Mas voltemos mais no tempo, afinal a história de Ronnie James Dio não se resume às suas facetas no Rainbow ou Black Sabbath, mas há uma carreira inaugural construída ainda nos anos 1950, mais precisamente em 1957, em Nova Iorque, onde Ronald James Padavona começou sua trajetória na música. Isso quando estava na escola, na adolescência.
Ele formou a banda The Vegas Kings, que contava com o vocalista Billy DeWolfe, o guitarrista Nick Pantas, o baterista Tom Rogers e o saxofonista Jack Musci, além de Ronnie no baixo, sim, no baixo. A banda recebeu outros nomes, como Ronnie and the Rumbles e Ronnie and the Red Caps, isso em 1958. Ele começou tocando trompete, depois foi para o baixo. Mas a sua aptidão estava no vocal.
As mudanças não aconteceram no nome da banda, mas também entre os integrantes, saindo Musci, em 1960, e um novo guitarrista, Dick Botoff, se reuniu a banda. Já como The Redcaps lançou apenas dois singles: o primeiro foi "Conquest"/"Lover" com o "lado A" sendo uma reminiscência instrumental da banda The Ventures e contava com DeWolfe nos vocais.
The Ventures foi uma banda instrumental dos
estados Unidos formada inicialmente como The Versatones, em 1958, por Bob Bogle
e Don Wilson, em Tacoma, Washington. Foi conhecida por clássicos como
"Walk Don't Run" "Surf Rider" e "Journey to the
Star", entre outros. O segundo single foi "Angel is Missing",
"What'd I Say", as quais contavam já com Dio se
"aventurando" nos vocais.
A banda não durou muito tempo, cada um indo para o seu lado, formando em seguida, em 1960, a Ronnie Dio and The Prophets, que tocava um doo wop pop, gravando um álbum ao vivo que não ganhou muita repercussão. A formação do The Prophets durou vários anos com a banda viajando por toda a região de Nova Iorque, tocando em festas universitárias. Eles produziram um single pela Atlantic Records ("The Ooh-Poo-Pah-Doo"/"Love Pains") e também um álbum chamado "Dio at Domino's", de 1963.
Foi nesta banda que o
"Dio", apelido que carrgou até o fim da sua vida, surgiu e a fonte do
surgimento são vários. Corre a história de que Dio seria uma referência ao
membro da máfia, Johnny Dio. Giovanni Ignazio Dioguardi, também conhecido como
"John Dioguardi" e "Johnny Dio", foi uma figura do crime
organizado ítalo-americano. Ele era conhecido por estar envolvido no ataque
ácido que levou à cegueira do jornalista Victor Riesel e pelo seu papel na criação
de falsos sindicatos locais para ajudar Jimmy Hoffa a tornar-se Presidente
Geral do Teamsters.
Outra versão afirma que a avó
de Padavona disse que ele tinha um dom de Deus e que deveria ser chamado de Dio
(Deus, em italiano). Independente da inspiração, Padavona utilizou o termo,
pela primeira vez, em uma gravação no ano de 1960, quando o adicionou ao
segundo lançamento da banda, em Seneca. E assim a banda mudaria seu nome para
Ronnie Dio and The Prophets.
Alguns dos singles como "Mr. Misery", lançado pela Swan Records, foram batizados como sendo gravados como Ronnie Dio sendo um músico solo, mesmo que o resto dos The Prophets tenham contribuído no processo de composição. A banda lançou vários singles durante os anos seguintes, até o início de 1967. Dio continuou a usar seu nome de nascimento em qualquer crédito pela composição nesses lançamentos. No final de 1967, o Ronnie Dio and The Prophets se transformaram em uma nova banda chamada "The Electric Elves", adicionando um tecladista. Com esse nome lançaram um single, o "Hey, Look Me Over", naquele mesmo ano.
Nesse período a formação do The Electric Elves tinha: Ronnie James Dio, vocalista e baixista, Doug Thaler, nos teclados, Gary Driscoll na bateria, Nick Pantas e David Feinstein, nas guitarras. Este último primo de Dio. Um acidente grave de carro envolvendo a banda vitimou fatalmente o guitarrista Nick Pantas, isso em 1968, ferindo os demais integrantes. Isso motivou o encurtamento do nome da banda, para The Elves. O The Elves lançou três singles, o primeiro chamado "Walking in Different Circles", em 1969 e os outros dois "Amber Velvet", lançados por selos (gravadoras) diferentes no ano de 1970.
O acidente, que vitimou o
guitarrista Nick Pantas, forçou uma nova configuração dos papéis dos membros
dentro da banda. O tecladista original Doug Thaler foi para a guitarra e a
banda contratou Mickey Lee Soule para assumir as teclas.
A banda mudou novamente de nome e encurtou um pouco mais, agora para "Elves" e logo depois para ELF e a partir daqui darei todo o destaque para a sua história dentro do blues rock e hard rock. Aqui foi o nascedouro de Ronnie James Dio para o que conhecemos notoriamente ao longo dos anos 1970 e 1980, embora o Elf tenha sido uma banda com viés blueseiro.
