sábado, 5 de abril de 2025

Medusa - Medusa (1973 - 2018)

 

A cena rock do México era dominada pelo produto inglês e norte americano. Embora o rock, em língua espanhola tenha começado em 1957, as gravadoras, demasiadamente “globalizadas”, faziam capas de álbuns de bandas sem considerar a importância das composições originais que foram feitas desde então. Eram os covers e as músicas “internacionalizadas” que tinham potencial de mercado. A música era segundo ou terceiro plano.

Nos anos 1970, a cena rock mexicana começou, mesmo que timidamente, a ganhar contornos próprios, quando começaram a gravar suas composições próprias, suas músicas autorais, porém em inglês. Ficou conhecido como a “Onda Chicana”, porque as pessoas, conhecidas como “Chicanos” são descentes de americanos, mas de pais mexicanos.

E nesse caldeirão cultural e musical o rock mexicano foi sendo construído nos anos 1970 e foi se tornando popular e mesmo com as bandas compondo em inglês, elas se tornaram famosas e, então, a infraestrutura como programas de TV, mídia impressa e falada começaram a se desenvolver, e as bandas passaram a fazer turnês melhores e mais extensas e até mesmo no cinema, as bandas e a música começou a figurar em curto espaço de tempo.

E esse cenário foi propiciando o surgimento de festivais, muito inspirado também em icônicos eventos de músicas clássicos, tais como o Woodstock, Isle of Wight Festival, na Inglaterra, Festival Pop de Monterey, nos Estados Unidos e alguns menos conhecidos, como Varadero '70, em Cuba, Festival de Ancón na Colômbia, Festival Buenos Aires Rock, na Argentina entre outros.

Todos tinham, como base cultural e comportamental, o movimento hippie, estudantil, de jovens cansados do status quo e da onda pesada do conservadorismo que permeava em todos os setores da sociedade. O México, no que tange aos festivais, não ficou de fora e um, em especial, foi único na história não só daquele país, como de toda a América Latina, conhecido como Rock y Ruedas de Avándaro.

O festival ocorreu nos dias 11 e 12 de setembro de 1971, nas margens do Lago Avándaro, perto do Valle de Bravo e surgiu em um contexto político extremamente conservador, ditatorial e repressor e a oposição estudantil e juvenil, como em várias partes da América Latina e do mundo eram a oposição a esse governo, usando tais festivais de música como a força motriz para lutar contra esse regime opressor. Esse ativismo político dos jovens, ligado à música, ao rock n’ roll, como ponte de transgressão, queriam democracia, liberdade política e respeito a diversidade, direito dos trabalhadores e acesso a saúde e educação, entre outros pleitos.

E nesse contexto de opressão, de intolerância de todas as formas, a música rock mexicana e os seus músicos foram construídas. E um jovem foi, de certa forma, impactado por esses movimentos e, diria, foi parte integrante, um agente importante desse movimento. Falo do Victor Moreno, baterista e um dos fundadores de uma das bandas mais emblemáticas da cena hard rock do México: MEDUSA.

Medusa

Aos 17 de idade Moreno foi roadie do El Ritual, tida como uma das melhores bandas de rock do México (A resenha sobre seu único álbum pode ser lida aqui!) e, com essa brutal experiência, ele foi nomeado como gerente de palco do Festival Avándaro. Não precisamos dizer o quão gratificante deve ter sido para o Victor Moreno esse momento, vivendo, na pele, toda essa efervescência cultural que certamente serviu como arcabouço musical.

A Medusa surgiu neste contexto e foi um projeto, iniciado por Moreno e seu amigo Javier Plascencia, que era vocalista e baixista. Eles se conheceram na escola em 1968, em plenos ano estudantil com o embate ideológico com o governo opressor. Eles faziam parte, inclusive, do movimento estudantil do México que resultou no massacre de Tlatelolco que deixou muitas mortes e prisões de jovens estudantes. E diante desse cenário começaram a escrever músicas quando começaram a tocar em 1972.

A banda surgiu em meados de 1972 com a ideia de apresentar um heavy rock original e visceral ao estilo Blue Cheer, Cactus, Black Sabbath e outras bandas similares que serviram de referência para o estilo na transição dos anos 1960 para os anos 1970. Mas apesar de ser influenciada por essas bandas a Medusa trouxe originalidade ao heavy rock mexicano.

Os membros originais, além dos amigos Victor Moreno na bateria e Javier Plascencia Amoróz nos vocais e baixo respectivamente, trazia Luis Antonio Urguiza Zanella, na guitarra e mais tarde entraria, em 1982, Jaime García se juntou à banda, tocando guitarra e sintetizador. Devido a amizade de Moreno e Plascencia nos primórdios de suas carreiras, tiveram primeiro com Armando Nava e os Dug Dug’s e depois com bandas como Peace & Love, El Ritual, Náhuatl e Super Mama, entre outras bandas de Tijuana, pensou-se que Medusa também era dessa região prolífica do rock n’ roll mexicano, mas não, a banda não era, apesar também do estilo sonoro da banda e do apelo estético também.

A cena rock mexicana, apesar dos entraves políticos, foi bem recebida e, claro, Medusa estava no rol das bandas que tocaram nas rádios e isso fazia com que o som da banda, claro, ganhasse visibilidade e alguma credibilidade, até porque a sua sonoridade áspera e pesada, poucos faziam naquela época. A banda sempre cantou em espanhol, nunca fez música em inglês para atingir o mercado externo, nunca tocou covers também, apenas música autoral.

