Traz o peso até no nome. O
nome na banda é importante, primeiro para uma apresentação inaugural aos que
não conhecem e pretender desbravar sua sonoridade, dentro, claro, das suas
predileções, e segundo exatamente para descrever, em palavras, o som que entrega.
Um nome, no caso desta banda
inglesa que irei apresentar, que viria a se notabilizar por uma cena que ganharia alguma popularidade em meados dos anos 1980 e que, evidente, não
precisa tecer maiores comentários: o heavy metal.
Ao ouvir a banda é nítido que
se alimentou das músicas praticadas no seu tempo, mas, ainda assim, parecia
deslocada dele de maneira tão eloquente que não ganhou a visibilidade que
merecia. Não se sabe ao certo se foi por este motivo que a banda caiu no mais
profundo ostracismo, mas, mesmo tão obscura, parece ser referência pela sua
sonoridade vasta e arrojada.
A banda é a inglesa HEAVY
RAIN. Formada na cidade de Blackpool no final dos anos 1960, a Heavy Rain
mergulhou nas profundezas do heavy rock, mesclado ao blues e a um prog rock
igualmente pesado e diria até sujo. Pode parecer improvável, mas cometeram o
doce desatino de produzir sem reservas, sem medo, deixando a criatividade
fluir.
O som do único trabalho lançado pela Heavy Rain, homônimo, de gravações realizadas entre 1972 e 1974, foi lançado oficialmente apenas em setembro de 2023, por alguns abnegados selos undergrounds, são elas: Guerssen Records, Headbangers Records e Big Bad Wolf Records.
Reza a lenda que essas gravações teriam sido lançadas, de forma bem, digamos, "artesanal", ou seja, de uma forma "pirata", e que as gravadoras em questão, ao ouvir esse material na web, acho extremamente interessante em uma licença para reeditar o álbum e lançar em CD, o que aconteceu em 2023. Mas como a Heavy Rain não goza de tantas informações, tal passagem carece de confirmações.
O som é sombrio, é chapante, é viciante e, mesmo arrastado e sujo, por ser tão despretensioso, chega a ser hipnotizante, dando ao ouvinte, múltiplas oportunidades de ouvir um rock psych, ao proto metal, hard rock e até um blues progressivo. Cabe para todos os gostos!
Desde a sua formação a Heavy
Rain passou por algumas mudanças na sua formação, algo normal quando uma banda
passa por instabilidades de cunho emocional, comportamental e até para polir
seu som, mas em 1973 a banda se estabilizou em 1973 como um power trio tendo Geoff "Oggy" Carter na guitarra e vocal, Graham Hargreaves no baixo e Bernie Worsley na
bateria.
Bernie e Geoff foram os fundadores da banda e se conheceram, ainda muito jovens, na pequena cena musical rock de Blackpool. Bernie viu o jovem e promissor guitarrista Geoff em uma apresentação com a sua antiga banda, que se chamava "Sky" e ficou impressionado com a técnica e a forma orgânica como ele tocava e, quando se conheceram, decidiram formar uma banda juntos. Bernie sugeriu o nome "Heavy Rain" e assim seguiram, convocando, em seguida Graham que assumiu o baixo.
Com a banda formada optaram por sair da pequena e
deveras pacata cidade de Blackpool e foram para Londres para, quem sabe, levar
a sua música para o maior número de pessoas ávidas por música pesada e assinar
um contrato com uma gravadora para lançar a sua música. Conseguiram gravar
algumas músicas que daria para lançar um álbum, mas parou nos escombros
empoeirados de algum lugar e principalmente da história do rock.
Reza a lenda que essas gravações
foram descobertas em um rolo de toca-fitas e, até onde se sabe, era, pasmem
amigos e estimados leitores, a única cópia que existia, tornando esse
lançamento ainda mais significativo. Ou seja, se essa história se confirmar
seria, de fato, um achado inacreditável, porque poderia, suponhamos, ser
encontrado em péssimas condições para lançamento e ter perdido essa pérola para
todo sempre.
Mas falemos dessa música totalmente underground e poderosa, dissecando faixa a faixa e se preparem para ouvir uma sonoridade psicodélica, de puro hard rock hard, com guitarras pesadas de fuzz-wah distorcidas e efeitos inteiramente loucos. Começa com “Emily” e que já entrega essa guitarra pesada, arrastada, lisérgica e pesada. Os traços psicodélicos são distantes, mas presentes, pincelados com riffs pesados de guitarra, com o heavy rock assumindo as rédeas. Gaitas são ouvidas dando uma textura meio bluesy.
