Amigos leitores hoje
finalmente irei reparar um erro, que considero deveras grave, deste blog:
esquecer das bandas argentinas! E não se enganem não foi reflexo de rivalidades
futebolísticas ou coisa que o valha, mas talvez a falta da devida oportunidade,
até pelo fato de ser ainda um blog jovem e que tem muito a progredir.
É sabido que a cena rock
argentina é extremamente diversa, no que tange às vertentes sonoras, sobretudo
nos anos 1970: prog rock, hard rock são os estilos mais difundidos pelas bandas
e com essa prolífica qualidade, as cenas corroboram, com um público ávido em
consumir esse produto desde sempre.
E a banda de hoje representou
com extrema fidelidade e competência a cena pesada do rock n’ roll argentino e
felizmente e finalmente escreverei algumas linhas acerca dessa seminal e pouco
difundida banda. Falo do PLUS.
O nome é mais do que sugestivo
para essa banda que soube honrar, com a sua curta, porém efusiva discografia, a
cena hard rock sul americana, com particularidades bem visíveis, bem sentidas
em sua sonoridade, a tal da latinidade é peculiar.
Mas como aqui cabe um pouco de
história, falemos dos primórdios do Plus. O embrião da banda surgiu, como
sempre costuma ser, da dissolução de outra banda, a “Escarcha. Três de seus
integrantes, Julio Sáez, guitarrista, Hugo Racca, baixista e Cacho D’Aria,
baterista, juntaram-se a Saúl Blanch, vocalista, para formar o Plus, isso em
1975.
O Plus surgiu em um momento
convulsivo na política argentina, pouco antes do golpe de Estado, onde o país
cairia nas mãos da ditadura militar, tirando Isabel Perón do poder, em 24 de
março de 1976 chefiada pelo Tenente General Jorge Rafael Videla, Almirante
Emilio Massera e o Brigadeiro General Orlando Ramón Agosti.
Um período de repressão se
instauraria na Argentina e, claro, algumas expressões ou manifestações
contraculturais seriam alvos de ataques e censuras e o Plus, bem como toda a
cena rock, sofreria com esses reveses, tendo poucas ofertas de shows e
incentivo por parte de gravadoras que, com medo, evitaria contratar e/ou financiar
os “famosos subversivos” ou “hippies” que poderiam colocar à prova a harmonia
do governo opressor.
E foi exatamente no turbulento
ano de 1976 que o Plus lançaria seu debut
intitulado “No Pisar el Infinito”, alvo de minha resenha de hoje. A Plus
representaria, além dos entraves de falta de oferta de shows, o rock
alternativo, cuja cena abundava em bandas progressivas, de jazz rock, fusion
etc, sendo uma das principais bandas de seu estilo, juntamente com bandas do
naipe de El Reloj e Vox Dei.
Essa era efetivamente a
intenção quando da transição do Escarcha para o Plus. Era criar um projeto que
privilegiasse a pegada de clássicas e medalhonas bandas do estilo espalhadas
pelo mundo, tais como: Deep Purple e Led Zeppelin. Não sou um entusiasta das
comparações, mas é inegável que o Plus traz essas inspirações em seu álbum de
estreia.
“No Pisar el Infinito” foi
gravado no Film Records Studios entre 20 de julho e 4 de outubro de 1976 e
lançado pela “TK Discos” de uma forma quase que “artesanal”, sem um grande
orçamento e também não teve o devido apoio quando a banda seguiu em turnê.
Porém mesmo com as baixas
ofertas para se apresentar devido ao opressor cenário político com a censura
militar, a banda conseguiu realizar alguns shows e se mostrou bastante enérgica
em palco, afinal, a sua música ajuda e muito para essa condição.
O público curtiu muito “No
Pisar el Infinito”, a banda, a cada show, pelo menos os poucos que teve,
ganhava experiência, uma consistência e uma sinergia incrível. O álbum é
primordialmente calcado no típico, porém indefectível, hard rock setentista,
cru, com levadas latinas bem peculiares, sendo agressivo, pesado, mas
cadenciado e radiofônico em algumas faixas. A formação do Plus para este álbum
tinha: Julio Saéz na guitarra e vocal, Saúl Blanch no vocal, Hugo Racca no
baixo e vocal e Horácio D'Arias na bateria.
O álbum é inaugurado com a faixa
monstruosa de “Noches de Rock and Roll” que já introduz como um soco na jugular
com riffs pesados de guitarra, baixo pulsante e bateria em uma batida agressiva
e pesada. É um “exemplar” não apenas de hard rock, mas é perceptível o peso
mais voltado para o heavy metal. A seção rítmica traz o groove, a guitarra o
peso e vocal engloba tudo sendo alto e gritado. Abre o álbum dizendo a que veio
e representando a sua proposta devidamente.
“Tomame como Soy” é mais
cadenciada, suja, traz à lembrança “Master of Reality”, do Black Sabbath, diria
sem medo, apesar de não ser tão taxativo, afinal essas percepções são muito
particulares. O vocal soa mais melódico, mais bem trabalhado juntamente com os backing vocals. Os riffs de guitarra
continuam sendo destaque juntamente com os seus solos, apesar de simples, mas
diretos.
“Ya Tenés por quién Luchar” muda
o “humor”, o ambiente do álbum, com uma linda balada, com um lindo vocal, bem
mais melódico do que faixa anterior, algo meio dramático, emocional, com um
violão ao fundo, mas logo entra a seção rítmica que deixa a música mais
agitada, mas que não foge à sua proposta.