A formação do Elf consistia
em: Ronnie James Dio nos vocais e baixo, David Feinstein na guitarra, Doug
Thaler nos teclados, entrando Mickey Lee Soule entrando no lugar quando Thaler
saiu, em 1972, Gray Driscoll na bateria. Thaler virou agente e uma de suas
primeiras bandas foi o Elf.
O Elf, como qualquer banda em
seus primeiros passos, queria um contrato com uma gravadora e se tornar famosa,
tocando em clubes, festas, o que surgia, aceitava. Tanta aparição acabou
chamando a atenção de dois membros de uma banda que já era famosa no início dos
anos 1970, eram simplesmente Roger Glover e Ian Paice, respectivamente baixista
e baterista do Deep Purple.
Eles viram uma apresentação da banda e ficaram fascinados. Deram uma força e tanto para os caras se apresentarem em lugares mais estruturados e maiores, servindo de banda de abertura para o próprio Purple, além do Glover produzir o primeiro álbum da banda, de nome "Elf", em 1972, alvo de meu texto hoje. Foram verdadeiros padrinhos!
A formação do Elf que gravou este
álbum tinha, Ronald Padavona (Dio ainda usava seu nome de batismo) no vocal e
baixo, o guitarrista e primo de Dio, David Rock Feinstein, Mickey Lee Soule nos
teclados e piano e Gary Driscoll na bateria.
“Elf” traz uma faceta
inusitada na carreira de Dio, conhecida mundialmente pelo heavy metal e heavy
rock no Sabbath, o hard rock no Rainbow e heavy metal na sua carreira solo, na
banda DIO, tocando um hard rock mesclado com um blues rock muito competente,
com a sua poderosa voz, de grande alcance, extremamente melódica, ao mesmo
tempo, que o caracterizou como um dos melhores de todos os tempos, em todos os
seus momentos como músico.
O álbum começa com a clássica
do blues “Hoochie Coochie Lady” que, com muito peso, ganha uma “personalidade”
marcante, chegando a ser agressiva em alguns momentos. Um senhor petardo
sonoro! Segue a mesma proposta com “First Avenue” que, cadenciada, propõe um
dançante e solar blues rock.
A sequência muda totalmente a
atmosfera com “Nevermore” que, com destaque do vocal insuperável de Dio, cheio
de dramaticidade e vivacidade conduz a música em uma espécie de balada rock com
solos de guitarra lindos e diretos. “I'm Coming Back for You” é um hardão
intenso, vigoroso e, por um momento, o blues fica em segundo plano, revelando
que Dio & Cia, sabiam estremecer as estruturas com um característico peso.
“Sit Down Honey (Everything Will Be Alright)” traz o blues rock novamente e o destaque fica para o piano de Lee Soule dando o balanço rítmico envolvente a música com a bateria marcada e vibrante protagonizando o peso a faixa. “Dixie Lee Junction” diminui, mais uma vez, o ritmo, outra balada com um caráter mais radiofônico, um som mais acessível, mas sem destoar do conjunto da obra.
“Love Me Like a Woman” traz o hard/blues rock de novo, uma música altiva, animada, solar, com Dio cantando em um tom provocador. O disco fecha com “Gambler, Gambler” que traz a pureza do hard rock e o que o próprio Ronnie James Dio faria no Rainbow. Essa música entraria facilmente no set list da banda de Blackmore.
Em 1973, o Elf adicionou o
baixista Craig Gruber, deixando Dio apenas nos vocais. Pouco depois, David
Fenstein saiu da banda, sendo substituído por Steve Edwards. Em 1974, o Elf
teve muitas mudanças em sua história: um segundo álbum foi lançado chamado
"Caroline County Ball", além de Dio participar da gravação do álbum
solo de Roger Glover (Ele cantou a música "Love is All", onde os fãs
de Deep Purple puderam vê-lo cantar naquele trabalho mais recente gravado com
orquestra), que também produziu este álbum.
Importante lembrar que Glover,
juntamente com Ian Gillan, tinham saído do Deep Purple. E quem começaria a
ficar insatisfeito era Ritchie Blackmore, que insistia que a banda deveria
gravar um cover do Quatermass, "Black Sheep of the Family". Com a recusa
da banda, e convenhamos, diversos outros motivos, principalmente as intensas
brigas com Gillan, Blackmore também sairia do Purple.
No final de 1974 Blackmore
gravou duas faixas para o seu novo álbum solo, com Dio nos vocais e Gary
Driscoll na bateria. Ele gostou tanto do resultado das gravações que resolveu
chamar toda a banda Elf para gravar com ele, exceto Edwards, e acaba lançando o
primeiro álbum do Rainbow, "Ritchie Blackmore's Rainbow", em 1975.
O Elf, nesse meio tempo, ainda
lançaria seu terceiro e último álbum de estúdio, "Trying to Burn the
Sun", mas se desfez antes mesmo do lançamento, com os seus integrantes já
compromissados com o Rainbow. Mas isso já outra história...
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