Sabe aquelas bandas de
efêmera vida, mas que chega e causa um grande alvoroço? Aquelas bandas que
fazem, em pouco tempo de vida e uma curta discografia mais do que muita banda
em décadas de existência? Como se fora um cometa, um fenômeno da natureza que
vem sem avisar destrói tudo e desaparece como que por um encanto? São esses
eventos que acometem a maioria das bandas obscuras que ouvimos e que resenhamos
neste humilde blog.
E a história de hoje vem de um país que não é tido, considerado como centro, como polo do rock n’ roll, mas que entregou aos aficionados pela música obscura uma banda que durou, pasmem, 8 meses, entre 1970 e 1971, mas que deixou uma verdadeira obra selvagem, pesada e muito, muito ousada para aqueles tempos de guerra, de intolerância de cor da pele, de um profundo conservadorismo que deixa, até hoje, marcas de segregação e subjugação.
Falo da África do Sul, falo da banda SUCK! O espírito contestador e debochado já começa com o nome, com o nome de seu único álbum lançado em 1970 chamado “Time to Suck”. Apesar de um país pouco tradicional na cena rock existia uma cena, embora tímida, discreta, por conta da falta de apoio, claro, como sempre, era rica em quantitativo de bandas e até na qualidade.
E a confirmação era uma compilação que fora lançada em formato LP em 1972, cujo título escolhido foi um termo cunhado à época para essa discreta cena chamado “Big Heavies”.
E o Suck era a banda mais agressiva, mais selvagem! O que poderia faltar em sofisticação e um trabalho mais bem apurado no que tange a produção do seu álbum sobrou em peso, poder sonoro e hard, muito hard. O termo “Big Heavies” caiu como uma luva para o Suck.
A banda foi formada na
cidade de Joanesburgo no início de 1970. O baixista Louis Joseph “Moose” Forer,
que já havia trabalhado com Peanut Butter Conspiracy em Salisbury na então
Rodésia, quando a apropriação de terras não era a moda, assim como com a banda
baseada em Joanesburgo Grup 66 e Billy Forrest, conheceu o guitarrista Steve “Gil”
Gilroy, que tinha acabado de chegar de Londres, onde trabalhava em um desses
clubes e pubs. Gilroy havia trabalho com o icônico guitarrista original do
Jethro Tull Mick Abrahams e fundador do Blodwyn Pig.
Eles logo se tornaram parceiros de bebidas e para a música foi um pulo, logo se identificaram. O baterista, nascido na Itália, Saverio “Savvy” Grande, que tocou em uma banda chamada Elephant e também trabalhou na banda Oompah e foi influenciado por bandas de percussão latino-americanas, conheceu Gil e Moose em um clube em Hillbrow, em Joanesburgo, a caminho de Bulawayo, Rodésia.
O vocalista,
guitarrista e flautista de Port Elizabeth, Andrew Ionnides, anteriormente com
Meenads, Blind Lemon Jefferson e October Country, recentemente se baseou em
Joanesburgo e conheceu o resto dos músicos e assim o Suck nasceu.
Eles alcançaram o objetivo
sendo uma das bandas mais viscerais no palco. Seus shows ao vivo eram pesados,
avassaladores. Eles quebravam os instrumentos, tocava alto, a bateria levitava,
sobras das guitarras e baixos voavam para o público e se tornavam parte teatral
de suas apresentações. Rolava inclusive um manequim que era alvo da fúria dos
caras do Suck onde eram cortados por machados e facas.
A vida na estrada era
difícil, o que não é novidade para muitas bandas obscuras, que não tem a
estrutura a seu favor, ia pelo amor a música, por tocar seus instrumentos.
Falta de boas gestões, pela gravadora e a inexperiência de jovens músicos, a
falta de grana, as proibições, as restrições governamentais e a repressão, o
que já era comum na África do Sul eram os entraves a sobrevivência dessas
bandas que faziam um rock n’ roll pesado e alto e com isso vinha a frustração,
as desilusões por não vislumbrar uma luz no fim do escuro túnel das incertezas.
E para variar o Suck queria escrever suas próprias músicas, gravar seu próprio material, mas nunca tiveram chances de fazê-lo, não se sabe exatamente o motivo, mas na verdade deixou em seu curto tempo de vida uma música apenas chamada “The Whip”. O seu único trabalho, “Time to Suck”, foi gravado nos estúdios da EMI em Joanesburgo por apenas seis horas!
Era o tempo que tinha para pagar para usar a estrutura do
estúdio, talvez por isso a produção deixasse um pouco a desejar, mas a força, o
talento, o peso, a selvageria não foi oprimida, muito pelo contrário, diante
dos covers que tocou de algumas bandas que estavam despontando á época foram
executadas com maestria.
Então falemos de “Time to Suck”! É um álbum majoritariamente marcado por um vigoroso e desleixado hard rock que nascia no início da década de 1970, que ainda era embrionário. Certamente o incluiria entre os pioneiros da música pesada juntamente com os figurões Black Sabbath, Deep Purple, Grand Funk Railroad etc.
A propósito alguns clássicos dessas bandas desfilaram no disco do Suck e o álbum é inaugurado com a faixa “Aimless Lady” do Gran Funk. Um petardo, sujo, arrastado, aquele hard rock típico, mas selvagem e potente.
