Algumas orientações sonoras
podem cair na vala comum do estereótipo, principalmente quando uma cena ganha
algum destaque. E um exemplo evidente é o krautrock, proeminente na Alemanha no
final dos anos 1960 e início dos anos 1970.
O kraut como conhecemos traz
aquele experimentalismo, uma espécie de “resposta” psicodélica da Alemanha. Um
som minimalista, viajante, chapante e repleto de improvisações.
Mas ao longo dos anos,
sobretudo no início da década de 1970, a cena foi ganhando corpo, recebendo
outras vertentes ou aprimorando a sonoridade, graças ao hard rock e o rock
progressivo que estavam aparecendo para o mundo.
É comum ouvirmos bandas com
nítidas influências de hard rock, rock progressivo e até mesmo um prog
sinfônico, comum em países como a Itália, por exemplo. E lamentavelmente tudo é
colocado no “mesmo saco” do krautrock, talvez por questões mercadológicas ou
simplesmente uma falta de entendimento que o estilo sofreu, foi impactado por
outras vertentes do rock.
Confesso que discussões como
essa também se caracteriza como estereótipo, algo que talvez não fosse
necessário, afinal tudo se configura, tudo se converge para o óbvio: rock n’
roll! Essa necessidade surge, penso, para entendermos minimamente o “conceito
sonoro” de uma banda e isso não é nenhum crime.
Então analisando por esse
prisma, hoje falarei de uma banda extremamente rara e obscura, oriunda da
cidade de Munique, que, no longínquo ano de 1971 conseguiu personificar o
conceito de evolução da cena krautrock. Falo do SUB.
O SUB, um nome um tanto quanto
atípico para uma banda kraut, foi formado, como disse, em Munique, no ano de
1969 e lançou apenas, para variar, um álbum, em 1971, intitulado “In Concert”.
Ele estranhamente foi lançado na Itália pelo selo “Help”, em uma pequena
edição, com uma tiragem de apenas 1.000 cópias. Atualmente o LP original é
negociado por aproximadamente € 1.000 em leilões virtuais e sites
especializados! Acredite se quiser!
Reza a lenda de que o
empresário da banda teria roubado as fitas máster e ido com elas para a Itália,
lançando o álbum por lá. E por alguma razão foi decidido transformar as músicas
contidas nessa fita em um álbum ao vivo, por isso o nome de “In Concert” com
aplausos do público “overdubados”, evidenciado na primeira faixa, “Sub Theme
I”. O máximo que se pode ter próximo a uma apresentação ao vivo é de que as
músicas teriam sido gravadas no formato “alive in studio”, mas sequer essa
informação está confirmada.
Casos como esse soam
miseravelmente levando em consideração um trabalho de marketing do álbum e da
banda, pois traz a informação de que as coisas foram feitas em um viés falso.
“In Concert” foi gravado no
verão de 1970 no Union-Studios, famoso estúdio em Munique, por músicos com
alguma visibilidade, com experiências em outras bandas, são eles: Christian
Wilhelm no vocal, Klaus Kätel na guitarra, Peter Stimmel no baixo, Johannes
Vester nos teclados e Lutz Ludwig na bateria. Este último, o Ludwig, foi
baterista de outra banda underground muito legal, o Amos Key.
Bem se no aspecto comercial deixou
um pouco a desejar, com histórico de roubos e informações falsas, no musical o
Sub traz um line up com músicos extraordinários com inspirações ao estilo Deep
Purple e Uriah Heep, primordialmente.
Mas o Sub se diferencia das
mencionadas, pois entrega uma sonoridade calcada no rock progressivo e hard
rock, com uso pleno de teclados e o tão falado Krautrock, pois flerta com
improvisações e jams sections de
primeiríssima qualidade.
São definitivamente abordagens
composicionais bem elaboradas, bem estruturadas, focando na guitarra,
corroborando no peso e os teclados que evidenciam a sua levada mais
progressiva. Mas se percebe e muito elementos mais psicodélicos, com riffs de
guitarras mais estridentes, ao estilo lisérgico mesmo e pegadas mais bluesy. Essas vertentes devem surgir de
um passado de fusão de bandas beats locais que ajudaram a formar o Sub no final
da década de 1960.
