sábado, 27 de setembro de 2025

Amos Key - First Key (1973)

 

É possível extrair boa música de um prog rock com peças descontraídas e repletas de improvisação e experimentação? Talvez essa pergunta não passe de um devaneio febril de minha parte, mas confesso que, a aventura pela qual estou submetido graças às histórias que tenho, a base de muita galhardia, contado neste reles blog, essa pergunta insiste em povoar os meus pensamentos.

Acredito que tais questionamentos surgem por conta de estereótipos que se constroem em certas vertentes do rock n’ roll e que, de alguma forma, nos aprisiona em determinadas questões que não tem, a meu ver, nenhuma ou mínima validade de aprofundamento: o rock é o rock e ponto final. Tudo é rock n’ roll. Evidente que nos deixamos seduzir em questionar ou abordar o que é hard rock, prog rock, blues rock, porque eles estão nas músicas das bandas, mas o fato é que tudo é rock.

Mas de um tempo para cá tenho feito essa pergunta: o prog, tido como uma música sofistica, e de fato é, pode ter uma intima ligação com uma sonoridade mais despretensiosa, improvisada, minimalista ou ainda suja? E, contando, como disse, certas histórias aqui neste simples e humilde blog, tenho desbravado alguns álbuns e bandas que, ao ouvir, me entrega um prog rock capaz de ser despretensioso, calcado em jam sessions ou até mesmo sujo.

E fazendo algumas incursões no universo da música rara e obscura eu lembrei de uma banda, claro, com essa proposta e que, de alguma forma me trouxe a resposta, ou pelo menos uma das respostas, a essa inquietante pergunta. Qual é? AMOS KEY.


Amos Key

A banda alemã Amos Key sintetiza, pelo menos em meus pensamentos, o conceito de uma banda progressiva, mas que traz uma espécie de escárnio sonoro, porque, intencionalmente, traz um som, em seu único álbum, lançado em 1973, de nome “First Key”, uma sonoridade despretensiosa, pouco arrojada, mas ao ouvi-los, percebe-se, por exemplo, referências de bandas icônicas como Emerson, Lake & Palmer e a outra alemã Triumvirat. E, convenhamos, bons amigos leitores, são bandas icônicas porque trazem sofisticação ao seu som. Porém, no caso do ELP, você percebe também, sobretudo ao vivo, uma sonoridade pesada com apresentações arrebatadoras.

Talvez você, um dos poucos certamente, que esteja lendo esse texto deverá me achar um herege, um leviano que está ousando em associar a música do Emerson, Lake & Palmer, a algo sujo, agressivo e até despojado, apesar da sofisticação e da qualidade de seus músicos, mas há também uma liberdade criativa sonora, que propicia uma sonoridade tão diversa e pouco rotulada.

O Amos Key, com seu primeiro trabalho, pode não ter oferecido nada de novo e arrojado, mas nos ensina que é possível aliar certas coisas que, dentro da música, tão dogmatizadas, torna-se possível, embora inusitados. Mas mesmo com todo o aparato pouco ortodoxo, digamos, os instrumentos são executados de forma virtuosa e com qualidade. Sem dúvida “First Key” é um trabalho que deve ser procurado e apreciado por puristas do prog rock sofisticado e até por aqueles que gostam também de algo mais sujo e agressivo. Todo o álbum é produzido de forma clara e poderosa, não podemos negligenciar isso!

Inclusive encontrei uma citação da própria banda falando da sua música e é emblemática a forma como a aborda, descontruindo, de forma categórica, e até engraçada a sua sonoridade, aderindo ao conceito de “progressividade zero”, onde tal vertente sonora estava em voga, principalmente no ano do lançamento de seu primeiro álbum, 1973. Leiam:

"Um verdadeiro tesouro de mutilações de música clássica, fragmentos anêmicos de jazz e clichês de rock desdentados. Há uma falta de substância musical para improvisações, então você conceitua. Mas simplório, muito simplório. Não há preocupação, nem fundo ideológico. Progressividade zero."

