O que vem a sua mente quando
falamos na Suíça? Os melhores chocolates produzidos no planeta são de lá! Uma
grande concentração de bancos internacionais, com as contas mais felpudas e
vultuosas também estão lá, algumas de caráter duvidoso, mas isso não vem em
questão aqui e agora. Não podemos deixar também, é claro, de enaltecer a
limpeza e organização das vias públicas e o caráter de neutralidade em tensões
bélicas é de admirar.
Mas óbvio que esses quesitos
não são tão importantes para o cerne deste reles e humilde blog, mas a música,
o rock n’ roll! Lamentavelmente a cena rock suíça vive às sombras em comparação
a prolífica Alemanha, Inglaterra e a Itália progressiva. Infelizmente criamos
uma espécie de processo “oligárquico” da música na Europa, concentrando o rock
n’ roll a uma quantidade incipiente de países em detrimento de outros centros
que produzem sim belas bandas que merecem a nossa audiência.
E na Suíça temos grandes
bandas principalmente de hard rock e heavy metal, algumas inclusive que, embora
não tenham despontado sob o aspecto comercial, são referências para os estilos
e aqui cito algumas, como: Celtic Frost, Coroner, Darkspace, Circus, Krokodil,
Krokus, Brainticket, Toad entre outras bandas. Talvez eu não tenha ido tão
fundo no mar da obscuridade, mas algumas aqui citadas infelizmente não ganhou a
luz, não vingando na destrutiva indústria fonográfica.
E digo ainda: embora a Suíça
não seja tão prolífica na cena rock europeia, não podemos negligenciar a
altíssima qualidade que as bandas mencionadas tem e a sua relevância para as
suas cenas e a inspiração que geraram para o futuro e o presente da música.
Falei de representantes do
heavy metal e do hard rock, mas não mencionei o rock progressivo. Será que
temos representantes do velho e bom prog rock suíço? Lembro-me que, quando
comecei a garimpar algumas bandas suíças em um passado mais ou menos distante,
tive dificuldades para encontrar. A primeira banda que conheci da Suíça foi o
Krokus e a mescla, sobretudo em seus primórdios nos anos 1970, com o hard rock
e progressivo e depois o heavy metal nos anos 1980, fez com que o meu ávido
interesse pela música do país crescesse e a partir daí veio a necessidade de
descobrir o rock progressivo no país dos relógios.
E por acaso, como na maior
parte das situações, descobri uma banda nesses grupos temáticos em redes
sociais e, a princípio, desconfiei da qualidade da banda, haja vista que
estampava na capa, na arte gráfica um ovo sendo rompido. Um tanto quanto bobo e
infantil, mas a incredulidade deu lugar a curiosidade. Decidi ouvir e como eu
estava enganado e travestido de visões pré-concebidas, preconceituosas mesmo.
Não julgue o livro pela capa, já dizia aquele velho ditado clichê, mas que
ainda funciona.
O som era cativante e
trazia, além do rock progressivo, alguns elementos de hard rock mais
elaborados, genuíno, com longas faixas intricadas, complexas, mas solares,
agitados, com aquele teclado envenenado, frenético, com corais ao fundo, um
exemplo pleno de um progressivo sinfônico sem soar chato e indulgente. A
qualidade é devidamente atestada para quem gosta do estilo e o retorno do tempo
de audição é garantido. Falo da banda EXIT.
Revelando o nome da banda,
talvez até se explique a capa do álbum que me gerou, ao primeiro olhar, certa
rejeição. Exit, em tradução livre, significa sair, saída e o ovo sendo rompido
explica o nome da banda e para os que possuem a versão em LP, rara, ou CD, verá
que, de um lado tem o ovo sendo rompido e a contracapa tem os músicos lépidos e
fagueiros pulando, como que saindo, nascendo com o romper do ovo.
Não há uma confirmação dessa
informação, trata-se de uma dedução, uma licença poética desse que vos fala, ou
melhor, digita, pois são pouquíssimas as informações sobre o Exit na grande
rede, claro, mais uma banda relegada ao ostracismo e escondida no empoeirado
baú do rock n’ roll que costuma ser injusto ou pelo menos aqueles que os
“operam” em um mercado excludente que segmenta os que consideram ser poucos
“vendáveis”.
O Exit foi formado em
Frauenfeld, uma cidade nortenha da Suíça, em 1972 por iniciativa do guitarrista
Andy Schimd e do baterista Kafi Kaufmann que agregou Roman Portail no órgão,
teclados e sintetizadores, Edwin Schweizer no baixo. Em 1975 lançou seu
primeiro e único álbum, pela “Boing Records”, chamado simplesmente de “Exit”.
