Nesses últimos 20 anos,
aproximadamente, testemunhamos um surgimento, em massa, de bandas de stoner
rock, doom metal e hard rock. Uma cena que, atualmente, está saturada, com
muitas bandas, algumas com uma sonoridade peculiar, que merece atenção, porém
outras repetitivas, com uma redundância na proposta da música que acabam
perecendo ou não obtendo o tão desejado sucesso.
Conhecidas como “bandas retrô”,
pois revisitam o hard rock setentista com o apelo visual também muito em
evidência daqueles longínquos anos 1970, tem surgido aos borbotões, saindo de vários países, sobretudo os da Europa cujo público tem recebido com muito entusiasmo. Mas não se enganem que o som soe
datado ou plágio.
Embora a referência, a influência seja evidente aos ouvidos,
muitas dessas bandas estão trazendo propostas arrojadas e interessantes
trazendo, por exemplo, o doom metal e o stoner rock ao rock progressivo ou o blues ao stoner
rock.
Jovens músicos trazendo um frescor ao rock n’ roll com os olhos voltados
para a sua essência e o que ele de melhor nos proporcionou e proporciona ao longo das
décadas. Não se enganem, bons e estimados leitores, quando dizem que o rock morreu. Não, não morreu! Está vivo e latente, graças a essa cena dos anos 2000.
No Brasil a popularidade não é tão grande como na Europa, por exemplo,
onde muitas dessas bandas já estão fazendo shows em festivais e fazendo grandes
turnês, apesar de não terem um som comercial e radiofônico, mas as bandas estão
surgindo, graças a produtores e pequenos selos que se dedicam a disseminar tais
bandas. As vertentes ainda não são compreendidas, embora o doom metal seja
muito conhecido graças a bandas como Saint Vitus, Pentagram e até o Black
Sabbath nos seus primórdios e o stoner que é uma espécie de “filho mais novo”
do hard rock setentista.
Um exemplo de banda, embora jovem, mas que mantém
a chama do som obscuro do hard rock com o rock psych e que vem fazendo shows e
se apresentando em festivais pela Europa, é o BLUES PILLS, da Suécia. A Suécia
vem produzindo grandes bandas dessas vertentes e o Blues Pills é certamente um
grande representante.
A banda não é exatamente obscura, desconhecida, vem
ganhando, inclusive notoriedade a cada trabalho realizado, mas a sua sonoridade
é calcada em um som pouco mainstream como hard rock, psych, blues e até soul
music e no seu primeiro material lançado, o EP “Bliss”, de 2012, alvo desse
texto, traz uma banda avassaladora, um hard rock vigoroso com generosas pitadas
psicodélicas rememorando, é claro, as bandas surgidas nas transições das
décadas de 1960 e 1970.
Os “pílulas azuis” ou, para bom entendedores, os “viagras”, foi formado na suécia em 2011 pelo guitarrista Zack Anderson e Elin Larsson. A
banda, avançando um pouco no tempo, em relação ao “Bliss”, estreou em #78
posição na parada americana da "Billboard Heatseekers" com seu primeiro álbum, o
"Blues Pills" (álbum autointitulado).
Um grande exemplo de uma banda
que, apesar de trafegar no mainstream, porém nem tanto assim, faz um som anticomercial, valorizando as
raízes do rock n’ roll. O EP “Bliss”, de 2012, traz a impressão de se tratar de
uma produção “caseira”, muito alternativa, com algumas imperfeições na
qualidade do som, mas que em nada influenciou, negativamente falando, na
mensagem do Blues Pills: um trabalho poderoso, com realce instrumental muito
evidente, calcado no hard rock, psicodélico e um intenso stoner rock
contemporâneo e cheio de vivacidade com o destaque para o vocal competente,
limpo, de grande alcance de Elin Larsson, valorizando e muito a sinergia que é
um vocal feminino no rock n’ roll.
A formação da banda, quando gravou “Bliss”
tinha Elin Larsson nos vocais, Dorian Sorriaux na guitarra, Cory Jack Berry na
guitarra, Zack Anderson no baixo e Jonas Moses Askerlund na bateria. O álbum
abre com a faixa-título, “Bliss” já começa com um riff arrebatador ao estilo
Hendrix, com um pouco de groove, um hard rock dançante, animado e pesado, muito
pesado, com destaque do vocal de Larsson, gritado e melancólico, ao mesmo
tempo.
"Bliss", Live in Paris
“Astralplane”, ao contrário,
começa introspectiva, soturna irrompendo um hard com pitadas blueseiras, um som
sujo e marginal, com o estilo pagão do velho rock n’ roll personificado na
contemporaneidade do Blues Pills. Essa faixa pode ser ouvida no primeiro álbum “cheio”
da banda, lançado em 2014.
"Astralplane", Live at Wacken Open Air, em 2018
Pode ser ouvida também, no
seu primeiro álbum, a grande “Devil Man”, que segue no EP “Bliss” que introduz
com o vocal nervoso de Larsson à capela que culmina na explosão instrumental
com uma bateria agressiva e solos de guitarra desconcertantes.
"Devil Man", Live at Hard Rock Festival, 2014
Fecha com “Little Sun” com
uma viagem psicodélica, lisérgica, ao estilo melancólico de Janis Joplin, mas
com muita personalidade e dramaticidade. Essa faixa pode ser ouvida também no
seu primeiro álbum.
"Little Sun", Live at RockPalast, 2013
O Blues Pills no seu mais
cru, direto e puro início. As origens pesada e agressiva de uma banda que
representa a música marginal no topo atual de grandes paradas de música. É
finalmente o rock n’ roll no seu posto, na sua merecida posição de marginal. Altamente recomendado!
A banda:
Elin Larsson no vocal
Zack Anderson na guitarra
André Kvarnström na bateria
Kristoffer Schander no baixo
Faixas:
1 – Bliss
2 – Astralplane
3 – Devil Man
4 – Little Sun
"Bliss" (2012)
PQP (desculpe o palavrão) excelente análise da banda e das músicas principalmente, adorei a introdução inclusive. Para quem não conhece o estilo, ficará bem familiarizado com o estilo.
ResponderExcluirParabéns!!!!!
Amigo Raonny que gostou! Fico feliz de ter sintetizado bem as suas impressões da banda que, é claro, são minhas também. O Blues Pills, como muitas de sua geração, são o respiro, o oxigênio necessário para a perpetuação do mais puro e genuíno rock n' roll. Ele, como muitos dizem por aí, não está morto, está mais vivo do que nunca. Abraço!
ExcluirBelíssima descrição meu amigo Paulo! Sem dúvida este álbum mostrou uma banda direta, crua e agressiva, mas você percebe que é uma banda cheia de recursos, que certamente amadurecerá, tem capacidade de se desenvolver. Uma banda que, apesar de nova, mostra personalidade e com uma sonoridade muito bem definida. O poderio instrumental é grande, a vocalista é talentosa, conseguindo ter uma voz melódica e rasgada, ao meu tempo, manipula a seu bel prazer. Uma banda que vem melhorando a cada trabalho. Recomendo a audição de seus álbuns lançados após esse EP. Abraço e obrigado pelo comentário.
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