Segue com o clássico do heavy prog do King Crimson, de
1969, “21st Century Schizoid Man” que, a meu ver, figura como a melhor versão
neste álbum. Não tem os teclados, não tem aquela sofisticação do Crimson, tem o
hard rock puro, genuíno, a marca registrada da banda, do Suck sendo impressa
nesta música. Uma ótima versão!
“Season of the Witch”, de Donovan, surpreende também pela versão arrojada que flerta, claro, com o hardão, mas também com a psicodelia, típica ainda daqueles tempos e a junção do peso e da viagem percebia um Suck mais bem apurado prezando pela versatilidade nas harmonias.
Outra música do Grand Funk Railroad, escrita por Mark Farner, “Sin's
A Good Man's Brother” também estava no track list deste álbum e o poder da
música original é impressa de forma fiel pelo Suck, mas daquela forma
despojada, intencionalmente despojada com um som de guitarras distorcidas, uma
cozinha bem conectada, sinérgica e o resultado é: tome hard rock!
“I’ll Be Creeping”, clássico do Free, o Suck quis reproduzir um trabalho mais voltado para o blues rock e mostrar essa veia que estava ganhando alguma evidência à época como bandas do naipe do Steppenwolf, mas sem deixar de lado a veia hard tão evidente neste álbum.
E agora eis que surge a criação da própria banda, a composição da banda,
única no álbum, “The Whip” que mostra toda a selvageria tão característica
dessa banda: riffs de guitarra, solos de tirar o fôlego, bateria forte e
marcada, baixo pulsante, um verdadeiro trabalho de banda! Uma pena não termos
visto e ouvido mais materiais dessa banda com grande potencial.
E segue com um clássico do
Deep Purple, “Into the Fire”! Que seguiu basicamente como a original que
representa fielmente o que o Suck era. Arrasa quarteirão, gritos altos e
rasgados do vocalista, uma batida de proto metal, o heavy metal de vanguarda se
faz presente! Outra faixa que merece atenção! A sequência vem com “Elegy”,
música do Colosseum. Outra faixa muito bem descaracterizada pelo Suck e
adivinhem como ela foi interpretada? Com muito peso, com muito hard rock.
E fecha dignamente com outro
clássico, dessa vez do Black Sabbath: “War Pigs”. Uma música pertinente para
aqueles tempos de contestação e que o Suck se identificava. O peso se fez
presente na versão dos caras, mas aquela levada jazzística na bateria tão
percebida em Bill Ward não foi tão seguida pelo batera do Suck, ele arrebentou
tudo levando o DNA do Suck às alturas, com um vocal alto, gritado até a
estratosfera.
Um clássico obscuro,
contundente e que serve de deleite aos apreciadores da música pesada. Um cometa
que passou, destruiu tudo e deixou sua indelével marca na música pesada.
Moose Forer permaneceu na música após o fim do Suck, e continua até hoje. Trabalhou em sessões com nomes como Trevor Rabin e Cedric Samson e com PACT em shows como Chicago e Joseph's Amazing Technicolor Dreamcoat, ele também participou do Rat e apoiou artistas internacionais como Rufus Thomas.
Ele também tocou em uma banda no corpo de
entretenimento militar sob George Hayden. Sua banda atual, Sounds Like Thunder,
tem sido frequentadora do famoso Blues Room de Joanesburgo nos últimos três
anos.
Savvy Grande, um dos melhores bateristas de rock do país na época, também permaneceu na indústria da música, se apresentando com bandas e artistas conhecidos como Omega Ltd, Stagecoach, Jack & the Beanstalk, Lesley Rae Dowling, Shag, Razzle, David Kramer e Jonathan Butler.
Ele se mudou para a Cidade do Cabo, onde viveu por
vários anos, e no início dos anos 1990, tornou-se professor de bateria infantil
na faculdade de bateria de Merton Barrow, The Jazz Workshop. Casado e com um
filho, ele agora é dono de uma garagem e é apaixonado por Motorcross. Sua
última banda foi o Late Final, embora ele tenha saído da cena musical alguns
anos atrás.
Andy Ionnides, também conhecido mais tarde como Andy Dean, teve uma curta passagem pelo Anonymous de Hedgehopper na Rodésia (eles fizeram sucesso com "Hey!") e também esteve envolvido com Rat por um tempo, assim como com Rainbow (Não é a banda de Ritchie Blackmore) e Faggott.
Ele se mudou para East London (aquele da África do Sul, não da Inglaterra!) e se juntou a seu outro irmão, Reno, em uma locadora. Ele formou e liderou uma banda gospel muito promissora, embora nenhuma gravação oficial seja conhecida. Ele então se mudou para Port Elizabeth e ficou com seu irmão, George.
Ele também estava envolvido no negócio de lavagem a seco e tentou a sorte no comércio de restaurantes. Casado e com dois filhos, Andy viveu no limite durante grande parte de sua vida, arriscando-se em todos os lugares por onde passou, mas foi apenas durante seus últimos anos que ele se tornou muito bem-sucedido, administrando um próspero bar de piscina no leste de Londres.
A banda:
Stephen Gilroy na guitarra
Saverio "Savvy"
Grande na bateria
Louis Joseph
"Moose" Forer no baixo
Andrew Ionnides na flauta,
guitarra e vocais
Faixas:
1 - Aimless Lady
2 - 21st Century Schizoid Man
3 - Season Of The Witch
4 - Sin's A Good Man's Brother
5 - I'll Be Creeping
6 - The Whip
7 - Into The Fire
8 - Elegy
9 - War Pigs (Bônus Track)
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