terça-feira, 23 de junho de 2020

LummeN - Ao Vivo no Rio Jazz Club (1999)


O rock progressivo brasileiro é de uma vasta riqueza. E estamos identificando, observando e constatando com um trabalho de extrema dedicação, interesse e um intenso garimpo com um grande aliado: a internet e disseminação de tais conteúdos sonoros e suas bandas, por verdadeiros guerreiros amantes do rock progressivo, verdadeiros abnegados que não esmorecem e compartilham o que há de bom na música brasileira de qualidade que está escondido nos porões escuros do prog rock. 

Eu não conhecia essa banda e fiquei curioso pela sua música, sobretudo após as descrições destas em leituras de resenhas e matérias. Uma banda que sempre militou em nossos domínios territoriais, mas que por desconhecimento ou quaisquer outros motivos que não saberia narrar, não conhecia e que, após um breve hiato de um ano, retorna aos palcos para um momento de comemorações e celebrações de sua história. Falo da banda LummeN.

LummeN em 1999

O significado do nome “Lummen” foi retirado da fábula “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien, que na língua dos Altos Elfos significa "luminoso", "brilhante", "estelar". Lummen surgiu da criação e idealização do multi-instrumentista, compositor e ator Marco Aurêh e fez a sua estreia no dia 15 de setembro de 1995 na Concha Acústica do Museu Imperial na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, cidade de origem da banda, com o show “Na Corte do Rei”.

Marco Aurêh

Pelo título que ostenta neste show, torna-se perceptível ou pelo menos nos dá uma pista, de sua proposta sonora que, entre outros aspectos, nos revela elementos do período medieval e renascentista em uma fusão erudita e contemporânea. 

A banda, por ter um ator como frontman também explora elementos teatrais com um interessante trabalho estético, com os seus integrantes trajados com indumentárias da época a qual propuseram a sua sonoridade, como bobos da corte, nobres, etc. Os arranjos e os instrumentos usados para produzir a sua música seguem, é claro, tal proposta, mostrando grande multiplicidade, uma rica variedade e improvável aos ouvidos mais incrédulos que vai dos óbvios instrumentos de sopro como flauta a outros mais eruditos como violino, bandolim, viola de 10, a instrumentos de viés progressivos como teclado, violão e instrumentos mais viscerais do rock n’ roll como guitarra. 


Essa mescla garante muita inspiração, liberdade criativa, cênica e visual. É o conceito entre o clássico e o moderno, o antigo e a tecnologia. Uma resposta a esse conceito são os telões nos shows projetando imagens medievais, mostrando a tecnologia a serviço do medieval, do passado. 

As influências do LummeN vai de Renaissance, principalmente pelo cerne de sua proposta, ao Jethro Tull pela sua sonoridade carregada de uma efusiva flauta. A banda, após várias apresentações na capital e interior do Rio, realizou, em fevereiro de 1997, três shows no Rio Jazz Club, conhecida casa situada no Rio de Janeiro e que não existe mais. Tais shows resultaram no primeiro lançamento do LummeN, em 1999, chamado “Ao Vivo no Rio Jazz Club”, pelo selo Som Interior, minha dica da banda, tendo repercussão na cena nacional e internacional. 


A banda, na época do lançamento do álbum, tinha a seguinte formação: Marco Aurêh no vocal, flauta, violão e teclado, André Henriques no violino, bandolim, violão e backing vocal, Celso Schopen na guitarra, Fred Mendonça no baixo e backing vocal e Marcelo Ksesky na bateria. O álbum abre com a faixa “Mansão” que já mostra todo o cenário sonoro medieval com o uso de flautas e violinos.

"Mansão" ao vivo em Petrópolis (2013)

Segue com “Vulcão”, uma linda música, uma balada meio folk, com um belo violão acústico e uma harmonia linda, irretocável. “Destino Imaginário” é uma das melhores faixas do álbum e te proporciona uma viagem agradável tendo o destaque do violino e acordes simples, mas necessários de guitarra com solos bem executados também, me remete alguns momentos de experimentalismo e viagem lisérgica também. 

"Destino Imaginário" ao vivo em Petrópolis (2013)

“Tempo Imóvel” começa com uma bateria meio tribal, percussiva e soa em seguida os primeiros acordes de flauta, uma viagem sonora, com tons psicodélicos com desconcertantes solos de guitarra.

"Tempo Imóvel" ao vivo no Neblina Rock em 2019

“O bobo da corte” traz aquele clima medieval de novo, uma música bem teatralizada, afinal você consegue visualizar a cena, de acordo com o andamento da faixa. E fecha com a espetacular “Relembrando” com destaque, mais uma vez para o violino e acordes excepcionais de guitarra que lembra muito King Crimson em seus primórdios. Um som progressivo de tirar o fôlego.

"Relembrando", ao vivo na Concha Acústica do Museu Imperial

A banda teve muitas formações ao longo da década de 1990 até encerrar as atividades em 2001 e remontada em 2013, sendo realizados vários shows até 2015. Em 2017 a banda retornou com o show “Medieval Contemporâneo” que contou com todos os ingredientes que fez do Lummen conhecido entre os fãs puristas de prog rock e que teve a participação  de uma cantora soprano e uma edição de pinturas do pintor e músico do Quaterna Réquiem e Vitral, Cláudio Dantas, e o surrealista belga Renné Magritte. A banda está na ativa até hoje com Marco Aurêh na sua concepção visual e conceitual. Álbum essencial de uma banda genuinamente brasileira.




A banda:

Marco Aurêh no vocal, flauta, violão e teclado
André Henriques no violino, bandolim, violão e backing vocal
Celso Schopen na guitarra
Fred Mendonça no baixo e backing vocal
Marcelo Ksesky na bateria


Faixas:

1 - Mansão
2 - Vulcão
3 - Destino Imaginário
4 - Tempo imóvel
5 - O bobo da corte
6 - Relembrando



"Ao Vivo no Rio Jazz Club" (1999)




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