Os porões do rock, apesar de
esquecido e vilipendiado, pode nos reservar algo de suma relevância para a
história do estilo. Não pode ser tratado como descartável, afinal as
obscuridades podem trazer a luz do pioneirismo, do protagonismo em tempos longínquos
onde tudo era nada.
É um terreno difícil, diria arriscado trafegar em assuntos
como protagonismo e pioneirismo em determinadas vertentes, tendências e
estilos. Os anos 1970 foram prolíficos não somente pelo fato de que os estilos
que edificaram o rock n’ roll praticamente estavam nascendo e florescendo, mas
porque as bandas estavam experimentando, deixando aflorar os seus mais genuínos
instintos criativos traduzindo-os em sua música.
Torna-se difícil, pois os
estilos se flertavam e, ao longo do tempo, com o “carimbo” do estereótipo, do
rótulo, foi se estabelecendo entre as cenas, entre o público que estava consumindo
aquelas músicas e bandas. Tem uma banda, em especial, que trafegou esquecida
nos porões do rock norte americano e que infelizmente não recebeu os créditos
de seu pioneirismo, de sua importância para a cena heavy rock dos Estados
Unidos da América.
Qual é essa banda? Ela se chama simplesmente BANG! O nome,
embora simples, determina, com nuances sonoras, a que veio: uma explosão
musical, uma bélica e avassaladora música que deveria entrar nos anais da
história da música pesada e logo direi o motivo.
Bang
O Bang remonta os anos 1960,
quando as fundações arquitetônicas do heavy rock estavam sendo criadas, mais
precisamente em 1969, ano este que foi fundado, na cidade da Filadélfia, Pensilvânia.
Os seus criadores foram: Frank Ferrara no baixo e vocal, Frank Gilcken na
guitarra e Tony Diorio na bateria.
Frank e Frankie, na época com apenas 16 anos
de idade, colocara um anúncio no jornal que estava formando uma banda e a
resposta foi imediata! Diorio chega um pouco mais experiente, dez anos mais
velho, e assim a banda estava formada, começando logo a trabalhar em novas
composições.
O primeiro grande momento do Bang foi quando detonaram com um show
do cantor Rod Stewart em Orlando em 1971, eles roubaram a cena, foram mais
pesados e avassaladores, convencendo alguns promotores locais a olhar com mais
carinho por eles, dando-lhes, quem sabe, uma chance.
E não é que conseguiram
uma atenção dos promotores de show? Shows aconteceram na Costa Oeste aconteceu
na Costa Leste e o Bang logo começou a ganhar alguma visibilidade graças as
suas energéticas performances ao vivo, se tornando um dos candidatos a banda
mais pesada da cena hard rock na terra do Tio Sam, apesar da disputa ser bem
grande com bandas do naipe de Sir Lord Baltimore, Blue Cheer, entre tantas
outras tão obscuras quanto o próprio Bang.
E em apenas dois anos após o
seu surgimento, o Bang lançou, pela Capitol Records, o seu primeiro álbum, o
autointitulado “Bang”, em 1971, alvo da minha resenha. Considero “Bang’ como um
álbum emblemático, pois, ao ouvi-lo pela primeira vez, além do arrebatamento
sonoro, do peso, do poder, da agressividade e da linda melodia (sim, essa
mescla é possível!), ele é sim um álbum pioneiro do doom metal, estilo que se
tornaria mais conhecido no início dos anos 1980.
Claro que a concorrência, nos
anos 1970, mais precisamente em 1971 era grande: bandas como Led Zeppelin, Deep
Purple, Grand Funk Railroad e Black Sabbath estavam lançando clássicos atrás de
clássicos e o espaço para novas bandas no estilo estava se tornando pequeno.
E
por falar em Black Sabbath, o Bang, injustamente, foi considerado como uma
resposta americana a banda inglesa, um “Black Sabbath americano”! Um verdadeiro
absurdo essas comparações que só desmerece o trabalho e a história que foi
arrancada do Bang, da sua importância para o hard rock.
E digo mais: o seu
debut é sim um dos pioneiros, junto com o terceiro álbum do próprio Black
Sabbath, “Master of Reality”, também lançado em 1971, do doom metal, dois
grandes álbuns de "proto doom". E aí voltamos ao início desse texto: difícil
pontuar pioneirismos no rock! Sim!
