O rock sueco definitivamente
não está no mainstream, sobretudo as bandas dos anos 1970. Atualmente
algumas bandas gozam de algum sucesso, elevando, diria homenageando, as bandas
antigas, como por exemplo o Ghost que hoje conseguiu a proeza de levar para
grandes arenas e eventos comerciais da música, o occult rock.
Não sei, confesso, o motivo
pelo qual o rock sueco não tenha se destacado, sob o aspecto comercial, ao
longo dessas décadas, mas talvez seja pelo fato de trazer a cultura de seu
país, a questão folclórica aliado ao prog rock, ao hard rock entre outras vertentes.
E quando a cultura é arraigada seja difícil realizar uma espécie de
intercâmbio.
Mas é inegável, principalmente
para os apreciadores do rock underground e obscuro, como eu, que há uma
profusão de bandas suecas admiráveis que até hoje precisam ser desbravadas e
descobertas. Graças aos recursos tecnológicos que nos conceberam algumas ferramentas
de comunicação, muitas bandas têm surgido e vem nos encantando mesmo que tenham
feito músicas que tenha mais de quarenta ou até cinquenta anos de existência.
É incrível que bandas como
essas, oriundas da Suécia, ainda consigam trazer algo arrojado e espetacular e
são capazes de absorver as músicas britânicas e americanas e fundir com
aspectos peculiares de sua cultura, fazendo de sua arte algo espetacular e com
um inigualável frescor.
E a banda que falarei hoje eu
descobri recentemente, nessas incursões pelo obscuro, pelo desconhecido, pela
selva intocável e selvagem que é o rock n’ roll e quando a ouvi, fui arrebatado
de tal forma que me estimulou a escrever essas linhas que você, estimado
leitor, lê agora. Falo da banda PLEBB.
Não sei se vocês já ouviram
falar do Plebb, não sei se já ouviram essa banda, mas se a conhece,
felicitarei, pois trata-se de mais uma banda rara, obscura que não ganhou o
mundo e limitou-se a sua terra natal, se tornando, como tantas, aquelas bandas
locais que as redes sociais se encarregam, como este simples e humilde blog, de
difundir. Para a nossa sorte, para a nossa alegria.
E já que falei de bandas
locais, falemos um pouco dos primórdios do Plebb, bem, tentarei, afinal, como
tantas outras bandas esquecidas, não possuem tantas referências sobre a suas
histórias, apenas a sua potente música, mas tentaremos falar dela,
valorizando-a e ajudando a edificar um legado para as outras gerações, afinal
sua música é de fazer reverência aos fãs, principalmente dos fãs do bom e velho
hard rock dos anos 1970.
O Plebb foi fundado em 1976, em uma época em que o hard rock estava em declínio sob o aspecto comercial, afinal, bandas gigantes como Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple, por exemplo, ou estava finalizando a sua trajetória, ou tinha integrantes se afundando nas drogas e álbuns gravados aquém do que se esperava. O punk estava seguindo para o apogeu.
Mas o Plebb foi construído, em uma cidade, no sudeste da Suécia, chamada Mönsterås, que sequer tinha tradição para o rock, apenas com algumas poucas bandas. Nos seus primeiros anos a banda consistia em Ronnie “Balder” Nilsson (bateria), Leif Bergqvist (guitarra), Per-Martin “Pemce” Petersson (guitarra) e Tommy Gustavsson (baixo). No verão de 1977 Leif Bergqvist teve que deixar a banda devido a uma doença e Peter Martinsson o substituiria na guitarra. Leif apareceria, mais tarde, na banda “Ictus”.
E como curiosidade a origem do
nome da banda, “PLEBB”, vem das iniciais de seus músicos: O "P" de
"Pemce", de Per-Martin Petersson, "LeB" para "Leif
Bergqvist" e o último "b" para "Balder".
Com a entrada de Peter o Plebb
começou a se desenvolver e a escrever as suas próprias músicas, pois, nos seus
primórdios, como tantas bandas, o Plebb tocava, para se apresentar nas casas de
shows, covers de seus ídolos. Mas antes de se apresentar, ensaiaram muito e os
locais escolhidos eram os mais inusitados possíveis. Outra curiosidade: a
música “First Day In Roxy” é em homenagem a um local, um pouco melhor em termos
de estrutura, que eles escolheram, o cinema Roxy, em Mönsterås.
Em 1978 uma fita foi gravada,
em circunstâncias, diria, primitivas, sem o mínimo de estrutura e recurso,
sendo gravada pelos próprios músicos que eram muito jovens, alguns deles
estavam na adolescência, entre 16 e 18 anos de idade, com poucas músicas e
apenas 40 cópias foram produzidas, sendo distribuídas na sua cidade natal a
poucos fãs que também haviam recentemente conhecido a banda.