A Medusa, graças a essa visibilidade, logo após a sua fundação começou a realizar as suas primeiras gravações logo em 1973 na “Discos Raff” patrocinada pelos amigos da banda Náhuatl. Naquele ano lançaram um single com a música “Tan solo lo Haemos”, no lado A e Autodestructión" no lado B. No ano seguinte foi concluída a gravação de um EP, em 1974, com essas duas músicas mais duas novas faixas chamadas “Tratando de Olvidar”, composta em colaboração com Omar Jasso, tecladista da banda Polvo e posteriormente do Náhuatl e “Después De La Tristeza”. Devido a algumas políticas equivocadas da gravadora “Discos Raff”, Medusa deixou o cast do selo em 1975 juntamente com outras bandas em ascensão como Ciruela e Three Souls, adiando a gravação de um álbum, embora as gravações estivessem finalizadas.

Em 1977 a banda assinou contrato com a Orfeón para gravar o álbum. Será que dessa vez o sonho da Medusa se realizaria? Não ainda! O projeto fracassou novamente porque os executivos da gravadora queriam modificar substancialmente a essência de sua música, bem como de suas letras, porque consideravam pesadas, de cunho agressivo e pouco “comercial”. A Medusa, claro, não cedeu a esse assédio e, mais uma vez, a gravação do tão sonhado álbum não aconteceu e a gravadora deixou a banda na “geladeira”, congelando o contrato com a Medusa até o fim da gravadora depois. No entanto as músicas foram registradas na editora “Orfeón House” que até hoje detém os direitos das faixas.

“Medusa” entrega um volumoso e potente hard rock que pode, perfeitamente, ser considerado como um dos primórdios do hoje tão famoso e diria, saturado, stoner rock, com peso, guitarras lisérgicas, toques discretos de psicodelia e até mesmo um proto metal de muita qualidade e de fazer frente a muita banda oitentista da cena “New Wave of British Heavy Metal”.

O álbum começa com a faixa “Autodestruccion” que de imediato já traz aquele riff de guitarra sujo, arrastado, lembrando um indefectível doom metal, mas logo depois descamba para um proto metal, já com aquela também típica velocidade que notabilizou o estilo, com vocal gritado e alto. Segue com “Caminando Rumbo al Cementerio” introduz com riffs mais tipicamente setentista, ao estilo Sabbath, com uma pegada mais soturna, obscura e uma seção rítmica que corrobora tal condição. Vai ficando mais pesado, veloz, cadenciado e assim alterna. Nessa faixa a Medusa produz algo mais complexo em sua sonoridade.

"Autodestruccion" (Live)

“Crepusculo” começa introspectiva, mas logo entra o peso e a agressividade da bateria seguido por um baixo pulsante e intenso e solos lisérgicos de guitarra, mostrando um hard rock com pegadas psych que hoje conhecemos por stoner rock. Sim! Mais um atributo da Medusa mostrando sua referência sonora. “Despues de la Tristeza” começa flamejante com solos altos e poderosos de guitarra personificando o lado efetivo do hard rock típico setentista com um trabalho impecável, mais uma vez, da “cozinha” ditando o ritmo. Parece ser uma faixa ao vivo.

"Después de la Tristeza"

“Genes de Maldad”, que também parece ser ao vivo, traz, mais uma vez, o destaque na guitarra. Riffs de guitarra de um embrionário heavy metal faz dessa faixa, logo no início, vibrante, confirmando com bateria potente e rasgada, baixo pulsante e uma velocidade que entrega o “tempero” necessário aos apreciadores do heavy metal oitentista, por exemplo. Solos de tirar o fôlego confirmam o peso e traz ainda mais energia à faixa. “La Sombra de Nietzsche” dá mais uma contundente prova de que o proto metal pautou a música da Medusa em seu seminal álbum. A guitarra potente em seus riffs abre a faixa, trazendo à tona de um thrast metal envolto por notas de teclado que te remete a viagens mais contemplativas. É possível? Parece que com a Medusa sim! Heavy rock, proto thrash, prog rock. Essa faixa instrumental é um arrasa quarteirão!

"La Sombra de Nieztche"

“Medita Sinceridad” já começa com o pé na porta! Bateria marcada e pesada, riffs pegajosos e poderosos de guitarra, vocal rasgado e alto. O hard rock ganha força nessa faixa. Cadencia para uma pegada meio jazzy na bateria que logo irrompe em um solo avassalador de guitarra. “Momentos en la Vida” retorna ao som arrastado e pesado capitaneado pela guitarra em uma textura ao estilo doom metal. Sonoridade introspectiva e soturna faz é o tema central da melodia dessa música.

“Noche” começa a um delicado som de pássaros cantando e teclado meio sinfônico. Talvez um prenúncio de uma música progressiva, afinal a faixa conta com nada menos do que longos doze minutos de duração. Mas não necessariamente. O estrondo pesado do hard rock se manifesta com bateria pesada, baixo pulsante e guitarras lisérgicas. Mas o progressivo, com a sua maior característica, se revela, com várias mudanças de andamento, de ritmo, são perceptíveis na música. A textura do teclado traz uma pegada mais leve que característica a veia progressiva da música.

"Noche"

Segue com “Rompesuenos” que traz um “duelo” entre teclados e guitarra, que promove uma interação interessante entre peso e suavidade. Uma música mais diversificada. “Tan Solo lo Hagamos” volta ao proto doom pesado e arrastado. Baixo pesado, pulsante, bateria marcada, riffs sujos de guitarra. O típico peso do proto doom metal. E fecha com “Tratando de Olvidar” começa lenta, ao som de violões dedilhados acusticamente. A guitarra aos poucos aparece, a sonoridade ganha corpo, a balada rock se configura, mas o som continua acessível aos ouvidos.

