Atualmente estamos
testemunhando uma série de imbróglios judiciais acerca de propriedade
intelectual. O advento da internet, das redes sociais e da infinidade de
informações contidas na grande rede parece ter aumentado significativamente
tudo isso.
No universo da música não tem
sido diferente. Músicos e bandas entrando processos seus colegas de profissão,
acusando-os de plágio, de roubo de propriedade intelectual.
Presenciamos um dos mais
emblemáticos casos envolvendo a gigante banda britânica Led Zeppelin que foi
acusada de plagiar trecho de uma música da banda norte americana Spirit, quando
a banda de Plant, Gonzo, Jones e Page conceberam o clássico “Stairway to
Heaven”.
O Zeppelin teve nas costas
outras acusações no passado com as faixas de blues dos seus primeiros álbuns de
estúdio, sendo colocado em cheque a sua idoneidade artística e tudo o mais.
No caso da banda Spirit, o
Zeppelin foi absolvido de todas as acusações. Mas quando podemos, como fazemos,
como analisamos casos de plágio, de apropriação da propriedade intelectual?
Quais os critérios?
Quando tais situações chegam
na Justiça, alguns vereditos são tomados na internet por alguns juízes
escondidos nas redes sociais que, sem nenhum critério técnico, providos apenas
de intolerância sonora, definem plágio, cópia ou coisa que o valha.
Mas preciso repetir a
pergunta: o que é plágio? O que é influência? Não podemos negligenciar a
segunda opção nunca! Como uma banda recente de hard rock, por exemplo, não ter
como influência, como inspiração, bandas do naipe do Deep Purple, o próprio Led
Zeppelin e o Black Sabbath, tidas como a Santíssima Trindade da música pesada?
Alguma nuance terá, creio que
isso seja consenso entre todos, bem como também a cópia, mas discutir isso nos
dias de hoje, com uma gama tão diversificada de bandas e músicas, sobretudo no
universo, ainda selvagem e inexplorado do rock n’ roll, seria uma total perda
de tempo. Discutir e crucificar as bandas, em plena rede social, a troco de
nada.
Presenciei algumas homéricas
discussões que descambaram para o ódio gratuito e polarizado, esquecendo que a
música é para nosso deleite e, se não aprecia determinadas músicas, basta
esquecer delas. Não digo que seja um cidadão que não aprecie o debate, mas esse
sempre baseado nos preceitos civilizados defendendo, com consistência, os seus
posicionamentos.
Disse isso tudo, nesta
quilométrica introdução, para ilustrar uma pequena experiência que tive ao
conhecer, recentemente, uma banda inglesa que já pelo nome pode acarretar em
uma celeuma gigantesca nos dias de hoje. Bem, poderia ter caso ela fosse
conhecida, mas para variar, caríssimos leitores, o blog trata de bandas raras e
obscuras. E essa parece ser mais do que isso: Falo do SUPERNAUT.
Duvido que, aos que apreciam o
bom e velho Black Sabbath, lembrará desse nome, que remete a uma música da
banda de Birmingham, do icônico “Vol. 4”, lançado no ano de 1972.
Definitivamente não
conseguiria ser taxativo nesse sentido, pois, por se tratar de uma banda pouco
conhecida, pouco se tem de informações mais concretas a esse respeito na web.
Mas ao ouvir o seu único álbum, homônimo, supostamente lançado em 1974, é
inevitável não deixar de lembrar da sonoridade suja, pesada e indulgente dos
primórdios do Sabbath.
Assim é “Supernaut”: pesado,
guitarra arrastada e suja, riffs de guitarra pegajosos, baixo pulsante e
bateria pesada. Uma sonoridade suja, despretensiosa, de uma banda garageira que
não estava nem um pouco preocupada com sofisticação e complexidade. Assim era o
Black Sabbath nos seus três primeiros álbuns.
Pronto! Um prato cheio para as
discussões de plágio, cópia e falsidades afins. Não gostaria de entrar no
mérito dessa discussão que confesso ser deveras cansativa, mas tentar focar no
mais importante: na sonoridade e na história que envolve essa banda britânica.
E por falar em histórias,
vamos a ela, às poucas informações que circulam na grande rede e que geram
algumas controvérsias. O Supernaut teria sido formado em Londres no ano de
1973. Teria? Sim, caros leitores, teria! Reza a lenda de que o único álbum que
eles lançaram, em Derbyshire, em 1974, o homônimo, seria uma demo gravada nos
anos 1980, mas que também carece de maiores informações.
Mas ao ouvi-lo, além do peso
que poderia se “adequar” ao heavy metal que estava em voga em meados dos anos
1980, traz também um moog que “destoa” daquela década. Talvez a palavra correta
não seria “destoa”, mas não fosse popular em pleno anos 1980, sob o aspecto
comercial da coisa.