As informações recomendam que os potenciais compradores garantam que "adquiram protetores auriculares de bom tamanho em tempo hábil".

Mas falemos ou pelo menos tentemos falar um pouco do Amos Key, porque pouco se tem de referência dessa banda na grande rede. A banda foi formada na cidade de Emmering, na Baviera, no ano de 1970 e tinha na formação um power trio: Thomas Molin (também conhecido como Thomas Müller, teclados, vocais), Andreas Gross (baixo, guitarra, vocais) e Lutz Ludwig (bateria).

Os primórdios do Amos Key foram dedicados ao rock clássico, trazendo a música clássica e a “harmonizando” com o rock n’ roll. E isso refletiu-se no seu álbum onde é notório as influências de Bach, Beethoven e Schumann, trazendo também, como disse, os clássicos do rock progressivo como ELP, Ekseption e The Nice.

“First Key” traz sim uma música complexa, mas muito acessível. São três músicos talentosos, diria arrojados e ousados e a sua sonoridade tem o baixo, bateria e primordialmente o teclado como instrumentos centrais, com a guitarra aparecendo ocasionalmente, muito discretamente. Há momentos em que a som adquire uma atmosfera sombria, com tecidos soturnos, mas a nítida sensação é de que esses caras se recusam a se levar muito a sério. Definitivamente “First Key” é um álbum despretensioso e bem divertido de ouvir, embora tenha nuances bem definidas de complexidade, com o prog sinfônico em voga, com pitadas generosas de uma música pesada.

Como disse o teclado é o cerne da música e, embora óbvio, traz qualidade à música e a surpresa fica para a seção rítmica. Certamente ao ouvinte a bateria e o baixo trarão surpresa. É uma música que flui. Os vocais podem não ser apurados, o sotaque forte e evidente e a mixagem não é das melhores, mas a quem diga que tudo isso é o “charme” da coisa e eu confesso que isso me atrai de forma arrebatadora.

O álbum é inaugurado com a faixa “Shoebread” e já mostra a banda no seu auge, dando o seu cartão de entrada. Os teclados te introduzem ao prog rock, ao prog sinfônico, os interlúdios “prog” são extremamente cativantes, mas te remetem também ao psych dos anos 1960, com uma pegada lisérgica, ácida. É inegável a seção rítmica com seu talento e arrojo, entregando uma vibe jazzística pesada e animada. As variâncias de ritmo corroboram a pegada progressiva. O que eles são capazes de fazer com uma música de pouco mais de quatro minutos!

"Shoebread"

Segue com “Ensterknickstimmstamm” que traz, de imediato, as influências de ELP, com os teclados sendo tocado de forma enérgica, intensa e extremamente vibrante, tão vibrante e intensa que chega a ser pesado e agressivo. Mais uma vez a bateria e baixo tocados ao extremo. Baixo pulsante e pesado, bateria com uma batida forte. Na metade da faixa as teclas ficam mais sombrias, pesadas, mas logo voltam ao original, enérgica e cativante. O solo de teclas é arrebatador.

"Ensterknicktimmstamm"

"Knecht Ruprecht" já me remete a bandas como Triumvirat, fazendo tal referência por esta se tratar de uma banda, digamos, um pouco mais famosa da Alemanha. Segue basicamente a proposta da faixa anterior: peso, teclados em evidência corroborando o peso da música, juntamente com o baixo e a bateria dando todo o “corpo” à música. Diria que esta faixa tem até um pouco de velocidade.

"Knecht Ruprecht"

“Sometimes...” é sombria, é soturna e os teclados, embora mais contidos, é estranho e perigoso, com vocais mais discretos e quase anasalados. Segue com “Got the Feelin’” que retorna ao viés mais pesado e vibrante, a versão predominante da banda neste álbum. Já se percebem, finalmente, riffs de guitarra, com a seção rítmica assumindo protagonismo.