"Tan Solo lo Hagamos"

Desde 1972, quando surgiu para a cena rock n’ roll mexicana, a Medusa dividiu o palco com a maioria das grandes bandas mexicanas que fizeram sucesso à época, que tinham destaque, com exceção em um período de grande hiato, de inatividade da banda que aconteceu entre 1984 e 1994, sendo que dois anos antes, em 1982, a Medusa deixou de ser um “power trio” tendo a entrada de Jaime Garcia, que tocava guitarra e teclado. Era uma nítida demonstração de que a Medusa queria modificar um pouco a sua sonoridade, o que culminou com o seu sumiço, em 1984. A banda estava desgastada.

Mas esse período, entre 1972 e 1984, a banda foi tocada nas rádios, fez várias apresentações em pequenos e grandes palcos, naqueles mais conhecidos aos mais simplórios, tocou em programas de TV mexicanas como “El Rock en la Cultura” e “La Hora Cero”, pelo famoso canal Televisa, além de inúmeras entrevistas para rádios e revistas especializadas como Pop, México Canta, Notitas Musicales, Dimensíon, Conecte, Banda Rockera e jornais como Excélsior, el Heraldo, el Universal e até el Alarma.

Medusa com Armando Nava e a banda Enigma (1977)

Em 1994 a Medusa finalmente se reúne novamente, a formação original, o velho “power trio’ estava na ativa novamente! Jaime Garcia não estava disponível para essa reunião até 1996, ano este que decidiu também retornar à banda, fazendo dela um quarteto. Mas aquele assédio que a Medusa tinha nos primórdios já não era o mesmo e a banda passou fazer shows de forma esporádica em alguns locais como Andy Bridges de Naucalpan, La librería El Sótano de Coyoacán, La Plaza central de Coyoacán, El Monumento a la Revolución, La Alameda Central y Masivos en Tlalnepantla, Valle de Chalco entre outros locais.

Mas faltava gravar, de forma oficial, seu primeiro álbum, o tão sonhado primeiro álbum que há décadas estava hibernando. E a gravadora não surgia, o contrato não surgia de jeito nenhum. Então decidiram refugiar-se no estúdio britânico de Jaime Garcia onde gravou algumas demos entre 1998 e 2000.

Victor Moreno e Frankie Bareno (2000)

Depois disso a Medusa continuou se apresentando, de forma esparsa. Mas tiveram bons momentos como a gravação de mais algumas músicas no estúdio de Carlos “Bozzo” Vásquez. E isso reacendeu a chama da banda. Bozzo também os ajudou a se apresentar nos programas de televisão mexicana, o que não faziam também um bom tempo. Se apresentaram no “Mi Vida es um Rock and Roll” que foi transmitida pelo canal 4 da Televisa, em 2006.

Infelizmente a Medusa teve uma baixa em sua formação. Antonio Urquiza sairia da banda e fez com que ela se tornasse um trio novamente, embora um de seus fundadores tenha saído da banda. Os problemas pareciam não cessar! Então a Medusa teria Victor Moreno na bateria, Javier Plascencia no baixo e Jaime Garcia na guitarra e continuaram a fazer alguns shows.

Medusa em 2008

A ideia era lançar o que tinham produzido nos estúdios de Jaime e as demos que gravou nos estúdios de Bozzo, mas não deu certo. Tudo indica, reza a lenda, que Bozzo era um golpista e permitia que as bandas gravassem em seus estúdios e depois virava as costas para a maioria delas e a Medusa não teria sido diferente, não concretizando o sonho dos experientes músicos de lançar oficialmente um álbum. Diante desse difícil cenário, em junho de 2015, a Medusa fez seu último show saindo definitivamente da cena rock mexicana.

Em 2018 foi lançado o CD, por uma gravadora não identificada ou de forma irregular (pirata) o álbum da Medusa, com as músicas do EP, de 1974, e das músicas gravadas quando a banda retornou às atividades nos estúdios de Jaime e de Bozzo Vásquez. Não se tem informações de tiragens ou quem esteve à frente deste lançamento. No CD não consta o nome do selo, mas há apenas a informação de que a tiragem teria sido limitada. Provavelmente se trata de um lançamento pirata.

Alguns dos membros da Medusa se dedicaram a outros projetos. Jaime Garcia se envolveu com o rock progressivo, tocando com bandas como “El Retorno de los Brujos”, Victor Moreno tocou guitarra em colaborações com diversos músicos como o próprio Bozzo Vásquez, Miguel “El Gallo” Esparza (Dug Dug’s) e Miguel Morales (Tinta Blanca). Já Javier Plascencia dedicou-se a composição de músicos e montou seu próprio estúdio de gravação.

As agruras, os obstáculos, as dificuldades, as inexperiências e a difícil capacidade da convivência fizeram do futuro comercial da Medusa bem aquém do que se esperava, mas, ainda assim, deixaram uma marca indelével na história, não apenas do rock mexicana, mas de toda a América Latina, das Américas, servindo de referência para a música pesada dos anos 1970 e até hoje para aqueles jovens músicos que desejam enveredar para esse caminho. A Medusa pavimentou um caminho para que hoje muitas bandas construíssem uma sonoridade que até hoje segue forte, mesmo sem apoio.




