segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Moby Dick - Moby Dick (1973 - 2001)

 

Nesses últimos anos estamos presenciando algumas notícias, no mundo da música, de plágios, de disputas judiciais por conta desses eventos e algumas discussões, entre os fãs de rock n’ roll, de bandas que emula sons de outras clássicas, mais antigas. O advento das redes sociais fez com que essas discussões ganhassem também mais visibilidade.

Talvez questões como essas que são discutidas podem não ter tanta relevância, talvez, pelo menos para mim, o mais importante é que o rock seja alvo de discussão e debate, tendo essa vertente sonora ganhando um pouco mais de destaque entre os fãs. O fato é que o assunto vem ganhando corpo nos fóruns da grande web.

As bandas das décadas de 2000, da cena do stoner rock, por exemplo, chamada, talvez equivocadamente de “rock retrô”, vem puxando esses assuntos, pois trazem, de forma veemente, um viés do hard rock dos anos 1970, principalmente, criando uma espécie de rejeição para uma ala, mais conservadora, diria, de fãs e de um resgate de épocas prolíficas para outros.

O fato é que que temos uma discussão afiada por debates acalorados, tensos e até perigosos, porque a web hoje, da mesma forma que projeta positivamente falando, pode servir como uma espécie de tribunal definindo a derrocada de determinadas bandas.

Mas não se enganem, amigos leitores, que essas discussões são suscetíveis aos tempos atuais, a bandas da atualidade, mas algumas do passado também e que decretado o fim de muitas bandas, além, claro, de outros fatores. E hoje falarei de uma banda italiana que caiu no ostracismo no passado por demonstrar com evidência sonora, as suas predileções sonoras, seu apreço por outra clássica e pioneira do hard rock, o Led Zeppelin. Qual é a banda? O MOBY DICK!

Moby Dick em 1969

O apreço pelo Led Zeppelin já começa pelo nome da banda, uma ode a um dos clássicos do gigante britânico, mas não termina por aí, há também uma referência, claro, a sonoridade que, se você, caro leitor, que não conheça a banda italiana, às cegas, provavelmente poderia lembrar de imediato do Zeppelin, de músicas antigas da banda que não foi lançada, mas não. Confesso que, ao ouvir pela primeira vez o Moby Dick me incomodou por ter essa similaridade tão viva com o Led Zeppelin, porém é inegável que o hard rock apresentado pelo Moby Dick é estiloso e cativante!

Antes de falar das músicas do Moby Dick vamos tentar trazer à tona a história dessa banda desconhecida que teve uma vida precoce e que foi esquecida e jogada nos empoeirados porões da história da música. Convém ressaltar, antes de qualquer coisa, de que pouco se tem de referências a respeito do Moby Dick, o que se torna óbvio pelos seus “tons” obscuros.

O Moby Dick foi formado em 1968 na cidade de Nápoles, na Itália, cena que aprecio muito, a napolitana, de onde saiu grandes bandas que ajudaram a formatar o rock italiano na transição dos anos 1960 e 1970, e teve no baixista Enzo Petrone como o embrião do som dessa banda. Petrone havia saído de outra grande banda local chamada de “I Volti di Pietra”, lendária e que fez algum sucesso na cena local de Nápoles, porém nunca gravou nada oficialmente e que também deu luz ao Osanna, outra grande banda napolitana. 

Outros músicos que se integrariam ao Moby Dick, como o guitarrista Toni Di Mauro e o baterista Adriano Assanti também tocariam com o vocalista do próprio Osanna, Lino Vairetti, na banda “I Collegiali”. Outro que viria a fazer parte do Moby Dick seria o vocalista Sandro Coppola que assumiria também a guitarra.

Cabe aqui, como um fato histórico, que o Moby Dick teria brevemente em seu line-up o vocalista Marco Cecioni, do Il Balletto di Bronzo e o percussionista Toni Esposito que tocaria nos primeiros álbuns de Allan Sorrenti e depois teria uma bela carreira solo.


A banda nos seus primórdios fez algumas apresentações ao vivo e sempre agitou o público com a sua sonoridade calcada no hard rock britânico, vívido, altivo e pleno, fugindo um pouco do que se ouvia nas outras bandas de sua época na Itália que, apesar de algumas apresentarem músicas mais pesadas, traziam também a tipicidade da música que notabilizaria na Itália no início dos anos 1970, como o progressivo e o prog sinfônico.

E tais apresentações renderam um EP, que foi gravado nos estúdios da RCA, um total de três músicas, em italiano, e mais próximos do estilo sonoro que se ouvia, nos anos 1970, naquele país, são as músicas: “Il Giorno Buono”, “Ad Ogni Costo” e “Parlo Nel Vento”. Esse EP foi concebido em 1970.

"Il Giorno Buono"

Em 1973 o Moby Dick entraria no Olympic Studios, em Londres, em 1973, sendo a primeira banda italiana a gravar naquela cidade da Inglaterra e tudo parecia que estava dando certo e tendendo para a gravação de seu primeiro álbum de estúdio naquele ano. Mas infelizmente o trabalho do Moby Dick não atrairia interesse da indústria fonográfica para lançar esse material. Inclusive teve uma sondagem da EMI, mas a condição era que a banda cantasse em italiano, mas o Moby Dick, determinado, recusou a proposta, pois queriam cantar em inglês.

