quarta-feira, 15 de julho de 2020

Bang - Bang (1971)


Os porões do rock, apesar de esquecido e vilipendiado, pode nos reservar algo de suma relevância para a história do estilo. Não pode ser tratado como descartável, afinal as obscuridades podem trazer a luz do pioneirismo, do protagonismo em tempos longínquos onde tudo era nada. 

É um terreno difícil, diria arriscado trafegar em assuntos como protagonismo e pioneirismo em determinadas vertentes, tendências e estilos. Os anos 1970 foram prolíficos não somente pelo fato de que os estilos que edificaram o rock n’ roll praticamente estavam nascendo e florescendo, mas porque as bandas estavam experimentando, deixando aflorar os seus mais genuínos instintos criativos traduzindo-os em sua música. 

Torna-se difícil, pois os estilos se flertavam e, ao longo do tempo, com o “carimbo” do estereótipo, do rótulo, foi se estabelecendo entre as cenas, entre o público que estava consumindo aquelas músicas e bandas. Tem uma banda, em especial, que trafegou esquecida nos porões do rock norte americano e que infelizmente não recebeu os créditos de seu pioneirismo, de sua importância para a cena heavy rock dos Estados Unidos da América. 

Qual é essa banda? Ela se chama simplesmente BANG! O nome, embora simples, determina, com nuances sonoras, a que veio: uma explosão musical, uma bélica e avassaladora música que deveria entrar nos anais da história da música pesada e logo direi o motivo.

Bang

O Bang remonta os anos 1960, quando as fundações arquitetônicas do heavy rock estavam sendo criadas, mais precisamente em 1969, ano este que foi fundado, na cidade da Filadélfia, Pensilvânia. Os seus criadores foram: Frank Ferrara no baixo e vocal, Frank Gilcken na guitarra e Tony Diorio na bateria. 

Frank e Frankie, na época com apenas 16 anos de idade, colocara um anúncio no jornal que estava formando uma banda e a resposta foi imediata! Diorio chega um pouco mais experiente, dez anos mais velho, e assim a banda estava formada, começando logo a trabalhar em novas composições. 

O primeiro grande momento do Bang foi quando detonaram com um show do cantor Rod Stewart em Orlando em 1971, eles roubaram a cena, foram mais pesados e avassaladores, convencendo alguns promotores locais a olhar com mais carinho por eles, dando-lhes, quem sabe, uma chance. 

E não é que conseguiram uma atenção dos promotores de show? Shows aconteceram na Costa Oeste aconteceu na Costa Leste e o Bang logo começou a ganhar alguma visibilidade graças as suas energéticas performances ao vivo, se tornando um dos candidatos a banda mais pesada da cena hard rock na terra do Tio Sam, apesar da disputa ser bem grande com bandas do naipe de Sir Lord Baltimore, Blue Cheer, entre tantas outras tão obscuras quanto o próprio Bang.


E em apenas dois anos após o seu surgimento, o Bang lançou, pela Capitol Records, o seu primeiro álbum, o autointitulado “Bang”, em 1971, alvo da minha resenha. Considero “Bang’ como um álbum emblemático, pois, ao ouvi-lo pela primeira vez, além do arrebatamento sonoro, do peso, do poder, da agressividade e da linda melodia (sim, essa mescla é possível!), ele é sim um álbum pioneiro do doom metal, estilo que se tornaria mais conhecido no início dos anos 1980. 

Claro que a concorrência, nos anos 1970, mais precisamente em 1971 era grande: bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Grand Funk Railroad e Black Sabbath estavam lançando clássicos atrás de clássicos e o espaço para novas bandas no estilo estava se tornando pequeno. 

E por falar em Black Sabbath, o Bang, injustamente, foi considerado como uma resposta americana a banda inglesa, um “Black Sabbath americano”! Um verdadeiro absurdo essas comparações que só desmerece o trabalho e a história que foi arrancada do Bang, da sua importância para o hard rock. 

E digo mais: o seu debut é sim um dos pioneiros, junto com o terceiro álbum do próprio Black Sabbath, “Master of Reality”, também lançado em 1971, do doom metal, dois grandes álbuns de "proto doom". E aí voltamos ao início desse texto: difícil pontuar pioneirismos no rock! Sim! 