A banda:

Victor Moreno na bateria

Javier Plascencia Amoróz nos vocais e baixo

Luis Antonio Urquiza Zanella na guitarra

 

E mais tarde:

Jaime Garcia na guitarra e sintetizador


 

Faixas:

1 – Autodestruccíon

2 – Caminando Rumbo al Cementerio

3 – Crepusculo

4 – Despues de la Tristeza

5 – Genes de Maldad

6 – La Sombra de Nietzsche

7 – Medita Sinceridad

8 – Momentos em la Vida

9 – Noche

10 – Rompesuenos

11 – Tan Solo lo Hagamos

12 – Tratando de Olvidar


Download do álbum aqui!


"Medusa" (1973 - 2018)






 















 







sexta-feira, 28 de março de 2025

The Ghost - When You’re Dead – One Second (1970)

 

Quando você lembra da cidade fabril britânica de Birmingham de quais bandas você lembra quase que forma imediata? Claro que o Black Sabbath em primeiro lugar e logo depois o Judas Priest! Bandas que são sinônimos de música pesada, os primórdios do heavy metal.

Mas não enganem, estimados leitores, a cena desta cidade na Inglaterra não se resume à música pesada dos precursores e famosos Sabbath e Priest, se estendendo a uma rica e diversificada vertente sonora que vai do progressivo ao folk rock.

Evidente que a esmagadora maioria estão no submundo de sua existência, povoando a obscuridade, tendo uma efêmera vida, mas que, como cometas, passaram, causaram algum impacto e sumiram, algumas sem dar vestígios.

A minha caminhada pelo desbravar da música obscura e suas bandas tem me proporcionado a descoberta de algumas pérolas e, quando o blog foi concebido, a explosão se deu, pois, a sua essência é trazer as histórias das bandas marginalizadas pela indústria e seus audaciosos álbuns e isso é motivo de um arrebatamento impressionante, trazendo luz e realidade a cenas que jamais pensei ter um tamanho quase que descomunal.

E uma banda que conheci, há alguns anos atrás, me trouxe, diria descortinou diante da minha retina, um lado da cena rock de Birmingham que jamais esperava que fosse existir: THE GHOST.

Aos aficionados pela música rara e obscura o The Ghost talvez não esteja no patamar de uma banda rara, totalmente desconhecida, porém ainda é inegável dizer que esta banda, principalmente comparando-a aos icônicos filhos da terra, como Sabbath e Priest, esteja em uma condição de underground inclusive de sua cidade natal, quiçá do mundo.

The Ghost

Mas, a meu ver, acredito ser o mais relevante, quando se fala do The Ghost, não seja tanto o “nível” de sua obscuridade e sim a sua sonoridade, que se dispersa totalmente do óbvio que se praticava à época naquela cidade na segunda metade dos anos 1960 e início dos anos 1970. Um som híbrido que trafega no hard rock com pitadas lisérgicas, um progressivo de vanguarda, com a predominância do órgão, a onipresença dos sintetizadores que traz uma versão folk sombria, arrastada e soturna.

Uma “sopa” sonora que tem como pilar o rock psicodélico, mas nada muito experimental, pois traz exatamente o peso, por vez, visceral de riffs de guitarra, de vocais gritados e “cozinha” rítmica enérgica e animada. Nome do álbum: “When You’re Dead – One Second”, de 1970. O único, inclusive! Mas antes de entrar mais detalhadamente na história do álbum, falemos, um pouco mais, do The Ghost e seus primórdios.

O núcleo do The Ghost se formou, em 1969, em torno do ex-guitarrista do Velvet Fogg, Paul Eastment, que era primo de nada menos que Tonny Iommy, guitarrista do Black Sabbath, Charlie Grima, na bateria, Terry Guy, no órgão, piano e vocal e Daniel McGuire, no baixo e vocal. Entrando, um pouco mais tarde a multi-instrumentista e vocalista Shirley Kent. Eis a formação do The Ghost que, quando surgiu, se chamava “Holy Spirit” que, por razões óbvias, decidiram encurtar.

Quando Shirley se reuniu à banda, ainda em 1969, lançaram seu primeiro single, seguido por uma produção completa ainda naquele ano, mais precisamente no final daquele ano. Assim ganharia o mundo o “When You’re Dead – One Second”.

Antes de Shirley Kent ingressar na banda, o The Ghost tocava uma espécie de blues rock em pequenas casas de shows, tendo na figura de Kent a importância na nova concepção sonora que culminou no seu único rebento, que, embora tenho sido finalizado em 1969, foi lançado oficialmente em janeiro de 1970, pelo selo Gemini. Em 1971 o álbum foi lançado no Reino Unido e na Espanha pelos selos Exit / Ekipo Records, respectivamente.

Shirley já gozava de algum reconhecimento na cena musical e havia gravado, em 1966, duas faixas para um EP, “The Master Singers And Shirley Kent Sing For Charec 67 (Keele University 103)”, além de Eastment, o guitarrista, que havia tocado, também pelos idos de 1966, no Velvett Fogg.

Já que mencionei o Velvett Fogg, não podemos negligenciar sua interessante, porém curta história, onde além do Paul Eastment, que fundou o projeto, contou, em seu line-up com Tony Iommi, seu primo, mesmo que tenha sido em apenas um show e o tecladista Frank Wilson que se juntaria ao Warhorse.

