quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Odin - Odin (1972)

 

A trajetória deste reles e humilde blog vem revelando uma predileção minha: essas bandas “one-shots”, ou seja, bandas que lançaram apenas um álbum de estúdio e some do mapa, desaparece para sempre da cena musical. Para muitos pode parecer uma preferência pelas bandas fracassadas, mas, admito e com certa alegria, meus caros leitores, que este blog traz histórias de bandas fracassadas.

Fracassadas, sob o aspecto comercial, mas que nos proporcionam histórias memoráveis, histórias genuínas, de bandas que sem sombra de dúvidas entregaram, mesmo que em um efêmero tempo de vida, as suas verdades sonoras. Acredito que seja por isso que essas bandas, de alguns anos para cá tem me cativado, não apenas pelo quesito sonoro, mas pelas histórias que é uma das essências desse blog.

E eu preciso destacar uma banda que, claro, lançou apenas um álbum no prolífico ano para o rock n’ roll, 1972, e que logo pereceu e tinha, em sua formação, músicos da Inglaterra, Alemanha e da Holanda, ou seja, era uma banda multinacional, porém baseada na Alemanha. Falo do ODIN. Afinal, como muitos músicos em início de carreira, os caras do Odin saíram de seus países natal para ter um lugar ao sol. As audiências em seus países de origem pareciam não estar tão interessado na sonoridade da banda ou não acontecia um contrato de gravação, então as migrações se tornaram inevitáveis.

Odin

As origens do Odin vieram de uma banda chamada Honest Truth que tinha na formação o baterista britânico Stuart Fordham e do também britânico Ray Brown, que era baixista, o guitarrista e vocalista holandês Rob Terstall, além de um tecladista húngaro que morreria precocemente dando, de forma abrupta, um ponto final a banda, além também do roubo de seus equipamentos.

E com o fim do Honest Truth os caras se juntaram com o tecladista alemão Jeff Beer e, já na Alemanha, a banda mudaria seu nome para Odin. Beer, antes de se juntar ao recém-nascido Odin, fazia parte da banda Elastic Grasp. Enfim uma banda nova nascia e as esperanças dos jovens músicos também. Largaram seus países, foram, apenas com a tal esperança no fundo da mala, de fazerem sucesso, precisava acontecer para o esforço fazer valer a pena.

E tudo parecia indicar que o futuro seria gentil para com o Odin. Surgiu a possibilidade de um contrato de gravação, já para o ano de 1972, com um dos selos mais reverenciados do mundo à época, a Vertigo, e finalmente aconteceu, lançando seu primeiro trabalho autoral, chamado simplesmente “Odin”. Mas o álbum só teve lançamento na Alemanha.

“Odin” é um álbum multifacetado, diversificado sob o aspecto sonoro. Traz um som mais cru, calcado no hard prog, com distorção pesada, bateria agressiva, mas ainda assim entrega uma sofisticação que só mesmo o rock progressivo pode proporcionar ao ouvinte. Sim o ouvinte que aprecia várias vertentes do rock como as que eu citei certamente irá se identificar com o primeiro álbum do Odin.


Essa sopa musical, embora não traga nada de revolucionário, é muito boa, muito bem executada, principalmente para mim que aprecia flertar com estilos que adoro, como o hard rock mais agudo e texturas progressivas que eleva a sonoridade, fazendo da banda poderosa, intensa e viajante nos inúmeros recursos propiciados pelo prog rock. Um som eclético, um crossover digno de reverências e talvez pouco compreendido à época, pois o sucesso comercial tão esperado pela banda não aconteceu, mesmo em uma “praça” como a Alemanha, cujo público absorvia bem, nos anos 1970, sonoridades pouco ortodoxas, as vendas foram um fiasco.

A instrumentação é verdadeiramente exótica em “Odin” o que reforçou a sua condição de anticomercial, sendo, consequentemente pouco assimilado pelo mercado à época. Há, neste álbum, excentricidade e experimentação divertida e que traz, além da pegada hard progressiva, pitadas gentis de jazz rock, psicodelia que entrega a este trabalho belíssimas e arrojadas melodias de rock, as vezes pesados, lentas, melódicas e até mesmo melancólicas, mesclado a riffs pesados de guitarra, também inspirados no blues rock.

O álbum é inaugurado pela faixa “Life is Only”, a música mais longa deste trabalho do Odin, com quase onze minutos de duração e que personifica a essência de todo álbum: uma combinação explosiva e de tirar o fôlego de hard rock e uma composição progressiva sinfônica excelente. O baixo estabelece uma seção rítmica dinâmica juntamente com um impressionante solo de guitarra. A beleza desta faixa está na sua estrutura complexa e as texturas de teclado corroboram tal condição. Em seguida há uma pequena faixa instrumental, a “Tribute to Frank”, uma homenagem a Frank Zappa, que tem um trabalho interessante de vibrafone, com um arranjo meio experimental, mas não muito complexo.

"Life is Only"

Na sequência tem “Turnpike Lane” que é basicamente uma faixa instrumental, mas o destaque fica para os riffs e solos lindos e bem trabalhados de guitarra, com as linhas de baixo excelentes, mais uma vez, com groove, sendo ainda pulsante, vívido. “Be The Man You Are” vem com uma mudança de tempo na sonoridade da banda neste álbum, com um viés um pouco mais comercial, trazendo uma balada, com acordes um tanto quanto repetitivos, mas bem executados. Percebe-se uma guitarra suave com tonalidades folk interessantes, mostrando que a banda tem recursos.

