Uma pergunta parece ecoar na
minha cabeça desde que esse reles, humilde e famigerado blog nasceu! E para
variar, bons amigos leitores, a farei de novo, porque essa banda se adequa aos
meus devaneios febris: Pode uma banda obscura, rara, que se não lançou álbum de
forma oficial em sua época, ser considerada pioneira ou uma das precursoras da
música pesada?
Será que esse tipo de
pergunta, que parece atormentar a minha vida, me acompanhar como a minha
sombra, pode ser tida como importante para mudar a história do rock pesado,
para a construção de um movimento, de uma cena?
A história! Essa palavra
mágica que permeia a essência desse esquecido blog que faz questão de dissecar,
com requintes de detalhes, as histórias esquecidas do rock n’ roll, das bandas
marginais, marginalizadas, que caíram no mais profundo ostracismo por uma série
de situações que levaríamos uma vida e centenas de páginas para contar.
Mas comecemos por essa banda que descobri recentemente e que me cativou, confesso, pelo nome que, quando revelar, vocês entenderão! Uma banda da Suíça que não conseguiu, lá pelos anos 1970, não conseguiu lançar nenhum trabalho oficialmente e que pereceu de forma precoce. Falo da ELECTRIC FUNERAL.
Conseguiu associar a clássica
música do gigante inglês do heavy rock, o Black Sabbath, saída de seu segundo e
icônico álbum, “Paranoid”, de 1970? Pois é, essa banda suíça traz em seu nome,
a música do Sabbath e torna-se inevitável a pergunta, aquelas que ecoam nos
confins da nossa cabeça e mente: Qual “Electric Funeral” veio primeiro: o da
banda rara e obscura da Suíça ou a do Sabbath?
Bem eu não consigo cruzar as
datas, mas o fato é que o álbum, embora não tenha sido lançado no período em
que as suas músicas foram concebidas, foram gravadas no mesmo ano em que o
Black Sabbath lançou seu debut e “Paranoid”, ou seja, em 1970.
Diante desse cenário podemos dizer que Electric Funeral e Black Sabbath que são bandas contemporâneas e que, de certa forma, são as pedras fundamentais do estilo! Será? Não quero cair nessa discussão difícil de pioneirismo, mas o fato é que não podemos negligenciar a importância do Electric Funeral para a música pesada, pelo menos na Suíça. Mas aqui, com o devido respeito, não há espaço para o gigante Sabbath, mas para as “fracassadas” bandas obscuras. Então vamos de Electric Funeral!
“The Wild Performance”, nome dado a essas músicas oriundas de fitas privadas de apresentações ao vivo e ensaios, como disse, gravadas em 1970, com exceção de uma música, chamada “My Destiny”, gravada em 1973, foram lançadas, pela primeira vez, em 1991, pelo selo Vandisk, como um LP muito limitado, com tiragem, pasmem, de 200 cópias numeradas, porém hoje muito procurado e, sem dúvida, se estiver sendo vendido, deve estar a preços astronômicos, teve uma reedição expandida e caprichada com som remasterizado e quatro faixas bônus, retiradas de rolos e fitas encontrados nos arquivos do Electric Funeral.
A sonoridade de “The Wild
Performance” é crua, sujo e pesado e o nome faz jus às músicas lançadas
finalmente de forma oficial. O lançamento de 1991, como disse, não foi tão
caprichado, mas também existe a precariedade pela qual tais faixas foram
concebidas originalmente. Porém o relançamento de 2019, no formato CD e também
LP, pelo selo Sommor (Guerssen), está um pouco melhor, porém, o “charme” da
sujeira e da selvageria dessas músicas, ainda estão lá, intactas.
O Electric Funeral foi formado
no final dos anos 1960, para algumas poucas fontes, a banda teria existido
entre os anos de 1970 e 1973 e foi formado por Edi Hirt, na bateria, Pierrot
Wermeille, no baixo, Alain Christinaz, na guitarra e Dominique Bourquin nos
vocais. Poucas, como disse, são as informações da banda, mas reza a lenda de
que o Electric Funeral era avassalador nos palcos, com apresentações poderosas
e tocando alto, muito alto e que ainda tocavam atrás de pilhas gigantes de
amplificadores Marshall. O som era tão pesado que nenhuma gravadora tradicional
ofereceu um contrato a banda.
