A minha afeição pelo rock n’
roll alemão é mais do que justificada, levando em consideração a “selva” ainda
inexplorada que é a cena germânica. Há muito a se desbravar, há muito a se
ouvir de bom. São pérolas obscuras, esquecidas e que, de forma abnegada, são
revisitadas, trazidas à vida por selos igualmente underground.
Não vou aqui tecer
comentários detalhados do motivo pelo qual tais bandas caem no ostracismo ou
ainda sequer tem seus materiais lançados de forma oficial, o mais importante é
exatamente dar luz ao rock obscuro, trazê-las à vida de novo e reparar, em
muitos casos, tais equívocos, sobretudo pela sonoridade complexa e de qualidade
da esmagadora maioria das bandas.
E mais uma banda cativou-me,
inicialmente pelo fator visual. A capa, de imediato, me chamou a atenção e, por
mais que possa ser simples, nada de novo ou avassalador, eu precisava ouvir o
conteúdo, após, claro, as minhas investidas em busca de novas “velhas” pérolas
obscuras disponíveis pela grande rede.
O Exponent foi formado, em
1971, em uma cidade, na Alemanha, chamada Wuppertal, Dusseldorf, mesma região
que outra banda seminal e um pouco mais conhecida surgiu, a Hölderlin.
Inclusive o Exponent, entre 1971 e 1974, fez uma série de shows em circuitos
alemães abrindo para bandas do porte de Novalis e o próprio Hölderlin, entre
tantas outras.
A formação que participou de
“SWF Session” e do único trabalho do Exponent, “Upside Down”, de 1974, trazia: Dirk
Fleck no baixo e Rüdiger Braune na bateria. Completou ainda a formação do
Exponent Frank Martin nos teclados, flauta e vocal e Martin Köhmstedt na guitarra.
Esses dois últimos, claro, não tocaram no Cannabis India.
Observa-se nessas
movimentações dos músicos que são bandas surgidas sob o aspecto de projetos,
dando a entender que não seriam duradouros, principalmente o Cannabis India.
O fato é que as gravações de
“Upside Down” não interessaram a nenhuma gravadora e a banda viria a se separar
dois anos depois, em 1976. Mas obstáculos à parte o Exponent entregou neste trabalho
harmonias pensadas para levar a melodias dotadas de caráter emocional que fazem
desse álbum uma ode ao rock progressivo sinfônico, com pegadas experimentais
remetendo ao krautrock em seus primórdios e ousadas passagens de blues e até
mesmo algo mais pesado do hard rock.
Instrumentos como o moog e
mellotron dão toda a textura para a edificação do som do Exponent, com
passagens viajantes de guitarra e uma seção rítmica extremamente competente e
orgânica.
O álbum é inaugurado pela
faixa “Duplicate” e o que de imediato ganha destaque é o vocal de Frank Martin
que, de forma dramática, mostra o quão sua entonação é límpida e cristalina.
Mas logo entra a bateria puxando uma levada mais jazzy e os teclados impondo uma roupagem mais sinfônica. A
guitarra, com riffs e solos mais diretos, rasga a atmosfera sombria, trazendo
um pouco mais de peso à faixa com uma pegada mais veloz, inclusive. A típica
faixa progressiva com viradas rítmicas excelentes.
“Last Spring” é introduzida
pelo órgão dando-a uma atmosfera soturna, sombria, com lindos e viajantes solos
de guitarra, um tanto quanto viajante, contemplativos. O vocal logo entra e
envolve, mais ainda, toda a “estrutura sonora” com propostas sombrias. O baixo
segue o ritmo pulsante, mas vagaroso. Mas logo irrompe em uma explosão pesada
do hard rock com solos de guitarra vibrantes e uma bateria marcada e pesada. E
assim “Last Spring” segue, com viradas rítmicas interessantíssimas.
Na sequência a faixa “Thoughts”
surge com uma viagem psicodélica remetendo aos tempos ácidos de Pink Floyd de
Sid Barrett, mas os teclados logo anunciam a veia sinfônico que permeou todo o
álbum. O vocal, sempre límpido e cristalino, entonam a sonoridade psych prog da faixa.
E finalmente é finalizado
com a faixa mais longa, cerca de vinte minutos, do álbum: “Dream”. E definitivamente
se trata de uma verdadeira jam section, uma
seção de improvisações que vai do krautrock ao hard rock, passando por
passagens psicodélicas e progressivas, com o destaque, nessa construção, para
os teclados e riffs de guitarra que sustentam os momentos mais pesados da
faixa. E claro que os componentes mais complexos se fazem presentes, mas
dominados pela criatividade que só as improvisações são capazes de
proporcionar. Excelente música!
“Upside Down”, do Exponent é mais do que adequado para aqueles que querem sair da famigerada “zona de conforto” e ouvir coisas novas, mesmo que sejam antigas. Mais adequado ainda para aqueles que curtem rock progressivo sinfônico, com toneladas de moog e mellotron, mas extremamente integrado a bons e pesados riffs de guitarra, flertando com o hard rock.
Exponent, apesar de sua
curta passagem pela cena germânica do rock, deixou um pequeno, mas
significativo legado de um belo exemplar de música progressiva sinfônica aliada
às improvisações e experimentalismos que pautou o momento áureo do krautrock na
transição das décadas de 1960 e 1970. Altamente recomendado!
A banda:
Frank Martin nos teclados,
flauta e vocal
Dirk Fleck no baixo
Rüdiger Braune na bateria
Martin Köhmstedt na guitarra
Faixas:
1 - Duplicate
2 - Last Spring
3 - Thoughts
4 - Dream
Que coisa boa. Como você encontras estas pérolas. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado João Luiz! Tenho consumido demasiadamente as obscuridades. É uma viagem sem volta! Que bom! kkk
ExcluirParabens pela bela pagina!
ResponderExcluirObrigado Geraldo pelos elogios e pela leitura!
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