"Be the Man You Are"

O álbum volta ao rock progressivo com a faixa “Gemini”, mas traz aquela mescla típica com o hard rock, pois traz certa aspereza, peso e até alguma agressividade na sua sonoridade. Em alguns momentos tem a impressão de que a estrutura da faixa é basicamente calcada no hard rock, mas o prog rock também está lá em toques mais sofisticados, tanto que o trabalho de guitarra e dos teclados me lembra algo como o prog sinfônico e muito bem executado, diga-se de passagem. E assim se faz também a variação rítmica, também típica do rock progressivo.

"Gemini"

“Eucalyptus” é um instrumental bastante descontraído e solar que traz um jogo interessante e exótico de sintetizadores que flerta com o prog rock e o rock psicodélico, pois percebi algo de lisérgico, ácido neste contexto melódico. A banda finaliza o álbum com outra faixa longa, “Clown”, que traz, mais uma vez, a bela harmonização entre hard rock e progressivo, com a adição de uma guitarra psicodélica, ácida, muito parecida com a faixa inaugural. Uma música que sem dúvida agradaria a fãs de prog e hard, sem sombra de dúvidas.

"Clown"

Com o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio o Odin estava se preparando para uma turnê, para se apresentar e divulgar seu novo trabalho. Inclusive a banda recebeu um convite para gravar em um estúdio de rádio, na Alemanha, em 1973, a “SWF Sessions”, e até gravaram mais três músicas novas: “King King”, “Oh No” e “Make Up Your Mind”, além de duas faixas do álbum de estúdio (“Turnpike Lane” e “Life is Only”), o que denotava um futuro novo álbum, mas esse trabalho só veria a luz do dia em 2007, lançado pelo selo Long Hair Music.

"SWF Sessions" - Live (1973 - 2007)

E a turnê, que estava planejada para o ano de 1973, não aconteceria também devido a desacordos de caráter legal e uma crise se instaurou no Odin, acabando, pouco a pouco, com a energia dos músicos que, aos poucos, se viram desestimulados. A banda se viu obrigada a encerrar, de forma precoce, as suas atividades em 1974. A banda durou apenas três anos ou talvez um pouco menos do que isso.

A maioria dos músicos que compunha o Odin desistiu da carreira musical. Jeff Beer continuou na Alemanha e seguiu uma carreira nas artes plásticas, reza a lenda, enquanto o britânico Rob Terstall, que também ficou na Alemanha, continuou na música em uma banda que tocava jazz e rock, uma banda cover, que se chamava Motion-Sound. Ray Brown virou um carpinteiro, enquanto Stuart Fordham voltou para a Inglaterra e investiu em uma carreira no ramo de eletrônicos antes de falecer em 2003.

Apesar das frustrações em sua trajetória o Odin produziu um álbum sólido, poderoso, audacioso, mesmo sem ter sido tão revolucionário à época. Muitos álbuns e bandas pagaram o preço por serem exatamente audaciosos, por ter seguido um caminho que ninguém seguiu, não se rendendo a modismos, seguindo a sua criatividade somente. Deixou, ainda assim, um trabalho importante, mesmo que trafegando, até os dias de hoje, pelo submundo do rock. O álbum teve apenas um relançamento, no formato CD, em 1991, pelo selo Repertoire.




A banda:

Jeff Beer nos teclados, vibrafone, percussão, vocais

Rob Terstall na guitarra, vocais

Ray Brown no baixo, vocais

Stuart Fordham na bateria, percussão

  

Faixas:

1 - Life Is Only

2 - Tribute To Frank

3 - Turnpike Lane

4 - Be The Man You Are

5 - Gemini

6 - Eucalyptus

7 - Clown 



"Odin" (1972)






























quarta-feira, 13 de novembro de 2024

The Flying Hat Band - Buried Together (1973 - 1992)

 

A ligação da cidade de Birmingham e a música pesada, os primórdios do que se convencionou chamar de heavy metal, é íntima. Diria que a característica fabril e o seu potencial industrial desenharam os contornos da aridez do rock pesado, trazendo também letras de cunho social e econômico muito evidentes, com críticas ácidas a sociedade da época.

O estrondoso som do proto metal, da música pesada reverberou por anos nas fábricas e estâncias industriais. Tudo era cinzento, a poluição sonora, visual e do ar trazia as inspirações sombrias aos jovens aspirantes a músicos, muito deles de origem pobre trazendo em sua história o retrato do descaso, com a pobreza sempre à espreita.

Tudo era raivoso na música de bandas surgidas em Birmingham, eram os rugidos dos excluídos, dos marginalizados. As fábricas, a indústria, a poluição eram as molas propulsoras de músicas agressivas, pesadas e perigosas ao status quo conservador.

E quando falamos do rock n’ roll de Birmingham não podemos negligenciar bandas do naipe de Black Sabbath que, para muitos, inaugurou os primeiros acordes do heavy metal e do Judas Priest que, apesar de ter surgido no mesmo ano do Sabbath, na transição dos anos 1960 para a década de 1970, demorou um pouco mais para ganhar notoriedade.

Há algumas entrevistas do riff maker Tony Iommi, dizendo que Birmingham não aceitou a sua velha banda, Black Sabbath, de imediato, sendo alvo de críticas da mídia especializada e um pouco de falta de assimilação dos jovens a uma sonoridade tão áspera e pesada em pleno ano do “flower power” com seus beats dançantes e experimentais.

Mas não se enganem, caros amigos leitores, de que a cena rock de Birmingham limitou-se, se é que podemos dizer dessa forma, aos medalhões Judas Priest e Black Sabbath, mas também a uma pequena quantidade de bandas obscuras que pavimentaram o caminho da música pesada nessa região e que, sem dúvida alguma, exportou o estilo para todo o mundo, mesmo que não tenha tido o sucesso do Priest e Sabbath. Falo da banda THE FLYING HAT BAND.

The Flying Hat Band

Nada mais do que conveniente uma banda como o Flying Hat ter surgido com base nos “ecos” do Black Sabbath, emergindo do mesmo epicentro, como Birmingham, não sendo diferente: um som pesado, arrojado e sombrio. O Flying Hat, mesmo nos escombros das sombras, abraçou-se ao Sabbath e assumiu a sua condição de embrião do peso no rock de Birmingham, do mundo.

O melhor da The Flying Hat Band está por vir, amigos leitores, porque as origens da banda remetem a nada mais, nada menos do que o exímio guitarrista Glenn Tipton, que se notabilizou tocando, adivinhem, no Judas Priest. As origens, inclusive das duas bandas, vêm das Midlands.

Glenn Tipton

Glenn estava tocando na banda Merlin e também Shave'Em Dry, mas logo se desenvolveu na The Flying Hat Band, até porque Pete Hughes e Dave Shelter, que tocava baixo e guitarra, estavam nessas bandas juntamente com Tipton. No começo, depois de um show em Newcastle, a guitarra de Glenn, uma Stratocaster Pink, foi roubada do palco sem nenhum pudor. Então ele, após perder a guitarra, decidiu desistir de sua empreitada musical, afinal sem guitarra e sem dinheiro ficaria difícil. Conseguiu um emprego regular das 9h às 17h em um escritório.

Mas depois de alguns dias uma pessoa ofereceu ao jovem Glenn uma Fender Strat por 30 libras! Talvez era a chance única de retornar à música, de retomar os trilhos da The Flying Hat Band. Depois de fazer uns trabalhos de paisagismo de alguns jardins para levantar o dinheiro, ele conseguiu retomar seu sonho de ser um músico e tocar a sua guitarra.

A formação da banda continuou mudando. Alguns dos primeiros integrantes eram Trevor Foster, baterista e Andy Wheeler, baixista, além do vocalista Pete Hughes e Glenn na guitarra. As músicas que compuseram entre o fim dos anos 1960 e início dos anos 1970 eram autorais e já se percebia um esboço sonoro do que Tipton faria no Judas Priest. Havia também espaço para alguns covers de rock n’ roll e blues também até para compor um tempo satisfatório para as suas primeiras apresentações.

E nessas mudanças veio uma baixa considerável, a do vocalista Pete que desistiu da sua carreira musical se juntando à RAF. Não encontrando um vocalista de forma imediata para os shows que estavam aparecendo Glenn decidiu assumir os vocais e eles se tornaram um power trio. Mas as mudanças continuaram e dessa vez em caráter de reconstrução com Steve Palmer na bateria, este irmão do icônico baterista do Emerson, Lake & Palmer e Atomic Rooster, Carl Palmer e Peter "Mars" Cowling, no baixo.

Essa formação deu uma guinada de qualidade no som da banda, embora sempre o foi desde os primórdios, mas essa formação constituía no melhor momento da banda e o exemplo foi o convite que recebeu para tocar no famoso The Cavern Club, em Liverpool, no Marquee, em Londres e assim foi o batismo de fogo. A banda, inclusive, nessa época, serviu de suporte para a turnê do Deep Purple na sua turnê pela Europa.

A Flying Hat Band foi contratada pela icônica gravadora Vertigo, em 1973, para gravar o seu primeiro álbum. Algumas músicas foram gravadas, porém nunca viu a luz do dia, nunca foi lançada oficialmente pela gravadora. Torna-se incompreensível a banda, contratada por um selo de renome, com toda a estrutura possível para gravar um material, não ter lançado de forma oficial. Na realidade tais músicas, em um total de quatro faixas, foram melhoradas em estúdio, haja vista que elas já tinham sido gravadas pela banda em 1971.

A proximidade com a “Vertigo” certamente se deu pela cena pesada que florescia na fabril cidade de Birmingham, com o Black Sabbath e Judas Priest capitaneando a música hard rock nessa cidade. O Sabbath já era conhecido, tinha lançado alguns álbuns que estava ganhando notoriedade e o Priest seguia seu caminho rumo à história. Mas ainda assim a Flying Hat Band não conseguiu emplacar sua arte.

E falando nas suas quatro faixas lançadas, com tinha na formação, o Glenn Tipton nos vocais e guitarra, Peter “Mars” Cowling no baixo e Steve Palmer na bateria, trazia um hard rock poderoso, vívido, intenso, com texturas nítidas de um proto metal que certamente fosse lançado nos anos 1980 faria sucesso e não estaria “descolado” no tempo. Nota-se na sonoridade da banda, personificada nessas quatro faixas, uma veia de blues rock.

Começa com a faixa “Reaching for the Stars” que traz riffs pegajosos de guitarra e baixo super pulsante, mostrando uma sessão rítmica excelente com a bateria marcada e pesada. Solos de guitarra tornam a música mais solar e pesada, a “cozinha” segue dando o tom, dando o ritmo. O típico hard rock setentista é a tônica dessa faixa. 

"Reaching for the Stars"

Segue com “Coming of the Lord” que surge com riffs de guitarra que te remete perfeitamente ao heavy metal embrionário, mas que logo fica mais cadenciado e a sessão rítmica capitaneia essa pegada. A pegada heavy logo retorna, solos rápidos e diretos de guitarra e a bateria mais pesada dão o tom. O instrumental, já na reta final da música, é envolvente, pesado, poderoso. O vocal é mais alto e proeminente.

"Coming of the Lord"

“Seventh Plain” traz o destaque do baixo à tona novamente, que é executado rápido, com mais peso. O peso dos riffs de guitarra também ganha visibilidade. Outra faixa que nos traz à lembrança o peso do heavy rock com algumas cativantes mudanças de andamento.

"Seventh Plain"

E para fechar tem “Lost Time” que inicia mais introspectiva apenas com o vocal à capela e logo entra o dedilhar acústico de um violão, trazendo reminiscências de uma música mais psicodélica e lisérgica ao estilo mais contemplativo. E o violão segue acusticamente até o fim da música dando-lhe a condição de balada dentre as mais pesadas produzidas pela Flying Hat Band.

"Lost Time"

Em 1992 o selo alemão SPM International lançou, sob o título de “Buried Together, um “Split”, juntamente com a banda Iron Claw, erroneamente rotulado como “Antrobus” e essas quatro faixas originais foram unidas em um tracklist muito bem gravado. Finalmente eram lançadas as músicas da Flying Hat Band! Há também outro Split, gravado em 2011, pelo selo Acid Nightmare Record, de Portugal, com a banda “Earth”, que era o Black Sabbath nos primórdios. As faixas do Earth são as demos da banda lançadas em 1969. O nome do LP se chama “Coming of The Heavy Lords”.

"Buried Together" (1992)

"Coming of the Heavy Lords" (2011)

A Flying Hat Band finalizou as suas atividades em 1974 e Glenn Tipton foi sondado pelo Judas Priest entrando, nesse mesmo ano, na banda, pouco antes do lançamento de seu debut, o “Rocka Rolla”. No site do Glenn Tipton, que pode ser acessado aqui, há uma fala bem interessante sobre a relação próxima do Flying Hat Band com o Judas Priest e a forma como ele recebeu o convite para fazer parte do Priest:

“Dizem que tudo acontece por uma razão. Na época, a Flying Hat Band estava trabalhando com uma agência em Birmingham de propriedade de Jim Simpson, que por acaso era a mesma agência do Judas Priest. O Priest estava com a Gull Records, que sugeriu que a banda adicionasse um tecladista ou outro guitarrista. Como a Flying Hat Band estava se separando, eles me procuraram para ver se eu estava interessado em entrar. Isso foi em maio de 1974, antes do primeiro álbum “Rocka Rolla”. Eu concordei, e não demorou muito para perceber que tínhamos uma química única como banda e, particularmente, como compositores. Algo muito especial havia acontecido. ”

Peter “Mars” Cowling se juntou, após o fim da Flying Hat Band, a Pat Travers, em 1975, trabalhando com ele por muitos anos. Trevor Foster se juntou a banda de folk rock “The Albion Band e Little Johnny England”.  Peter Cowling faleceu em 2018.

A Flying Hat Band, sem sombra de dúvidas, teve um grande peso para a história do hard rock e, mesmo que não tenha tido êxito, sob o aspecto comercial e não tenha sequer lançado, à época, um álbum oficialmente, sua pequena obra se tornou significativa para edificar, juntamente com bandas como Black Sabbath e Judas Priest, o heavy metal que se notabilizaria mais de dez anos depois, lá pelos anos 1980. A plenitude do seu legado é inestimável para aqueles que, até hoje, fundam suas bandas de hard rock e heavy metal.




A banda:

Glenn Tipton nos vocais e guitarra

Peter "Mars" Cowling no baixo

Steve Palmer na bateria

 

Faixas:

1 – Reaching for the Stars

2 – Coming of the Lord

3 – Seventh Plain

4 – Lost Time


Versão lançada em 1992

Versão com duas faixas bônus































quarta-feira, 6 de novembro de 2024

McOil - All Your Hopes (1979)

 

O ano era 1979. Apesar do rock progressivo, com as suas bandas medalhonas, estar em declínio comercial e alguns casos até criativo, as bandas mais obscuras, principalmente, remavam contra a maré mercadológica e produziam bons trabalhos composicionais.

O punk, a new wave e até mesmo o heavy metal, além de “enlatados” como a “dance music” estavam no auge, outros começando a florescer. O rock progressivo perdia um pouco de espaço entre a indústria fonográfica. Mas na realidade este nunca teve o espaço que merecia.

Entretanto algumas bandas, forçosamente, lutando, resistindo bravamente, lançavam materiais com viés progressivo, mas tentando adequar-se às tendências musicais que pautavam o rock n’ roll, sobretudo na transição dos anos 1970 para os anos 1980.

Tentavam reinventar suas sonoridades, buscando as referências do passado sem correr o risco de soar datado ou ainda plágio e forma camaleônica se pintava com as cores dos novos tempos.

Na Alemanha, por exemplo, algumas bandas nasciam com o krautrock na sua sombra. É fato que a cena, surgida nos escombros culturais do pós-guerra no país germânico no fim dos anos 1960, serviu de sustentáculo para todas as vertentes sonoras do rock que floresceriam no país nos anos seguintes, mas o estereótipo atacava colocando todas as bandas no mesmo “saco”.

A banda que falarei hoje definitivamente moldou o seu som com o que se ditava nos anos 1970 e que aconteceria nos anos 1980, sobretudo com o New Wave of British Heavy Metal, na Inglaterra e, claro, em todo o mundo: o heavy metal.

Era uma banda extremamente versátil, flertando com o hard rock, o rock progressivo e uma espécie de proto metal. Falo da banda alemã MCOIL. Claro que o som do Mcoil não era nenhuma obra prima, haja vista que bandas como a canadense Rush, mais famosa, já fazia brilhantemente essas junções da música pesada com o progressivo, mas observa-se que, em seu único álbum lançado em 1979, chamado “All Our Hopes”, era muito bem feito e produzido.


McOil

“All Our Hopes” é um trabalho valioso, importante e diria necessário a todos que apreciam o heavy rock, o hard rock e também o rock progressivo e revela, mesmo que pouco conhecido pelo grande público, a sua importância para muitas bandas que surgiriam em meados dos anos 1980 em diante, formatando o que viríamos a conhecer como metal progressivo, mesmo tendo chegado tarde, diria, na cena, com tantas outras bandas já produzindo esse tipo de material.

Mas não duvide, caro amigo leitor, de que o Mcoil goza de algumas boas peculiaridades, a começar pelo vocal áspero, pela bateria pesada e veloz, pela guitarra crua, de riffs pesados e baixos galopantes, pulsantes. Não há o que contestar sob o aspecto instrumental. É um álbum solar, vibrante e bom do início ao fim.

Mas antes de falar de “All Our Hopes”, vamos falar um pouco da história de Mcoil, apesar da escassez de informações sobre a mesma na grande web. O Mcoil foi formado em 1976 na cidade de Ober Schwaber, na Alemanha. Dois anos mais tarde, em 1978, a banda produziu e distribuiu, de forma independente, 500 cópias das faixas “Mask of Life” e “A Better Day”, que foi gravado como single.

Venceram várias bandas em festivais de rock o que foi decisivo para a produção de seu primeiro álbum, o “All Our Hopes”. O produtor Dieter Ege, que trabalhou com bandas do naipe de Everyone's Daughter, Ghosttrain, Kraan, entre outros, acompanhava de perto a apresentação da banda à época, reconheceu as habilidades do Mcoil e propôs a produção do álbum, sendo concebido no próprio estúdio de Ege, o “Ege-Sound Studio”, em uma prensagem limitada e privada.

O Mcoil foi formado por quatro membros, sendo esta a que gravou “All Our Hopes”: Walter Utz nos teclados, Karl Wild na guitarra, Norbert Kuhpfahl no baixo e Andy Tischmann na bateria.

O álbum é inaugurado pela faixa “Be Careful” com a introdução de teclados em total simbiose com os riffs pegajosos e pesados de guitarra e uma seção rítmica invejável, bateria marcada, baixo pulsante e um vocal rasgado e rouco que, a princípio, pode destoar da complexidade instrumental, mas ganha algo de exótico. Nesta faixa predomina o hard rock que traz o proto metal representado pelo peso da bateria tocada velozmente e solos diretos e poderosos de guitarra.

"Be Careful"

Segue com a faixa título, “All Our Hopes” que, no auge de seus quase nove minutos de duração traz a textura progressiva da banda. O teclado dita sua presença na introdução com uma atmosfera sombria, soturna, bateria ao fundo e a guitarra, ao estilo floydiano, canta suavemente, contemplativa, solos limpos e arrepiantes muito bem executados. Até mesmo o vocal, sujo e indulgente, deu lugar a algo mais melódico e limpo, seguindo a proposta de faixa, complexa e progressiva, cheia de viradas rítmicas e uma delas com passagens mais voltadas para o hard rock.

"All Your Hopes"

“This Time Should Never End” começa rasgando com guitarras mais distorcidas, com riffs mais pesados e teclados mais espaciais ao estilo Hawkwind. A seção rítmica, a “cozinha” é poderosa, conferindo “corpo” a música conforme ela se desenvolve. O teclado deixa a música mais dançante, solar, mas não menos pesada. “Mask of Life” traz de volta uma atmosfera mais soturna em seu começo, dando lugar a um belíssimo trabalho percussivo. A bateria se faz pesada e veloz, o proto metal está evidente e a música pode se adequar a qualquer faixa de qualquer banda oitentista da cena heavy. Música excelente!

"Mask of Life"

“Sailing Around” é mais cadenciada, se revelando um ótimo “exemplar” de hard prog, com um lindo duelo de guitarra e teclado, com a bateria, marcada, dando o ritmo à proposta da faixa. E falando em teclado, os solos são fantásticos, rivalizando com riffs poderosos de guitarra. Outra grande faixa!

"Sailing Around"

“Once In The Summernight” traz de volta o peso do proto metal. A guitarra com riffs pesados e velozes, tem uma simbiose excelente com o baixo, tocado galopantemente e uma percussão invejável. Solos de guitarra bem elaborados são ouvidos no terceiro minuto de música. “Whats This Live” segue na mesma vibe: peso, porém cadenciado, retomando os tempos do bom e velho hard rock setentista, com o teclado trazendo uma textura mais enérgica, ao estilo Uriah Heep e Deep Purple. A bateria é um espetáculo à parte: estrondosa, poderosa!

"Walk This Live"

“A Better Day”, lançada como single em 1978, mas excluída na época do lançamento do álbum um ano depois, em 1979, mas relançada em 1993, como bônus track pelo selo “Garden of Delights” é dançante, parece até uma galhofa sonora, mas é bem solar, animada, mas não se engane, caro leitor, logo irrompe o peso orquestrado pelos riffs da guitarra, entregando um belo hard rock.

O Mcoil trafegou pelos anos 1980 nas sombras do seu único lançamento, “All Our Hopes”, e reza a lenda que eles teriam gravado um segundo álbum, em 1981, ainda inédito, ou seja, não foi lançado. Ao longo desse período o Mcoil teve algumas mudanças de formação. Andy Tischmann foi substituído por Rudolf Scheich, recrutando mais um guitarrista, o Dieter Eisenmann, trabalhando com cinco músicos.

Mas a falta de apoio por parte da indústria fonográfica fez com o Mcoil de desfizesse em 1986, com três membros formando a banda de heavy metal Stinger. Em 1993 “All Our Hopes” foi relançado pelo selo valoroso alemão, o “Garden of Delights”, trazendo alguma visibilidade ao álbum e banda. Em 2017 o tecladista Walter Utz morreria.

“All Our Hopes” entrega tudo que uma banda de hard prog dos anos 1970 pode oferecer: peso, complexidade, teclados atraentes, guitarras pesadas e melodias instantaneamente viciantes, além de um vocal exótico. Não se tem informação da origem do nome, mas, se me perdoem a licença poética, o óleo da banda explode em um rock n’ roll poderoso e envolvente. Altamente recomendado!




A banda:

Walter Utz nos vocais e teclados

Karl Wild na guitarra e backing vocals

Norbert Kuhpfahl no baixo

Andy Tischmann na bateria

 

Faixas:

1 - Be Careful

2 - All Our Hopes

3 - This Time Should Never End

4 - Mask of Life

5 - Sailing Around

6 - Once in the Summernight

7 - What's This Live

 

Bônus track:

8 - A Better Day (4:16) *



"All Your Hopes" (1979)








 












 



terça-feira, 29 de outubro de 2024

Eneide - Uomini Umili Popoli Liberi (1972 - 1990)


Será que podemos considerar as bandas que lançam apenas um álbum, que são muitas espalhadas por esse mundo, de ruins? O que ocasiona a precocidade desses momentos? Quais são os fatores? É predominantemente incompetência das bandas de gerir a sua música e carreira? Ou apenas um azar comercial que impede de a banda seguir com a sua trajetória musical?

Cada banda traz uma realidade diferente e cabe a este reles e humilde blog trazer o máximo possível dessas histórias que definitivamente são ricas e que são verdadeiros exemplos de amor à sua música, de reverência a sua verdade sonora, mesmo que o fracasso comercial venha à tona, muitas vezes, de forma visceral.

E, para variar, vou trazer uma história de uma banda italiana que gravou apenas um álbum e ainda com um agravante: não foi lançado no ano de sua gravação e, por anos, hibernou esquecida nos porões do rock n’ roll assumindo a condição de obscuridades. Falo da banda ENEIDE.

Os primórdios da banda se deu na cidade de Pádua, no início dos anos 1970 e tinha o nome de “Sensazioni” e os integrantes dessa embrionária banda eram muito jovens, adolescentes, diria, e estavam na faixa dos 14 anos de idade! Tinha na formação o baixista e líder do projeto Romeo Pegoraro, o baterista Diego Moreno e o cantor e guitarrista Gianluigi Cavaliere.

Adriano Pegoraro, que era guitarrista, flautista e saxofonista, era amigo de Romeo e fazia parte de uma banda chamada “Dragoni” (sua música foi influência da futura Eneide), foi convencido a fazer parte do Sensazioni, dispensando o guitarrista Gabriele Trevisan e efetivando um tecladista chamado Antonio Venturini.

A banda estava formada, mas o nome mudou para “Eneide Pop 70” e começou a tocar em clubes locais, lugares pequenos, acanhados e de estrutura simples, tocando covers de bandas italianas e estrangeiras, como Led Zeppelin, Vanilla Fudge, King Crimson etc. além de tocar algum material autoral que já possuíam. Os problemas com a rotatividade de integrantes começaram a dar problemas e o teclacista Antonio Venturini foi o primeiro a sair do Eneide Pop. Ele não convenceu nos teclados. Decidiram procurar por outro músico efetivaram um tecladista mais conhecido chamado Carlo Barnini, que era da banda “Stato d’Animo”.

A partir daí parecia que a sorte começava a sorrir para os meninos do Eneide Pop, quando em 1972 um empresário de nome Luciano Tosetto, encarregado de organizar turnês de grandes bandas na Itália viu o Eneide Pop tocar em um show local e os convidou para participar de alguns festivais que estavam em voga na Itália àquela época.

Os jovens músicos do Eneide chegaram a tocar, nesses festivais, com bandas do naipe do Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, Delirium, Formula 3 e muitas outras. Nova mudança ocorreu no nome da banda, encurtando para apenas “Eneide” e, nesse momento, ocorreu o ápice desses jovens músicos, tocando ao lado dos já figurões da música progressiva mundial, os ingleses Genesis e Atomic Rooster e dando suporte ao Van der Graaf Generator em seis datas de sua turnê pela Itália. Sem dúvida um momento importante para mostrar o seu trabalho autoral que já era a intenção principal da banda, deixando de lado os covers de bandas famosas.

O Eneide, nesta época, contava com a seguinte formação: Gianluigi Cavaliere, nos vocais e guitarra, Adriano Pegoraro, na guitarra, flauta e vocal, Carlo Barnini, teclados e vocal, Romeo Pegoraro, no baixo e vocal e o baterista Moreno Diego Polato. Com essas apresentações em festivais italianos e sendo suporte para bandas como Genesis, Atomic Rooster e Van der Graaf Generator e as suas intensas apresentações na cena undergroud de Pádova e Veneza, em 1972 Maurizio salvadori e Luciano Tosetto, da agência de show milanesa, Trident, perceberam que a banda tinha potencial e os contrataram.

Eneide

A Trident era uma produtora de shows, mas queria se aventurar como gravadora e o Eneide talvez tenha sido uma das primeiras bandas a ser contratada por jovem selo de Milão. A popularidade adquirida graças a esses shows e as intensas apresentações em clubes locais fizeram com que a Trident não apenas o contratasse, mas que gravassem um álbum.

A banda já tinha música autoral o suficiente para gravar o seu debut e estavam, evidentemente, animados com a possibilidade de trazer à vida o seu primeiro trabalho, ainda muito jovens, na faixa dos 16 e 17 anos! Muito jovens e já com um currículo invejável. Então, em 1972, entre os meses de setembro e novembro entraram em estúdio para realizar seus sonhos: gravar o seu primeiro álbum.

Tudo correu bem, todos os trâmites de gravação tiveram sua sequência realizada sem maiores problemas. Mas por uma razão misteriosa, estranha mesmo, o álbum, intitulado “Uomini Umili Popoli Liberi”, não foi lançado naquele ano. Reza a lenda que a empreitada da jovem gravadora Trident não vingou, simplesmente faliu.

Porém, à época da sua fundação, sempre foi produtora de shows, quatro bandas foram contratadas para lançar seu álbum no jovem selo da Trident. Foram eles: o primeiro do Dedalus, homônimo, o “Time of Change”, do The Trip e o debut do Semiramis “Dedicato a Frazz”. Todos foram lançados oficialmente, mas não o álbum do Eneide. Simplesmente as cópias não foram impressas, apesar de as matrizes já terem sido prontas há algum tempo, o que torna a situação ainda mais estranha.

Independentemente do que aconteceu, o que teria ocasionado com o engavetamento do trabalho inaugural do Eneide, o fato foi que esse lamentável ocorrido, foi um duro golpe para promover a banda e acabou obrigando os jovens músicos a se refugiar em outro lugar. Primeiro abriu as datas do cantor Maurizio Arcieri (na época ainda em fase melódica), tocando as suas músicas e um set com o material do Eneide e depois se tornando sua banda de apoio até que, em 1974, o Eneide se dissolveu completamente, saindo de cena de forma melancólica, abrupta e triste. Muitos também atribuem esse precoce fim, não apenas em decorrência do não lançamento de seu álbum por conta da falência da Trident, em 1975, mas a incompetência da própria banda, de gerir-se. Mas quem irá saber?

Mas aqui não é o fim, afinal, precisamos falar de “Uomini Umili Popoli Liberi” e da sua qualidade sonora que é, sim, inquestionável para àquela época mágica do rock progressivo italiano, sobretudo na primeira metade dos anos 1970. Porém cabe ressaltar que o único trabalho do Eneide não continha elementos progressivos de forma majoritária. 

As faixas, com duração, em média de 4 minutos de duração, tinham estruturas básicas, que variava de uma mistura de baladas acústicas, além de pegadas psicodélicas e de blues. Os instrumentos dominantes no álbum são os teclados e a guitarra, embora a flauta também tenha destaque, sem contar com o vocalista principal que tinha um tom áspero e grave, mas cantando com sentimento e aquele toque de dramaticidade típico dos cantores italianos.

“Uomini Umili Popoli Liberi” traz jams de rock estilo “garage” com toques bem suculentos e enérgicos, com ritmos até agressivos, bastante convencionais, flertando, como disse, com o classic rock, prog rock e hard rock. Diria que, embora seja um álbum básico, traz um leque de opções sonoras o tornando um trabalho versátil e diversificado que pode atingir a todos os ouvintes com suas predileções musicais. Mas ainda tem algo a apresentar, sobretudo nos momentos mais suaves, com o uso do violoncelo e flauta realçando esse momento. 

Mas não se enganem, prezados leitores, que há essa separação de ambientes no som do único álbum do Eneide, é possível ouvir, entre as dez faixas do trabalho, riffs pesados de guitarra, melodias de teclados e intervenções preciosas de flauta. Trata-se de um álbum muito maduro, levando em consideração que os músicos eram muito jovens à época.

A faixa inaugural é “Cantico Alle Stelle-Traccia 1” que começa um tanto quanto pastoral quando os vocais se juntam, trazendo também alguns sons do violino. Trata-se de uma abertura melódica, diria sinfônica, simples. Na segunda parte da música o hammond ganha destaque levando a música a territórios mais próximo do rock progressivo.

"Cantico Alle Stelle-Tracia I"

Segue com “Il Male” que é uma faixa decididamente mais enérgica que a anterior. A bateria e os teclados são liderados por vocais agressivos e poderosos, com alto alcance, inclusive. Essa condição entrega uma faixa mais voltada para o hard rock, quando é interrompido ou melhor, suavizado pelo uso da flauta que lembra um pouco a banda Delirium. Guitarras e sintetizadores são os destaques nessa faixa, com a bateria trazendo o ritmo, conduzindo-o.

"Il Male"

“Non Voglio Catene” é a música que mais se aproxima dos estilos progressivos que eram executados à época e a única que ultrapassa os 5 minutos de duração. A composição é excelente e traz o moog e o violão em evidência, trazendo um viés mais acústico, até que, em determinado momento, o hammond se torna mais enérgico, tornando-se mais agradável.

"Non Voglio Catene"

“Canto della Rassegnazione” é uma balada curta, com vocais mais suaves, quase frágeis, diria, com sons delicados de violinos e uma flauta que termina a faixa. É seguida pela música “Oppressione e Disperazione” que traz versões mais duras e pesadas de blues rock ditadas pelo entrelaçamento do hammond e da guitarra. A bateria é o tempero que entrega a música o peso e quando mesclada ao órgão e a guitarra essa máxima é corroborada. Excelente faixa!

"Oppressione e Disperazione"

“Ecce Omo” apresenta, no início, a bateria, forte e altiva, com sintetizadores e a guitarra no início. Os teclados dominam a faixa, logo depois a flauta entra e a mesma, juntamente com a guitarra, se entrelaçam. Um bom exemplo de hard prog! "Uomini Umili Popoli Liberi" começa com melodias vocais, mas logo vocais ásperos se juntam, com a flauta se junta com peças de hard rock promovendo um contraste entre suavidade e peso, talvez um bom exemplo de hard prog também.

"Uomini Umili Popoli Liberi"

“Viaggia Cosmico” que inicialmente nos conduz a uma audição ao estilo space rock, graças aos teclados e logo depois vem uma balada lenta, onde o vocal é apoiado por violão e um violino. Bela faixa! Na mesma sintonia vem a curta “Un Mondo Nuovo”, uma balada acústica com nuances de violino e flauta, mas que não é tão incisiva e não deixa muito impacto. O álbum fecha com "Cantico Alle Stelle -Traccia II", que é realmente uma reprise da faixa de abertura.

"Un Mondo Nuovo"

A primeira edição oficial de "Uomini Umili Popoli Liberi" finalmente foi lançada em 1990 pelo selo privado LPG em uma edição limitadíssima de apenas 500 cópias e cerca da metade foi autografada pelo guitarrista Gianluigi Cavaliere, uma verdadeira raridade aos fãs da banda e de raridades como um todo. Esse exemplar veio com capa “gatefold” contendo a letra e etiqueta cinza/marrom com escrita branca, trazendo uma imagem da banda se apresentando. Enquanto uma segunda impressão, com aproximadamente o mesmo número da primeira edição, tem capa única e etiqueta azul clara, também neste caso com alguns exemplares numerados e autografados.

E esse lançamento, quase vinte anos depois, aconteceu porque Cavaliere guardou as fitas à época do não lançamento do Eneide em 1972 e também do interesse de um amigo que, após o lançamento oficial, tiveram a oportunidade de divulgar o álbum com a ajuda do selo icônico “Black Widow”, de Gênova.

Teve um relançamento, em CD, de 2011, pelo selo “AMS”, onde há duas faixas adicionais inéditas, retiradas do projeto de 1995, intitulado “Oblomov’s Dream” quando a banda tentou se reunir. Estavam nesse projeto, além do guitarrista Gianluigi Cavaliere, Romeo Pegoraro e Diego Polato e a ideia era lançar um novo álbum, mas os compromissos profissionais não possibilitaram concluir as gravações e pararam no meio do caminho. Eles ainda possuem essas fitas, quem sabe um dia podemos presenciar um novo álbum do Eneide. A mesma gravadora relançou o álbum, em vinil, com capa “gatefold”, mas sem as duas faixas extras da edição em CD.

O guitarrista Cavaliere permaneceu no cenário musical como instrumentista e produtor e ainda toca com o baixista Romei Pegoraro em uma banda chamada Chantango, que mescla diferentes estilos de música e poesia com o tango. Romeo toca baixo como concertista profissional no “Maggio Musicale Fiorentino”. O baterista Diego Polato toca em várias bandas de rock progressivo, assim como seu filho e o guitarrista Adriano Pegogaro também continua seguindo com sua carreira de músico. O único que deixou a música foi o tecladista Carlo Barnini que atualmente é veterinário.

Cavaliere conheceu, em 1994, Peter Hammill e David Jackson, ambos da formação clássica do Van der Graaf Generator e conversaram sobre a possibilidade de Jackson tocar no que seria o segundo álbum do Eneide, o “Oblomov’s Dream”, mas não foi para frente, não fazendo mais nada, porém mantém, até hoje, contato com esses dois icônicos músicos da história do prog rock.

Fracassos, precocidade na sua história, falta de uma gestão de carreira.... Muitos podem ser os fatores para uma ruptura na longevidade ou não de uma banda, o fato é que o único trabalho do Eneide, embora não traga nada de revolucionário para a história do rock progressivo italiano deixa uma marca importante naquela época de desbravamento da música, mostrando-se essencial por se tratar de um álbum que entregou uma interessante diversidade sonora.




A banda:

Carlo Barnini nos teclados, minimoog e backing vocals

Gianluigi Cavaliere nos vocais principais, gutarra elétrica e acústica

Adriano Pegoraro na guitarra, flauta e backing vocals

Romeo Pegoraro no baixo e backing vocals

Mereno Diego Polato na bateria

 

Faixas:

1 - Cantico alle Stelle - Traccia I

2 - Il Male

3 - Non Voglio Catene

4 - Canto della Rassegnazione

5 - Oppressione e Disperazione

6 - Ecce Omo

7 - Uomini Umili Popoli Liberi

8 - Viaggia Cosmico

9 - Un Mondo Nuovo

10 - Cantico alle Stelle - Traccia II 



"Uomini Umili Popoli Liberi" (1972 - 1990)