Para muitos a dificuldade do Moby Dick em ter seu álbum lançado oficialmente seu deu exatamente por esse motivo, por optar em cantar em inglês e ter esse viés sonoro ligado ao Led Zeppelin que, para muitos, a banda, por conta disso, não tinha uma sonoridade original. O assunto rende debates, mas o fato é que a banda, por falta de apoio e por defender seus propósitos sonoros, não vingou na cena rock italiana.

Apesar do álbum do Moby Dick não ter sido lançado oficialmente em 1973 e sim vinte e oito anos depois, em 2001, como muitos casos de bandas obscuras que não tiveram seus discos lançados, foram redescobertos pelo selo Akarma, essas gravadoras abnegadas e undergrounds, sendo finalmente lançados. Inclusive, como faixas bônus, o seu EP, com aquelas três faixas gravadas em italiano, também foi relançado.

O álbum do Moby Dick traz um volumoso e potente hard rock que, embora tenha uma forte influência, direi influência, do Led Zeppelin, mostra muito estilo e entrega exatamente o que se espera um fã do estilo: peso, agressividade e muito talento. Sim, seus músicos, apesar de qualquer debate e discussão polêmica, eram extremamente talentosos!

O álbum é inaugurado pela música “Two Timing Girl” que já chega botando o pé na porta fortemente, com um riff cheio, potente de guitarra. O vocal é interessante, mas talvez seja a única coisa que não se assemelha tanto ao Led, ao vocal de Robert Plant. A bateria tem batida forte, é intensa, solos diretos de guitarra recheiam o som pesado que vem e vai, mas que, quando se encaminha para o final, é bem elaborado e de tirar o fôlego. Segue com “Free Wheelin Cat” começa com dedilhados de guitarra, mas que irrompe em uma explosão de hard rock capitaneado pela bateria, marcada e pesada, baixo galopante e vocais mais potentes. Solos mais sujos de guitarra são ouvidos me remetendo a um heavy metal de vanguarda.

"Two Timing Girl"

A próxima faixa, “My Friend”, tem o destaque também, principalmente inicial da “cozinha” da banda. Inicia com um solo meio jazzy de bateria, depois entra o baixo tocado fortemente e depois explode em um hardão típico, mas cadenciadamente, bem dançante. “What Time Is It” que já foge das propostas anteriores entregando uma linda balada, calcada em uma proposta mais acústica, ao violão, no início, com um vocal calmo, leve, mais introspectivo. Aos poucos a música vai encorpando tendo a guitarra e a bateria dando esse suporte, essa textura.

"My Friend"

“Provisional Baby Hip” tem no início a pegada mais focada na balada, como na faixa anterior, mas por pouco tempo, porque o vocal, mais gritado, anunciaria o peso do hard rock que viria. Bateria cheia de groove, baixo pulsante e dançante, riffs poderosos de guitarra confirmam a nova vibe da faixa. “Groove Me” segue basicamente a proposta da música anterior, com peso e uma pegada mais animada, solar e dançante. O nome da música faz jus a ela.

"Provisional Baby Hip"

E fecha com “Sex 'n' Roll Express” que começa com um baixo cheio de ritmo, de balanço, e que logo se ouve um “trovão” com riffs de guitarra poderoso e bateria marcada e dando uma textura hard rock solos de guitarra se ouve. Uma faixa com a predominância de um instrumental soberbo corroborando o quão competentes eram os músicos do Moby Dick.

"Sex 'n' Roll Express"

O Moby Dick iria se separar um pouco depois das gravações que fizeram em Londres, na Inglaterra. O fato ocorrido com a EMI também gerou uma falta de estímulo entre os músicos. O baixista Petrone se juntaria, no futuro, ao antigo companheiro, Lino Vairetti, no Osanna, participando do álbum “Suddance”, de 1978 e tocando ainda no retorno da banda, em 2001, com o álbum “Taka Boom”. Toni Di Mauro iria morar na Suécia como um ex-membro do Il Balletto di Bronzo. Sandro Coppola ainda está ativo em Nápoles como guitarrista e Adriano Assanti mudou-se para a Suíça epor lá dedicou-se à música New Age.

Lançado em 2001, pelo selo Akarma, o único álbum do Moby Dick ganharia uma bela capa, em LP, texturizada gatefold. Essa mesma gravadora relançaria, em uma segunda edição, o álbum com o mesmo design de capa da primeira edição, mas um tipo diferente no nome da banda. Uma versão, em CD, foi feita nos Estados Unidos, pelo selo Bull’s Eye, em 2009, com capa digipack e as três faixas adicionais, em italiano, do EP que foi lançado em 1970.

Nova versão da capa do álbum

Plágio? Influência? Referência? Polêmica? Banda impostora? O debate pode ser válido, afinal termos fãs discutindo sobre o rock n’ roll é animador, mas o mais importante, penso, ainda é a música e o Moby Dick executou, magistralmente, as suas músicas, promovendo um hard rock genuíno, poderoso e verdadeiro em suas fundações sonoras.

 

A banda:

Sandro Coppola no vocal e guitarra

Toni di Mauro na guitarra e vocal

Enzo Petrone no baixo

Adriano Assanti na bateria

 

Faixas:

1 - Two Timing Girl

2 - Free Wheelin Cat

3 - My Friend

4 - What Time Is It

5 - Provisional Baby Hip

6 - Groove Me

7 - Sex 'n' Roll Express



"Moby Dick" (1973 - 2001) 





























quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Crash - Cassette (1978 - 2019)

 

Lamentavelmente estamos vivendo em um patamar de péssimo gosto musical. Embora seja temeroso dizer isso, haja vista que a percepção musical é particular, é de cada um, admitamos que certas sonoridades são no mínimo discutíveis em sua qualidade. Sons rasos, cheio de rótulos, estereotipados, plastificados, um verdadeiro cenário desolador, capitaneado por um mercado tendencioso que, perverso, incute na mente das pessoas que aquele som, aquela música, aquela cena é a viável para as suas vidas.

