sábado, 20 de setembro de 2025

A Euphonious Wail - A Euphonious Wail (1973)

 

A psicodelia fervia na costa californiana em meados para o fim dos anos 1960. Bandas como Jefferson Airplane, Quicksilver Messenger Service e tantas outras ditavam as regras sonoras e culturais daquela região e de todos os cantos dos Estados Unidos. Era a voz do rock n’ roll, que vibrava com o experimentalismo e as viagens lisérgicas, com guitarras ácidas, o som, por vezes, dançantes. Era o “flower power”, era a cultura do “paz e amor” e contra a guerra do Vietnã e outros dogmas sociais.

Não podemos negligenciar também que dentro dessa cena que, para muitos pairou na controvérsia em todos os aspectos, que variam da própria música, como no comportamento, haviam bandas que ousaram trazendo sonoridades arrojadas e diferentes que, por consequência, flertaram com a marginalidade, caindo no ostracismo.

Temas sombrios, de sonoridades pesadas e densas, tingiam de uma realidade nua e crua os escombros de uma sociedade pseudo conservadora e tornando-a palpável na sua música, tendo como exemplo clássico, bandas como Black Sabbath, The Stooges, Alice Cooper, que tinha um som cru, seco, poderoso, pesado e letras horripilantes, paranormais e ocultas.

Por outro lado, bandas assumiram outras vertentes mais ousadias, flertando, não só apenas com o som que dominava a costa da Califórnia na segunda metade dos anos 1960, mas também absorveu outros estilos que estavam em voga já nos anos 1970, sobretudo no início daquela década, como o hard rock e o rock progressivo. Posso, caros e estimados leitores, citar uma banda que diria ser seminal: A EUPHONIOUS WAIL.

A Euphonious Wail

Claro que poucos conhecem diante do arsenal de bandas clássicas existentes na transição das décadas de 1960 e 1970, mas esta banda que apresento trazia alguns atrativos que realmente são dignos de atenção, no mínimo. A banda é produto de seus primórdios e do período que produziu seu único álbum, de 1973, autointitulado.

Mas antes de falar do seu único trabalho lançado, falemos um pouco sobre a banda. O A Euphonious Wail surgiu em Santa Rosa, na costa da Califórnia, no ano de 1968. O nome da banda veio da inspiração da música “The Euphonious Whale”, de Dan Hicks. Durante os cinco anos que separaram o seu surgimento e o lançamento oficial de seu álbum, a banda se apresentou localmente abrindo para bandas como Iron Butterfly e Steppenwolf.

As apresentações da banda eram animadas e por vezes explosivas e a sua sonoridade pouco deslocada do que se fazia à época parece ter sido um dos motivos pelo qual alguns selos não tenham contratado o A Euphonious Wail para a gravação de seu primeiro álbum. Mas haviam algumas gravadoras que assumiam o “risco” e traziam à tona essas bandas, digamos, arrojadas.



E foi assim que a Kapp Records, graças à essas apresentações, decidiu levar o A Euphonious Wail para o estúdio para gravar “A Euphonious Wail”, em 1973. A banda era composta por Doug Hoffman (bateria), Bart Libby (teclados), Suzanne Rey (vocais), Steve Tracy (guitarra, vocais) e Gary Violetti (baixo).

Alguns críticos classificam a música do A Euphonious Wail como hard prog e não deixa de ser uma realidade, pois, como disse, a banda flertou com várias vertentes do rock que estavam em voga e também fora de moda, como o hard rock, profundamente evidenciado pelo som da guitarra Steve Tracy, bem como o rock psicodélico, graças a sua origem, além do próprio rock progressivo e até mesmo nuances de soul music garantidos pelo vocal feminino de Suzanne Rey.

O fato é que a banda era difícil de se rotular e o seu álbum corrobora essa condição, trazendo um caldeirão de um alimento sonoro com várias camadas e temperos. Bom amigo leitor se gostas de bandas versáteis e pouco estereotipadas, aposte em A Euphonious Wail e seu único trabalho, de 1973.