A banda lançaria o seu álbum autointitulado, em janeiro de 1969, pelo selo Pye, com uma capa deliciosamente escandalosa, onde a banda estava fotografada juntamente com duas modelos com os seios nus, disfarçados de uma obra de pintura corporal. Será que em dias atuais ela seria “cancelada” pelos pseudo conservadores da internet.

"Velvet Fogg" (1969)

Embora Shirley Kent tenha sido determinante para a nova orientação sonora do The Ghost, percebe-se, ao ouvi-lo, que há contrastes entre as músicas que Kent canta, com uma pegada mais folclórica, mais folk, além da pegada mais ácida, com aditivos de blues rock bem generosos pelo resto da banda, fazendo com que seu único trabalho apresente algo bem diversificado, sonoramente falando.

A capa, a arte gráfica do álbum é deveras assustadora e, embora não goze de uma beleza arrojada, mostra uma imagem translúcida fantasmagórica, daí talvez o nome da banda, dos seus cinco integrantes, em torno de uma grande lápide, encabeçada por uma cruz celta. No mínimo horripilante e muito instigante para os apreciadores de occult rock.

Feitas as devidas apresentações históricas, falemos um pouco de cada faixa, a começar pela “When You’re Dead”, a faixa título, que entrega, de imediato, alguma velocidade na sua condução, algo mais calcado no hard psych, apoiada fortemente pelos teclados de Terry Guy e uma guitarra que, por mais que não soe tão sofisticada e bem elaborada nos seu timbres e solos, se mostra como tem de ser, levando em consideração a sua proposta sonora: lisérgica e áspera. As intervenções vocais têm forte conotação sombria, trazendo momentos mais agressivos, gritados, potentes. Já se revela, na sua introdução, um álbum espetacular e muito diverso em sua sonoridade.

"When You're Dead" (1970)

Segue com “Hearts and Flowers” mostra, além dos impulsos sombrios, traz os riffs ácidos de guitarra, o impulso psicodélico dos teclados e o rock métrico da seção rítmica, bem como a pegada folk de Kent, fechando uma sonoridade diversificada, diria até arrojada, mas ainda assim apresenta uma “compostura” clássica. “In Heaven” une espirais concêntricas de teclados, com coros altos, vocais tenebrosos, com um pouco de emoção perversa dando a textura da faixa. Não se enganem, amigos leitores, com o título da música!

"Hearts and Flowers"

“Time is my Enemy” segue similarmente à proposta de “Hearts and Flowers”, onde gira em torno de todos os instrumentistas, mas com o destaque, para ambas as faixas, inclusive, para o vocal de Shirley Kent, bem definida e diria, sem medo de ousar, poderosa. O destaque também fica para a guitarra igualmente poderosa de Eastment, com seus riffs psicodélicos tendendo mais para o hard rock.

"Time is my Enemy"

Na sequência temos “Too Late to Cry”, onde temos um dos episódios mais cativantes do álbum, que consiste, do começo ao fim, em viradas de guitarra espetaculares, galopantes, que aumenta, com ímpeto, uma veia mais para o occult rock. Não se pode esquecer do suporte robusto do baixo, pulsante e enérgico. Mas o melhor estaria por vir no longo solo de Eastment, na guitarra, que floresce no meio da faixa, simples e intenso, ao mesmo tempo.

"Too Late to Cry"

“For One Second” tenta, e com êxito, entrelaçar seus diferentes humores, para constatar seu viés progressivo, mesmo antes desta vertente sonora ganhar um pouco mais de visibilidade, tendo, como base, a textura dos teclados, criando uma espécie de tensão, além de leve arpejo de guitarra. “Night of the Warlock” traz um curioso country music mergulhado em ácido. Uma lisergia country bem apreciável e instigante, diria. O refrão é sombrio e até atordoante, com alguns dedilhados discretos de guitarra. Me remeteu a alguns rituais, algo pagão.

"For One Second"

“Indian Maid” é primordialmente lisérgica e se torna um tanto quanto sombria no seu refrão, pois me remete a uma invocação de uma missa negra, trazendo, ainda, algo meio teatral a sua estrutura sonora. É tenso, um pouco intenso, é cênica, é vívida. “My Castle Has Fallen” tem uma verve rítmica de sobra, que beira a perfeição, com uma boa dose de ousadia e coragem entre os vocais, mas o órgão, os teclados de Guy definitivamente iluminam a música, sendo contagiante e excitante, dispensando a leveza do que se fazia na música nos anos 1960, sendo enérgica e solar.

"My Castle Has Fallen"

E finalmente fecha com a faixa “The Storm” que traz uma síntese das diferentes peculiaridades da banda, com a voz de Shirley Kent gélida e distante. A faixa bônus, que saiu na reedição do selo Mellotron, no formato CD, “I’ve Got to Get to Know You” entrega uma versão austera, quase que arrogante, com uma pegada folk rock psicodélica bem interessante, além de uma seção rítmica calcada em uma bateria simples e comum, mas um baixo de excelente substância.

"The Storm"

“When You’re Dead – One Second” não foi um sucesso comercial e a tendência, triste e inevitável, era de que a banda pudesse se separar. Existia o interesse, por parte de alguns integrantes, de continuar com a banda, mas pelo simples fato de não ter a unanimidade para manter o The Ghost já suscitava para o início de um iminente fim.

E foi o que aconteceu! Em 1975 Shirley Kent, sob o pseudônimo de Virginia Trees, concretizaria seus desejos de uma carreira solo, gravando o seu primeiro álbum chamado “Fresh Out”. Mas ela contaria com Paul Eastment na guitarra e Terry Guy no piano e teclado em sua banda para a concepção do seu debut.