Mas nem tudo é tão desolador e perigoso assim! Atualmente temos presenciado alguns selos, undergrounds, claro, que abnegados que são, tem trazido à luz rocks obscuros, esquecidos pelo tempo, engavetado pelo preconceito e graças ao advento das redes sociais e pela grande rede, tem disseminado esses lançamentos de bandas que, independentemente de sua época, sequer tiveram seus materiais lançados oficialmente.

E esse punhado de gravadoras, espalhadas pelo mundo, tem cavado fundo, levando poeiras que, grossas e pesadas, apagam o brilho de muitas sonoridades incríveis, bandas que teriam projeção, que tinham tudo para seguir suas trajetórias, suas histórias personificadas em seus álbuns e são esquecidas pelo tempo, pelo homem. E finalmente tem a chance de existir e catapultar as suas músicas por intermédio dos LPs, dos CDs.

Joias raras, brutas pelo massacre do tempo, são lapidadas pelos lançamentos, pelos engajamentos (palavra da moda) de apreciadores da boa música. A internet é o trampolim de tudo que nele é injetado para as massas ouvirem. Bem pode parecer estranho aliar a audição das massas às bandas obscuras que apresento neste blog, mas o fato é que se não teve tanto acesso no passado, difícil, hoje, mesmo que não atinja tantas pessoas, o cenário é mais benevolente para atingir a mais ouvidos e corações.

Sem mais delongas vou apresentar uma banda, claro, obscura, que descobri recentemente, movido pelas minhas incursões ao mundo maravilhoso do desconhecido, do lado negro do rock n’ roll e da viagem que representa o desbravar. E foi a apresentação, confesso, que me chamou a atenção: jazz rock fusion e melhor, da Polônia, fugindo um pouco dos grandes “centros” do rock no mundo. Falo da banda CRASH.

E quando a gente fala da Polônia, entre outras coisas, nos anos 1970, entre outras coisas, fala também da Cortina de Ferro e das censuras que os países do Leste Europeu sofreram com o governo de Moscou, na antiga União Soviética, na Guerra Fria, com as disputas ideológicas entre capitalismo e socialismo, disputas armamentistas e tudo o mais.

E nesse ambiente beligerante o Crash desenvolveu sua sonoridade e ainda assim conseguiu evoluir seu som e adquirir alguma visibilidade na cena jazz rock da Polônia. A música de fato rompe fronteiras e dilacera qualquer cenário político distorcido, nocivo e destrutivo, independente se é ou não a Cortina de Ferro, o sistema neoliberalista ou qualquer coisa que seja.

O Crash, ao longo dos anos 1970, se tornou uma das mais interessantes bandas da sua vertente sonora e tocou em alguns festivais europeus ganhando prêmios e, consequentemente, reconhecimento de um público, embora pequeno, mas ávido pelo estilo que desenvolviam muito bem. A banda, naquela década, também se apresentou com músicos importantes, como Sonny Rollins, saxofonista icônico norte-americano, que fez sua carreira, produtiva, no jazz.

E essa evolução da sonoridade da banda, que a fez edificar alguma credibilidade na cena polonesa e até mesmo em alguns países pelas quais passaram, se deu pelas inúmeras mudanças na sua formação ao longo dos anos 1970. Mas o que poderia ser um risco para a descaracterização de sua sonoridade, os músicos que entraram entregaram características únicas no som da banda.

Mesmo com a sua caminhada sendo feita de acordo, com shows em festivais, com reconhecimento de sua música, a banda sofreu com o ostracismo, com o pouco apoio e gravou apenas um trabalho, entre 1977 e 1978, mais precisamente na primavera de 1978, chamado, por alguns de “Cassette”. Agora creio que você, caro leitor, deve estar se perguntando o porquê do nome “Cassette”.

O Crash gravou as músicas que compuseram esse trabalho, no estúdio de uma rádio polonesa, em Opole, e lançada, diria de forma “artesanal”, em uma fita cassete, uma dessas fitas de áudio, pelo selo Wifon. É também chamada de “Kakadu: The Lost Tapes (1977-1978) ”, mas esse nome se fortaleceu quando o álbum foi lançado, no formato LP, em 2019, mas acalme-se, aclamado leitor, isso eu falarei logo mais...



O Crash, oriundo da cidade de Breslau, quando gravou “Cassette” era formado por: Władysław Kwaśnicki, no alto saxofone e soprano saxofone, Andrzej Pluszcz no baixo, Stanisław Zybowski na guitarra, Zbigniew Lewandowski na bateria e percussão, Juliusz Mazur no piano, sintetizador (moog), com Zbigniew Czwojda no trompete e Władysław Gawroński no designer e produção de álbum.

O álbum, como já denunciado, é uma incrível fusão entre jazz, rock n’ roll e rock progressivo, pinceladas com uma pegada de funk com viés dançante extremamente competente, sofisticado e orgânico. Percussão envolvente e solar, som penetrante do trompete, do saxofone, com riffs de guitarra intrigantes, por vezes pesado, com solos dedilhados que trazem à tona o jazz. Um típico jazz rock, mas muito inspirado, mostrando que a banda estava no seu auge criativo por desenvolver um som, ao mesmo tempo acessível e complexo.

O álbum é avassaladoramente inaugurado com a faixa “Koncowka Banderoli” que, no auge dos seus mais de nove minutos de duração já inicia com a bateria percussiva e marcada mostrando personalidade e peso, isso mesclado a uma pegada meio funk e soul e um dedilhado de guitarra que dá o tempero necessário para toda essa miscelânea sonora. Sim! Uma mistura que traz vários “humores” ao som dessa faixa, corroborando a sofisticação progressiva repleta de viradas, de mudanças rítmicas. Não podemos negligenciar o jazz rock com profundo destaque graças ao saxofone. Música impecável!

"Koncowka Banderoli"

“Kakadu” entra na sequência com riff de guitarra mais discreto, bem rudimentar, mas que se torna um portão de entrada para o jazz rock mais maduro e evidente, com uma vibe bem peculiar e animada que se configura com um piano solar e tocado de forma enérgica e frenética, diria. O Saxofone surge com dosagens potentes e diretas que “rivaliza” com o piano e que entrega, mais uma vez, aquelas “viradas” de ritmo mostrando a pegada progressiva ao som.

"Kakadu"

“Nocna Zabawa” começa mais animada, a guitarra, com seus dedilhados, é responsável por isso, juntamente com o baixo, que traz de volta a pegada mais funk e soul. Uma faixa com muito “balanço” e groove. Instrumentos de corda e de sopro em uma incrível simbiose sonora e ainda com direito a solos de bateria, cheio de viradas e de moog.

"Nocna Zabawa"

“Baraqua” traz de volta, sobretudo na sua introdução, o jazz, com destaque para o saxofone tocado de uma forma bem viajante e até mesmo lisérgica, algo de psicodélico incrementa a música. É uma pegada mais experimental no seu início, mas que irrompe para algo mais dançante e animado. A bateria encorpa a faixa, deixa ela mais pesada, em alguns momentos. Uma faixa cheia de “recursos sonoros”. “Trzy Po Cztery” começa inusitada! Algo como um progressivo sinfônico mesclado ao jazz rock, com riffs de guitarras um pouco mais altivo, sax em um tom mais alto, com solos de tirar o fôlego e um rock progressivo mais vivo e pleno, faz dessa música mais arrojada e intensa.

E fecha com a faixa “Akelei” que começa mais experimental e intimista, com bateria tocada de forma mais discreta e saxofone igualmente discreto. Mas surpreende por trazer, logo em seguida, algo mais “latino”, com percussão mais acentuada e que me fez lembrar até de bossa nova e samba rock, pasmem. Os apitos, ao fundo, parecem confirmar essa impressão.

Lamentavelmente o Crash não teve uma longeva vida e teve apenas esse registro que, ao ser gravado em fitas cassete, ficou escondida, esquecida nos escombros empoeirados do rock e nos arquivos do estúdio daquela rádio onde foram as faixas concebidas. A propósito a banda se reuniu com a cantora Grażyna Łobaszewska e lançou, em 1979, um álbum chamado “Senna opowieść Jana B.”, cujo álbum pode ser ouvido aqui. Traz, basicamente, uma sonoridade similar ao álbum que gravaram um ano antes, o “Cassette”. Porém depois disso nada mais gravaram e sumiram da cena musical polonesa.

Mas para a alegria dos apreciadores do jazz rock, do prog rock, em janeiro de 2019, o álbum foi remasterizado a partir das fitas originais encontradas nos arquivos da rádio polonesa em Opole e copiados, com precisão, sendo lançadas, no formato “LP”, com uma limitadíssima prensagem de 500 cópias, pelo selo Sound by Sound. Nesse lançamento de 2019 quatro gravações adicionais feitas por músicos em Opole, entre 1977 e 1987, foram adicionadas à lista de faixas. Há um livreto que apresenta um ensaio abrangente de Barnaba Siegel discutindo a história da banda e algumas fotos exclusivas de Wojciech Zawadzki.

Outro relançamento aconteceu em 2020, agora no formato “CD”, pelo selo GAD Records também aconteceu, brindando novamente os fãs de jazz rock que não tiveram a oportunidade de adquirir a versão em LP lançada um ano antes. Lançamentos assim para os colecionadores são oportunidades únicas para se ter, em sua estante, uma pérola da música, do rock polonês dos anos 1970, uma pérola mais do que recomendada do jazz rock.





A banda:

Władysław Kwaśnicki, no alto saxofone e soprano saxofone,

Andrzej Pluszcz no baixo,

Stanisław Zybowski na guitarra,

Zbigniew Lewandowski na bateria e percussão,

Juliusz Mazur no piano, sintetizador (moog)

Zbigniew Czwojda no trompete

 

Faixas:

1 - Koncowka Banderoli

2 - Kakadu

3 - Nocna Zabawa

4 - Baraqua

5 - Trzy Po Cztery

6 - Akelei



"Cassette" (1978) ou "Kakadu - Lost Tapes (1977-1978) - 2019"








 






















quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Excalibur - The First Album (1971)

 

Eu amo o rock n’ roll alemão dos anos 1970 porque é diverso, é rico em sonoridades, embora muitos coloquem todas as bandas surgidas naquela década, no “saco” do krautrock, com o intuito de vender o conceito tendo como premissa a cena ou por preguiça de perceber o quão vastas são as bandas sob o aspecto sonoro.

E não é só isso, aprecio e muito o rock germânico pelo simples fato de servir como conteúdo para este simplório e humilde blog, porque me serve e muito de referência pela infinidade de bandas obscuras e esquecidas pelo tempo, pelos fãs e pela indústria fonográfica.

Eu como um regente deste blog e apreciador de pérolas sombrias, vilipendiadas, jogadas nos escombros do rock, preciso, claro, desbravar e isso é maravilhoso, pelo fato de conhecer novas bandas e sons e para gerar conteúdo para este blog que você, distinto leitor, confere.

E a Alemanha é um celeiro de grandes bandas obscuras, uma árvore que gera inúmeros frutos e que insistem em cair em nossas mãos, ávidos, esfomeados por obscuridades! E a banda que falarei hoje personifica essa condição e traz em seu nome o poder, a força do seu som, mas que pereceu precocemente, tendo uma vida efêmera. Falo do EXCALIBUR.

Excalibur

Aos que apreciam história, como eu, “Excalibur” é a lendária espada do Rei Arthur, nas histórias do Ciclo Arturiano da Bretanha, à qual às vezes são atribuídos poderes mágicos ou está associada à soberania legítima da Grã-Bretanha. Em galês, a espada é chamada Caledfwlch; no dialeto da Cornualha, a espada é chamada Calesvol; em Bretão, Kaledvoulc'h; e em latim, Caliburnus.

Dama do lago oferecendo a Arthur a espada Excalibur

Eu não sei o que teria estimulado os integrantes do Excalibur a buscar esse nome, haja vista que o único álbum que a banda lançou, em 1971, chamado “The First Album”, não é conceitual, embora traga, em sua arte gráfica, a espada irrompendo das rochas. Talvez lida com questões medievais, na sua sonoridade, não nas letras, falando de temas bem banais, triviais, da vida em geral, temas dispersos, diversos que não denota, nem um pouco, com o nome da banda.

Poucas são as informações contidas sobre a banda na web, por isso que ela está aqui no blog, mas talvez a motivação da escolha seja buscando referência em algo fantástico ou tendo como influência na força de sua sonoridade, a soberania de seu som, uma sonoridade forte, intensa e poderosa. Peço perdão aos amigos leitores pela licença poética em trazer as especulações, estou estimulando a minha capacidade de interpretação.

Mas não vou “queimar” etapas, logo falarei do primeiro e único álbum do Excalibur, mas antes, falemos um pouco dos primórdios da banda que remontam no ano de 1969. Os três integrantes do Excalibur vieram da área de Mönchengladbach. São eles: Werner Odenkirchen (guitarra e vocais), Hartmut Schölgens (órgão, baixo e vocais) e Manfred “Charlie” Terstappen (bateria).

Não demorou muito para a banda conseguir, graças as suas explosivas apresentações nas pequenas casas de shows, de conseguir um contrato com uma pequena gravadora, a Reprise Records, para finalmente gravar o seu primeiro álbum, “The First Album”, em 1971. Considero que pouco tempo levando em consideração que muitas bandas levam muito mais tempo para gravar seus debuts.

O Excalibur teve a supervisão, em estúdio bem como na produção do álbum, de Dicky Tarrach, que foi baterista do The Rattles, Propeller, Wonderland e Brave New World, tendo ainda a participação de músicos convidados, como: Gorilla, também conhecido como Achim Reichel (baixo), Lemmi ou Lemmi Lembrecht (Percussão) e Hans Lampe (percussão que, mais tarde, seria membro das bandas La Düsseldorf e Neu). “The First Album” foi concebido no Windrose Dumont Time Studio, em Hamburgo.

Um detalhe estranho é que a banda é apresentada como um “power trio”, tanto que na contracapa do álbum aparecem apenas três caras. Mas em relançamentos consta a informação de que a banda é composta por seis integrantes. É no mínimo curiosa essa situação. Possivelmente os três músicos não creditados em fotos podem ser músicos de sessão, os esses caras que são músicos de estúdio contratados. O fato é que podem não ter sido creditados em fotos, mas os nomes estão lá e podemos considerar uma banda com seis integrantes.

“The First Album” traz predominantemente uma sonoridade calcada no hard rock, um peso atípico para o início dos anos 1970, cujas bandas que estavam surgindo naquela época na Alemanha flertavam com a psicodelia, o experimentalismo. Tons de blues rock também são percebidos na sonoridade deste belíssimo álbum, com pitadas, especialmente nas faixas mais lentas, sinfônicas e algo de prog rock também. Mas arrisco em dizer que essas últimas vertentes estejam, de forma maciça, no álbum.

Alguns dirão que traz influências do rock britânico ou ainda algo do estadunidense Vanilla Fudge, mas diria que é um álbum tipicamente alemão, com o peso e a agressividade daquele país, com o tempero do hard rock setentista que nascia na Alemanha. Vou além: talvez seja um dos primeiros álbuns do estilo produzido na Alemanha, apesar do tímido sucesso, da pouca repercussão que teve naquelas terras.

O álbum é inaugurado pela faixa “Light In The Dark” e já mete o pé na porta. Riffs pegajosos e pesados de guitarra, bateria marcada batendo forte, pesada, os vocais ásperos. Ela é cadenciada, lembra um proto stoner, cheia de peso e agressividade. As teclas são nervosas, enérgicas e isso se corrobora com o solo de teclados na metade da música, muito solar e dançante, que logo emenda com solos de guitarra igualmente agressivos. Começa a todo vapor!

"Light in the Dark"

“Get Me, If You Want” inicia atípica, com riffs de guitarra que me remete ao punk, seco e simples, mas é rápido. A faixa descamba para um hard cadenciado e com uma proposta mais comercial, diria radiofônica. Dançante e animada. “Zamuno” é uma faixa instrumental e tem o destaque nos teclados e traz uma pegada mais experimental e progressiva, mas que vai encorpando graças aos riffs de guitarra e logo volta a calmaria capitaneada pelo órgão. São as variações de ritmo típico do prog rock.

"Zamuno"

“Run Through The Past” entrega finalmente o esperado blues rock pesado e intenso, com vocais mais gritados. A “cozinha” dá o tom, o ritmo, dando o groove, a pegada dançante e solar, solos de guitarra traz uma textura mais “americanizada” com algo mais sulista. O lado A termina com a faixa “Sure You Win” que introduz com uma salutar e brilhante “batalha” entre riffs de guitarra e solos de teclados. A sequência da música entrega algo cadenciado e dançante, com bateria marcada e solos de guitarra limpo, direto e bem executado.

"Run Through the Past"

“Hollywood Dreams” traz o hard rock genuíno de volta: peso na guitarra, baixo pulsante, bateria pesada, mas ainda com aquela vibe mais cadenciada, com apelo mais comercial, mas muito bem executada. Os vocais nessa faixa são mais limpos. Segue com “Questions” que traz de volta os teclados em uma pegada mais contemplativa e diria até psicodélico, contrastando com riffs de guitarra mais pesado e a “cozinha” dando o tom novamente, com muito brilho. Solos de guitarra colorem tudo crescendo, dando textura mais arrojada ao contexto sonoro.

"Questions"

“Don't Look Backwards” começa sombria, estranha, ruídos, teclados e bateria corroboram esse momento, sendo tocados aleatoriamente, lembrando, por um instante, o krautrock genuíno, mas logo muda o “humor” da música com o já habitual peso com o também já interessante duelo entre a guitarra e o teclado, um desafiando o outro e o hard rock vence. E fecha o álbum com “Feelin's” que segue basicamente no hard rock e na potência dos riffs de guitarra que é o tempero do peso da faixa, além da bateria que é marcada, técnica e igualmente pesada. Mas logo ameniza, fica leve o riff pesado da guitarra dá lugar a solos viajantes e bem executados. E assim segue até quase o final. Um trabalho instrumental exuberante.

"Feelin's"

“The First Album” não atinge sucesso comercial, apesar da sua belíssima produção e das músicas excepcionais. Em 1974 mais três músicas do Excalibur foram incluídas no obscuro sampler "Hells Angels In Rock", lançado pelo selo Jaguar, em 1974: "Danger Zone", "Join The Club" e "Love Circle". Deu a entender que, com o lançamento dessas músicas, a banda estaria preparando um novo álbum, pelo selo Reprise Records, o que não aconteceria, sendo esse o último ato da banda, finalizando precocemente as suas atividades.

Certamente era essa a intenção do Excalibur, de lançar um novo álbum, até mesmo pelo nome do primeiro trabalho, sugerindo uma sequência. Talvez haja músicas para lançar, porém saberemos quando lançarem quem sabe em um futuro próximo, caso de fato, material inédito exista além do que já foi lançado. O baterista Manfred Terstappen mais tarde tocaria com o Marius Muller-Westernhagen. Em 1995 “The First Album" foi lançado, em CD, pelo selo Germanophon. E em 2007 também lançado em CD pelo selo Retro Disc International.  

Mais uma banda que caiu nos escombros escuros e empoeirados do rock. Mas estamos aqui, abnegados que somos e dispostos a desbravar a escuridão do rock e trazê-los à luz para que todos vejam e ouçam essas músicas desprovidas do glamour do mainstream e capitaneados pela criatividade e arrojo de seus músicos. Mesmo com uma curta história deixou uma indelével marca para a história do hard rock alemão no início dos anos 1970. Raridade totalmente recomendada!




A banda:

Werner Odenkirchen no vocal e guitarra

Hartmut Schölgens no órgão e vocal

Manfred Terstappen na bateria

 

Com:

 

Gorilla (Achim Reichel) no baixo

Lemmy (Lemmi Lembrecht) na percussão

Hans Lampe na percussão

 

Faixas:

1 - Light In The Dark

2 - Get Me If You Want

3 - Zamuno

4 - Run Through The Past

5 - Sure You Win

6 - Hollywood Dreams

7 - Questions

8 - Don’t Look Backwards

9 - Feelin’s 




"The First Album" (1971)
















 




 









terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Parchment Farm - Parchment Farm (1971 - 2024)

 

Desde que esse blog foi concebido, nos idos de 2020, eu venho desenvolvendo uma predileção que, creio, para alguns ser um tanto estranha. A audição e o desbravar de bandas mais “garageiras”, ou seja, aquelas bandas com uma sonoridade mais despretensiosa, mais suja, sem grandes traquejos instrumentais por parte dos músicos.

Aos que apreciam sons ligados ao rock progressivo e até mesmo um hard rock mais sofisticado, como bandas do naipe do Led Zeppelin e Deep Purple, por exemplo, pode ter os ouvidos “feridos”, mas o fato é que são bandas que vem me cativando a cada dia, a cada descoberta.

Algumas lendas cercam essas bandas. São “garageiras” porque seguem essa proposta bem definida ou é a produção desses trabalhos que deixam a desejar? Ou seria os dois? Tenho a nítida sensação de que são bandas que gozam de uma linha muito peculiar e inusitada de sonoridade, um som puro, cru, genuíno, sem amarras com tanta sofisticação.

Parece ser um “discurso” punk de meados dos anos 1970, o famoso “faça você mesmo”, mas não, caros e estimados leitores. Parece que o punk surgiu antes do punk e não ganhou notoriedade como o punk que conhecemos no final daquela década. Seria prudente chamar de “proto punk”?

Nomenclaturas à parte até mesmo a “romantização” do estilo, vilipendiado, com relação ao pouquíssimo apoio, cai perfeitamente com a sua sonoridade, ou seja, a péssima produção parece “validar” e trazer todo o charme ao som duro e áspero dessas bandas. É lindo!

E mais uma vez, com todo o prazer, e com um sentimento quase que cívico, trago mais uma banda, da cena obscura norte americana que merece, com todas as nossas forças, ser difundida aos quatro ventos desse mundo injusto que privilegia a música “bem-feita”. A banda se chama PARCHMENT FARM.

Creio que você, estimado leitor, deve estar se perguntando: mas isso é nome de música. Confesso que, em minhas incursões no empoeirado e esquecido universo do rock obscuro, quando a descobri pensei que se tratava da música conhecida do cantor de blues Bukka White, mas não era. Quando me coloquei para ouvir, pois havia desconfiado da sua capa, senti como se fosse um trovão nos ouvidos e que ressoou no coração, me cativando de imediato.

O Parchment Farm foi formado no leste do Missouri no final do ano de 1968, ápice da psicodelia, do “flower power” e do rock paz e amor. A banda, claro, subvertendo essa máxima que imperava na indústria no fim dos anos 1960, destilava um som cru, pesado, intenso e tenso e agitou muitos clubes e festivais da área com as suas músicas autorais e outras covers.

A banda foi ganhando alguns seguidores, utilizando a palavra da moda, arrastando um público fiel e que gostaria de fugir do básico da época, da música psicodélica. Os jovens músicos do Parchment Farm, bem como a cena que crescia no Missouri, carregava, em sua maioria, o nome “Mike”, mas uma sonoridade extremamente original que muitos repudiavam na época. O nome da banda, Parchment Farm, não teve, como inspiração, a música de Bukka White, embora tenha vindo dela, um erro ortográfico de “Parchman Farm”, local da infame Penintenciária Estadual do Mississipi, veio do álbum de estreia do grande Blue Cheer, “Vincebus Eruptum”. Nada melhor que uma inspiração como essa!


Nos seus primórdios, lá pelos idos de 1968, o Parchment Farm, como disse, ganhou alguns fás fiéis e com isso começou a receber ofertas de casas de shows e estava construindo uma boa repercussão, abrindo shows para bandas do naipe de Sons of Champlin, em agosto e/ou novembro de 1969, no The Rainy Daze Clb, Brian Auger & Trinity, em 7 de julho de 1970, também no Rainy Daze Club e tocou com outra banda local, Burlington Route, no mesmo lugar, em janeiro de 1970.

A formação original do Parchment Farm contava com Robert “Ace” Williams, no baixo e vocal, Paul Cockrum, na guitarra e vocal e o baterista Mike Watermann, além de outros músicos que nada se sabia, inclusive do nome. Mas Watermann sairia da banda, dando lugar a Mike Dulany, no final de 1971. Eles se tornariam um trio, um senhor “power trio”! E foi com Dunaly, Paul e Robert que o Parchment Farm desenvolveu, de forma frenética, as suas músicas autorais, gravando-as, de forma “artesanal” e tocando-as em suas apresentações.

A banda apresentou as suas novas composições em agosto de 1971, abrindo para o Velvet Underground e Brownsville Station, no Fun Valley Lake, em Pacific, depois para o Ted Nugent e The Amboy Dukes, em 14 de outubro de 1971, na Mesquita Shrine, em Springfield, repetindo a dose, agora em janeiro de 1972, na Guarda de Columbia e o grande ZZ Top, em julho de 1972, no Airway Drive-In Theatre.


Se a banda não estava no ápice comercial, poderia dizer que estava com boas ofertas de shows de grandes estruturas e apresentando, para vários públicos distintos do rock n’ roll, a sua pesada e arrojada música. Estava tudo indo muito bem e a tendência era de que o Parchment Farm atingiria o sucesso.

As suas músicas, majoritariamente, trafegam no hard rock, com músicas pesadas, intensas, animadas, cheias de energia e solares, com algumas “pitadas” de psicodelia caracterizada nas guitarras lisérgicas e ácidas, mas que tinha fundamento sonoro no peso. Definitivamente era uma banda que, como o Blue Cheer, por exemplo, que lhe influenciou com o nome, estava à frente do seu tempo, fazendo músicas que fugiam do mais do mesmo que imperava na indústria musical da época.