"Sometimes"

“Escape” começa com um choro de bebê e traz consigo, de volta, o prog rock em sua versão mais genuína com os teclados cheios de energia, intensos e vibrantes. As viradas rítmicas ganham força e arrebatam. Aqui, nesta faixa, é admirável o aparato instrumental. A sinergia é esplêndida entre baixo, bateria e teclado.

"Escape"

“Important Matter” começa com um solo de teclado mais austero, algo de órgão de igreja, com o baixo dando uma camada mais consensual e vai, a música, ganhando mais corpo, ficando, gradativamente mais pesada, a bateria com uma batida mais jazzy e pesada, um fusion bem interessante. O prog e o fusion se fundem em uma música solar e vívida.

"Important Matter"

“Dragon's Walk” segue com o mesmo curso musical da faixa anterior: o cerne sonoro que gira em torno dos teclados, a bateria aqui não é tão pesada e segue, em uma espécie de duelo, com os teclados, além de uma pegada jazzy com destaque para a bateria, mais uma vez. O prog se revela nas viradas de bateria, nas variâncias rítmicas muito bem executadas.

"Dragon's Walk"

E fecha com a faixa título, “First Key”, que traz, mais uma vez, aquele órgão sacro muito interessante e austero, com o destaque para o baixo, frenético e pesado, cheio de groove. A bateria é cadenciada, fazendo da faixa mais acessível e até mesmo solar.

"First Key"

Infelizmente a banda não teve uma vida e trajetória longeva, findou suas atividades em 1976. Passeou por grande parte dos anos 1970, mas sem produzir mais material e, talvez estigmatizado por comparações maldosas com o Emerson, Lake & Palmer etc. Evidente que as influências são nítidas, mas isso não desmerece o que o Amos Key produziu e nem por isso pode ser constatado como plágio ou algo do tipo.

“First Key” é divertido, pesado, despojado, despretensioso, mas profundo e complexo, por vezes e nem por isso pode e deve ser considerado como um trabalho banal. A contribuição dos músicos é espetacular e, mesmo trazendo uma sonoridade atípica, tem, muito bem definido, a sua estrutura sonora. Ludwig toca bateria de forma excelente e o baixo de Andreas Gross traz uma carga potente, vibrante e vívida ao som da banda, embora ele tenha declarado que se via um músico “inacabado” em comparação direta aos seus colegas de banda. O fato é que ele tocava de forma fresca e concisa. Mas são as teclas de Molin que molda o som da banda. É o cerne da sonoridade do Amos Key!

“First Key”, que foi lançado pelo selo Spiegelei, em 1974, teve poucos relançamentos ao longo dos anos. Ele foi lançado, pela gravadora Long Hair, em 2016, no formato LP, em 2016, na Alemanha. E naquele mesmo ano, também pelo selo Long Hair, foi relançado, no formato CD, o álbum do Amos Key.

E falando em relançamentos, em 2010, também lançado pelo selo Long Hair, foi veio ao mundo “Keynotes”, com uma apresentação do Amos Key no SWF, em Baden-Baden, sendo remasterizado por Jörg Scheuermann. Essa apresentação aconteceu antes do lançamento de seu álbum de estúdio, em 1973 e somente em 2010 ganhou luz.

"Keynotes" (1973 - 2010)

Convém lembrar que também que foi lançado um single, de forma oficial, que estava planejado para o ano de 1975. Provavelmente seria um segundo trabalho que não teve sequência. O Amos Key, quando gravou esse single, de nome “Fairy Witch”, era um quarteto e contava, além dos já músicos conhecidos que compuseram o álbum de 1974, tinha, no vocal e guitarra, Helmut Jungkunz. Em 2022 foi lançado “Third Key”: The 70 Studio Tapes” que, como o nome sugere, traziam gravações de faixas antigas da banda, dos seus primórdios. Uma banda altamente recomendada!






A banda:

Andreas Gross na guitarra, baixo e vocais

Thomas Molin nos teclados e vocais

Lutz Ludwig na bateria

 

Faixas:

1 - Shoebread

2 - Ensterknickstimmstamm

3 - Knecht Ruprecht

4 - Sometimes...

5 - Got The Feelin

6 - Escape

7 - Important Matter

8 - Dragon's Walk

9 - First Key 



"First Key" (1973)











 












 

















sábado, 20 de setembro de 2025

A Euphonious Wail - A Euphonious Wail (1973)

 

A psicodelia fervia na costa californiana em meados para o fim dos anos 1960. Bandas como Jefferson Airplane, Quicksilver Messenger Service e tantas outras ditavam as regras sonoras e culturais daquela região e de todos os cantos dos Estados Unidos. Era a voz do rock n’ roll, que vibrava com o experimentalismo e as viagens lisérgicas, com guitarras ácidas, o som, por vezes, dançantes. Era o “flower power”, era a cultura do “paz e amor” e contra a guerra do Vietnã e outros dogmas sociais.

Não podemos negligenciar também que dentro dessa cena que, para muitos pairou na controvérsia em todos os aspectos, que variam da própria música, como no comportamento, haviam bandas que ousaram trazendo sonoridades arrojadas e diferentes que, por consequência, flertaram com a marginalidade, caindo no ostracismo.

Temas sombrios, de sonoridades pesadas e densas, tingiam de uma realidade nua e crua os escombros de uma sociedade pseudo conservadora e tornando-a palpável na sua música, tendo como exemplo clássico, bandas como Black Sabbath, The Stooges, Alice Cooper, que tinha um som cru, seco, poderoso, pesado e letras horripilantes, paranormais e ocultas.

Por outro lado, bandas assumiram outras vertentes mais ousadias, flertando, não só apenas com o som que dominava a costa da Califórnia na segunda metade dos anos 1960, mas também absorveu outros estilos que estavam em voga já nos anos 1970, sobretudo no início daquela década, como o hard rock e o rock progressivo. Posso, caros e estimados leitores, citar uma banda que diria ser seminal: A EUPHONIOUS WAIL.

A Euphonious Wail

Claro que poucos conhecem diante do arsenal de bandas clássicas existentes na transição das décadas de 1960 e 1970, mas esta banda que apresento trazia alguns atrativos que realmente são dignos de atenção, no mínimo. A banda é produto de seus primórdios e do período que produziu seu único álbum, de 1973, autointitulado.

Mas antes de falar do seu único trabalho lançado, falemos um pouco sobre a banda. O A Euphonious Wail surgiu em Santa Rosa, na costa da Califórnia, no ano de 1968. O nome da banda veio da inspiração da música “The Euphonious Whale”, de Dan Hicks. Durante os cinco anos que separaram o seu surgimento e o lançamento oficial de seu álbum, a banda se apresentou localmente abrindo para bandas como Iron Butterfly e Steppenwolf.

As apresentações da banda eram animadas e por vezes explosivas e a sua sonoridade pouco deslocada do que se fazia à época parece ter sido um dos motivos pelo qual alguns selos não tenham contratado o A Euphonious Wail para a gravação de seu primeiro álbum. Mas haviam algumas gravadoras que assumiam o “risco” e traziam à tona essas bandas, digamos, arrojadas.



E foi assim que a Kapp Records, graças à essas apresentações, decidiu levar o A Euphonious Wail para o estúdio para gravar “A Euphonious Wail”, em 1973. A banda era composta por Doug Hoffman (bateria), Bart Libby (teclados), Suzanne Rey (vocais), Steve Tracy (guitarra, vocais) e Gary Violetti (baixo).

Alguns críticos classificam a música do A Euphonious Wail como hard prog e não deixa de ser uma realidade, pois, como disse, a banda flertou com várias vertentes do rock que estavam em voga e também fora de moda, como o hard rock, profundamente evidenciado pelo som da guitarra Steve Tracy, bem como o rock psicodélico, graças a sua origem, além do próprio rock progressivo e até mesmo nuances de soul music garantidos pelo vocal feminino de Suzanne Rey.