O álbum foi lançado como uma edição privada, ou seja, uma edição limitada para alguns fãs e admiradores da banda. Foram prensadas apenas 350 cópias e o mesmo foi concebido graças ao abnegado trabalho dos músicos da banda, sem nenhum apoio da indústria fonográfica, sem orçamento praticamente. Para se ter uma noção o Exit gravou com uma Revox-2 de dois canais o que, de certa forma, ficou bom, pois mostrou uma banda mais orgânica e crua.
E o nascimento desse
trabalho foi em virtude da turnê que o Exit fez abrindo os shows das bandas
alemãs Birth Control e Jane em uma espécie de agradecimento a dedicação e a boa
repercussão que essa turnê teve. Um presente para aqueles que acompanharam a
banda neste momento.
Por ser do ano de 1975, período em que o rock progressivo começou a ter certo descrédito pela indústria fonográfica e não, que fique bem registrado, por conta da ausência da criatividade, o som da banda em “Exit” soa clássico, fincado nas tradições progressivas, mas com um viés calcado no hard rock. Alguns, ao ouvir o álbum, diriam que se tratar de proto prog, outros trariam um pouco de rock psicodélico, mas me parece uma mescla de tudo, um flerte de cada estilo que, de alguma forma se interdependem, pois vieram da mesma fôrma sonora.
Percebe-se, como disse, uma
profusão de teclados e sintetizadores e órgãos rodopiantes, versões
jazzísticas, alguns momentos mais ásperos garantidos pelo hard rock e momentos
bem salutares de uma música versátil e altiva.
Então sem mais delongas dissequemos “Exit” e suas quatro grandes e bem elaboradas “peças”. Abre com “Paradise” que se revela um espetáculo de sintetizadores e teclados com pitadas generosas de hard prog e bateria jazzística, uma linha de baixo pulsante, um petardo digno de progressivo genuíno de altíssima qualidade.
Segue com “Balade of Live” cuja introdução do som do mar e de pássaros cantando mostra uma suavidade, uma viagem interessante a música e que explode com a dupla bateria e baixo em total destaque, a cozinha está perfeita nessa faixa, uma linda balada que faz jus ao nome, uma das melhores músicas do álbum, certamente.
“Talk Around” é uma faixa, instrumentalmente falando, mais simples, porém mais dançante, mais comercial, mas o teclado se mostra em grande destaque, desdobrando em um intenso prog sinfônico.
E fecha com “Bad Gossip” com
uma atmosfera mais introspectiva garantida também pelo teclado, pelo órgão,
conferindo uma viagem psicodélica com sinfônico, uma mescla interessante. Um
solo de guitarra à la Gilmour que te faz arrepiar. Linda faixa!
“Exit” foi cantado em inglês
e empregou muitos aspectos do rock psicodélico, rock progressivo e hard rock,
mas trazendo à realidade um viés do pop, de algo mais comercial, mas sem soar
frívolo ou pobre, muito pelo contrário, entrega complexidade, versatilidade e
personalidade no que se propôs a fazer. Uma banda que, mesmo não tendo vida
longa e uma discografia idem, plantou o que os anos 1970 germinara em seus
primórdios: o apego à criatividade sem rótulos.
Evidente que nos mostra
também uma qualidade aquém na produção do álbum, o que não é para menos,
levando em consideração o baixo orçamento que levou quase que praticamente a
banda arcar com os custos de produção e tudo o mais. O potencial do Exit para
criar um álbum interessante foi evidente com base nos teclados e uma invejável
habilidade de composição, mas que, como tantas outras não vingou caindo no
ostracismo empoeirado do rock n’ roll.
Scmid e Kaufmann se
mostraram, quando o Exit finalizou as suas atividades em 1979, ativos
musicalmente. Kaufmann lançou, de forma regular, alguns álbuns solos até os
dias de hoje, já Scmid teve sua carreira precocemente abortada, finalizada,
pois morreu em 2001, sofrendo uma hemorragia cerebral durante uma apresentação
de sua banda no Cairo, Egito.
“Exit” foi relançado em 1993
pela Black Rills Records no formato vinil e em 2008 o álbum foi lançado em CD,
com um punhado de faixas bônus.
A banda:
Edwin Schweizer no baixo
Kafi Kaufmann na bateria,
percussão
Andy Schmid na guitarra,
gaita
Roman Portail nos sintetizadores, teclados
Com:
Gallus Bachmann no saxofone
Martin Beerli no saxofone
Faixas:
1 - Paradise
2 - Balade of Live
3 - Talk Around
4 - Bad Gossip
Obrigado pela raridade!
ResponderExcluirAmigo Marcos eu que agradeço por deixar sua mensagem por aqui! Fico feliz por ter curtido a leitura e o som do Exit!
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