“The Wild Performance” é
pesado demais para a sua época e não posso negligenciar a informação de que se
não fosse pela falta de qualidade do som, da produção do som, poderia se
extrair muito mais desse material, mas, por outro lado, é inegável,
principalmente para este que vos escreve, que é um charme ouvir esse som cru,
sujo e até mesmo brutal, esse hard rock áspero, com pitadas de psych e proto
metal que lembra o belo Edgar Broughton Band em algumas partes. Definitivamente
é para se ouvir esse som no ápice do volume! Então vamos falar de cada faixa!
O álbum começa com “People” com
uma introdução de bateria pesada e riffs e solos de guitarra sujas, que te
remete a um psych rock, com uma pegada hard rock aliado a uma lisergia. A faixa
vai ganhando em velocidade e assume uma carcaça proto metal muito bem definida
trazendo um vocal gritado. “War Funeral Song” me remete ao som sujo e arrastado
do doom e que vai mudando o andamento, com dedilhados de guitarra ácida, mas
logo vai ficando mais alto, agressivo, personificado por uma guitarra pesada,
com bateria espancada e baixo frenético e pulsante. Mas depois volta a ficar
arrastado! Diria ser um protótipo de metal progressivo!
“Black Pages” me traz a
lembrança de um hard rock com pitadas de occult rock. Uma sonoridade sombria e
aterrorizadora que descortina um Deep Purple em “In Rock” (Odeio comparações!),
com baixo pesado e desafiador, bateria marcada e agressiva e riffs de guitarra
abafados e de textura ácida! “Rock Ba Rock” também segue uma proposta mais
arrastada, uma balada rock com solos de guitarra mais longos e até mesmo mais
trabalhados, soando, em alguns momentos, mais sujo e cru, até mesmo selvagem.
“To Be One” tem grunhidos, tem
gritos altos e um groove ótimo, riff de guitarra grudento e pesado e um baixo
pulsante e arrastado. Lá pela metade da faixa ganha em velocidade, mais peso, o
baixo é esmurrado, os riffs de guitarra ficam mais pesados e velozes. Espetacular!
“We're Gonna Change The World” é o típico hard rock dos anos 1970, com uma
pegada cadenciada que entrega riffs grudentos de guitarra, baixo potente e
pulsante com solos de tirar o fôlego! Verdadeiramente traz uma energia
contagiante.
“Fly Away” é o puro e genuíno
heavy metal! Vocais gritados, aos berros, guitarras com riffs pesados e altos,
bateria pesada ao extremo. A faixa, certamente uma das melhores, é veloz e
agressiva e festiva! “My Destiny” segue a mesma pegada, com uma veia pesada e
agressiva, solos e riffs de guitarra pesados e animados, pura energia, com um
baixo cavalar lembrando uma banda famosa por aí...
“I Don't Know” começa com um
riff de guitarra poderoso e vocal, mais uma vez, gritado, bateria com uma
batida intensa e agressiva. Após os estridentes gritos do vocalista, o tom fica
engraçado, algo pastelão, mas que mostra o tamanho do rock de garagem dessa e
todas, na realidade, faixas desse álbum. “You Can Help” já traz algo um tanto
quanto atípico para um álbum que, até então, trazia hard rock. Essa faixa tem
traços visíveis de proto punk que lembra MC 5 e Stooges, certamente. E fecha
com outra versão para “To Be One”, que se revela mais veloz e frenética.
Pega-se os amplificadores
Marshall, aumenta o volume no máximo, no máximo que puder e aí está o Electric
Funeral: sujo, potente, despretensioso! Um hard rock dos anos 1970 como deve
ser! Essas músicas foram gravadas em um ou em uns shows ao vivo da banda. Não
se tem informações do local ou dos locais, mas provavelmente na parte
francófona da Suíça (Romandia). O Electric Funeral deve ser mencionado ao lado
de seus contemporâneos de bandas pesadas da Suíça como Toad, Haze, After Shave
e Pacific Sound. A versão remasterizada de “The Wild Performance”, lançada pelo
selo Sommor Records, teve uma tiragem de 500 cópias.
A banda:
Edi Hirt, na bateria
Pierrot Wermeille, no baixo
Alain Christinaz, na guitarra
Dominique Bourquin nos vocais
Faixas:
1- People
2- War Funeral Song
3- Black Pages
4- Rock Ba Rock
5- To Be One
6- We're Gonna Change The
World
7- Fly Away
8- My Destiny
9- I Don't Know
10- You Can Help
11- To Be One (Alternate
Version)




























