É inquestionável que a cena
progressiva italiana é rica e brilhante. Não se tem a questão quantitativa
apenas, mas a qualitativa também e que se equivale nos brindando com
diversidade cultural que impacta positivamente a sua música, fazendo dela o
nome que a define: progressiva, progressista, porque é de vanguarda, arrojada,
sofisticada sim, mas por muitas vezes marginal e urgente, pois encarnam os
conceitos primordiais do rock n’ roll: contestador, transgressor por natureza.
Bandas como o MAXOPHONE sintetizam, com extrema fidelidade, tais quesitos
mencionados. A banda foi resultado, na sua gênese, dessa miscelânea cultural,
enfatizada fortemente na sua música. Resultado este inovador, revolucionário e
que até hoje serve de referência para a história contemporânea do rock
progressivo italiano que, a plenos pulmões e com muita força, segue florescendo
com o frescor da novidade, relevante.
A sua
atemporalidade personifica a cena e, mesmo que obscura e com uma pequena
carreira discográfica, marcou época. O vilipêndio da indústria fonográfica e das agitações político-ideológica na Itália nos longínquos anos 1970 quase pôs tudo a perder, colocando o Maxophone em uma condição total de ostracismo, mas a força de abnegados, como os
apreciadores da música e profissionais incansáveis que representam pequenas e
undergrounds gravadoras disseminaram, lançaram e multiplicaram para o mundo a música seminal desta banda.
Graças
também ao advento de tecnologias da informação, das redes sociais o trabalho dessas grandes
bandas e, claro, a persistência dessas, a qual o Maxophone faz parte, a obra assume uma espécie de legado.
O
Maxophone foi formado na cidade de Milão, na região da Lombardia, no final do
ano de 1972 por jovens músicos que tinham estilos diversificados e peculiares
sendo que metade foi formada em conservatórios italianos e a outra metade
pertencia a uma base mais pesada, mais entusiasta da música como o “classic
rock” e o jazz rock, por exemplo.
E esses jovens eram:
Roberto Giuliani (vocal, piano e guitarra), Alberto Ravasini (vocal,
baixo, violão e flauta) e Sandro Lorenzetti (bateria), conhecido no meio
jazzístico da Lombardia. A eles se uniram Sergio Lattuada (Hammond e
teclados), Maurizio Bianchini (trompa, vibrafone, percussão e voz) e Leonardo
Schiavone (clarineta, flauta e saxofone).
Essa mistura, essa “salada
sonora”, proporcionou à música da banda algo novo, gratas novidades, pouco
corriqueiras até então na cena progressiva à época como trompa, trompete,
clarineta e vibrafone, além dos habituais instrumentos do cotidiano progressivo
incluindo um maravilhoso sax e um hammond de presença marcante.
Pronto! O
caráter sonoro do Maxophone estava delineado! Uma banda diversificada,
eclética, versátil, muito particular e extremamente interessante, que ia do
progressivo sinfônico, música clássica, jazz rock, rock, folk etc. E é nessa estrutura que o debut do Maxophone foi edificado e lançado em 1975, homônimo, que será alvo de meu texto hoje.
Maxophone ao vivo
Com algumas relevantes
apresentações ao vivo, o Maxophone passou a atrair a atenção do público. Tanto
que a banda conseguiu lançar o seu primeiro 45 rotações: "C'è un paese al
mondo/Al mancato compleanno di una farfalla".
A banda se apresentou em
vários festivais, excursionando inclusive em uma turnê de razoável porte com a
banda Area, em 1976. Neste mesmo ano a banda se apresentou no importante e
icônico Festival de Montreaux, na Suíça, e logo depois gravou uma participação
na emissora de televisão italiana, RAI, sendo lançado em 2018 comercialmente,
com muitos materiais raros e valiosos. Mas antes, em 1975, a banda lançou o seu
emblemático álbum, “Maxophone”, pelo selo "Produttori Associati",
tanto na versão original, cantado em italiano, como na versão inglesa.
Em meados da década de 1970
algumas bandas aderiram ao formato inglês para alçar mercado norte-americano e
também todo o mundo, resultado do sucesso internacional de bandas como Premiata
Forneria Marconi e Le Orme.
A banda que gravou este álbum, era formada por Sergio
Lattuada no piano, órgão, piano elétrico, vocal, Roberto Giuliani na guitarra,
piano, vocal, Leonardo Schiavone no clarinete, sax, flauta, Maurizio Bianchini
na corneta, trompete, vibrafone, percussão, vocal, Alberto Ravasini no vocal,
baixo, violão e Sandro Lorenzetti na bateria com Paolo Rizzi no baixo acústico,
Eleonora de Rossi no violino, Susanna Pedrazzini no violino, Giovanna Correnti no
cello e Tiziana Botticini na harpa.