A sequência traz “La Chance
Sutil” retorna ao hard rock com a rápida introdução de bateria que abre para
riffs de guitarra pegajosos e baixo mais pesado, além de pulsante. O vocal,
melódico, implementa um alcance maior. Um hard rock mais ao estilo Purple e
Rainbow.
“Hablan de Tiempos Mejores”,
com seus vinte segundos, abre com um trabalho vocal que abre para a sequência
com a faixa “El Mago del Tiempo” que traz o habitual peso do álbum, com uma
pegada latina e meio psicodélica que traz à memória Carlos Santana, mas mais
eletrificado, com os riffs de guitarra pesados e dançantes. O mais legal é
ouvir os bongôs com os solos de guitarra. Convergem maravilhosamente, apesar de
atípicos.
“Lo Único que Es” é
melancólico, é sombria. O violão dedilhado na introdução que traz essa nítida
percepção da música, logo irrompe em uma explosão hard rock e o vocal logo se
transforma, sendo gritado, esgoelado. A seção rítmica, a “cozinha” ganha, mais
uma vez, destaque, entregando groove, vida à faixa.
“Occúltame Hermano” traz de
volta aquela sensação de uma música arrastada, algo relacionado ao doom, ao Sabbath dos primórdios. É uma
faixa com a guitarra suja, que me remete ao occult rock do início dos anos
1970, a bateria marcada, bem executada. Definitivamente uma das melhores e mais
versáteis do álbum.
E fecha com a faixa “Zapada
Final” e não poderia fechar melhor. O retorno do hard rock típico extremamente
pesado. A bateria é indulgente, arrogante, pesada e os riffs de guitarra muito
agressivos. A música segue em uma velocidade incrível e lembra um heavy rock de
vanguarda que entraria em qualquer álbum de uma banda de heavy metal
oitentista. Exemplar perfeito do hard rock!
As apresentações ao vivo, o
impacto midiático de “No Pisar el Infinito” e o antigo, mas eficaz, trabalho de
boca a boca dos novos fãs, rendeu um contrato com o RCA e o Plus para
lançamento do seu segundo álbum, em 1978, simplesmente chamado de “Plus”. Ele foi
renomeado pelos fãs com o nome de "Melancholic Girl", por causa de
uma música que contém mais de onze minutos de duração. Neste trabalho
participaram Celeste Carballo nos corais e o violinista Fernando Suárez Paz, do
Quinteto Astor Piazolla.
Mas essa segunda tentativa não
foi tão eficaz e o sucesso que a banda adquiriu, a duras penas, diminuiu
drasticamente. Chegaram a fazer uma turnê razoavelmente grande pela América do
Sul, com destaque na Colômbia, e quando já tinham um contrato novo com a
gravadora “Tonodisc” para gravar o terceiro álbum intitulado “Escuela de Rock
n’ Roll”, já em 1981, as diferenças internas, as brigas tornaram a vida do Plus
insustentável, inclusive o guitarrista Julio Saéz tinha saído antes da gravação
deste álbum, entrando em seu lugar León Vanella. A separação definitiva do Plus
aconteceria um ano após o lançamento do terceiro álbum, em 1982.
Saéz, o baixista Hugo Racca e
o baterista Cacho D’Arias posteriormente se juntaria a uma banda de nome “Dr.
Silva”, do tenista Guillermo Vilas, que admirava a sonoridade do Plus. De todos
os integrantes do Plus o único que conseguiu algum êxito comercial foi o
vocalista Saul Blanch que se tornou com quem o Rata Blanca gravou seu primeiro
álbum autointitulado, em 1988.
Hugo Racca morreu em 1988 e
Julio Saéz se tornou, após a separação de Patrício Rey y Sus Redonditos da
Ricota, empresário e guitarrista de Indio Solari. Em 2016 morreria o baterista
Cacho D’Arias. Em 2011 o álbum “No Pisar El Infinito” foi relançado e
remasterizado com duas faixas adicionais: “A Thousand Options” e “Hoy Te
Wonderas”.
Um álbum monstruoso e
obrigatório para qualquer fã das obscuridades do hard rock progressivo dos anos
1970. Este vai surpreender até mesmo aqueles que não são tão afeitos à música
pesada. Altamente recomendado!
A banda:
Julio Sáez na guitarra e vocal
Horacio Darías na bateria
Saúl Blanch no vocal
Hugo Racca no baixo e vocal
Faixas:
1 - Noches de Rock and Roll
2 - Tomame Como Soy
3 - Ya Tenés por Quien Luchar
4 - La Chance Sutil
5 - Hablan de Tiempos Mejores
6 - El Mago del Tiempo
7 - Lo Unico Que Es
8 - Ocúltame Hermano
9 - Zapada Final
Excelente banda argentina! Tenho esse CD, que remete aquele rock clássico mesmo
ResponderExcluirOlá Fabiano! Obrigado por deixar registrada sua mensagem por aqui. O Plus realmente foi uma grande banda! Merecia maior reconhecimento por sua importância para o hard rock argentino.
ExcluirO debut traz o clássico hard rock setentista, mas o segundo e último trabalho deles, "Escuela de Rock and Rock", de 1981, entrega um heavy metal, seguindo a "moda" das bandas dessa vertente de som dos anos 1980.
Obrigado!