O rock progressivo
brasileiro é de uma vasta riqueza. E estamos identificando, observando e
constatando com um trabalho de extrema dedicação, interesse e um intenso
garimpo com um grande aliado: a internet e disseminação de tais conteúdos
sonoros e suas bandas, por verdadeiros guerreiros amantes do rock progressivo,
verdadeiros abnegados que não esmorecem e compartilham o que há de bom na
música brasileira de qualidade que está escondido nos porões escuros do prog
rock.
Eu não conhecia essa banda e fiquei curioso pela sua música, sobretudo
após as descrições destas em leituras de resenhas e matérias. Uma banda que
sempre militou em nossos domínios territoriais, mas que por desconhecimento ou
quaisquer outros motivos que não saberia narrar, não conhecia e que, após um
breve hiato de um ano, retorna aos palcos para um momento de comemorações e
celebrações de sua história. Falo da banda LummeN.
LummeN em 1999
O significado do nome
“Lummen” foi retirado da fábula “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien, que na
língua dos Altos Elfos significa "luminoso", "brilhante", "estelar". Lummen surgiu da
criação e idealização do multi-instrumentista, compositor e ator Marco Aurêh e
fez a sua estreia no dia 15 de setembro de 1995 na Concha Acústica do Museu
Imperial na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, cidade de origem da banda, com o show “Na Corte do
Rei”.
Marco Aurêh
Pelo título que ostenta
neste show, torna-se perceptível ou pelo menos nos dá uma pista, de sua proposta
sonora que, entre outros aspectos, nos revela elementos do período medieval e
renascentista em uma fusão erudita e contemporânea.
A banda, por ter um ator
como frontman também explora elementos teatrais com um interessante trabalho
estético, com os seus integrantes trajados com indumentárias da época a qual
propuseram a sua sonoridade, como bobos da corte, nobres, etc. Os arranjos e os
instrumentos usados para produzir a sua música seguem, é claro, tal proposta,
mostrando grande multiplicidade, uma rica variedade e improvável aos ouvidos
mais incrédulos que vai dos óbvios instrumentos de sopro como flauta a outros
mais eruditos como violino, bandolim, viola de 10, a instrumentos de viés
progressivos como teclado, violão e instrumentos mais viscerais do rock n’ roll
como guitarra.
Essa mescla garante muita inspiração, liberdade criativa, cênica
e visual. É o conceito entre o clássico e o moderno, o antigo e a tecnologia.
Uma resposta a esse conceito são os telões nos shows projetando imagens medievais,
mostrando a tecnologia a serviço do medieval, do passado.
As influências do LummeN vai de Renaissance,
principalmente pelo cerne de sua proposta, ao Jethro Tull pela sua sonoridade carregada de uma efusiva flauta. A
banda, após várias apresentações na capital e interior do Rio, realizou, em
fevereiro de 1997, três shows no Rio Jazz Club, conhecida casa situada no Rio de Janeiro e
que não existe mais. Tais shows resultaram no primeiro lançamento do LummeN, em
1999, chamado “Ao Vivo no Rio Jazz Club”, pelo selo Som Interior, minha dica da
banda, tendo repercussão na cena nacional e internacional.
A banda, na época do
lançamento do álbum, tinha a seguinte formação: Marco Aurêh no vocal, flauta,
violão e teclado, André Henriques no violino, bandolim, violão e backing vocal,
Celso Schopen na guitarra, Fred Mendonça no baixo e backing vocal e Marcelo
Ksesky na bateria. O álbum abre com a faixa “Mansão” que já mostra todo o
cenário sonoro medieval com o uso de flautas e violinos.
"Mansão" ao vivo em Petrópolis (2013)
Segue com “Vulcão”, uma
linda música, uma balada meio folk, com um belo violão acústico e uma harmonia
linda, irretocável. “Destino Imaginário” é uma das melhores faixas do álbum e
te proporciona uma viagem agradável tendo o destaque do violino e acordes
simples, mas necessários de guitarra com solos bem executados também, me remete
alguns momentos de experimentalismo e viagem lisérgica também.
"Destino Imaginário" ao vivo em Petrópolis (2013)
“Tempo Imóvel” começa
com uma bateria meio tribal, percussiva e soa em seguida os primeiros acordes
de flauta, uma viagem sonora, com tons psicodélicos com desconcertantes solos
de guitarra.
"Tempo Imóvel" ao vivo no Neblina Rock em 2019
“O bobo da corte” traz aquele clima medieval de novo, uma música
bem teatralizada, afinal você consegue visualizar a cena, de acordo com o
andamento da faixa. E fecha com a espetacular “Relembrando” com destaque, mais
uma vez para o violino e acordes excepcionais de guitarra que lembra muito King
Crimson em seus primórdios. Um som progressivo de tirar o fôlego.
"Relembrando", ao vivo na Concha Acústica do Museu Imperial
A banda teve
muitas formações ao longo da década de 1990 até encerrar as atividades em 2001 e
remontada em 2013, sendo realizados vários shows até 2015. Em 2017 a banda
retornou com o show “Medieval Contemporâneo” que contou com todos os
ingredientes que fez do Lummen conhecido entre os fãs puristas de prog rock e que teve a participação de uma cantora soprano e uma edição de
pinturas do pintor e músico do Quaterna Réquiem e Vitral, Cláudio Dantas, e o
surrealista belga Renné Magritte. A banda está na ativa até hoje com Marco Aurêh na sua concepção visual e conceitual. Álbum essencial de uma banda genuinamente
brasileira.
A banda:
Marco Aurêh no vocal,
flauta, violão e teclado
André Henriques no violino,
bandolim, violão e backing vocal
Celso Schopen na guitarra
Fred Mendonça no baixo e
backing vocal
Marcelo Ksesky na bateria
Faixas:
1 - Mansão
2 - Vulcão
3 - Destino Imaginário
4 - Tempo imóvel
5 - O bobo da corte
6 - Relembrando
"Ao Vivo no Rio Jazz Club" (1999)
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