O fato é que a banda era difícil de se rotular e o seu álbum corrobora essa condição, trazendo um caldeirão de um alimento sonoro com várias camadas e temperos. Bom amigo leitor se gostas de bandas versáteis e pouco estereotipadas, aposte em A Euphonious Wail e seu único trabalho, de 1973.

O álbum foi co-produzido e projetado no MCA Recording Studios por Brian Ingoldsby, que trabalhou com Joe Cocker, Jimmy Web, Biff Rose, Linda Perhacs, Fanny Adams, Elton John entre outros. O enigmático desenho da capa do álbum foi feito por Michael Hawes e dependendo de como você olha para ele, se vê algo completamente abstrato ou até mesmo obsceno. O fato é que essa arte um tanto quanto surrealista traz certo apetite para a audição deste belo álbum.

O álbum é inaugurado com a faixa “Pony” que tem uma incrível introdução de baixo bem dançante ao estilo soul e dessa forma a música vai se desenvolvendo, com essa pegada, mas traz também algo de psych e hard rock, com a predominância do órgão, dos teclados e de riffs pesados de guitarra. O final é pesado, o “duelo” entre guitarra e teclado é espetacular! Psych, rock e soul na medida certa e com uma dose bem inusitada e ousada.

"Pony"

Segue com “We've Got the Chance” continua na pegada mais soul music com “pitadas” mais rock! Definitivamente a guitarra traz o lado rock às músicas. As teclas, mais discretas, não negligenciam, ainda assim, o seu protagonismo. Aqui domina o vocal feminino de Suzanne Rey que se mostra alto e vívido. A música vai ganhando “corpo”, tendendo, cada vez para o hard rock, os solos de guitarra são de tirar o fôlego e corrobora o seu lado mais pesado.

"We've Got the Chance"

“Did You Ever” tira o pé do acelerador e mostra a primeira balada do álbum. A bateria cadenciada e lenta traz lembranças de jazz melancólico e introspectivo, os teclados lembram um psych, o vocal masculino é límpido e transparente. O solo de piano é simplesmente espetacular e te alça a voos altos e contemplativos.

"Did You Ever'

Na sequência tem “When I Start to Live” que é introduzida com um órgão em camadas introspectivas e psicodélicas e assim continua até irromper em uma sonoridade mais solar e animada, agitada, com alguma velocidade. Bateria pesada e cadenciada e baixo mais pulsante mostra uma “cozinha” rítmica coesa e cheia de talento. Guitarra ácida e pesada revela, claro, o lado pesado da faixa.

"When I Start to Live"

“F#” entrega o lado mais raivoso do álbum! Aqui o hard rock reina absoluto! Bateria pesada, baixo distorcendo, riffs pegajosos de guitarra que desagua em solos pesados e agressivos, sem contar com os vocais que seguem a “proposta” da música, sendo gritados e altos. Espetacular!

"F#"

“Chicken” dá sequência a porrada sonora da faixa anterior e aqui o baixo protagoniza sempre pulsante e galopante, cheio de groove, com pancadaria agressiva e pesada da bateria, teclados energéticos e riffs e solos de guitarra de tirar o fôlego. Nessa faixa a performance instrumental é exuberante até o vocal de Suzanne entrar, trazendo mais balanço à faixa.

"Chicken"

“Night Out” continua na mesma vibe das músicas anteriores: pesada, animada, dançante, mas com uma característica mais radiofônica. Percebe-se, nessa faixa, uma pegada mais acessível, mas não menos interessante que as demais. O destaque fica para os riffs e solos mais diretos de guitarra!

"Night Out"

“Love My Brother” é mais cadenciada e calcada em uma levada mais soul rock. É contagiante a música, dançante e solar. A seção rítmica ganha destaque e o peso da guitarra traz o lado “encorpado” da música. Baixo cheio de groove, teclados ao estilo Deep Purple. Música cheia de recursos e muito, muito versátil, mostrando a capacidade instrumental de seus músicos.