"Fresh Out" (1975)

Daniel MacGuire morreria de um ataque cardíaco em 1998, deixando em sua filha, Zennor, a herança musical. Hoje ela é um músico que atua no underground e está buscando um lugar ao sol da sua carreira. Charlie Grima, após o The Ghost, tocaria bateria em uma banda chamada Mongrel, participando da gravação de um álbum chamado “Get Your Teeth Into This”, de 1973.

"Get Your Teeth Into This" (1973)

The Ghost, com o perdão da analogia, vagou invisível e obscuramente pela cena rock, no sussurro da psicodelia e no alvorecer do hard rock no início dos anos 1970. Isso não deduz ausência da qualidade sonora que produziu com seu único álbum, afinal muitas bandas pereceram precocemente naqueles longínquos anos, deixando um ótimo trabalho que, por mais que possa parecer incoerente, serviu de referência para a transição do rock psicodélico para o hard rock e rock progressivo, servindo de norte para muitas bandas que viriam a surgir logo depois de sua repentina morte. The Ghost tornou-se necessário, mesmo que tenha sofrido na própria carne, em prol de um novo despertar de vertentes sonoras que revolucionariam o rock na prolífica década de 1970.

Em 1987 o selo Bam-Caruso relançou o álbum do The Ghost, no formato LP, com o título “For One Second”, com a adição do single que não foi lançado no LP de 1970, “I’ve Got to Get to Know You”. Em 1991 o selo UFO Records, da Inglaterra, lançaria o álbum, em CD. O icônico selo italiano Mellotron lançaria, no formato CD, o álbum “When You’re Dead” em 1991, 1999 e 2005.

O selo que lançou o álbum originalmente, Walhalla, o relançaria, em CD, em 2006, o selo espanhol Wah Wah, relançaria, em LP, em 2007, a gravadora Tam-Tam, norte-americana, lançaria, em CDr, em 2007. O Mellotron novamente faria uma série de relançamentos do álbum entre 2010 e 2024, seja no formato LP ou CD. Posteriormente a 2024 tiveram outros relançamentos pirata e outras também do selo Mellotron.

 

A banda:

Terry Guy no órgão e piano

Shirley Kent na guitarra acústica, tamborim e vocal

Paul Eastment na guitarra solo e vocal

Daniel MacGuire no baixo

Charlie Grima na bateria e percussão

 

Faixas:

1 - When You're Dead

2 - Hearts and Flowers

3 - In Heaven

4 - Time is my Enemy

5 - Too Late To Cry

6 - For One Second

7 - Night off The Warlock

8 - Indian Maid

9 - My Castle Has Fallen

10 - The Storm

11 - Me and my Loved Ones

12 - I've Got to Get to Know You




"When You're Dead - One Second" (1970)

 


 

































sexta-feira, 21 de março de 2025

Orchid - Capricorn (2011)

 

Quando eu comecei a ouvir as bandas de stoner rock em meados da primeira década dos anos 2000, eu sempre achei que as bandas que eu ouvia, em especial, era uma espécie de resposta nostálgica dos fãs aos anos 1970 e todas as suas manifestações culturais e/ou comportamentais.

Mesmo assim continuei a ouvir desbravar os sons dessa nova cena que, mesmo sem apoio da indústria fonográfica, e de alguns fãs de rock mais “conservadores”, e fui percebendo, ao ouvir álbuns e bandas, que não era apenas lembranças, reminiscências do passado, mas eram sons mais arrojados, mais destemidos, sonoramente falando.

Muitas bandas começaram a aglutinar sonoridades psicodélicas, de blues e até mesmo de rock progressivo. As viagens sonoras se tornaram mais chapadas e até mesmo sofisticadas, o que pode parecer impossível com o stoner rock, tido como um som mais duro, mais rústico e, por vezes, sujo e despretensioso.

E uma banda, em especial, me apresentou a essa nova cena e não me fez querer sair mais. A banda se chama ORCHID! E quando eu falei que essa cena dos anos 2000, começou a flertar com outros elementos sonoros do rock n’ roll, entre outros o psych rock, o Orchid foi formado em uma das cidades mais importantes para a cena psicodélica dos anos 1960, São Francisco, nos Estados Unidos. Tem algo a ver? Não sei dizer se tem, foi apenas um dado sem muita relevância.

Mas coincidências à parte, a história do Orchid inicia em 2008, aproximadamente com o vocalista Theo Mindell, quando estava construindo, em sua mente, uma ideia do que viria ser o Orchid. Ele não estava tocando em banda nenhuma à época e há muito tempo. Estava cansado do que estava acontecendo nas cenas daquela época e começou a compor, na guitarra, naquele mesmo ano.

Ele tinha tocado em uma banda com o guitarrista Mark Thomas Baker, isso muito anos antes de se juntarem ao Orchid! Theo sabia que Mark era o único cara que poderia materializar o seu projeto, que era capaz de trazer o Orchid à vida. E o incomodou, de forma incansável e determinada, para convencer Mark a participar de sua empreitada, até que finalmente ele aceitou.

Theo Mindell

O próximo passo era buscar mais músicos para compor a banda e a busca foi longa e difícil, principalmente para a escolha de um baixista. Foram muitos baixistas que fizeram audição e muitos que não se encaixavam na proposta da nova banda, alguns entraram na banda, mas ficaram por pouco tempo. Até que Keith Nickel foi escolhido e em seguida entraria na banda o baterista exímio Carter Kennedy. Esse foi o começo do Orchid.

