Seguindo nas entranhas do rock progressivo italiano, no lado obscuro da cena progressiva, esquecida e vilipendiada torna-se necessário, urgente dar luz as suas obscuridades, as bandas "empoeiradas", esquecidas no fundo do baú do rock n' roll, deixadas de lado pelos infortúnios mais variados.
Torna-se vital tirá-las da hibernação do ostracismo, fazê-las
renascer e mostrar todas as suas abundâncias sonoras, suas riquezas e assim
tentarei fazer com uma banda que, ao ouvir, me fez voltar a um tempo em que não
vivi tão prolífico de grandes bandas, grandes flertes musicais. Falo da banda
DUELLO MADRE.
A banda foi formada na cidade de Gênova e os seus integrantes pertenciam a bandas, é claro, pouco conhecidas da cena progressiva italiana e contava com: Pippo Trentin, no saxofone e flauta, Marco Zoccheddu no violão elétrico e acústico, Bob Callero no baixo e Dede Lo Previte na bateria.
O guitarrista Marco Zoccheddu foi da banda Nuova Idea e da
banda de heavy metal Osage Tribe, Callero do Il Volo e também do Osage Tribe e Dede Lo Previte membro da Circus 2000 e Nova. Tratava-se de músicos relativamente
experientes, rodados na cena progressiva que estava nascendo na Itália e com
certa profusão e também da cena hard e heavy.
Decidiram se juntar para um
novo projeto, ousado e que era pouco corriqueiro e usual na Itália em termos de
sonoridade, fazer jazz rock com grandes viagens improvisadas, verdadeiras jams sections, logo uma incrível
permissão a criatividade sem amarras, livre de qualquer coisa que podasse o músico
em seu momento sagrado: a de fazer música a seu bel prazer. E foi assim que o
seu único álbum foi lançado, no ano de 1973, chamado simplesmente de “Duello
Madre”.
E foi exatamente com essa proposta que a banda se apegou e quando conceberam esse projeto, precisavam deixar para trás todas as coisas que os tinha inibido, desmantelando todas as estruturas musicais e humanas que se acumularam, inconscientemente ou não, em experiências anteriores com outras bandas.
E realmente queriam fazer algo novo, haja vista que alguns músicos fizeram parte de bandas psicodélicas e até de heavy metal, o que, em tese, seria algo improvável, tocar para frente o projeto jazzístico do Duello Madre.
Quando se fala em desvencilhar, é pelo fato de que a antiga banda de Zoccheddu e Callero, o Osage Tribe, fazia um hard e heavy metal e o seu novo projeto, o Duello Madre, partiria para o jazz rock. Era uma guinada radical!
Esse foi Duello Madre com seu álbum arrojado, revolucionário para a época em um país que, apesar das dificuldades vividas em um caldeirão político, respirava bons progressivos com bandas que nascia para a consagração.
“Duello
Madre” está calcado em um audacioso jazz rock que predominam faixas
instrumentais com apenas uma cantada, tendo uma musicalidade incrível com
seções rítmicas notáveis e passagens incríveis. As referências são de bandas
como King Crimson, Soft Machine e até Zappa, levando em consideração lampejos
de experimentalismo.
O jazz rock do Duelo Madre foi marcado pela visceralidade, pela força de seu som, fugindo um pouco da sofisticação que estava se projetando, se configurando como bandas do naipe do Area e Arti & Mestieri, por exemplo. Uma sonoridade direta, tendo a sua base em guitarras distorcidas e um saxofone nervoso em um “duelo” extremamente salutar e revolucionário.
Não há como negligenciar a importância dessa banda
para o jazz rock italiano, mas com traços poderosos e arrojados e, talvez por
conta disso, a banda ganhou o ostracismo, o esquecimento de sua história, por
conta da incompreensão de sua música vanguardista, marginal.
Em um encarte dessas
reedições do álbum há um relato, diria forte, de alguns membros da banda onde
diziam que estavam “tentando escapar da decadência do panorama progressivo da
Itália”. Talvez tenham exagerado, mas era a intenção, custe o que custasse, de
fazer algo novo, que abalasse as estruturas da música progressiva do país da
bota.
O álbum é inaugurado com “Aquile Blu”, com uma misteriosa introdução, um tanto quanto sombria, que explode com um sax poderoso, presente e uma “cozinha” forte, com linhas de baixo excelente e a bateria seguindo ritmicamente. Não podemos nos esquecer da seminal guitarra e o vocal. Música completa, um exemplo lindo de free jazz.
“Momento” segue como se fora
uma continuação da música anterior, com destaque para a linha monstro de bateria. O sax e a guitarra trabalhando em conjunto é outra maravilha à parte, mas com destaque para o momento acústico,
mais introspectivo, com belíssimas melodias com flautas e violões bem
dedilhados, voltando ao ponto inicial com o sax e a guitarra trabalhando em
sinergia.
“Otto” começa com o conjunto baixo e bateria em excelente evidência, uma bateria dançante com percussão seminal, baixo hipnótico, a unidade se faz presente nesta faixa, não desmerecendo o casamento sonoro entre guitarra e saxofone. Música menos agitada, mas forte em qualidade, com muita complexidade, porém orgânica.
“Madre” segue com estruturas musicais bem parecidas com relação a faixa anterior, com aquele jazz fusion típico e enérgico, irrompe com o
saxofone e guitarra improvisada e depois segue calmo, viajante, agradável. Temos solos de guitarra,
saxofone, uma suíte alegre com muitos improvisos, momento de criatividade única
da banda.
Fecha com “Duello” que tem uma linha de baixo espetacular e uma bateria muito técnica e um sax estridente, intenso e tenso, em muitos momentos. Baixo e bateria seguem em frente, enquanto a guitarra tem espaço suficiente para ser virtuosa e o sax abençoando tudo freneticamente.
Um jazz rock com pitadas generosas de progressivo de muito respeito e que contou com a produção de um nome importante da época, de Gian Piero Reverberi, que trouxe ao trabalho uma versão totalmente brilhante e especial e que, além disso, participou tocando teclados em algumas poucas faixas, em alguns poucos momentos desse álbum.
Outro ponto peculiar também foi o pouco uso de teclado, instrumento tão marcante naquele momento do rock italiano e também a ausência de vocal privilegiando um instrumental, tendo a guitarra, o baixo, a bateria e o sax se desdobrando em força e relevância para suprir a lacuna planejada, em sua maior parte, das teclas, tendo também a participação de Mario Lamberti na percussão. A banda durou apenas um ano, de 1973 a 1974.
“Duello Madre” foi lançado, em vinil, em 1973 pelo selo Produttori Associati e relançado em 2010 pela Vinyl Magic. Em CD foi lançado em 1993 pela Mellow Records e em 2008 pela Vinyl Magic. Altamente recomendado!
A banda:
Pippo Trentin na flauta e
saxofone
Marco Zoccheddu na guitarra
Bob Callero no baixo
Dede Lo Previte na bateria
Com:
Mario Lamberti na percussão
Gian Piero Reverberi nos
teclados
Faixas:
1 - Aquile Blu
2 - Momento
3 - Otto
4 - Madre
5 - Duello
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