"Love My Brother"

E fecha com “I Want to be a Star” que retorna à calmaria da balada e a voz límpida e transparente de Suzanne Rey conduz a faixa para a beleza sonora que se revela. Dedilhados e solos de guitarra faz da música uma “gangorra” sonora, com várias mudanças rítmicas. Na metade da faixa o peso ganha evidência até finalizar brilhantemente.

"I Want to be a Star"

O único do A Euphonious Wail, que teve uma visualização mínima na carreira, quando a banda encerrou as atividades, logo após o lançamento de seu único álbum autointitulado, foi o tecladista Bart Libby que tocou no EP da banda britânica “Terraplane”, de nome “Arrives”, de 1981. Aparece também nos créditos do álbum de Francis Anfuso, “Who Will Tell Them?”, de 1986.

“A Euphonious Wail” teve alguns relançamentos, depois de seu oficial, ocorrido em 1973. O primeiro relançamento foi na Austrália, em 1994, pelo selo W.O.T.S.V Ltda, no formato CD. O segundo, pelo selo Media Arte, em 2012, por toda a Europa, também no formato CD e o último, até onde posso saber, aconteceu em 2013, no Japão, pelo selo Vivid Sound Corporation.






A banda:

Suzanne Rey nos vocais

Bart Libby nos teclados

Steve Tracy na guitarra e vocal

Gary Violetti no baixo e vocal

Doug Huffman na bateria e vocal

 

Faixas:

1 - Pony

2 - We've Got the Chance

3 - Did You Ever

4 - When I Start to Live

5 - F#

6 - Chicken

7 - Night Out

8 - Love my Brother

9 - I Want to be a Star




"A Euphonious Wail" (1973)



























 







sábado, 13 de setembro de 2025

Piel de Pueblo - Rock de Las Heridas (1972)

 

Final dos anos 1960 e início dos anos 1970. A América Latina ainda não tinha sido acometida pelos regimes totalitaristas e autoritários que mancharia de sangue as soberanias de seus principais países, colocando nas cordas, as suas democracias. Claro que, quando tais regimes foram instaurados, os músicos e as bandas de rock sofreram e muito para divulgar a sua arte, principalmente aquelas bandas, cujas letras, tinham um forte viés crítico.

E a Argentina, em especial, foi e, claro, ainda é, um celeiro para o rock n’ roll e também um cenário para a inspiração aos músicos que tinham um viés fortemente crítico, dado seu agitado e opressivo governo nos anos 1970 que fomentou um sombrio momento de total autoritarismo.

Evidentemente, meus caros e estimados leitores, que podemos citar uma enormidade de bandas que fizeram a história do rock argentino, principalmente nos anos 1970, com flertes no hard rock e prog rock, mas gostaria de falar de uma, em especial, que teve uma curta passagem por este mundo, mas, ainda assim deixou um legado para a música pesada daquele país: PIEL DE PUEBLO.

Piel de Pueblo

Para muitos ela não era conhecida e de fato não teve holofotes para a sua precoce e fugaz vida na cena rock da Argentina, mas aqui neste reles e humilde blog, as bandas e/ou projetos “fracassados” tem vez e por aqui a abnegação por difundi-las é imensa, porque apesar da pouca fama, deixou uma marca importante para a história do hard rock argentino com seu único álbum, lançado em 1972, chamado “Rock de las Heridas”.

Porém antes de falar de seu seminal álbum, convém trazer à tona a história por trás do Piel de Pueblo que, ao contrário da banda, fez fama, não só no rock n’ roll, mas em outras vertentes culturais: falo de Alberto Ramón Garcia, conhecido como “Pajarito Zaguri”, que esteve à frente da fundação do Piel de Pueblo, na virada de 1971 para 1972, e era músico, compositor e ator.

Pajarito Zaguri deu seus primeiros passos musicais, em meados dos anos 1950, mais precisamente em 1956, na banda “Los Shabaduba”. Em 1966 foi co-fundador de uma banda importante da Argentina, chamada ” Los Beatniks”. Mas durou pouco tempo e, com a sua dissolução, em 1969, se apresentou com algumas bandas em um curto período de tempo, como “Los Náufragos” e “La Barra de Chocolate”.

