinda em relação às faixas que predomina com o peso e a aspereza.

"Last Letter"

Mas tudo volta a ficar mais rápido com “Fifteen Years Old Mary”, onde o “fuzz” age novamente e de forma impiedosa, a guitarra dupla, cheia de distorção, ganha vida novamente nessa faixa. Percebe-se, ouso dizer, que essa faixa se adequaria a um heavy metal de vanguarda, um proto metal respeitável. A banda mostra o seu pioneirismo nessa faixa.

"Fifteen Years Old Mary"

E “On Tour” finalmente é fechado com a faixa “He's A Liar” e traz algo atípico, até então, para o álbum, uma pegada mais progressiva, mas sem deixar de lado o seu peso, os riffs de guitarra sujos e despretensiosos. Mas aqui você ouve um Baumstam mais sofisticado, mais arrojado, mas ainda assim, hard e poderoso.

Após o lançamento de “On Tour” o Baumstam não teve falta de oportunidades de se apresentar. Muitas ofertas de shows surgiram e a banda continua a fazer shows em casas importantes. A bela produção do LP fez com que as grandes gravadoras mantivessem seus radares ligados para gravar a banda e divulgar “On Tour” com uma turnê maior, com mais estrutura que a banda merecia. Mas

Mas os músicos não conseguiram chegar a um acordo sobre um contrato de gravação oferecido pela Deutsche Grammophon, motivando a separação do Baumstam em 1977 e o capítulo da história inicial da banda se fecharia de forma precoce, porém não em definitivo. Para Ulrich Klawitter e Gerd Stracke, no entanto, a música não havia acabado naquela época, eles continuaram a tocar, independentemente um do outro, nas bandas de Witten, tocando localmente.

E o reencontro do Baumstam se deu graças ao relançamento de “On Tour”, em 2004, pelo selo “Amber Soundroom”. Os velhos amigos de banda se reencontrariam e juntos redescobriram que poderiam tocar novamente. Grande parte da velha magia que os moviam no passado ainda estava viva, flamejando e que necessitava ser reacendida por música.

E eles não se resumiram a apenas divulgar o relançamento de seu debut e gravaram o segundo álbum de inéditas com o sugestivo nome de “Dreams of Yesterday”, em 2005. A formação de Baumstam, para este álbum, trazia Klawitter, Strake e Volker Wobbe. Para Michael Lobbe, o filho de Ulli, Adrian "Adi" Klawitter na guitarra e teclados, e Anna Weigand nos vocais e flauta se juntaram à banda. Como 30 anos antes, o engenheiro de gravação e proprietário do estúdio do Fanton Studios envolvido era o conhecido Lothar Simmsheuser.


"Dreams of Yesterday" (2004)

O até então novo álbum, do próprio selo Schöne Töne, traz a marca registrada do Baumstam e com esse trabalho surgiram shows por toda a Alemanha e até a França. Anna deixaria o Baumstam em 2006, mas mesmo com essa baixa, a banda ganharia e muito com a adição de Adi Klawitter que renovou o som da banda trazendo novas influências, de modo que a próxima gravação já estaria prevista para 2007.

“Moment”, terceiro álbum do Baumstam, ganharia luz em 2007 e novamente dois anos depois um álbum ao vivo seria adicionado a sua discografia, oriunda da turnê de nome “Dusty Roads”, gravada em junho de 2009 no WerkStadt em Witten e lançada sob o mesmo nome de Moment e Dreams of Yesterday pelo selo Schöne Töne. A propósito clique aqui para ver algumas fotos da turnê do Baumstam no ano de 2008.

"Moment" (2007)

Em 2012, o aniversário de quarenta anos da banda, precisava contar, em tom de comemoração, com um novo trabalho de estúdio para homenagear o aniversário, mas as baixas aconteceriam. Volker Wobbe foi substituído por Jens Gubert no baixo e Rex Dehnhardt se juntou a Baumstam nos teclados. O trabalho de aniversário foi intitulado com a equação 72 – 12 = 40. O significado por trás disso é simplesmente ... 1972 a 2012 = 40 anos de Baumstam.