Mas não podemos negligenciar a importância
desses dois trabalhos, principalmente do álbum do Bang. Ah e aqui cabe uma
curiosidade bem pertinente na história da banda: os caras gravaram algumas músicas
em 1971 e que não foram lançadas naquele ano, somente em 2004, no formato CD e
LP, chamado “Death of Country”.
Foi um trabalho arquivado pela Capitol Records
que foi ver a luz do dia décadas mais tarde. Outro álbum altamente recomendado,
mas foi com “Bang”, lançado no mesmo ano que foi considerado como o seu
primeiro trabalho oficialmente lançado.
"Death of Country", 1971
O que se ouve em “Bang” é
uma senhora paulada, um petardo tipicamente setentista, poderoso. Ao ouvir o
som deste power trio, percebe-se, com nitidez, sobretudo pelo riff sujo,
cadenciado, denso e perigoso, uma pegada de doom metal misturado ao stoner
rock, nomenclatura mais contemporânea, com pitadas generosas do já mencionado
hard rock.
Muitas dessas bandas novas que executam o que se convencionou de “rock
retrô” deve ter bebido da fonte do velho e esquecido Bang. O álbum abre com a
excelente “Lions, Christians” com riff ao estilo doom, com uma cadência pesada,
densa em uma atmosfera obscura, sem contar os solos curtos e pesados. Uma
verdadeira pedrada!
"Lions, Christians", live at Roadburn, Tilburn (2016)
“The Queen” começa com mais
um riff poderoso, lembrando o Sabbath com Iommi, o rei dos riffs. A proposta
segue a mesma, muito peso, solos curtos e poderosos.“Last Will” segue com uma
bela balada linda ao som de violão, mostrando que o Bang tem versatilidade. “Come With Me” vem como o destaque do álbum, com muito peso e
cadência e um vocal rasgado conferindo ainda mais peso.
"The Queen", live at Burlington (2017)
“Our Home” volta com mais e
mais peso, já “Future Shock” poderia ser considerada como a primeira música de doom
metal lançada oficialmente na história! Será? Temos o Pentagram nascido nos EUA também,
mas não tinha registrado nada oficialmente nos anos 1970, mas essa faixa do
Bang é fantástica, os riffs faz você “bangear” a cabeça incontrolavelmente.
"Our Home", live at The Maryland Doomfest (2016)
E o que dizer da seguinte
faixa: “Questions?” Uma música de qualidade atestada, uma porrada heavy de
vanguarda, instrumental de primeira. Fecha com “Redman” que segue fielmente o
hardão que é esse disco, do início ao fim.
"Questions?", live at Filadélfia (2018)
Depois de “Bang” a banda
lança, em 1972, o igualmente excelente “Mother / Bow to the King”, em 1972, mas
foge um pouco a proposta do seu antecessor, mas ainda assim o peso e a
agressividade que é marca registrada do Bang estavam lá.
"Mother / Bow to the King", 1972
A banda deveria ter
explodido neste álbum, mas mudanças na diretoria da Capitol Records e algumas
mudanças forçadas na banda, por influências externas, levaram a frustração e
desestímulo por parte dos músicos o que levou seu precoce fim, mas conseguindo
lançar um novo álbum em 1973, chamado “Music”.
"Music", 1973
Em 1996 o Bang se reuniu! A
banda gravou e lançou, em 1998, um novo álbum com o sugestivo nome de “Return
To Zero” e logo mais tarde lançando “The Maze”, em 2004 com algumas novas
versões para antigas canções como “Love Sonnet” e “Bow to the King”.
“Nós três percebemos que o Bang ainda era uma força musical. E, apesar de muitos anos se passarem, estávamos
escrevendo músicas como se fossem ontem. O sonho está vivo e com renovada sede
e amor por ele. a música, estamos retomando nossa busca”.
A banda está mais
viva do que nunca e o seu legado está sendo escrito de forma indelével! O Bang personifica, corrobora que o hard rock obscuro estadunidense é um dos mais rica da música pesada espalhada pelo planeta.
A banda:
Frank Ferrara no baixo e
vocal
Frank Glicken na guitarra e
vocal
Tony D’Lorio na bateria
Faixas:
1 - Lions, Christians
2 - The Queen
3 - Last Will
4 - Come With Me
5 - Our Home
6 - Future Shock
7 - Questions
8 - Redman
Bang - "Bang" (1971)
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