“Maxophone” é um álbum técnico, mas
emocional e orgânico, com uma dramaticidade em sua sonoridade, bem peculiar em se tratando do progressivo italiano. É pesado, progressivo,
clássico com jazz rock, sinfônico e passagens agradáveis de folk.
A faixa
inaugural é “C'È Un Paese Al Mondo” que abre com um linda linha de piano
agradável que irrompe em um peso protagonizado por guitarra e bateria,
cadenciando com passagens suaves, mostrando o casamento perfeito entre o
clássico e o rock.
"C'É Un Paese Al Mondo", live at RAI 1976
“Fase” começa com o peso da guitarra, dando o
tom mais pesado da música, um legítimo hardão setentista, um protagonismo dos
instrumentos, com passagens interessantes de jazz.
"Fase", live at RAi 1976
“Al Mancato Compleanno Di
Una Farfalla” tem a introdução de uma guitarra clássica em uma atmosfera
contemplativa e onírica, mostrando um pouco de folk, música celta, a música
tradicional e regional italiana se faz presente, mas da suavidade a música fica
mais enérgica, mostrando ótimas passagens de ritmo com linhas de hammond
excelentes.
"Al Mancato Compleanno Di Una Farfalla", live at RAI 1976
“Elzeviro” tem a introdução
excepcional do vocal, poderoso e dramático, pois a letra enaltece em seu teor
questões políticas e sociais, como em todo o álbum, muito comum entre as bandas
progressivas italianas da época. Destaque nesta música fica para o riffs de
guitarra, vocal nos momentos mais “calmos” e para órgão dando a camada sonora
necessária para a sequência da música.
"Elzeviro", live at Tokyo 2014
“Mercanti Di Pazzie” traz a
introdução da harpa tirada da obra “Sonata per arpa” gravada originalmente por
Paul Hindemith em 1939. É uma música viajante, uma sensação de paz e
tranquilidade, de transcendência da alma.
"Mercanti Di Pazzie", live at Tokyo, 2014
O álbum fecha com “Antiche
Conclusioni Negre”, a mais longa faixa do álbum, e começa enérgica, animada,
uma faixa solar, sinfônica, tendo instrumentos de sopro como destaque,
alternando momentos mais serenos. Não podemos negligenciar a bela participação
de linhas de baixo e teclado também, uma música de banda, todos participando
intensamente e com destaque nesta faixa.
"Antiche Conclusioni Negre", live at RAI 1976
Em 1977 o Maxophone
produziu material para um segundo álbum, mas a gravadora faliu e o projeto
foi engavetado vendo a luz somente em 2006 em uma caixa com CD e DVD de nome “From Cocoon To Butterfly”, incluindo algumas gravações inéditas em um
período que compreende entre os anos de 1973 e 1975, além de alguns vídeos
raros do show que fizeram no estúdio da RAI em Turim.
Porém anos antes, nos
anos 1990, graças ao ressurgimento do rock progressivo italiano com novas
bandas, em 1993, o álbum de estreia, “Maxophone” foi reeditado pelo selo Mellow
e em 1997, também foi relançado a versão italiana pela mesma gravadora.
Em 2001
o selo Akarma republicou o álbum em vinil com a adição de algumas músicas que
saíram somente nos 45 rotações. Um álbum essencial, um tesouro que a terra
progressiva nos brindou, que o Maxophone nos entregou para deleite eterno.
A banda:
Sergio Lattuada no piano,
órgão, piano elétrico, vocal.
Roberto Giuliani na
guitarra, piano, vocal.
Leonardo Schiavone no
clarinete, sax, flauta.
Maurizio Bianchini na
corneta, trompete, vibrafone, percussão, vocal.
Alberto Ravasini no vocal,
baixo, violão.
Sandro Lorenzetti na bateria
Com:
Paolo Rizzi no baixo
acústico.
Eleonora De Rossi no
violino.
Susanna Pedrazzini no
violino.
Giovanna Correnti no cello.
Tiziana Botticini na harpa.
Faixas:
1 - C'e Un Paese Al Mondo
2 - Fase
3 - Al Mancato Compleanno Di
Una Farfalla
4 - Elzeviro
5 - Mercanti Di Pazzie
6 - Antiche Conclusioni
Negre
"Maxophone" - Versão em italiano
"Maxophone" - Versão em inglês
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