O álbum foi co-produzido e projetado no MCA Recording Studios por Brian Ingoldsby, que trabalhou com Joe Cocker, Jimmy Web, Biff Rose, Linda Perhacs, Fanny Adams, Elton John entre outros. O enigmático desenho da capa do álbum foi feito por Michael Hawes e dependendo de como você olha para ele, se vê algo completamente abstrato ou até mesmo obsceno. O fato é que essa arte um tanto quanto surrealista traz certo apetite para a audição deste belo álbum.

O álbum é inaugurado com a faixa “Pony” que tem uma incrível introdução de baixo bem dançante ao estilo soul e dessa forma a música vai se desenvolvendo, com essa pegada, mas traz também algo de psych e hard rock, com a predominância do órgão, dos teclados e de riffs pesados de guitarra. O final é pesado, o “duelo” entre guitarra e teclado é espetacular! Psych, rock e soul na medida certa e com uma dose bem inusitada e ousada.

"Pony"

Segue com “We've Got the Chance” continua na pegada mais soul music com “pitadas” mais rock! Definitivamente a guitarra traz o lado rock às músicas. As teclas, mais discretas, não negligenciam, ainda assim, o seu protagonismo. Aqui domina o vocal feminino de Suzanne Rey que se mostra alto e vívido. A música vai ganhando “corpo”, tendendo, cada vez para o hard rock, os solos de guitarra são de tirar o fôlego e corrobora o seu lado mais pesado.

"We've Got the Chance"

“Did You Ever” tira o pé do acelerador e mostra a primeira balada do álbum. A bateria cadenciada e lenta traz lembranças de jazz melancólico e introspectivo, os teclados lembram um psych, o vocal masculino é límpido e transparente. O solo de piano é simplesmente espetacular e te alça a voos altos e contemplativos.

"Did You Ever'

Na sequência tem “When I Start to Live” que é introduzida com um órgão em camadas introspectivas e psicodélicas e assim continua até irromper em uma sonoridade mais solar e animada, agitada, com alguma velocidade. Bateria pesada e cadenciada e baixo mais pulsante mostra uma “cozinha” rítmica coesa e cheia de talento. Guitarra ácida e pesada revela, claro, o lado pesado da faixa.

"When I Start to Live"

“F#” entrega o lado mais raivoso do álbum! Aqui o hard rock reina absoluto! Bateria pesada, baixo distorcendo, riffs pegajosos de guitarra que desagua em solos pesados e agressivos, sem contar com os vocais que seguem a “proposta” da música, sendo gritados e altos. Espetacular!

"F#"

“Chicken” dá sequência a porrada sonora da faixa anterior e aqui o baixo protagoniza sempre pulsante e galopante, cheio de groove, com pancadaria agressiva e pesada da bateria, teclados energéticos e riffs e solos de guitarra de tirar o fôlego. Nessa faixa a performance instrumental é exuberante até o vocal de Suzanne entrar, trazendo mais balanço à faixa.

"Chicken"

“Night Out” continua na mesma vibe das músicas anteriores: pesada, animada, dançante, mas com uma característica mais radiofônica. Percebe-se, nessa faixa, uma pegada mais acessível, mas não menos interessante que as demais. O destaque fica para os riffs e solos mais diretos de guitarra!

"Night Out"

“Love My Brother” é mais cadenciada e calcada em uma levada mais soul rock. É contagiante a música, dançante e solar. A seção rítmica ganha destaque e o peso da guitarra traz o lado “encorpado” da música. Baixo cheio de groove, teclados ao estilo Deep Purple. Música cheia de recursos e muito, muito versátil, mostrando a capacidade instrumental de seus músicos.

"Love My Brother"

E fecha com “I Want to be a Star” que retorna à calmaria da balada e a voz límpida e transparente de Suzanne Rey conduz a faixa para a beleza sonora que se revela. Dedilhados e solos de guitarra faz da música uma “gangorra” sonora, com várias mudanças rítmicas. Na metade da faixa o peso ganha evidência até finalizar brilhantemente.

"I Want to be a Star"

O único do A Euphonious Wail, que teve uma visualização mínima na carreira, quando a banda encerrou as atividades, logo após o lançamento de seu único álbum autointitulado, foi o tecladista Bart Libby que tocou no EP da banda britânica “Terraplane”, de nome “Arrives”, de 1981. Aparece também nos créditos do álbum de Francis Anfuso, “Who Will Tell Them?”, de 1986.

“A Euphonious Wail” teve alguns relançamentos, depois de seu oficial, ocorrido em 1973. O primeiro relançamento foi na Austrália, em 1994, pelo selo W.O.T.S.V Ltda, no formato CD. O segundo, pelo selo Media Arte, em 2012, por toda a Europa, também no formato CD e o último, até onde posso saber, aconteceu em 2013, no Japão, pelo selo Vivid Sound Corporation.






A banda:

Suzanne Rey nos vocais

Bart Libby nos teclados

Steve Tracy na guitarra e vocal

Gary Violetti no baixo e vocal

Doug Huffman na bateria e vocal

 

Faixas:

1 - Pony

2 - We've Got the Chance

3 - Did You Ever

4 - When I Start to Live

5 - F#

6 - Chicken

7 - Night Out

8 - Love my Brother

9 - I Want to be a Star




"A Euphonious Wail" (1973)



























 







sábado, 13 de setembro de 2025

Piel de Pueblo - Rock de Las Heridas (1972)

 

Final dos anos 1960 e início dos anos 1970. A América Latina ainda não tinha sido acometida pelos regimes totalitaristas e autoritários que mancharia de sangue as soberanias de seus principais países, colocando nas cordas, as suas democracias. Claro que, quando tais regimes foram instaurados, os músicos e as bandas de rock sofreram e muito para divulgar a sua arte, principalmente aquelas bandas, cujas letras, tinham um forte viés crítico.

E a Argentina, em especial, foi e, claro, ainda é, um celeiro para o rock n’ roll e também um cenário para a inspiração aos músicos que tinham um viés fortemente crítico, dado seu agitado e opressivo governo nos anos 1970 que fomentou um sombrio momento de total autoritarismo.

Evidentemente, meus caros e estimados leitores, que podemos citar uma enormidade de bandas que fizeram a história do rock argentino, principalmente nos anos 1970, com flertes no hard rock e prog rock, mas gostaria de falar de uma, em especial, que teve uma curta passagem por este mundo, mas, ainda assim deixou um legado para a música pesada daquele país: PIEL DE PUEBLO.

Piel de Pueblo

Para muitos ela não era conhecida e de fato não teve holofotes para a sua precoce e fugaz vida na cena rock da Argentina, mas aqui neste reles e humilde blog, as bandas e/ou projetos “fracassados” tem vez e por aqui a abnegação por difundi-las é imensa, porque apesar da pouca fama, deixou uma marca importante para a história do hard rock argentino com seu único álbum, lançado em 1972, chamado “Rock de las Heridas”.

Porém antes de falar de seu seminal álbum, convém trazer à tona a história por trás do Piel de Pueblo que, ao contrário da banda, fez fama, não só no rock n’ roll, mas em outras vertentes culturais: falo de Alberto Ramón Garcia, conhecido como “Pajarito Zaguri”, que esteve à frente da fundação do Piel de Pueblo, na virada de 1971 para 1972, e era músico, compositor e ator.

Pajarito Zaguri deu seus primeiros passos musicais, em meados dos anos 1950, mais precisamente em 1956, na banda “Los Shabaduba”. Em 1966 foi co-fundador de uma banda importante da Argentina, chamada ” Los Beatniks”. Mas durou pouco tempo e, com a sua dissolução, em 1969, se apresentou com algumas bandas em um curto período de tempo, como “Los Náufragos” e “La Barra de Chocolate”.

Quando Zaguri deixa a banda La Barra de Chocolate, desejava criar um projeto mais ousado, trazendo uma versão mais pesada a sua música, com uma pegada blues rock e de viés politizado e para a empreitada convoca seu antigo companheiro de La Barra de Chocolate e Los Beatniks, o guitarrista Nacho Smilari, que também teve uma breve passagem pela banda “Vox Dei”, após a saída de Juan Carlos Godoy e junto com Willy Pedemonte no baixo e Carlos Calabró na bateria, criariam o “Piel de Pueblo”. Tem a participação de Héctor López Fürst, músico de jazz e ex-integrante da banda “Los Blue Strings”.

Pajarito Zaguri

Banda formada, o Piel de Pueblo não demora muito para lançar seu debut, em 1972, o “Rock de Las Heridas”, pelo selo “Disc Jockey”. O único trabalho da banda entrega riffs contundentes e guitarras fuzz. As músicas são explosivas, com uma guitarra ácida, lisérgica, atingindo um som áspero, pesado, agressivo, mas com uma composição cuidadosa e dinâmica. Um hard rock típico, com passagens de blues rock, solos elétricos e estridentes que, pela mão de Smilari, constrói suas boas e instigantes passagens psicodélicas e que se somam as letras de mensagens poderosas de Zaguri, contribuindo para temas políticos, sociais e espirituais, dando um toque especial a este álbum que, além de mostrar a qualidade e o engajamento de seus músicos, revela também essa condição na estética, na arte gráfica do álbum, mostrando o sol a chorar e a Terra envolta em sangue.


Para se dimensionar o cerne poético das letras desse álbum, segue um trecho de uma das músicas e o quão impactante é, onde a reflexão e a atemporalidade se faz presente:

"Todo o tempo que você perdeu ontem

Recupere-o pensando hoje

Porque é hora de você saber ver

O que está acontecendo ao seu redor

O silêncio que eu faço é

Um som ensurdecedor

De uma voz que tem muita sede

De uma pele que quer ver o sol

Cara, você não quer ver

Cego você está em seu ser"

O álbum é inaugurado com a faixa “Silencio Para Um Pueblo Dormido”, composta por Pajarito Zaguri, entrega um ritmo instigante e hipnótico, produzido pelo baixo cujas notas se tornam caóticas, obsessivas e agressivo, bem agressivo. A bateria é pesada e as guitarras, freneticamente, não param de dedilhar, nos quase cinco minutos de duração da música. Riffs poderosos e desconcertantes que corroboram a sua condição de peso.

"Silencio Para Un Pueblo Dormido"

Segue com "La Tierra En 998 Pedazos", do baixista Willy Pedemonte, é indiscutivelmente a música mais complexa do álbum, com mais de nova minutos de duração traz o mais genuíno hard rock e proto metal. As arestas do heavy metal argentino se encontram nessa faixa. A letra ressalta a discussão atemporal do meio ambiente e o cenário de degradação desta. As guitarras da dupla Zaguri e Smilari dilaceram o ouvinte sem nenhuma piedade, com riffs pesados e solos de tirar o fôlego, dando apenas uma pausa no meio da música. Espetacular música!

"La Tierra en 998 Pedazos"

"Jugando a Las Palabras", composta pela dupla Pajarito e Smilari, mostra um viés psicodélico e ácida, sobretudo na forma como esta sensação dupla dedilha suas guitarras. Aqui a sintonia é perfeita, onde mostram os seus domínios com as seis cordas. É pesada, densa, sombria, viva!

"Jugando a Las Palabras"

"Por Tener Un Poco Más", composta por Carlos Calabró e Pajarito, mostra um lado mais progressivo, algo de sofisticado é percebida, é sentido. Embora as guitarras ainda estejam muito presentes, o que uma predominância de todo o álbum, é o violino que dá uma atmosfera mais progressivo, mais contemplativo. Uma “audácia” concebida pela banda diante de um álbum cujo hard rock impera!

"Por Tener Un Poco Más"

“Sexo Galáctico”, de Willy Pedemonte, traz o retorno à hiperatividade das guitarras que, de forma pesada e agressiva, traz uma verdadeira hecatombe sonora revelando a veia do hard rock e do heavy rock, com uma seção rítmica intensa, agressiva e cheia de groove.

"Sexo Galáctico"

“La Palida de Nacho” inicia uma sequência avassaladora de uma pegada hard e heavy, uma sequência poderosa atestando o DNA desse álbum calcado na música pesada e todas compostas pelo excelente Pajarito Zaguri. Assim o é “Vien Amigo a La Zapada” e fecha com a também pesada, mas com nuances bem “temperadas” de blues rock a última faixa: “El Rockito de La Bufanda”.

"La Palida de Nacho"

“Rock de Las Heridas” não teve o impacto, a repercussão esperada à época e o Piel de Pueblo, precocemente, se separou no mesmo ano do lançamento de seu único trabalho, ainda em 1972. Nacho Smilari juntamente com Carlos Calabró formariam a banda “Cuero”, no ano seguinte, 1973. Já Willy Pedemonte iria tocar guitarra com “Miguel Cantilo y Grupo Sur”. Pajarito Zaguri se reuniria com Rocky Rodriguez, produzindo o álbum “Salgan del Camino”, em 1973, com a banda “Rockal y La Cria”. Gravou um single chamado “El Pampero Libertad/Copado y Colocado, com ajuda de Alejandro Media e membros da banda “La Pesada”.

Em maio de 1975 Zaguri gravaria músicas com Kubero Díaz, se reencontraria com seu antigo companheiro de Piel de Pueblo, Willy Pedemonte, Topo Dáloisio (ex-Diplodocum Red and Brown), Gastón Cubillas (ex-Grupo Sur) e Guillermo Migoya que foram finalmente lançadas no LP de 1976, "Pájaro y La Murga del Rock & Roll", onde Pappo toca órgão em "Intentando Los Blues" e também piano em "El Vago Del Oeste". Pajarito Zaguri morreria de câncer em abril de 2013, em sua casa, em Buenos Aires.

“Rock de Las Heridas” teria um lançamento, pelo selo Disc Jockey, no mesmo ano, 1972, na Bolívia e um ano depois, pela gravadora Asfona, no Chile, todos no formato “LP”. Já em 1977, pelo selo Samantha, o álbum foi relançado em 1977 na Argentina, no formato “LP”. E somente em 2002, pela gravadora La Ciruela Electrica, mais um relançamento, também em “LP”, na Argentina.

O que torna “Rock de Las Heridas” especial, atraente, diria, é, acima de tudo, que os seus integrantes fazem sob o aspecto instrumental que é espetacular. São solos de tirar o fôlego, “produzidos” quase que sem parar e de uma forma diferente uns dos outros. Algo caótico, mas milimetricamente calculado. Este trabalho do Piel de Pueblo é recomendado para os ardorosos fãs de hard rock e até mesmo de heavy metal, aos que que curtem música pesada, bem como aqueles que se identificam com letras de músicas de protesto e de cunho social aguçado. Um álbum pouco conhecido, de uma banda obscura? Sim! Mas que deixa, quando se ouve, a percepção de que se trata, ainda assim, de um álbum divisor de águas para a história pesada, não somente na Argentina, mas em toda a América Latina.


A banda:

Alberto Ramón Garcia (Pajarito Zaguri) na guitarra e vocal

Carlos Calabró na bateria

Ignacio Smilari na guitarra

Willy Pedemonte no baixo


Com: 

Hector Lopez no violino


 

Faixas:

1 - Silencio para un Pueblo Dormido

2 - La Tierra en 998 Pedazos

3 - Jugando a las Palabras

4 - Para Tener un Poco Mas

5 - Sexo Galáctico

6 - La Palida de Nacho

7 - Veni Amigo a la Zapada

8 - El Rockito de la Bufonada




"Rock de Las Heridas" (1972)

































sábado, 6 de setembro de 2025

Vermilion Sands - Water Blue (1987)

 

É preciso cuidado para com certas bandas no que tange às suas inspirações e principalmente influências. Diria melhor: é preciso separar os dois quesitos mencionados. Afinal qual banda não tem as suas influências que inspiram as suas músicas? Tais manifestações não podem ser consideradas, penso, como plágio ou cópia!

Casos como esse, diante de um cenário onde as redes sociais podem se tornar um fator destrutivo, pode pôr em xeque a história de uma banda, relegar ao fim muitas trajetórias de bandas e músicos que buscam um lugar ao sol no mundo da música.

Não quero advogar pelas bandas que vem sofrendo com essas especulações, mas o fato discussões como essa se tornam totalmente inviáveis quando se tem a música, primordialmente a música, como a mais prazerosa das discussões. E quando se tem bandas que efetivamente lembram aquelas que estão em um patamar de pioneirismo, não se pode minimizar, pelo contrário, mas enaltecer tais lembranças.

E eu preciso trazer à tona uma grande banda, pouco conhecida, é verdade, afinal esse é o cerne do blog que lê, caro leitor, que veio do Japão, mais precisamente de sua capital, Tóquio, que se chama VERMILION SANDS. A banda foi formada em meados dos anos 1980, mais precisamente em 1986 e começou, como tantas outras, tocando covers de seus ídolos, como Renaissance, Illussion, Sandrose etc.

A banda, inicialmente formada por Yoko Royama, nos vocais e Masahiro Yamada, nos teclados, como músicos fundadores, além de Masumi Sakaue, nas guitarras, Kenji Ota, no baixo, Takafumi Yamazaki, na bateria e Hiroyuki Tanabe, nas flautas e teclados, tocava covers dessas bandas famosas em vários festivais ao vivo de bandas amadoras, cuja intenção era para recrutar bandas com potencial de sucesso e parece que as portas se abririam para esses jovens músicos.

Vermilion Sands em sua primeira formação

Algum empresário os viu tocar e não se sabe ao certo se era um empresário de gravadoras ou produtores musicais, o fato é que eles tiveram a oportunidade de estrear como uma banda profissional tocando em um espaço, em uma casa de shows muito importante para a cena progressiva de Tóquio, chamada “Silver Elephant”. Foi o momento ideal para eles começarem a compor material autoral e quem sabe, no futuro próximo, gravá-los em um novo álbum. A banda estava animada e fazendo muitos planos.

A banda escolhe um nome, afinal, seu novo caminho exigia um nome e veio Vermilion Sands. A banda recebe algumas grandes ofertas de shows e começou a construir, pouco a pouco, a sua reputação em uma cena que ainda era prolífica no Japão, a do rock progressivo. A banda se apresentaria no “Progressive Rock Festival”, como disse, realizado no Silver Elephant e outros eventos como o “Made in Japan”.

Como em muitos casos, o Vermilion Sands passaria por mudanças em sua formação, talvez pela necessidade de se construir uma identidade sonora e que dela pudesse personificar nas apresentações, nas futuras gravações, entrando Hisashi Matoba, na bateria, Ryoji Ogasawara, no baixo, após a saída de Tanabe, Yamazaki e Ota. Com uma nova formação a banda lançaria, finalmente, o seu debut, em 21 de dezembro de 1987, chamado “Water Blue”, alvo de minha nova resenha.

Vermilion Sands com a formação que gravou "Water Blue"

Ao ouvir esse primeiro trabalho do Vermilion Sands é notório as semelhanças com a banda icônica britânica Renaissance, mas percebe-se também, além da sua sonoridade sofisticada e agradável e, por vezes, suave, traz também um teclado cheio de energia e quente que remete a bandas como Camel e até mesmo Genesis. Tais reminiscências faz você, enquanto ouvinte e apreciador do rock progressivo, se sentir nostálgico, afinal uma sonoridade calcada no prog genuíno, em pleno anos 1980, é fantástico e ousado por parte da banda.

Então, meu bom e estimado leitor, ao ouvir o Vermilion Sands, com o seu álbum “Water Blue”, permita-se abrir a mente e deixar de lado possíveis posturas pré-concebidas e ouvir uma sonoridade rica, orgânica, sofisticada e muito diversificada trazendo uma diversidade de sons dentro do rock progressivo. É um exemplo vivo e latente de uma sonoridade pautada no rock sinfônico e pastoral, com um vocal limpo, delicado, cristalizado que remete também a Annie Haslam, vocal, claro, do Renaissance.

Com o lançamento de “Water Blue”, o Vermilion Sands intensificaria as suas apresentações, tocando em várias casas de shows, isso entre 1988 e 1989 e, com isso a banda reunia uma base interessante de fãs, ganhando alguma repercussão. Inclusive, em 1989, sairia uma coletânea chamada “Symphonic Rock Collection”, com músicas de várias bandas de rock progressivo que estavam em evidência no Japão, pelo selo Made in Japan Records e uma das músicas do Vermilion Sands seria incluída.

“Ashes of the Time” é a faixa. Mas a versão incluída nesta coletânea foi a versão original, então isso acabou motivando os músicos do Vermilion Sands a gravar uma nova versão dessa música. Naquele mesmo ano de 1989, a banda lançaria “Water Blue” novamente, porém no formato “CD”, por isso que existe uma dúvida com relação ao seu ano de lançamento. 1987 foi o primeiro lançamento em “LP” e, como disse, outro lançamento ocorre em 1989, em “CD”.

O álbum é inaugurado pela faixa “My Pagan Love” que começa com um vocal estupendo e límpido de Yoko Royama, tudo isso com um suporte espetacular dos instrumentos, mostrando destreza e competência, em uma mescla envolvente entre sofisticação e um trabalho orgânico. Essa faixa é de uma tradicional cultura irlandesa do século XIX, do Condado de Donegal.

"My Lagan Love"

Segue com “Ashes of the Time” que te remete a um pouco de prog com um pouco de new wave, mas tendendo para algo mais experimental. É nítido o trabalho de neo prog nessa faixa com mais de 12 minutos de duração. As guitarras vêm mais forte, com notas um pouco mais pesadas, com um vocal mais operístico de Yoko. E com isso entra teclados mais enérgicos, a bateria mais intensa, onde a faixa ganha em uma textura mais hard rock com pitadas bem generosas de sofisticação. É incrível as mudanças rítmicas percebidas nessa música. Vale a audição do início ao fim!

"Ashes of the Time"

Segue com “In Your Mind” que abre melódica, tendo tal textura amparada pela voz de Yoko, com guitarras solares, solos atraentes, com uma seção instrumental avassaladora e de tirar o fôlego. A execução de seus instrumentistas é espetacular. O neo progressivo se faz presente nessa faixa novamente, mostrando que o álbum, como um todo, é sim uma ode aos clássicos progressivos, porém com um olhar no que se fazia de novo em meados dos anos 1980. Não se pode negligenciar, já que falamos de instrumentos, dos solos poderosos de guitarra.

"In Your Mind"

"Coral D - The Cloud Sculptors" abre com acordes de guitarra potentes e inspiradoras, com sintetizadores bem tocados e com alguma energia. As mudanças de andamento continuam constatando a qualidade sonora que varia da guitarra, do bandolim, solos do órgão, vocais pastorais e, com isso, um frenesi sonoro se constitui, mostrando, mais uma vez, um trabalho instrumental invejável.

"Coral D - The Cloud Sculptors"

"Kitamoto" começa com guitarras que fornece uma trama de fundo para Yoko cantar que, logo depois entra um sintetizador com um solo viajante e solar, ao mesmo tempo. Logo entra piano, baixo e bateria se juntam a segunda parte da música, com destaque para o baixo, por vezes, pulsante, juntamente com agora uma guitarra suave, dando um pano de fundo.

"Kitamoto"

"Living in the Shiny Days" traz, como destaque, o prog folk, mas com pitadas mais comercial, diria, algo mais pop, radiofônico, mas sem soar frívolo, lembrando um pouco de Yes, creio. E fecha com “The Poet” que, sem dúvida, é uma das melhores faixas, trazendo um lindo cruzamento entre prog clássico e neo prog, mostrando a versatilidade do Vermilion Sands, com guitarras tocadas de forma magistral, com potência. Os vocais cada vez mais límpidos traz o operístico ao som da banda.

"The Poet"

Em 1989 o Vermilion Sands é sondado pela famosa gravadora francesa “MUSEA” para a gravação de um álbum, digamos, globalizado, ou seja, com músicas de várias bandas, de vários países. O Vermilion Sands representaria o rock progressivo japonês. O nome do álbum? “7 Days of a Life”, um trabalho conceitual que seria lançado em 1993. É um álbum de bandas de sete países, onde cada uma delas contaria uma história sobre uma vida, com uma analogia de sete dias. O nome da música do Vermilion Sands se chama “The Love in the Cage”. Essa música seria incluída, como bônus track, além de versões ao vivo de “Water Blue”, na reedição deste álbum, feita, exatamente pelo selo Musea Records, em 1999.

"The Love in the Cage"

Mas antes desse lançamento do álbum “7 Days of a Life”, o Vermilion Sands entraria em um hiato, mais precisamente em 1990, isso depois de um belíssimo show que fizeram em Tóquio, em maio. Os integrantes deram prioridade para seus projetos solos e bandas cover. Eles tocaram, tendo Yoko como pilar, em uma banda chamada, já que falei em bandas cover, Renaissence of Dreams, tocando músicas do britânico Renaissance, até 1994. Convém lembrar que o nome da banda, lá pelos anos 1982 até 1985 se chamava pelo sugestivo nome de “Scheherazade”. Porém, antes disso, Yoko Royama, lançaria, em 1991, seu primeiro álbum solo, chamado “Sunny Days”.

"Sunny Days" (1991)

Em 1996 Royama e Yamada retomam apresentações ao vivo do Vermilion Sands com novos integrantes: Hideki Kurosawa, no baixo, Shin Yoshimune, na guitarra, Genta Kudo, ex-baterista do De-Já-Vu. Posteriormente se juntariam a Akihisa Tsuboi, no violino e Yasuyuki Hirose, no baixo, ex-Providence. Mas foram shows esporádicos apenas para relembrar a fase do Vermilion Sands.

Apresentações esporádicas e, logo, um tempo curto, pois entrariam em um novo hiato, principalmente por conta da gestação de Yoko que deu à luz ao seu bebê, em 1997. Infelizmente, em 23 de agosto de 2004, Yoko Royama morreria deixando um pequeno, mas significativo legado pela sua voz e seu amor à música progressiva. Em 2013 seria lançado, claro, sem Yoko, o segundo álbum do Vermilion Sands, “Spirits of the Sun”, que pode ser ouvido aqui, mas sem a chama do primeiro trabalho que definitivamente marcou um período importante da história do rock progressivo japonês.

"Spirits of the Sun" (2013)




A banda:

Yoko Royama nos vocais e flauta

Masahiro Yamada nos teclados

Hisashi Matoba na bateria e guitarra acústica

Kenji Ota no baixo

Takafumi Yamasaki na bateria

Hiroyuki Tanabe na flauta e teclados

 

Faixas:

1 - My Lagan Love

2 - Ashes of the Time

3 - In Your Mind

4 - Coral D - The Cloud Sculptors

5 - Kitamoto

6 - Living in the Shiny Days

7 - The Poet 



Ouça "Water Blue", de 1987, aqui!