A abertura conta com a longa
“Sub Theme I (Sub In Concert) ”, que, no auge dos seus dezoito minutos de
duração conta uma jam section que
mescla momentos pesados, selvagens, capitaneados por riffs e solos
avassaladores de guitarra, com texturas bem servidas de teclado, mostrando
muito virtuosismo. Uma abordagem bem arrojada para a sua época, pois entrega
experimentalismos com pitadas bem generosas de hard rock. De fato, é uma
atmosfera que se difere de todas as demais faixas do álbum, mostrando groove pesado e viagens chapantes de
hard rock e psych rock.
“Off” começa animada, com
guitarra acústica bem dedilhada e baixo galopante e teclados enérgicos. Logo a
guitarra lisérgica surge “rasgando” a música. Uma típica faixa que se encaixa
perfeitamente às batidas beats, psicodélicas da segunda metade dos anos 1960.
“Sub Theme II (Money Maker)” não
foge muito à regra da faixa anterior. Muita lisergia, guitarra com riff ao
estilo psicodélico, uma bela seção rítmica que traz algo meio dançante e
teclados meio sombrio, dando um caráter mais introspectivo a música em alguns
momentos.
"Gimme Some Lovin"
mostra a habilidade de Stimmel no baixo e a bateria pesada e marcada,
confirmando uma seção rítmica bem interessante. Os teclados ganham
representatividade instrumental nesta faixa “espaçando” um pouco a música
ganhando destaque, sem mostrar algo enfadonho, muito pelo contrário. São teclas
enérgicas, solares.
A divertida “Ma-Mari-Huana” já
escancara as predileções da banda pelos psicotrópicos típicos da transição das
décadas de 1960 para a década de 1970 e mostra uma banda mais enérgica,
intensa, vívida, mas não necessariamente pesada, agressiva. O destaque fica
para o vocal mais rasgado, mais intenso, quase gritado, diria. Somando a esse
vocal não podemos negligenciar a participação do teclado igualmente animado.
"Match I" começa com
um vocal meio dramático, intenso, mas logo fica um tanto quanto estranho com um
impulso percussivo e soma-se a estranheza os teclados que soam um tanto quanto
sombrio. Depois desse momento meio apocalíptico as teclas ficam mais estelares,
solares, mais animado, mais direto ao ponto.
Fecha o álbum com a faixa “Match
II” que tem a presença de uma guitarra mais “funk”, algo meio grooveado, mas
com toques bem generosos de psych rock, com um vocal bem destacado, dando uma
tensão única à música.
O Sub existiu apenas por mais
três anos após o lançamento de “In Concert” e excursionou pela Alemanha,
Áustria e Itália, este último país que foi lançado seu único trabalho, após o
suposto roubo das fitas máster pelo empresário da banda. Mas infelizmente o álbum
não atraiu as atenções, apesar do material de excelente qualidade apresentado.
“In Concert” teve alguns
relançamentos, sendo que o primeiro foi pelo selo “Garden of Delights” em 1994,
no formato CD, pelo selo “Mayfair” em 2004, em LP e novamente “Garden of
Delights”, em 2012, no formato LP. A esses relançamentos foram incluídas cinco
faixas bônus que não acrescenta muito às faixas originais.
O Sub pode, para muitos,
transparecer a ideia de ter sido apenas mais uma banda de heavy psych, mas algo
o faz diferenciar-se das demais e é exatamente a sua inspiração experimental
calcada na cena krautrock, mas com peças intrincadas e de peso, a junção muito
boa entre prog rock e hard rock. Quando se ouve o Sub percebe-se que poderia
ter uma vida mais longa. Pouco se sabe sobre o futuro dos músicos, apenas que o
baterista Lutz Ludwig, como disse, tocaria na banda Amos Key. Os demais são um
mistério enigmático.
A banda:
1 - Sub Theme I (Sub in
Concert)
2 - Off (3:56)
3 - Sub Theme II (Money Maker)
4 - Gimme Some Lovin'
5 - Ma-Mari-Huana
6 - Match I
7 - Match II
Faixas:
Christian Wilhelm nos vocais
Klaus Kätel na guitarra
Peter Stimmel no baixo
Johannes Vester nos teclados
Lutz Ludwig na bateria
Link para download do álbum aqui
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