Não é que deu certo? Conseguiram uma boa base de fãs que, ávidos por mais e mais músicas de sua banda favorita, clamavam por um álbum novo, com mais músicas e que motivasse uma turnê de divulgação, de shows, então eles precisavam retornar ao estúdio para gravar um novo álbum.
E assim na virada do ano novo
de 1978 para 1979, mais especificamente em 1979, nasceria o seu primeiro e
único trabalho chamado “Yes It Isn’t It” e que foi gravado nas mesmas condições
que a sua fita, sem nenhuma estrutura e condições, com aparelhagens simples,
sem nenhum orçamento. E detalhe: não foi um estúdio, foi algo improvisado e
foram dois locais escolhidos: o sótão de um clube de motociclistas local e uma
escola, em Blomstermåla.
O álbum foi produzido pelo baixista Tommy Gustavsson e apenas 485 cópias foram prensadas na própria gravadora da banda chamada de “Plebb Records” e vendidas localmente para amigos e fãs mais próximos e ardorosos. Pois é, caros amigos leitores, os tempos eram outros e não tinham redes sociais e a internet para difundir a sua música. Tiveram também algumas poucas lojas de músicas para divulgar e vender seus álbuns.
O processo de gravação, como
disse, bem rudimentar, era uma tecnologia que chamada “som sobre som” (“Sound on
Sound”), o que significa que o fundo foi registrado pela primeira vez e a
música e os preenchimentos de guitarra foram adicionados reproduzindo o plano
de fundo e gravando as novas partes juntos com o fundo na outra fita gravadora.
“Yes It Isn’t It” é
predominantemente um álbum do mais puro, genuíno e volumoso hard rock, com
passagens espetaculares instrumentais mostrando que, apesar da pouca idade dos
músicos, já entregavam muito talento e capacidade técnica, aliada a uma
sonoridade orgânica. Ouso dizer ainda que, mesmo que o Plebb não tenha alçado
grandes voos, a banda apresentou em sua sonoridade, o heavy metal que florescia
no mundo e que teve o epicentro na Inglaterra, com a sua “New Wave of British
Heavy Metal”.
Ainda em seu álbum percebe-se
uma veia blues rock, com algumas passagens mais lentas, mais leves, discretas,
mostrando uma banda cheia de recursos e muito, como disse, talentosa e que
certamente era muito promissora. Outro detalhe importante e que convém
ressaltar foi o trabalho de guitarra na banda, um trabalho impecável de
“guitarras gêmeas”, que foi difundida por bandas como Wishbone Ash no início
dos anos 1970 e que foi popularizada pelo Iron Maiden.
O álbum é inaugurado pela
faixa “Reaggie II B” que, por mais que o álbum seja predominantemente de hard
rock, tem uma introdução de reggae, daquele jeito, bem dançante, animado, porém
vai encorpando, a pegada hard vem, aos poucos, aflorando, graças a riffs e
solos mais pesados de guitarra, com a bateria marcada e igualmente pesada. Os
solos de guitarra vão ficando mais alongados, pesados, bateria mais pesada
também, quando, definitivamente, a música se revela um típico hard rock um
pouco mais cadenciado. Depois volta ao ponto inicial, com a veia mais reggae. Começa
bem e arrojado!
“Push Box” já, logo de
imediato, esmurra a porta com um riff carregado, pesado de guitarra com uma
“cozinha” empenhada em manter o peso mesclado a um groove incrível. Baixo
pesado e galopante, bateria marcada e pesada. Alternâncias rítmicas são
perceptíveis com momentos mais tranquilos, mas que logo se entregam ao peso.
Ouso dizer que há momentos mais velozes, caracterizando em uma pegada mais
heavy metal, afinal, o ano de 1979 traziam os primórdios da “New Wave of British
Heavy Metal”, então, para uma banda pesada como a Plebb, não seria surpreende
perceber tais elementos em sua música. Excelente faixa!
“Rockaria” me remete ao que o
Scorpions fazia nos anos 1970 com Uli Jon Roth nas guitarras. Não se pode
negligenciar o trabalho de guitarra nessa faixa, com uma destreza incrível,
além do trabalho da bateria também, um misto de peso e técnica, com peso e
groove. Temos momentos mais dilacerantes e leves, discretos e nessa alternância
a música entrega um instrumental extremamente arrojado. Uma pegada heavy rock
também é percebida.
“Tankar Om Natten” começa
solar, animada, tem um viés mais comercial, diria AOR, radiofônico mesmo. Mas a
potência da guitarra é o grande atrativo da faixa. Em alguns momentos
percebe-se uma pegada de speed metal, com destaque, mais uma vez, para seção
rítmica da banda, valorizando, ainda mais, a capacidade instrumental da banda.
