O ano era 1973, na Itália.
Um dos grandes expoentes do hard prog italiano, Osanna, lançaria o seu grande
álbum, “Palepoli”. Esse álbum personificaria o ápice da criatividade sonora do
Osanna, mas esse momento épico da banda renderia a sua dissolução, devido
as relações tempestuosas entre seus integrantes.
Então ainda na produção de
seu vindouro álbum “Lanscape of Life”, em 1974, se tornou oficial o fim do
Osanna. Danilo Rustici, o guitarrista exímio, juntamente com o excelente
flautista e saxofonista Elio D’Anna, partiriam para a Inglaterra para formar a
banda Uno que, ainda em 1974, gravaria seu único álbum chamado “Fonit”,
enquanto Lino Vairetti e Massimo Guarino deram um sopro de vida a banda Città
Frontale, dessa vez com novos integrantes lançando, em 1975, o álbum “El Tor”.
Em 1975 Rustici e D’Anna não conseguiram engrenar o Uno e a banda não vingou, porém permaneceram na Inglaterra, na tentativa de dar vida a outro projeto mais audacioso e por lá construir uma carreira de sucesso comercial.
Esse era uma tendência
fonográfica dos anos 1970 na Itália, de exportar seus músicos para o exterior e
os caras do Osanna levaram e muito isso tudo a sério, tanto que gravavam
algumas faixas em inglês e inclusive o “Landscape of Life” fora o primeiro
álbum da banda gravado integralmente em inglês.
Além da preferência
mercadológica os ex-músicos do Osanna optaram por ficar na Inglaterra, pois na
percepção desses o país oferecia um caldeirão cultural bem diversificado mesmo
no rock contra uma espécie de provincianismo italiano e lá formaram a banda
NOVA, alvo de minha resenha de hoje.
O Nova foi mais um
supergrupo poderoso formado em meados dos anos 1970, que traziam músicos do
Osanna, representados por Danilo Rustici e Elio D’Anna, além do baterista do
Circus 2000, que estava aposentado à época, Dedè Lo Previte e o ex-Cervello
Corrado Rustici, guitarrista e vocalista e também irmão de Danilo. Trazia
também o baixista Luciano Milanese, baixista e que, no auge dos seus 25 anos de
idade, já substituto do grande Vittorio Scalzi no Trolls.
Não precisa fazer longos e
complexos comentários acerca da qualidade da banda, de músicos mais do que
tarimbados e já experientes na indústria da música, oriundo de bandas
extremamente inovadoras e arrojadas na cena italiana e que desejavam avidamente
conquistar o mundo.
E o primeiro passo era
compor, fazer aflorar a sua arte e gravar material oficial para divulgar a sua
música. O primeiro passo foi um contrato obtido com a americana “Arista
Records”. Então o Nova começou a trabalhar imediatamente nos estúdios “Eel Pie
Studios”, muito conhecido por abrigar gente do naipe de Pete Townsend, lendário
guitarrista do The Who, Thin Lizzy, Siouxsie and the Banshees entre outros.
E finalmente, ainda em 1975,
ganha a luz o seu debut, o excelente “Blink” que falaremos daqui para frente.
Com “Blink” debaixo do braço o primeiro passo foi distribuir o trabalho para
que todos, o máximo possível possa ouvir o álbum e conhecer a banda. Este foi
distribuído na Inglaterra, Holanda e na França. Na Itália ele também foi
distribuído, pela “Ariston”, em 1976, mas de uma maneira pouco eficiente, pois
a promoção foi efêmera, incipiente, que o tornou obscuro, indetectável para
muitos aficionados pelos fãs do rock progressivo. Para se ter uma noção do quão
raro “Blink” é, um exemplar do long play (LP), em janeiro de 2010, estava na
faixa dos incríveis 150 euros!
E quando falei, caros e
estimados leitores, que a banda queria, com esse projeto do Nova, “globalizar”
a sonoridade da banda, isso se torna evidente em cada faixa quando se faz uma
audição. “Blink” está orientada predominantemente para as sonoridades do jazz,
um fusion com a potência do rock n’ roll e nuances do rock progressivo. Ou
seja, uma sonoridade do rock que se fazia na Inglaterra por músicos italianos.
“Blink” não teria, em tese, sob o aspecto sonoro da coisa, uma ligação com a
Itália progressiva, mas, a meu ver, sim, traz a vivacidade do prog daquele país
Tinha o centro das atenções
calcadas no saxofone, mas sem descuidar de uma ótima execução do baixo, de
forma pungente e pulsante, bateria bem executada, com poucas músicas, claro, em
inglês e um par de guitarras com riffs acalentadores, pegajosos que dão ritmo
ao resto, com solos curtos e simples sim, porém soberbamente bem executados.