As origens do nome da banda, “Orchid”, claro, veio do título da música do Black Sabbath, do excelente álbum, de 1972, “Vol.4”. A ideia de Theo era um nome que não soasse tão clichê dessas bandas de heavy metal. Ele queria um nome que evocasse sentimentos de psicodelia do final dos anos 1960 e início dos anos 1970 e o Sabbath foi lembrado. Talvez se fosse um nome sombrio ou mau teria soado algo fingido ou forçado.

A ideia de Theo e os demais caras da banda era um nome ambíguo que desse a eles algum espaço para crescer musicalmente e comercialmente falando. E Orchid era ideal, eles sempre gostaram da maneira como o nome da banda estava atrelado a eles.

E, com isso, vem também algumas comparações, um tanto quanto maldosas, com o próprio Sabbath. Mas encaro, bom amigo leitor, como apenas uma influência inevitável. E deixo com os senhores uma declaração do próprio Theo Mendell, em uma entrevista concedida para um blog chamado “Temple of Perdition”, que diz:

“Quanto às comparações com o Sabbath? Eu realmente não me preocupo com isso. Eu amo o Sabbath. Eles têm sido uma das minhas bandas favoritas desde que eu era criança. Eu não sei como eu poderia escrever músicas de rock pesado sem esse som ou identidade. É apenas o que eu acho legal. Eu acho que há muitas outras influências que estão bastante presentes no som do Orchid também. Mas as pessoas sempre pegarão o caminho mais curto para um destino, mesmo que seja prendendo algum tipo de "etiqueta de roubo" em você. Se esse é o pior crachá que eu já tive que usar na minha vida musical, vou usá-lo com orgulho”.

O primeiro trabalho do Orchid sairia em 2009, mas não seria um álbum, mas um EP e, convenhamos, começaram, ainda assim, muito bem, com o “Through the Devils Doorway”. Eram quatro músicas de uma banda avassaladora, que trazia o conceito de hard rock muito fortemente, mas trazia também pegadas de storner, psych e até mesmo de um doom metal. Um começo à altura das ambições desses jovens músicos que queriam fazer música dos anos 1970 com um pé nos anos 2000 e com muito recurso sonoro.

"Through the Devil's Doorway" (2009)

Mas o melhor estava por vir, o tão esperado debut do Orchid e, apesar de ter demorado um pouco, ele viria e com força e impacto na cena stoner underground e o nome dele? “Capricorn”, de 2011. O conceito, a proposta era basicamente a mesma de seu EP, lançado há dois anos antes, mas veio com uma excelente produção, com arranjos e melodias bem-feitas. Era um álbum diversificado, não era datado, o hard rock, o heavy rock, o stoner e o psych rock eclodia a cada nota musical. Se você, bom amigo leitor, aprecia Black Sabbath e aquele som arrastado e sombrio, verá em “Capricorn” a melhor das audições.

Theo Mendell assinaria a arte gráfica de “Capricorn”, bem como também no EP que abriu a história discográfica do Orchid. Nada mais do que natural, haja vista que de Theo que surgiu a concepção da banda e nada mais interessante que o próprio fizesse o trabalho estético e gráfico da banda, o que aconteceu. E é com “Capricorn” que falaremos nessa resenha.

A produção de “Capricorn”, já que comentei sobre o belo trabalho, ficou sob a responsabilidade de Will Storkson e ele foi determinante para a construção sonora desse álbum e lançado pelo selo Nuclear Blast. Há relatos, ainda na entrevista concedida para o blog “Temple of Perdition”, de Theo Mendell onde fala sobre as influências da banda para a concepção de seu debut:

“Se eu fosse deixado por conta própria, nossos discos poderiam acabar soando como uma mistura de Stooges Raw Power e Sabbath Bloody Sabbath ... Eu adoraria, mas pode parecer muito ensopado. Vou continuar empilhando fuzz e reverb até que você não consiga ouvir nada”.

Will ajudou e foi preponderante na produção de “Capricorn” e o fez com um radar direcionado aos longínquos anos 1970, mas sem negligenciar as tendências da contemporaneidade. Quanto ao teor das letras, suas temáticas trafegam no occult rock, mas também em temas sociais e comportamentais.

O álbum é inaugurado com a faixa "Eyes Behind the Wall" que já entrega o ouvinte um estrondoso e poderoso riff de guitarra, um trovão sonoro e potente. Bateria pesada, marcada, batida forte, baixo pulsante. A “cozinha” realmente se destaca e dá o tom, o ritmo, não é à toa que é a seção rítmica. E para aqueles que aprecia o hard dos anos 1970, perceberá uma espécie de gravação “vintage”, com nuances antigas. Sem dúvida a banda e o produtor conceberam a música e todo álbum assim intencionalmente.

"Eyes Behind the Wall"

Segue agora com a faixa título, “Capricorn” e a percepção de que voltamos aos anos 1970 é nítida. A batida cadenciada, tendendo para uma levada meio jazzística é adorável e dançante. O vocal é ameaçador, sombrio e segue também com um timbre cadenciado. Mas logo ela irrompe em uma hecatombe pesada, um volumoso hard rock. O vocal ganha mais alcance, mais potência, a música fica mais rápida, mas logo fica mais lenta e assim alterna, mostrando a capacidade instrumental da banda.