“Förflutet” começa quase
acústica, com delicados dedilhados de guitarra, algo um tanto quanto soturno,
mas, aos poucos vai se revelando uma sonoridade viajante. Uma linda balada rock
com a bateria tirando o pé do freio e um baixo tocado de forma simples, mas
competente. A música vai encorpando, ficando um pouco mais pesada, mas a
característica se mantém firme, intacta, como uma balada. No desfecho o solo de
guitarra é lindo, a música ganha o contorno típico de hard rock que povoa o
álbum.
Segue com “Psst ...” que inicia com um violão acústico, algo meio latino e assim vai seguindo, leve, discreta, quebrando a predominância do hard, blues rock do álbum, corroborando, mais uma vez, o talento instrumental de seus músicos, mas sem deixar de ser orgânicos.
O álbum fecha com “Fresh Fish” e, mais uma vez o trabalho de guitarra inaugura a música, trazendo reminiscências do Scorpions dos anos 1970. Uma guitarra tocada de forma competente, passional. As passagens de blues rock dão um “tempero” especial à faixa, com um vocal falado, em alguns momentos. Hard rock, blues rock e até mesmo uma pegada meio “sulista” norte americana se percebe principalmente nos vocais.
Pouco tempo depois a banda
mudaria de nome, passando a se chamar “Purple Haze” e, diante desse nome, não
precisamos nos esforçar muito para perceber de onde veio a inspiração. O Purple
Haze gravaria um álbum chamado “Det Är Så Man Undrar...”, no ano de 1981. Na
formação teria Tommy Gustavsson, no baixo, Leif Bergqvist e Peter Martinsson na
guitarra e na bateria teria Ulf "Mini" Svensson. O único álbum com a
banda neste novo nome teria lançamento pelo selo da banda, a Plebb Records. Mas
não vingou, finalizando as suas atividades logo em seguida. Depois de alguns
anos a banda voltaria a se reunir.
Poucos músicos do Plebb dariam
sequência as suas carreiras musicais e aquele que conseguiu ser mais produtivo
e assertivo foi o guitarrista Peter Martinsson. Ele formaria, em 2011, o “Peter
Martinsson Group”. Um projeto dirigido, conduzido pelo próprio Peter, claro, e
pelo baterista Ulf Becker. A música da banda é predominantemente instrumental e
teve seu primeiro trabalho oficial lançado em 2012 chamado “Guitar State of
Mind”, lançado pelo selo norte americano Grooveyard Records e que pode ser
ouvido aqui.
Em 2014 o Peter Martinsson
Group lançaria seu segundo álbum, porém no formato CD, que viria a se chamar
“No Grey”. Foi lançada por uma editora privada com um número de cópias bem
limitada. Os álbuns da banda estão sendo relançados pelo selo Plebb Records em
mídia digital com a intenção de atingir o maior número de pessoas possíveis e
de uma forma mais rápida.
Em 2014 o Peter Martinsson
Group lançaria seu segundo álbum, porém no formato CD, que viria a se chamar
“No Grey” e depois uma série de álbuns de estúdio lançaria na segunda metade da
segunda década dos anos 2000, além de algumas coletâneas. Foi lançada por uma
editora privada com um número de cópias bem limitada. Os álbuns da banda estão
sendo relançados pelo selo Plebb Records em mídia digital com a intenção de
atingir o maior número de pessoas possíveis e de uma forma mais rápida.
"Yes It Isn't It",
do Plebb seria relançado pelo famoso selo Guerssen e pela gravadora Sommor, em
2021 no formato LP. Uma oportunidade em tanto para os apreciadores e amantes do
mais visceral e passional hard rock dos anos 1970. Definitivamente esse
trabalho do Plebb é uma pérola do estilo no fim dos anos 1970, em um período em
que a disco music e o punk rock reinavam absolutos no mercado da música.
O Plebb, mesmo não tendo uma sequência em sua história, mostrou que qualidade
não está intimamente ligada a sucesso comercial e mostrou um talento
inacreditável em um período que o hard rock estava em baixa no mercado
fonográfico.
A banda:
Ronnie “Balder” Nilsson na
bateria
Leif Bergqvist na guitarra
Per-Martin “Pemce” Petersson na
guitarra
Tommy Gustavsson no baixo
Faixas:
1 - Reaggie II B
2 - Push Box
3 – Rockaria
4 - Tankar Om Natten
5 – Förflutet
6 - Psst ...
7 - Fresh Fish
Como sempre uma imensa satisfação a leitura e as descobertas que esse blog proporciona.
ResponderExcluirCom sempre, aplicando com o que há de melhor que ficou obscuro. Obrigado!!! Vlw
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