Então aposto que a tal
material, que goza também de uma produção aquém, não teria sido concebido nos
1980. E qual o interesse em gravar um material pouco digerido por uma indústria
conservadora e ortodoxa e fingir ser antigo?
E por falar em rejeição há
“rumores” de que o Supernaut já tinha praticamente um acordo firmado com a
Vertigo Records, mas os seus executivos os recusou porque eram muito pesados e,
consequentemente, teriam um baixo potencial vendável.
Em 1975 a Ariola pediu a banda
para gravar alguns covers dos Eagles, que estavam no ápice do sucesso à época,
para garantir um acordo e a banda fez isso, gravou algumas músicas, mas ficaram
tão putos com o resultado, com o que fizeram que se separaram. Essas faixas são
da demo original (antes conhecidas como “The Effigy Tapes”) e que teria sido a
pá de cal para o Supernaut.
Algumas histórias, envoltas em
névoas, faz da banda e sua sonoridade algo muito, mas muito obscuro. E a sua
natureza sinistra, as suas histórias indefinidas definitivamente me cativou e,
claro, a sua música. Independente de questões cronológicas e protocolares a sua
música merece exaltações, sobretudo por aqueles que apreciam heavy rock, occult
rock e afins.
“Supernaut” é puramente instrumental, com uma distorção suja, tosca e garageira, além, claro, pesada. Há, como disse, incursões de teclados (Moog Synthesizer) que dão um toque satânico bem vintage, bem retrô que nos remete a Salem Mass, Coven e, óbvio, Black Sabbath. Um álbum estranho com riffs de guitarra contínuos, sem virtuosismos, porém muito legais.
O Supernaut tinha em sua
formação, quando gravaram seu único álbum, os seguintes músicos: Glynn Serpell,
nos vocais, Brian Took, na guitarra, Peter Oldham, no baixo, Barry Stonehouse
na bateria e Mark Hodgkinson nos teclados. Confesso, amigos leitores, que essa
aura de incertezas está me excitando! Mas rola as más línguas dizendo que a
formação da banda e até mesmo algumas fotos são fictícias. Porém vamos ao que
interessa e dissecar faixa a faixa de seu único trabalho.
O álbum é inaugurado pela
longa faixa de nove minutos chamada “Keeper of the Keys” que já diz a que veio
com riffs de guitarra pesados e pegajosos, sujo como o proto doom, arrastado e
tenebroso. O moog também é cheio de energia e o que poderia ser um contraste
harmoniza em uma massa densa e pesada que se confirma com a “cozinha” cuja
bateria marcada está alinhada com o baixo pulsante.
Na sequência vem “Darkness
Falls” com uma pegada tipicamente hard rock, sempre com o moog trazendo uma
atmosfera sombria e estranha. Os riffs de guitarra, indispensáveis, surgem a
cada momento confirmando peso e algo deliciosamente tosco e garageiro.
Segue com “The Fog” com a
pegada heavy rock pairando. Hard rock, heavy metal de vanguarda em uma mistura
explosiva que estranhamente “harmoniza” com os teclados que insistem em trazer
a pegada de occult rock com uma textura soturna. Mas arrisco em dizer que “The
Fog” entrega algo mais animado ao álbum, apesar de tudo.
E fecha com “He Was a Robot”
que teimosamente traz o riff de guitarra de um típico e poderoso hard rock
setentista travando um “duelo” com o bom e velho moog. O riff é alto, intenso,
denso, pesado e a textura do teclado intensifica a sua proposta sombria e
soturna, trazendo à tona o occult rock.
As audições podem soar falsas,
te lembrar algo que já ouviu em algum momento de sua vida das famosas bandas
que conhece de ponta a ponta de sua rica e vasta discografia. As discussões
acerca dos plágios e inspirações podem rondar as suas intenções de definir a
sonoridade de uma banda e seu álbum, mas se permita, primordialmente, a ouvir e
curtir cada nota, cada melodia.
Afinal essa é a nossa razão
neste mundo quando se fala na música de que tanto amamos: ouvir e se arrepiar
com o que gosta. E quando acontece, teremos o melhor e mais passional dos
resultados.
O Supernaut de fato não traz nada de arrojado, de vanguardista, de novo. Mas traz o que há de mais significativo na música pesada: vivacidade, algo orgânico, despretensioso e indulgente. Não sabemos da veracidade das informações que circulam sobre a sua história na grande rede, mas dessa vez as supostas ausências de veracidade trouxeram algo extremamente excitante e solar.
A banda:
Brian Took na guitarra
Barry Stonehouse na bateria
Peter Oldham no baixo
Mark Hodgkinson nos teclados
Glynn, Serpell nos vocais
Faixas:
1 – Keeper of the Keys
2 – Darkness Falls
3 – Win or Lose
4 – The Fog
5 – Night Watch
6 – He Was a Robot
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