O álbum é inaugurado com a faixa “Songs of the Dead” que irrompe em poderosos riffs de guitarra e uma “cozinha” de arrepiar e fazer renascer com qualquer corpo morto: bateria marcada e pesada e baixo pulsante. Solos animados de guitarra te faz bater a cabeça compulsivamente, enquanto a “cozinha” continua a dar a salvaguarda necessária para o peso. “Midnight Ride” segue mais cadenciada, menos pesada. Guitarras são dedilhadas ao estilo The Doors, só que mais “eletrificado”. Vocais mais limpos e melódicos são ouvidos, as vezes mais gritados, regendo momentos mais pesados.

"Songs for the Dead"

“Devil’s Film Festival” é aquela música que eu chamo de “música de banda”, onde todos os instrumentistas se destacam. Ela é pesada, o baixo parece ser tocado como uma guitarra, com agressividade, com algum “groove”, riffs sujos de guitarra são ouvidos, como alternâncias para solos mais ácidos e baterias com batidas pesadas e cheias de viradas interessantes, de tirar o fôlego. 

"Devil's Film Festival"

Na sequência tem a faixa “Medici”, mais longa, começa com uma pegada mais leve, ao estilo balada rock, com guitarras dedilhadas, que alternadamente descamba para o peso caracterizado pela bateria, como sempre mandando muito bem e baixo seguindo o ritmo. É uma música repleta de mudanças rítmicas, trazendo um atrativo em tanto para uma sonoridade dita “garageira”. Pois é, os caras sabiam tocar!

"Medici"

“Summer’s Comin’ Soon” começa com o “choro” da guitarra que te induz a perceber uma pegada mais blueseira e de fato o é, mas o peso ganha logo o ritmo da faixa, mas de uma forma mais cadenciada, com uma vibe mais comercial, diria. “Blind Man” começa pesada, com a “cozinha” potente, bateria pesada e marcada, baixo pulsante, cheio de groove ao estilo Grand Funk Railroad. Hard rock típico, forte!

"Summer's Comin' Soon"

Segue com “Blues Skies Comin’” que também é pesada, baixo pulsante, um groove que faz da música um pouco mais cadenciada também. A parte rítmica da banda surpreende positivamente pela qualidade. “My Lady” começa com a bateria mais jazzística mostrando versatilidade, mas logo irrompe em um trovão de hard rock pesado, com riffs e solos avassaladores de guitarra.

"My Lady"

“Friends or Lovers” segue na proposta pesada, com passagens mais suaves, uma pegada mais psicodélica, vocais limpos e melódicos, além de guitarras mais ácidas, lisérgicas que entrega o “tempero” mais heavy à música. “Mind Trip” tem o destaque do baixo, com solos mais pesados e cheios de groove. Dedilhados de guitarra dá um caráter mais psych à faixa e até sombrio, em alguns momentos.

"Mind Trip"

Segue com “Concrete Jungle” que foge totalmente a proposta do álbum, que é calcado na música pesada. Nessa faixa percebe-se, inclusive, uma pegada mais folk e psicodélica, trazendo um passado não muito distante ao lançamento deste álbum, que é são os anos 1960. E fecha com “I’m Elected, I Will Not Serve” é uma balada rock embalada por dedilhados de guitarras lisérgicas, com vocais dramáticos. O solo de guitarra nos faz viajar, algo até mesmo contemplativo e soturno.

"If I'm Elected, I Will Not Serve"

No final de 1972 um cara chamado Mike Lusher se tornou baterista do Parchment Farm, adicionando ainda um tecladista de nome Cliff King. A banda estava sofrendo algumas mudanças em sua sonoridade, haja vista que estava adicionando um tecladista. O que se confirmou quando adicionou em seu repertório músicas de bandas como Yes, The Moody Blues, Procol Harum etc.

Parchment Farm em sua nova formação

Em fevereiro de 1973 Cliff foi substituído por Mike “Scotty” Scott que era um músico que foi inspirado por Keith Emerson, possuía um moog e tocava flauta. Pronto! Essa era a confirmação da “nova” vertente sonora do Parchment Farm. A banda abriu shows para Canned Heat, The Hollies e Rare Earth, em 27 de maio de 1973, em Evansville, Indiana, além do REO Speedwagon em 18 de agosto de 1973, no Rollins Music Festival, próximo a Villa Ridge.

O Parchment Farm foi dissolvido em 1973 e claro que seu fim, com a sua mudança de rumo sonoro, foi o sepultamento da banda, bem como a falta de apoio de gravadoras. A banda nunca conseguiu, com isso lançar suas músicas autorais e com o seu fim, fatalmente essas faixas cairiam no esquecimento, no baú escuro e empoeirado do rock obscuro.

Mas eis que surge o abnegado selo Riding Easy Records que redescobre essas gravações, essas fitas e a lança, no formato LP, trazendo à tona, depois de mais de cinco décadas, o único álbum do Parchment Farm, em 2024, homônimo. Um som garageiro, áspero, poderoso, despretensioso, mas especial, diria, sem medo, singular. O álbum pode ser ouvido por intermédio do download que pode ser feito aqui. Pérola mais do que recomendada! 




A banda:

Paul Cockrum na guitarra e vocal

Robert “Ace” Williams no baixo e vocal

Mike Dulany na bateria e vocal

 

Faixas:

1 - Songs of the Dead

2 - Midnight Ride

3 - Devil's Film Festival

4 - Medici

5 - Summer's Comin' Soon

6 - Blind Man

7 - Blue Skies Comin'

8 - My Lady

9 - Friends Or Lovers

10 - Mind Trip

11 - Concrete Jungle

12 - If I'm Elected I Will Not Serve



"Parchment Farm" (1971 - 2024)