Quando Zaguri deixa a banda La Barra de Chocolate, desejava criar um projeto mais ousado, trazendo uma versão mais pesada a sua música, com uma pegada blues rock e de viés politizado e para a empreitada convoca seu antigo companheiro de La Barra de Chocolate e Los Beatniks, o guitarrista Nacho Smilari, que também teve uma breve passagem pela banda “Vox Dei”, após a saída de Juan Carlos Godoy e junto com Willy Pedemonte no baixo e Carlos Calabró na bateria, criariam o “Piel de Pueblo”. Tem a participação de Héctor López Fürst, músico de jazz e ex-integrante da banda “Los Blue Strings”.

Pajarito Zaguri

Banda formada, o Piel de Pueblo não demora muito para lançar seu debut, em 1972, o “Rock de Las Heridas”, pelo selo “Disc Jockey”. O único trabalho da banda entrega riffs contundentes e guitarras fuzz. As músicas são explosivas, com uma guitarra ácida, lisérgica, atingindo um som áspero, pesado, agressivo, mas com uma composição cuidadosa e dinâmica. Um hard rock típico, com passagens de blues rock, solos elétricos e estridentes que, pela mão de Smilari, constrói suas boas e instigantes passagens psicodélicas e que se somam as letras de mensagens poderosas de Zaguri, contribuindo para temas políticos, sociais e espirituais, dando um toque especial a este álbum que, além de mostrar a qualidade e o engajamento de seus músicos, revela também essa condição na estética, na arte gráfica do álbum, mostrando o sol a chorar e a Terra envolta em sangue.


Para se dimensionar o cerne poético das letras desse álbum, segue um trecho de uma das músicas e o quão impactante é, onde a reflexão e a atemporalidade se faz presente:

"Todo o tempo que você perdeu ontem

Recupere-o pensando hoje

Porque é hora de você saber ver

O que está acontecendo ao seu redor

O silêncio que eu faço é

Um som ensurdecedor

De uma voz que tem muita sede

De uma pele que quer ver o sol

Cara, você não quer ver

Cego você está em seu ser"

O álbum é inaugurado com a faixa “Silencio Para Um Pueblo Dormido”, composta por Pajarito Zaguri, entrega um ritmo instigante e hipnótico, produzido pelo baixo cujas notas se tornam caóticas, obsessivas e agressivo, bem agressivo. A bateria é pesada e as guitarras, freneticamente, não param de dedilhar, nos quase cinco minutos de duração da música. Riffs poderosos e desconcertantes que corroboram a sua condição de peso.

"Silencio Para Un Pueblo Dormido"

Segue com "La Tierra En 998 Pedazos", do baixista Willy Pedemonte, é indiscutivelmente a música mais complexa do álbum, com mais de nova minutos de duração traz o mais genuíno hard rock e proto metal. As arestas do heavy metal argentino se encontram nessa faixa. A letra ressalta a discussão atemporal do meio ambiente e o cenário de degradação desta. As guitarras da dupla Zaguri e Smilari dilaceram o ouvinte sem nenhuma piedade, com riffs pesados e solos de tirar o fôlego, dando apenas uma pausa no meio da música. Espetacular música!

"La Tierra en 998 Pedazos"

"Jugando a Las Palabras", composta pela dupla Pajarito e Smilari, mostra um viés psicodélico e ácida, sobretudo na forma como esta sensação dupla dedilha suas guitarras. Aqui a sintonia é perfeita, onde mostram os seus domínios com as seis cordas. É pesada, densa, sombria, viva!

"Jugando a Las Palabras"

"Por Tener Un Poco Más", composta por Carlos Calabró e Pajarito, mostra um lado mais progressivo, algo de sofisticado é percebida, é sentido. Embora as guitarras ainda estejam muito presentes, o que uma predominância de todo o álbum, é o violino que dá uma atmosfera mais progressivo, mais contemplativo. Uma “audácia” concebida pela banda diante de um álbum cujo hard rock impera!