O Nova com “Blink” deixou,
com isso, muito claro as suas intenções sonoras, um verdadeiro rolo compressor
de jazz fusion, divididos com jazz rock e a vital participação de todos os
instrumentos, sem protagonismos de poucos, com uma performance exemplar de
todos os músicos.
Então a formação do Nova em
“Blink” trazia Danilo Rustici na guitarra, Corrado Rustici nos vocais e
guitarra, Elio D’Anna no saxofone e flauta, Luciano Milanese no baixo e Franco
Lo Provite na bateria, além de Morris Perto na percussão.
O álbum é inaugurado com a
faixa “Tailor Made” que apresentam dedilhadas bem dançantes de guitarra e
rapidamente com um som completo, cheio, suntuoso, incluindo saxofone, bateria
swingada e depois vocais. E vem com uma explosão da guitarra em solos diretos,
mas incríveis, bem solares.
"Something Inside Keeps
You Down" traz um saxofone triste, melancólico, viajante, em alguns
momentos, algo como um jazz prog mais experimental, quando entra o vocal,
limpo, agudo, quase falado, com um violão acústico e uma flauta trazendo uma
textura contemplativa, quando irrompe a bateria e o baixo e o saxofone mais
enérgico dessa vez. Um som intenso, emocional e poderoso!
A faixa título, “Nova”, dá
sequência a uma sonoridade extremamente dançante com riffs de guitarra ao
estilo soul music, música negra mesmo, quando se juntam a ela a bateria marcada
e swingada e o saxofone enérgico e frenético em uma sonoridade complexa e cheia
de vivacidade. A guitarra retorna em um solo mais pesado, com uma “veia” mais
hard rock! Outra faixa cheia de recursos e viradas rítmicas.
“Used to Be Easy” começa leve,
suave com a doçura de uma flauta doce, com o sax, no mesmo tom, ao fundo, com
vocais discretos que, quando entra a bateria, se agita um pouco com baixo mais
pulsante e um saxofone mais intenso e ocasionais solos de guitarra. O destaque
fica para a bateria e o baixo, a “cozinha” se destaca em um grande “acabamento”
sonoro.
Segue com “Toy” que aqui
explode com os arranjos instrumentais em um número meio funkeado e dançante e
um saxofone arrebentando em intensidade e energia. A guitarra a substitui com
maestria, potente, com solos mais pesados, igualmente cheio de energia. Uma
excelente faixa instrumental.
E se encerra com “Stroll On”
e o destaque fica para a bateria que é simplesmente matadora, com vocais
estrondosos e uma guitarra incrível com riffs e solos avassaladores. A guitarra
vai e volta em solos enérgicos e descontraídos, com o saxofone envolvendo tudo
isso em uma textura frenética.
Após o lançamento de “Blink”
alguns integrantes saem da banda, deixando apenas Corrado Rustici, D’Anna e
Renato Rosset com a missão de reformulá-la. E no mesmo ano, em 1976, o segundo
trabalho de estúdio é lançado, se chamando “Vímana”. A proposta basicamente é a
mesma do álbum de estreia, com o jazz rock imperando, mas perde um pouco do
peso e da energia.
Após o lançamento de “Vimana” o Nova se estabeleceu na Inglaterra para lançar o seu terceiro álbum, em 1977 chamado “Wings of Love”. A essa altura Barry Johnson, no baixo, e Ric Parnell, na bateria, já haviam se juntado à banda.
Com esta formação, em 1978,
a banda vai para os Estados Unidos em definitivo e grava o seu último álbum de
estúdio chamado “Sun City” em uma vibe mais pesada com Corrado Rustici se
firmando cada vez mais na guitarra e vocal, assumindo protagonismo na banda.
Mas esse seria o derradeiro trabalho da banda que se desfez, certamente por
conta do baixo retorno das vendas dos álbuns e do infortúnio comercial. Os
integrantes originais que restaram, Elio D’Anna voltaria para a Itália para
seguir sua carreira por lá e Corrado Rustici permaneceria nos Estados Unidos.
Mas nada seria melhor que o
registro inaugural dessa banda. “Blink” deixaria uma marca indelével na
história do jazz rock com sua sonoridade enérgica, plena, poderosa, dançante e
viva. Um elixir para a alma, para os ouvidos e para o coração de qualquer
humilde apreciador do estilo e de todas as vertentes do híbrido rock n’ roll.
A banda:
Corrado Rustici nos vocais e
guitarra
Danilo Rustici na guitarra
Elio D'Anna no saxofone e
flauta
Luciano Milanese no baixo
Franco Lo Previte na bateria
Com:
Morris Pert na percussão
Faixas:
1- Tailor Made
2- Something Inside Keeps You Down
3- Nova
4- Used to Be Easy
5- Toy
6- Stroll On
Nenhum comentário:
Postar um comentário