O trabalho foi lançado pelo selo Green Tree, que já havia sido relançado várias vezes na turnê, e contém onze novas músicas. A turnê do 40º aniversário levou Baumstam por várias cidades da Alemanha. Era o Baumstam no seu melhor lugar, no palco, tocando magistralmente ao vivo.

No início de 2014, Gerd Stracke deixou a banda, de modo que outra mudança de formação foi necessária. Adi Klawitter agora assumiu a bateria e Baumstam continuou como um quarteto desde então. As mudanças na sua formação foram uma constante desde os seus primórdios, mas sempre tiveram a capacidade de manter intacta a sua sonoridade, mantendo-se extremamente fiel e consolidada.

“On Tour” tiveram relançamentos antes de 2004 que motivou a reunião de seus músicos. E isso foi ainda nos anos 1990, com a primeira, no formato CD, em 1990 e em 1994 pela CRC Records. Tais relançamentos, sobretudo as do formato em vinil, em LP, foram em tiragens bem limitadas fomentando o quesito de raridade desse trabalho, sendo essas cópias atingindo os três dígitos de tão caro, mas disputado a tapas pelos colecionadores de vinis.

A banda sempre esteve à margem da popularidade, trafegou nos submundos do rock, esteve longe do glamour e mesmo citada em alguns períodos de rock como uma referência para a música pesada na Alemanha, é pouco lembrada pelos fãs. Mas até os dias de hoje as músicas de “On Tour” ainda são tocadas em algumas rádios dos Estados Unidos, claro, de música underground e é tida, com alguma razão, como um dos pilares do stoner rock, da música pesada alemã.





A banda:

Ulrich Klawitter na guitarra solo, vocais

Michael Lobbe na guitarra acústica, 2ª guitarra elétrica

Volker Wobbe no baixo

Gerhardt Meyer na bateria, percussão

 

Faixas:

1 - On Tour

2 - Lucky Strike

3 - Hold Me

4 - Jazz Break

5 - Dusty Roads

6 - Girl I Want To Stay Into Your Fire

7 - Last Letter

8 - Fifteen Years Old Mary

9 - He's A Liar



"On Tour - Versão original" (1975)


"On Tour - Versão estendida" (1975)



 


 












 








 






 


 




sábado, 8 de fevereiro de 2025

Plebb - Yes It Isn’t It (1979)

 

O rock sueco definitivamente não está no mainstream, sobretudo as bandas dos anos 1970. Atualmente algumas bandas gozam de algum sucesso, elevando, diria homenageando, as bandas antigas, como por exemplo o Ghost que hoje conseguiu a proeza de levar para grandes arenas e eventos comerciais da música, o occult rock.

Não sei, confesso, o motivo pelo qual o rock sueco não tenha se destacado, sob o aspecto comercial, ao longo dessas décadas, mas talvez seja pelo fato de trazer a cultura de seu país, a questão folclórica aliado ao prog rock, ao hard rock entre outras vertentes. E quando a cultura é arraigada seja difícil realizar uma espécie de intercâmbio.

Mas é inegável, principalmente para os apreciadores do rock underground e obscuro, como eu, que há uma profusão de bandas suecas admiráveis que até hoje precisam ser desbravadas e descobertas. Graças aos recursos tecnológicos que nos conceberam algumas ferramentas de comunicação, muitas bandas têm surgido e vem nos encantando mesmo que tenham feito músicas que tenha mais de quarenta ou até cinquenta anos de existência.

É incrível que bandas como essas, oriundas da Suécia, ainda consigam trazer algo arrojado e espetacular e são capazes de absorver as músicas britânicas e americanas e fundir com aspectos peculiares de sua cultura, fazendo de sua arte algo espetacular e com um inigualável frescor.

E a banda que falarei hoje eu descobri recentemente, nessas incursões pelo obscuro, pelo desconhecido, pela selva intocável e selvagem que é o rock n’ roll e quando a ouvi, fui arrebatado de tal forma que me estimulou a escrever essas linhas que você, estimado leitor, lê agora. Falo da banda PLEBB.

Não sei se vocês já ouviram falar do Plebb, não sei se já ouviram essa banda, mas se a conhece, felicitarei, pois trata-se de mais uma banda rara, obscura que não ganhou o mundo e limitou-se a sua terra natal, se tornando, como tantas, aquelas bandas locais que as redes sociais se encarregam, como este simples e humilde blog, de difundir. Para a nossa sorte, para a nossa alegria.

E já que falei de bandas locais, falemos um pouco dos primórdios do Plebb, bem, tentarei, afinal, como tantas outras bandas esquecidas, não possuem tantas referências sobre a suas histórias, apenas a sua potente música, mas tentaremos falar dela, valorizando-a e ajudando a edificar um legado para as outras gerações, afinal sua música é de fazer reverência aos fãs, principalmente dos fãs do bom e velho hard rock dos anos 1970.

O Plebb foi fundado em 1976, em uma época em que o hard rock estava em declínio sob o aspecto comercial, afinal, bandas gigantes como Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple, por exemplo, ou estava finalizando a sua trajetória, ou tinha integrantes se afundando nas drogas e álbuns gravados aquém do que se esperava. O punk estava seguindo para o apogeu.

Mas o Plebb foi construído, em uma cidade, no sudeste da Suécia, chamada Mönsterås, que sequer tinha tradição para o rock, apenas com algumas poucas bandas. Nos seus primeiros anos a banda consistia em Ronnie “Balder” Nilsson (bateria), Leif Bergqvist (guitarra), Per-Martin “Pemce” Petersson (guitarra) e Tommy Gustavsson (baixo). No verão de 1977 Leif Bergqvist teve que deixar a banda devido a uma doença e Peter Martinsson o substituiria na guitarra. Leif apareceria, mais tarde, na banda “Ictus”.

E como curiosidade a origem do nome da banda, “PLEBB”, vem das iniciais de seus músicos: O "P" de "Pemce", de Per-Martin Petersson, "LeB" para "Leif Bergqvist" e o último "b" para "Balder".

Com a entrada de Peter o Plebb começou a se desenvolver e a escrever as suas próprias músicas, pois, nos seus primórdios, como tantas bandas, o Plebb tocava, para se apresentar nas casas de shows, covers de seus ídolos. Mas antes de se apresentar, ensaiaram muito e os locais escolhidos eram os mais inusitados possíveis. Outra curiosidade: a música “First Day In Roxy” é em homenagem a um local, um pouco melhor em termos de estrutura, que eles escolheram, o cinema Roxy, em Mönsterås.

Em 1978 uma fita foi gravada, em circunstâncias, diria, primitivas, sem o mínimo de estrutura e recurso, sendo gravada pelos próprios músicos que eram muito jovens, alguns deles estavam na adolescência, entre 16 e 18 anos de idade, com poucas músicas e apenas 40 cópias foram produzidas, sendo distribuídas na sua cidade natal a poucos fãs que também haviam recentemente conhecido a banda.

Não é que deu certo? Conseguiram uma boa base de fãs que, ávidos por mais e mais músicas de sua banda favorita, clamavam por um álbum novo, com mais músicas e que motivasse uma turnê de divulgação, de shows, então eles precisavam retornar ao estúdio para gravar um novo álbum.

E assim na virada do ano novo de 1978 para 1979, mais especificamente em 1979, nasceria o seu primeiro e único trabalho chamado “Yes It Isn’t It” e que foi gravado nas mesmas condições que a sua fita, sem nenhuma estrutura e condições, com aparelhagens simples, sem nenhum orçamento. E detalhe: não foi um estúdio, foi algo improvisado e foram dois locais escolhidos: o sótão de um clube de motociclistas local e uma escola, em Blomstermåla.

O álbum foi produzido pelo baixista Tommy Gustavsson e apenas 485 cópias foram prensadas na própria gravadora da banda chamada de “Plebb Records” e vendidas localmente para amigos e fãs mais próximos e ardorosos. Pois é, caros amigos leitores, os tempos eram outros e não tinham redes sociais e a internet para difundir a sua música. Tiveram também algumas poucas lojas de músicas para divulgar e vender seus álbuns.

O processo de gravação, como disse, bem rudimentar, era uma tecnologia que chamada “som sobre som” (“Sound on Sound”), o que significa que o fundo foi registrado pela primeira vez e a música e os preenchimentos de guitarra foram adicionados reproduzindo o plano de fundo e gravando as novas partes juntos com o fundo na outra fita gravadora.

“Yes It Isn’t It” é predominantemente um álbum do mais puro, genuíno e volumoso hard rock, com passagens espetaculares instrumentais mostrando que, apesar da pouca idade dos músicos, já entregavam muito talento e capacidade técnica, aliada a uma sonoridade orgânica. Ouso dizer ainda que, mesmo que o Plebb não tenha alçado grandes voos, a banda apresentou em sua sonoridade, o heavy metal que florescia no mundo e que teve o epicentro na Inglaterra, com a sua “New Wave of British Heavy Metal”.

Ainda em seu álbum percebe-se uma veia blues rock, com algumas passagens mais lentas, mais leves, discretas, mostrando uma banda cheia de recursos e muito, como disse, talentosa e que certamente era muito promissora. Outro detalhe importante e que convém ressaltar foi o trabalho de guitarra na banda, um trabalho impecável de “guitarras gêmeas”, que foi difundida por bandas como Wishbone Ash no início dos anos 1970 e que foi popularizada pelo Iron Maiden.

O álbum é inaugurado pela faixa “Reaggie II B” que, por mais que o álbum seja predominantemente de hard rock, tem uma introdução de reggae, daquele jeito, bem dançante, animado, porém vai encorpando, a pegada hard vem, aos poucos, aflorando, graças a riffs e solos mais pesados de guitarra, com a bateria marcada e igualmente pesada. Os solos de guitarra vão ficando mais alongados, pesados, bateria mais pesada também, quando, definitivamente, a música se revela um típico hard rock um pouco mais cadenciado. Depois volta ao ponto inicial, com a veia mais reggae. Começa bem e arrojado!

"Reaggie II B"

“Push Box” já, logo de imediato, esmurra a porta com um riff carregado, pesado de guitarra com uma “cozinha” empenhada em manter o peso mesclado a um groove incrível. Baixo pesado e galopante, bateria marcada e pesada. Alternâncias rítmicas são perceptíveis com momentos mais tranquilos, mas que logo se entregam ao peso. Ouso dizer que há momentos mais velozes, caracterizando em uma pegada mais heavy metal, afinal, o ano de 1979 traziam os primórdios da “New Wave of British Heavy Metal”, então, para uma banda pesada como a Plebb, não seria surpreende perceber tais elementos em sua música. Excelente faixa!

"Push Box"

“Rockaria” me remete ao que o Scorpions fazia nos anos 1970 com Uli Jon Roth nas guitarras. Não se pode negligenciar o trabalho de guitarra nessa faixa, com uma destreza incrível, além do trabalho da bateria também, um misto de peso e técnica, com peso e groove. Temos momentos mais dilacerantes e leves, discretos e nessa alternância a música entrega um instrumental extremamente arrojado. Uma pegada heavy rock também é percebida.

"Rockaria"

“Tankar Om Natten” começa solar, animada, tem um viés mais comercial, diria AOR, radiofônico mesmo. Mas a potência da guitarra é o grande atrativo da faixa. Em alguns momentos percebe-se uma pegada de speed metal, com destaque, mais uma vez, para seção rítmica da banda, valorizando, ainda mais, a capacidade instrumental da banda.

"Tankar Om Natten"

“Förflutet” começa quase acústica, com delicados dedilhados de guitarra, algo um tanto quanto soturno, mas, aos poucos vai se revelando uma sonoridade viajante. Uma linda balada rock com a bateria tirando o pé do freio e um baixo tocado de forma simples, mas competente. A música vai encorpando, ficando um pouco mais pesada, mas a característica se mantém firme, intacta, como uma balada. No desfecho o solo de guitarra é lindo, a música ganha o contorno típico de hard rock que povoa o álbum.