"Capricorn" (Clipe oficial)

“Black Funeral” surge vagarosa, lenta, uma bateria ao fundo, com seus pratos, mas logo depois, por pouco tempo explode em um heavy metal com guitarra tocada ao extremo e bateria igualmente pesada. Logo volta ao clima soturno, sombrio e perigoso, com o vocal dando a tônica. Um occult rock com linhas de heavy metal e pitadas discretas de doom metal.

"Black Funeral"

“Masters of It All” inicia com dedilhados de guitarra ao estilo Sabbath de tocar bem interessantes. Ela é responsável por colocar lenha na fogueira, porque, aos poucos, a faixa vai “encorpando”, ganhando camadas mais pesadas. A bateria é tocada com um pouco mais de agressividade e assim alterna, voltando para os dedilhados de guitarra. Os vocais ficam mais altos no clímax hard.

"Master of it All"

“Down into the Earth” traz um baixo dedilhado ao estilo Sabbath e explode para riffs grudentos e pesados de guitarra te remetendo ao heavy metal. A bateria bem marcada, tocada com técnica, mas orgânica. Riffs de guitarra, na metade da música, são percebidas com uma pegada mais doom, mais suja e despretensiosa.

"Down Into the Earth"

“He Who Walks Alone” é, sem dúvidas, uma das melhores faixas do álbum, pois traz uma mescla de passado e presente com uma incrível sinergia. Te remete ao hard rock dos anos setenta, com o peso e a cadência e o doom metal dos anos 1980, que traz a parte mais suja e arrastada. É agitada, enérgica, animada, encantadora e, claro, pesada. Aqui o Sabbath, juntamente com bandas do naipe de Saint Vitus são devidamente percebidas.

"He Who Walks Alone"

Segue com “Cosmonaut of Three” que começa aterrorizante, um estilo sombrio e ameaçador que parece ser uma trilha sonora de um final de terror. A “cozinha” se destaca novamente. A bateria segue marcada, mas pesada e o baixo pulsa feito um coração em um momento dramático e tenso de pavor. Há riffs de guitarra que corroboram essas condições dando uma camada interessante à música. Uma atmosfera perigosa e que dá aula de occult rock.

"Cosmonaut of Three"

“Electric Father” segue basicamente a mesma proposta sonora de sua antecessora, explodindo em um temperamento de doom metal, mesclado ao heavy rock e o hard rock com pegadas setentistas. Aqui os sintetizadores ganham algum destaque e dão um tom mais sombrio à faixa, além de um solo rápido, direto, mas competente de guitarra que traz mais peso.

"Electric Father"

E fecha com “Albatross” que foge um pouco do tom e da vibe das faixas anteriores. Começa com uma pegada mais viajante e chapante, te remetendo a coisas mais experimentais e psicodélicas. O vocal continua com aquele tom mais ameaçador e soturno, enquanto, aos poucos, a bateria vais surgindo um pouco mais forte e discretos dedilhados de guitarra. Os teclados entregam a condição mais viajante da faixa. E fecha, de forma espetacular e inspiradora, com solos de guitarra lisérgicas. O prog psych se faz presente nessa última faixa de “Capricorn”.

"Albatross"

Em 2012, um ano depois do lançamento de “Capricorn” o Orchid lançaria mais uma EP, o seu segundo, chamado “Heretic”, com quatro faixas, sendo que uma delas era uma faixa de seu debut, “He Who Walks Alone” e, no ano seguinte, em 2013 lançaria outro EP, com três músicas e que se chamou “Wizard of War”.

"Heretic" (2012)

"Wizard of War" (2013)

E finalmente o tão aguardado segundo álbum sairia, intitulado “The Mouths of Madness”, em 2013. A banda, neste novo trabalho, me soou mais polida, a produção mais bem acabada e uma banda nitidamente mais experiente e ciente da sua proposta sonora que não, não mudou em relação ao seu debut, “Capricorn”. A sonoridade poderosa, calcada no hard rock setentista, com pegadas atualizadas de stoner e doom metal, tendo a concepção do occult rock dominando as ações, mostra uma banda coesa e muito competente e coerente no que vinha, até então, fazendo. O álbum pode ser ouvido aqui!

"The Mouths of Madness" (2013)

Naquele mesmo ano, de 2013, a banda lançaria a sua primeira coletânea, “The Zodiac Sessions”, com o que há de melhor nos seus primeiros trabalhos. Atualmente a banda está um tanto quanto parada, não tem realizado lançamentos, mas há informações de que um novo trabalho virá e quando o Orchid se propõe a fazer um novo álbum, aguardem, pois há muita coisa boa pela frente!

"The Zodiac Sessions" (2013)

Theo Mindell, ainda em uma entrevista que concedeu para o blog “Temple of Perdition”, disse não fazer ou pelo menos não ter nenhuma intenção, com a sua música, com o Orchid, de estar em uma cena musical, mas apenas compor as músicas que amam. Mas o fato é que o Orchid, com a sua sonoridade que flerta com o tempo ou com “vários tempos”, trouxe uma nova perspectiva para o rock no início dos anos 2000, o rock como ele era, vivo e genuíno, marginalizado.


A banda:

Mark Thomas Baker na guitarra e sintetizadores

Keith Nickel no baixo

Carter Kennedy na bateria e percussão

Theo Mindell nos vocais, percussão e sintetizadores

 

Faixas:

1 - Eyes Behind the Wall

2 - Capricorn

3 - Black Funeral

4 - Masters of It All

5 - Down into the Earth

6 - He Who Walks Alone

7 - Cosmonaut of Three

8 - Electric Father

9 - Albatross 



"Capricorn" (2011)