Mas não podemos negligenciar a importância desses dois trabalhos, principalmente do álbum do Bang. Ah e aqui cabe uma curiosidade bem pertinente na história da banda: os caras gravaram algumas músicas em 1971 e que não foram lançadas naquele ano, somente em 2004, no formato CD e LP, chamado “Death of Country”. 

Foi um trabalho arquivado pela Capitol Records que foi ver a luz do dia décadas mais tarde. Outro álbum altamente recomendado, mas foi com “Bang”, lançado no mesmo ano que foi considerado como o seu primeiro trabalho oficialmente lançado.

"Death of Country", 1971

O que se ouve em “Bang” é uma senhora paulada, um petardo tipicamente setentista, poderoso. Ao ouvir o som deste power trio, percebe-se, com nitidez, sobretudo pelo riff sujo, cadenciado, denso e perigoso, uma pegada de doom metal misturado ao stoner rock, nomenclatura mais contemporânea, com pitadas generosas do já mencionado hard rock. 

Muitas dessas bandas novas que executam o que se convencionou de “rock retrô” deve ter bebido da fonte do velho e esquecido Bang. O álbum abre com a excelente “Lions, Christians” com riff ao estilo doom, com uma cadência pesada, densa em uma atmosfera obscura, sem contar os solos curtos e pesados. Uma verdadeira pedrada!

"Lions, Christians", live at Roadburn, Tilburn (2016)

“The Queen” começa com mais um riff poderoso, lembrando o Sabbath com Iommi, o rei dos riffs. A proposta segue a mesma, muito peso, solos curtos e poderosos.“Last Will” segue com uma bela balada linda ao som de violão, mostrando que o Bang tem versatilidade. “Come With Me” vem como o destaque do álbum, com muito peso e cadência e um vocal rasgado conferindo ainda mais peso. 

"The Queen", live at Burlington (2017)

“Our Home” volta com mais e mais peso, já “Future Shock” poderia ser considerada como a primeira música de doom metal lançada oficialmente na história! Será? Temos o Pentagram nascido nos EUA também, mas não tinha registrado nada oficialmente nos anos 1970, mas essa faixa do Bang é fantástica, os riffs faz você “bangear” a cabeça incontrolavelmente.

"Our Home", live at The Maryland Doomfest (2016)

E o que dizer da seguinte faixa: “Questions?” Uma música de qualidade atestada, uma porrada heavy de vanguarda, instrumental de primeira. Fecha com “Redman” que segue fielmente o hardão que é esse disco, do início ao fim.

"Questions?", live at Filadélfia (2018)

Depois de “Bang” a banda lança, em 1972, o igualmente excelente “Mother / Bow to the King”, em 1972, mas foge um pouco a proposta do seu antecessor, mas ainda assim o peso e a agressividade que é marca registrada do Bang estavam lá. 

"Mother / Bow to the King", 1972

A banda deveria ter explodido neste álbum, mas mudanças na diretoria da Capitol Records e algumas mudanças forçadas na banda, por influências externas, levaram a frustração e desestímulo por parte dos músicos o que levou seu precoce fim, mas conseguindo lançar um novo álbum em 1973, chamado “Music”. 

"Music", 1973

Em 1996 o Bang se reuniu! A banda gravou e lançou, em 1998, um novo álbum com o sugestivo nome de “Return To Zero” e logo mais tarde lançando “The Maze”, em 2004 com algumas novas versões para antigas canções como “Love Sonnet” e “Bow to the King”. 

Em 2014 a banda se preparou para shows ao vivo, ensaiando um novo retorno e com a formação original e que nas palavras do baixista e vocalista Frank Ferrara na época mostra que a força e a persistência era a tônica dessa banda: 

“Nós três percebemos que o Bang ainda era uma força musical. E, apesar de muitos anos se passarem, estávamos escrevendo músicas como se fossem ontem. O sonho está vivo e com renovada sede e amor por ele. a música, estamos retomando nossa busca”. 

A banda está mais viva do que nunca e o seu legado está sendo escrito de forma indelével! O Bang personifica, corrobora que o hard rock obscuro estadunidense é um dos mais rica da música pesada espalhada pelo planeta. 



A banda:

Frank Ferrara no baixo e vocal
Frank Glicken na guitarra e vocal
Tony D’Lorio na bateria

Faixas:

1 - Lions, Christians
2 - The Queen
3 - Last Will
4 - Come With Me
5 - Our Home
6 - Future Shock
7 - Questions
8 - Redman


Bang - "Bang" (1971)









Nenhum comentário:

Postar um comentário