"Por Tener Un Poco Más"

“Sexo Galáctico”, de Willy Pedemonte, traz o retorno à hiperatividade das guitarras que, de forma pesada e agressiva, traz uma verdadeira hecatombe sonora revelando a veia do hard rock e do heavy rock, com uma seção rítmica intensa, agressiva e cheia de groove.

"Sexo Galáctico"

“La Palida de Nacho” inicia uma sequência avassaladora de uma pegada hard e heavy, uma sequência poderosa atestando o DNA desse álbum calcado na música pesada e todas compostas pelo excelente Pajarito Zaguri. Assim o é “Vien Amigo a La Zapada” e fecha com a também pesada, mas com nuances bem “temperadas” de blues rock a última faixa: “El Rockito de La Bufanda”.

"La Palida de Nacho"

“Rock de Las Heridas” não teve o impacto, a repercussão esperada à época e o Piel de Pueblo, precocemente, se separou no mesmo ano do lançamento de seu único trabalho, ainda em 1972. Nacho Smilari juntamente com Carlos Calabró formariam a banda “Cuero”, no ano seguinte, 1973. Já Willy Pedemonte iria tocar guitarra com “Miguel Cantilo y Grupo Sur”. Pajarito Zaguri se reuniria com Rocky Rodriguez, produzindo o álbum “Salgan del Camino”, em 1973, com a banda “Rockal y La Cria”. Gravou um single chamado “El Pampero Libertad/Copado y Colocado, com ajuda de Alejandro Media e membros da banda “La Pesada”.

Em maio de 1975 Zaguri gravaria músicas com Kubero Díaz, se reencontraria com seu antigo companheiro de Piel de Pueblo, Willy Pedemonte, Topo Dáloisio (ex-Diplodocum Red and Brown), Gastón Cubillas (ex-Grupo Sur) e Guillermo Migoya que foram finalmente lançadas no LP de 1976, "Pájaro y La Murga del Rock & Roll", onde Pappo toca órgão em "Intentando Los Blues" e também piano em "El Vago Del Oeste". Pajarito Zaguri morreria de câncer em abril de 2013, em sua casa, em Buenos Aires.

“Rock de Las Heridas” teria um lançamento, pelo selo Disc Jockey, no mesmo ano, 1972, na Bolívia e um ano depois, pela gravadora Asfona, no Chile, todos no formato “LP”. Já em 1977, pelo selo Samantha, o álbum foi relançado em 1977 na Argentina, no formato “LP”. E somente em 2002, pela gravadora La Ciruela Electrica, mais um relançamento, também em “LP”, na Argentina.

O que torna “Rock de Las Heridas” especial, atraente, diria, é, acima de tudo, que os seus integrantes fazem sob o aspecto instrumental que é espetacular. São solos de tirar o fôlego, “produzidos” quase que sem parar e de uma forma diferente uns dos outros. Algo caótico, mas milimetricamente calculado. Este trabalho do Piel de Pueblo é recomendado para os ardorosos fãs de hard rock e até mesmo de heavy metal, aos que que curtem música pesada, bem como aqueles que se identificam com letras de músicas de protesto e de cunho social aguçado. Um álbum pouco conhecido, de uma banda obscura? Sim! Mas que deixa, quando se ouve, a percepção de que se trata, ainda assim, de um álbum divisor de águas para a história pesada, não somente na Argentina, mas em toda a América Latina.


A banda:

Alberto Ramón Garcia (Pajarito Zaguri) na guitarra e vocal

Carlos Calabró na bateria

Ignacio Smilari na guitarra

Willy Pedemonte no baixo


Com: 

Hector Lopez no violino


 

Faixas:

1 - Silencio para un Pueblo Dormido

2 - La Tierra en 998 Pedazos

3 - Jugando a las Palabras

4 - Para Tener un Poco Mas

5 - Sexo Galáctico

6 - La Palida de Nacho

7 - Veni Amigo a la Zapada

8 - El Rockito de la Bufonada




"Rock de Las Heridas" (1972)