"Forflutet"

Segue com “Psst ...” que inicia com um violão acústico, algo meio latino e assim vai seguindo, leve, discreta, quebrando a predominância do hard, blues rock do álbum, corroborando, mais uma vez, o talento instrumental de seus músicos, mas sem deixar de ser orgânicos.

"Psst..."

O álbum fecha com “Fresh Fish” e, mais uma vez o trabalho de guitarra inaugura a música, trazendo reminiscências do Scorpions dos anos 1970. Uma guitarra tocada de forma competente, passional. As passagens de blues rock dão um “tempero” especial à faixa, com um vocal falado, em alguns momentos. Hard rock, blues rock e até mesmo uma pegada meio “sulista” norte americana se percebe principalmente nos vocais.

"Fresh Fish"

Pouco tempo depois a banda mudaria de nome, passando a se chamar “Purple Haze” e, diante desse nome, não precisamos nos esforçar muito para perceber de onde veio a inspiração. O Purple Haze gravaria um álbum chamado “Det Är Så Man Undrar...”, no ano de 1981. Na formação teria Tommy Gustavsson, no baixo, Leif Bergqvist e Peter Martinsson na guitarra e na bateria teria Ulf "Mini" Svensson. O único álbum com a banda neste novo nome teria lançamento pelo selo da banda, a Plebb Records. Mas não vingou, finalizando as suas atividades logo em seguida. Depois de alguns anos a banda voltaria a se reunir.

Poucos músicos do Plebb dariam sequência as suas carreiras musicais e aquele que conseguiu ser mais produtivo e assertivo foi o guitarrista Peter Martinsson. Ele formaria, em 2011, o “Peter Martinsson Group”. Um projeto dirigido, conduzido pelo próprio Peter, claro, e pelo baterista Ulf Becker. A música da banda é predominantemente instrumental e teve seu primeiro trabalho oficial lançado em 2012 chamado “Guitar State of Mind”, lançado pelo selo norte americano Grooveyard Records e que pode ser ouvido aqui.

Em 2014 o Peter Martinsson Group lançaria seu segundo álbum, porém no formato CD, que viria a se chamar “No Grey”. Foi lançada por uma editora privada com um número de cópias bem limitada. Os álbuns da banda estão sendo relançados pelo selo Plebb Records em mídia digital com a intenção de atingir o maior número de pessoas possíveis e de uma forma mais rápida.

Em 2014 o Peter Martinsson Group lançaria seu segundo álbum, porém no formato CD, que viria a se chamar “No Grey” e depois uma série de álbuns de estúdio lançaria na segunda metade da segunda década dos anos 2000, além de algumas coletâneas. Foi lançada por uma editora privada com um número de cópias bem limitada. Os álbuns da banda estão sendo relançados pelo selo Plebb Records em mídia digital com a intenção de atingir o maior número de pessoas possíveis e de uma forma mais rápida.

"Yes It Isn't It", do Plebb seria relançado pelo famoso selo Guerssen e pela gravadora Sommor, em 2021 no formato LP. Uma oportunidade em tanto para os apreciadores e amantes do mais visceral e passional hard rock dos anos 1970. Definitivamente esse trabalho do Plebb é uma pérola do estilo no fim dos anos 1970, em um período em que a disco music e o punk rock reinavam absolutos no mercado da música. O Plebb, mesmo não tendo uma sequência em sua história, mostrou que qualidade não está intimamente ligada a sucesso comercial e mostrou um talento inacreditável em um período que o hard rock estava em baixa no mercado fonográfico.

 

A banda:

Ronnie “Balder” Nilsson na bateria

Leif Bergqvist na guitarra

Per-Martin “Pemce” Petersson na guitarra

Tommy Gustavsson no baixo

 

Faixas:

1 - Reaggie II B

2 - Push Box

3 – Rockaria

4 - Tankar Om Natten

5 – Förflutet

6 - Psst ...

7 - Fresh Fish



"Yes It Isn't It" (1979)