“Thrutch in ‘B’” segue a mesma
toada, mas os riffs inaugurais de guitarra trazem à lembrança um proto doom, a
guitarra suja e áspera, mesclada ao hard rock típico dos anos 1970, entrega
peso e agressividade. Bateria pesada e baixo pulsante faz da “cozinha” mais
rítmica e cadenciada. “Lady Matilda” começa psicodélica, lisérgica, mas
arrogante e pesada. Essa dosagem de beat e hard rock torna a faixa bem
interessante e atípica. O destaque fica para seção rítmica, dando essa pegada
meio “dançante” à música.
“Lost Woman”, o primeiro cover
do álbum, da icônica Yardbirds, traz uma versão particular da banda, que
imprime o seu DNA, com riffs pegajosos e pesados de guitarra, bateria marcada e
pesada e um vocal mais apurada, diria mais melódico, mas o peso reina absoluto.
“Chord Song” é pesada, direta, riffs soturnos e pesados de guitarra, mas o
destaque fica para o solo avassalador e bem executado.
“I Need You” inicia sombria, ameaçadora, soturna. Dedilhados de guitarra abrem para um vocal estranho, mas logo irrompe em um trovão psicodélico com riffs de guitarra lisérgicos e logo volta a pegada inaugural acústica e sombria e assim vai alternando entre a leveza e o peso. O hard progressivo parece ganhar contornos nessa faixa.
Na sequência tem “Rising of the Tide/Set The Controls for the Heart of the Sun” começa logo com um trovão de riffs de guitarra! Mas o som é arrastado, cadenciado, solos de guitarra aparecem para corroborar o peso e torna-lo existente. Viagens espaciais dão a introdução do clássico psicodélico do Pink Floyd, “Set The Controls for the Hear of the Sun” e, mesclado a isso, vem a psicodelia e uma pegada mais pesada da Heavy Rain à faix, capitaneada pela guitarra distorcida e lisérgica.
O space rock é percebido na
introdução de “Ship of Sin”, mas logo revela o lado típico do álbum, o hard
rock, com baixo e bateria em uma sinergia rítmica incrível entregando uma
pegada mais progressiva e a guitarra, distorcida e pesada, trazendo o contraste
do peso. Mas logo se percebe algo meio soul que dedilhados bem dançantes. A
música é uma gangorra rítmica repleta de mudanças.
Segue com “Flying High” que,
em sua introdução, lembra mais uma sonoridade meio beat, meio anos 1960 e
continua com versões dançantes com riffs de soul music e intervalos mais
pesados. O vocal nessa faixa é impecável! E fecha com “Out in the Street”
quando o genuíno hard rock retorna a todo vapor. O baixo é pulsante, vibrante e
a guitarra ganha em protagonismo com seus fulminantes riffs. O peso e a
agressividade são gritantes nessa faixa.
As últimas três músicas são
oriundas de gravações feitas para um álbum de estreia que nunca se materializou
para a Heavy Rain que se chamaria “Deluge”. E essa falta de sucesso levou à
dissolução da banda em 1977. Mesmo que nos primórdios da Heavy Rain tenha
compartilhado os palcos com bandas conhecidas como Hawkwind, Pink Fairies e até
mesmo Caravan, o fim foi precoce, devido ao seu fracasso comercial.
O fato é que, ainda assim, o
som da Heavy Rain, ao ouvir, por mais que pareça absurdo, dada a sua
obscuridade, se tornou uma referência não apenas ao estilo que nascia nos
primórdios dos anos 1970, mas a todos as vertentes e bandas que viriam a surgir
nas décadas seguintes, sobretudo nos anos 2000 entre as bandas de stoner rock e
doom metal. Um “clássico” obscuro!
Segundo informações que consegui apurar e coletar em alguns comentários de ex-membros da Heavy Rain em publicações de canais do YouTube, Bernie Worsley mora atualmente na Holanda, Geof Carter seguiu, dentro das possibilidades com a Heavy Rain nos anos 2000, mais precisamente entre 2002 e 2021, com outros músicos, um deles tem o nome de Pete Gurney, mas logo faleceu, dando fim a essa trajetória. Inclusive consegui encontrar algumas jam sessions no site "YouTube" entre eles e que pode ser conferida aqui. Já Graham Hargreaves não se tem notícia de como está atualmente.
A banda:
Bernie Worsley na bateria
Geoff "Oggy" Carter na guitarra e
vocal
Graham Hargreaves no baixo
Faixas:
1 - Emily
2 - Thrutch in "B"
3 - Lady Matilda
4 - Lost Woman
5 - Chord Song
6 - I Need You
7 - Rising of the Tide / Set the
Controls for the Heart of the Sun
8 - Ship of Sin
9 - Flying High
10 - Out in The Street
Download do álbum aqui: Heavy Rain (1972-1974) 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário