Costumo defender, como um
ávido “consumidor” de rock alemão, que esse país não pode ser rotulado com a
versão experimental e psicodélica que se convencionou, graças a uma piada da
imprensa britânica, “krautrock”. Foi um movimento contra cultural que atingiu
proporções musicais com algumas comunidades hippies alemãs que decidiram
expandir, por intermédio da música, os seus conceitos de vidas alternativas e
que se expressavam com músicas experimentais, lisérgicas e minimalistas.
A Alemanha sempre entregou,
com muita qualidade, bandas de várias vertentes do rock. Então considero um
equívoco colocar todas as bandas alemãs dentro do mesmo “saco” do krautrock,
limitando, injustamente, o rock n’ roll alemão, a referida cena, não que esta
seja ruim, pelo contrário.
A banda, como disse, foi formada em 1968 com o nome de “Psychotic Reaction”, evoluindo em duas eras diferentes. A banda mudou o seu nome para “Missus Beastly” (da boneca negra “Mistress Beastly”) sendo talvez uma das primeiras bandas que lançou, de forma oficial, um álbum com vertente jazz rock com verdadeiras jam sections lisérgicas e psicodélicas com doses cavalares de hard rock e blues com um progressivo ainda engatinhando.
O nome do primeiro álbum, “Missus
Beastly”, de 1970, alvo de minha resenha de hoje, foi gravado no CPM Studio,
ainda em meados do ano de 1969, com uma pequena tiragem de 1.000 cópias. Uma
verdadeira pérola, uma verdadeira preciosidade do fusion alemão que caiu no ostracismo empoeirado do rock.
A banda contou com a ajuda de ilustres músicos para conseguir gravar o seu debut, foram eles: o flautista do Xhol Caravan, Hansi Fischer, bem como membros do Amon Duul II, que estavam em estúdio à época. Eles acabaram participando do álbum também tocando seus instrumentos.
O Missus Beastly, na época
da gravação e lançamento do álbum, homônimo contava com a seguinte formação: Lutz
Oldemeier na bateria e percussão, Atzen Wehmeyer na guitarra e vocal, Wolfgang
Nickel no órgão, piano e vocal e Pedja Hofmann no baixo e vocal, com as
participações mais do que especiais de: Hansi Fischer, na flauta, da banda Xhol
Caravan e mais o grande Embryo, Dieter Serfas na percussão que era do Amon Duul
II, além de Chris Karrer no violão também do Amon Duul II, além de ter
participação da primeira encarnação do Amon Duul e no Embryo e John Weinzierl
no violão.
O álbum começa com a faixa curta e grossa chamada “XOX”, uma guitarra distorcida, estridente, com uma voz falada em alemão, algo desconexo, mostrando o que viria a seguir: peso e muita jam section ácidas e perigosas.
“Uncle Sam” já chega esmurrando
a porta e arrebentando os pobres ouvidos com um hardão excitante, em uma
hecatombe de solos de guitarra de tirar o fôlego com a bateria cheia de viradas
e marcações tocada de forma agressiva e esporrenta, ao mesmo tempo. Uma ode ao
peso, a visceralidade e a agressividade, tendo a camada do teclado dando amém a
todo o frenesi sonoro que se sucede.
“Shame On You” começa ao
estilo meio folk, ao estilo Jethro Tull, com a predominância de uma doce e
delicada flauta, em contraponto ao que se ouvira na faixa anterior. Mas depois
vem as improvisações, o jazz rock se faz presente com destaque para os teclados
e a bateria, agora extremamente virtuosa e técnica, bem jazzy dando lugar aos
dedilhados competentes de guitarra. Música bem versátil!
“Decision” retoma o álbum ao hard rock. Mais direta, com riffs pegajosos de guitarra e teclados tocados ao máximo, mostra uma faixa mais direta e crua deste excelente álbum.“Chinese Love Song” é o momento mais “louco” do álbum com vozes e gemidos, algo também meio desconexo, típico do krautrock também.“Mean Woman (Woody Mouse)” é o ponto alto do álbum. Um blues de encher os olhos e deixar os ouvidos e a alma no mais puro e genuíno êxtase. Bateria ritmada, marcada, bem excetuada, baixo pulsante e vigoroso, com algum groove, guitarra sendo delicadamente dedilhada e um vocal alto, altivo e limpo. Um blues rock de cair os queixos!
E para fechar com chave de
ouro tem a “Aphrodisiakum” realçada pela base instrumental, em especial a
“cozinha” que, mais uma vez dá o seu recado, com muito groove, dando um caráter mais “dançante” a música com os teclados
tocados de forma frenética e muito competente.
Uma curiosidade sobre esse álbum e banda é que um grupo usurpador, liderados por um alemão chamado Henry Fromm, que se dizia empresário do Missus Beastly, além de flautista e baterista, pirateou suas músicas, assim como outros álbuns e singles sob o nome de “Missus Beastly” sem a permissão da banda.
O primeiro foi "Nara Asst Incense", com uma reedição ilegal da estreia da banda, de 1970, em LP e cassete e CD do selo bootleg “Germanofon”. A segunda foi “Volksmusik - ao vivo em Amsterdam”, em versão LP. A terceira foi "Im garten des Schweigens" mais tarde reeditado como "Super Rock Made in Germany", na versão LP. A quarta foi "Fuck you Free/Fire Bird". A quinta foi "A better Life/Henry's Dead Woman Blues". E o sexto lançamento pirata foi "Jawa Masa/Love Train Rock".
Estranha a essa excessiva
ação de roubos e pirataria ao redor da banda, o que deduz que não estavam
preocupados com as questões financeiras o que logo, certamente, levou ao fim
precoce da banda ou ainda não tinham a mínima capacidade de gerir os negócios
do Missus Beastly.
A banda:
Lutz Oldemeier na bateria
Atzen Wehmeyer na guitarra e
vocal
Petja Hofman no baixo e
vocal
Wolfgang Nickel nos teclados
Com:
Hansi Fischer na flauta
Chris Karrer na guitarra
John Weinzierl na guitarra
Dieter Serfas na bateria
Faixas:
1 - XOX
2 - Uncle Sam
3 - Shame on You
4 - Decision
5 - Chinese love Song
6 - Mean Woman (Woody Mouse)
Link download album: aqui
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